35a Mostra Internacional de Cinema – (pra mim)

“Aí você tasca um post de filme que não tem nada a ver, cadê a Mostra?”

Jura? Que vocês já não estão cansados de ler sobre a Mostra? Acabou ontem, bem, oficialmente no dia 03 e depois teve a programação extra, e conforme um grupo de senhoras atrás de mim outro dia no Unibanco arteplex: “Esta repescagem não tem nada que presta”.

Bem, o blog é meu pra reler daqui uns 15 anos e falar: “olha só como eu era!”. E o negócio é o seguinte…

Eu me mudei pra São Paulo em 2001, fiquei sabendo desse tal São Paulo International Film Festival no ano seguinte e, de feliz, lá fui eu pegar pelo menos o filme do cara de quem estavam fazendo retrospectiva (devia de ser alguém importante, senão não fariam uma retrospectiva, certo?). Meu primeiro filme da Mostra foi “Saló e os 120 dias de sodoma”, de Pasolini.

Troféu joinha pra mim, né. Vocês conseguem imaginar quão traumatizante foi aquilo pra mim? Eu chorei, juro! Eu tinha percebido que nunca poderia fazer filmes – nunca faria aquilo que chamavam de cinema de arte!

Tá, os anos passaram e eu me acalmei. Mas carrego o “carma” em todos os anos da Mostra: de frustração. Todo ano acontece alguma coisa que me deixa frustrada (seja sessão impossível de entrar, guias que não me servem de nada, filmes que o mundo todo entende e eu não gosto…), mas a deste ano foi menos mal – a única coisa foi eu não ter conseguido ver Habemus Papam (assunto que muito me interessa), tinha em vários horários, mas eu sou esta pessoa louca que junta um monte de coisa e não consegue fazer nada.

Tirando isso, não reclamo de nada não. Tá, eu perdi Frango com ameixas (melhor prêmio do público), que ouvi falar, serve bem àqueles que amam Amélie Poulain. E nem teve Fausto, Anatólia (melhor prêmio da crítica), a Caverna dos sonhos esquecidos (que faz jus à vinheta do Piteco! By the way, adorei a vinheta =). Mas, no geral, gostei bastante de terem diminuído a seleção, porque dá mais chances para meros mortais como eu assistirem realmente a algo bom, sem peso na consciência por ter perdido um milhão de outras coisas. Ah, é, devo lembrar de novo que eu não sou cinéfila, não para o mundo de respirar por causa da mostra – trabalhar, estudar, dormir – faço tudo isso e vou de curiosa bisbilhotar esse universo paralelo.

Ou talvez, não esteja mais reclamando pelo meu próprio amadurecimento quanto ao evento: não fico mais criando expectativas inatingíveis. É como disse um moço com quem eu conversei na fila (passeando com o cachorro e parando pra comprar ingresso no horário de almoço): “faz uns 20 anos que acompanho a Mostra. E percebi que este é o melhor jeito”. Ele simplesmente vai lá e compra o ingresso. E pronto.

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E nessa brincadeira com o acaso, a gente acaba pegando 1 exemplar de cada (do que se vê por aí em sites pra cinéfilos):

– Era uma vez… Laranja Mecânica = um documentário, pra quem gosta de cinema.

– Histórias de insônia = um daqueles filmes em que sai um monte de gente da sala durante a projeção.

– Las acácias = um daqueles comentados por muitos, e muitos adoram.

– This is my picture when I was dead = um desconhecido e estrangeiro, que a gente não entende muito bem a graça.

– Low life = um com ares de “artístico e profundo”.

– Flor sobre pedra = um antigo, um da retrospectiva.

E foi só? Foi, gente, não falei pra vocês que eu tinha acabado de voltar de viagem, com questionamentos existenciais, estudando pro vestibular – ah, e a pessoa tem que dormir, claro.

Mas eu acho que assim também sou boa companhia pros estreantes. Uma moça do meu lado, toda animada preenchendo a ficha de votação, eu pergunto se é a primeira Mostra dela, ela diz que é o primeiro filme da Mostra pra ela (isso era dia 01/11) – eu, como boa companhia digo algo chavão, mas encorajador, algo do tipo “espero que você aproveite, tem muitas opções, sempre algo pra gente se surpreender”. Pois eu entendo que, pra ela, assim como pra mim, todo ano, não importa qual é o filme badalado, tudo é novidade, é um mundo a ser explorado e qualquer coisa que vier é lucro – a gente quer é ver algo diferente, só, simples assim.

E teve as sessões de “Filmes da minha vida”, com o Beto Brant, o Jorge Furtado, a Lais Bodanzky. E o Jan Harlan, todo entusiasmado falando de amor pela arte.

Ah, vai, pra quem teve anos que não viu nada, pra quem já tinha desistido dessa loucura, até que tô melhorando, não? Tava dando uma olhada nos meus registros, em 2005 eu tava meio rebelde e cheia de planos no final do ano, foi o ano em que também me dediquei um pouco mais. É perigoso eu revolucionar e daqui uns cinco anos meu mundo vai parar de respirar só pra Mostra. Vamos ver, vou ter uma conversa imaginária com o Cakoff e aí a gente se entende.