Como metade do mundo já viu a nova série coreana tão polêmica e popular (até este início de outubro 2021, a mais vista da história) do Netflix, deixo-me à vontade para divagar sobre outras coisas nesta introdução antes de abordar a série em si.
Pois que já está aí mais uma Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e eu nem fiz post algum em setembro, mês escabroso em que tive algumas preocupações de saúde e passamos duas semanas em Brasília. E questões de saúde ainda continuaram incomodando nestas primeiras semanas de outubro.
Eu até tentei ver a última temporada da “The Crown” só para o Emmy (e porque minha mãe sempre admirou a Princesa Diana), mas fiquei pela metade. Assim como a tão elogiada “I may destroy you”, que deve ter merecido melhor roteiro, comecei e não deu pra continuar. Episódios animados de Palavra Cantada no YouTube? Sim, claro, esses eu vi quase todos, afinal, quem manda na casa é a pequena princesa. Até lady Mitinha, que era então considerada rainha, perde (minha gata branca mutante com olhos bicolores).
Bem, bem, eu vi a primeira temporada da série australiana pequenina “Turma do peito” (The letdown / 2017)***. Poucos episódios de meia hora, bem apropriado para o público alvo, que imagino ser como eu, mamães cuidando muito atarefadas de pequenos, sem tempo pra ficar horas maratonando qualquer coisa. Realmente a gente se identifica bastante – claro que acho difícil alguma mãe sair dirigindo pela cidade com a bebê, embora eu reconheça que era fácil ela dormir no embalo de viagens de carro (ainda é! Se você quiser, veja lá meu Insta). Mas dando uma relevada nos exageros que imagino existirem para serem situações mais cômicas, mostram bem a realidade que talvez por muito tempo ninguém mostrava, dos muitos casais recém-paridos: o homem querendo sexo e a mulher simplesmente exausta, incontinência urinária, peito vazando e molhando a blusa, vovós querendo dar pitaco, na era do Google não ter um livro sobre a criação dos filhos, memória ruim da nova mamãe, sensação de que há outras pessoas mais aptas no antigo trabalho, diferenças religiosas, o papai não conseguir lidar com certas obrigações (e, sim, a maioria dos trocadores de fraldas existe só no banheiro feminino), a necessidade da mamãe de um tempo para si, comparações infundadas, dificuldades em balancear carreira e maternidade. No geral, uma série que aborda os temas acertadamente e dá para darmos algumas risadas, até nos emocionarmos de vez em quando.
E, agora, sim, do que todo mundo tem falado nos últimos tempos…
(!) Alerta: este blog não acredita em spoilers. Uma coisa é saber quem vai ganhar o jogo, outra é acompanhar a jornada em crescentes constatações da crueldade humana.
O jogo da lula (ou Round 6, no Brasil)
(e por que raios não? Por que no Brasil o título ficou outro? Pra remeter a jogos? Mas o próprio título já diz que é um jogo… Ou é por causa do molusco, que pro povo brasileiro logo lembra… com tantas teorias doidas em relação a essa série, por que não contribuir com outra de conspiração de politicagem?)
S1E1 – Batatinha 1,2,3 (em inglês deve existir um jogo semelhante a um semáforo, em que se deve parar ao sinal vermelho!)
Maravilhosa introdução explicando as regras do Jogo da Lula com o protagonista ainda criança jogando, jogo de ângulos e closes e câmera lenta, em preto e branco por ser uma memória, já denotando o potencial do nosso anti-herói de trapacear, ou fazer o que tiver, para ganhar o jogo. Como uma dança filmada, mas exaltando a brutalidade natural das crianças. Adulto, Seong Gi-hun do bairro de Ssangmun se prova um ordinário que não tem vergonha de pegar dinheiro da mãe já idosa para apostar em corrida de cavalos, nem sempre tomando as decisões mais espertas – devia ter comprado o frango frito, meu filho! E a gente sabia que aquele presente misterioso na caixa ia dar ruim, né? Apesar de ter sorte em ganhar uma aposta, é roubado e não pode pagar o agiota que lhe ameaça, sem poder dar um presente decente para a pequena filha. Perdendo o trem, é abordado por um homem bem vestido que lhe dá a chance de ganhar dinheiro, ou tapas na cara, ao ganhar um jogo de criança – virando dobraduras de papel. O homem ainda lhe convida pra um jogo maior, oferecendo um cartão com símbolos e nós vemos o lado bom de Gi-hun quando oferece sardinha para um gato faminto. Ao ser relembrado pela mãe da importância de criar a filha, ele acaba aceitando entrar no jogo misterioso, é adormecido numa van para acordar num salão com vários outros jogadores em beliches, todos de uniforme verde, numerados, e tão logo se veem, um bandido já reconhece a menina batedora de carteiras, mesma que havia roubado Gi-hun. Essa briga é interrompida por controladores do jogo, vestidos de rosa com máscaras de símbolos (triângulo, quadrado, círculo, veremos depois, diferenciando sua hierarquia). Mostram alguns vídeos de jogadores, aparentemente todos ali estão endividados, há 456 (Gi-hun aliás é o último recrutado), e nas “cláusulas contratuais” está: jogador não pode parar de jogar, quem se recusar será eliminado, a maioria decide se quer encerrar o jogo. Todos tiram fotos e são levados a uma réplica de campo aberto, Gi-hun reconhece um antigo amigo de infância, Cho Sang-woo, cuja mãe pensa que está nos Estados Unidos e bem de vida, enquanto ela continua a vender peixe no bairro humilde. Nesse campo, uma boneca gigante vira a cabeça para cantarolar e quando ela faz isso ninguém pode se mexer (em português foi traduzido como “batatinha 1,2,3”), os jogadores tem que correr e chegar até a linha próxima dela para ganhar. O que ninguém esperava nessa primeira rodada é que ser “eliminado” no jogo tem significado literal… e nessas, um montão de gente desesperada correndo pra sair dali é eliminada. Conforme se percebem na situação, alguns personagens principais se viram para conseguir passar de fase, indo atrás de alguém maior para não ser detectado pela máquina, por exemplo. E Gi-hun acaba sendo salvo por um paquistanês muito forte que consegue segurá-lo por trás sem se mexer! Todo o desenrolar do jogo é apreciado por um líder (Frontman) de máscara preta em seu quarto luxuoso, ouvindo um jazz de bonecos de uma elaborada caixinha de música – cena antológica.
S1E2 – Inferno
Só na primeira rodada do jogo, praticamente metade dos competidores foram eliminados, e vemos que os corpos são levados em caixas pretas para serem incinerados depois. Após alguma comoção com pessoas implorando para não serem mortas e poderem sair dali, mostram o tanto de dinheiro que já foi acumulado num cofrinho transparente iluminado lá no alto e os controladores dizem que não obrigam ninguém a jogar. Sang-woo menciona uma das cláusulas contratuais e decidem então fazer uma votação: se a maioria decidir por terminar o jogo, todos saem. Durante a votação já se argumenta que lá fora não se tem chance, ali pelo menos podem conseguir algo para a vida; e acaba que o velhinho número 001 é o voto decisivo, deixando quem quiser sair do jogo. Cada competidor é jogado de volta à sua realidade, e acompanhamos alguns deles. Gi-hun vai delatar para a polícia sobre o tal jogo, mas o número de telefone já não vale e acaba numa discussão ouvida por um jovem policial que traz um prisioneiro e reconhece aquele cartão de visitas peculiar. O jovem, Hwang Jun-ho, dá um jeito de entrar no quarto do irmão desaparecido e confirma ser o mesmo cartão. A batedora de carteiras, Kang Sae-byeok, visita o irmão no orfanato e lhe promete que um dia irão reencontrar os pais e morar juntos; também tira satisfação com um cara que tinha prometido intervir para encontrar os pais e passarem pela fronteira (ou algo assim?), ameaçando-o com uma faca na garganta. O forte paquistanês, Ali, agradece a Sang-woo por emprestar o telefone e lhe pagar um macarrão instantâneo e uma passagem de trem, porque senão iria andando para casa; vai ter com seu chefe, aparentemente perdeu 2 dedos e a empresa não tomou as devidas providências, numa briga o chefe acaba perdendo sua mão e um envelope cheio de dinheiro que Ali entrega à esposa para ir embora do país com o bebezinho deles. Já Sang-woo, que seria o orgulho do bairro, vai para um hotel se afundar porque não vê saída para o montante de dívidas que tem, continuando a enganar a mãe idosa. O grandão de cara feia, Jang Deok-su, que foi traído e queria brigar com Sae-byeok antes mesmo do jogo começar, acha que tem um comparsa e quer bolar um golpe para roubar o dinheiro do jogo, mas é traído sendo entregue para cobradores de cassino nas Filipinas, encurralado pula da ponte no rio. “Por acaso” Gi-hun encontra o velhinho 001, toma umas com ele e batem papo, 001 argumenta por que vai voltar. A mãe de Gi-hun está internada, as pernas deterioradas pela diabetes e precisando de cirurgia, mas precisa trabalhar e se recusa a continuar no hospital. Ele tenta emprestar dinheiro, até conseguiria com o marido atual da ex-esposa, que lhe pede para sair da vida deles, ainda mais que vai levar a filha de Gi-hun para morar nos EUA. Gi-hun fica tão triste que nem fala mais nada sobre o jogo quando procurado pelo policial Jun-ho. Todos acabam entrando na van novamente para voltar ao jogo – e a vã de Gi-hun seguida por Jun-ho.
S1E3 – O homem do guarda-chuva
Agora temos uma trama paralela à principal que acrescenta muito ao que estamos vendo, pelo personagem do policial Jun-ho que consegue se infiltrar na organização desconhecida. Entra no navio com as vans que carregam os jogadores, rouba a identidade de um deles jogando o corpo no rio com seu próprio documento, vemos o controle de escaneamento dos jogadores. Sae-byeok na verdade conseguiu não ser posta para dormir e esconde um canivete consigo. Acordando novamente, começam a se formar amizades; Deok-su chama Sae-byeok para entrar na sua equipe e uma mulher barraqueira se oferece no lugar, número 212, Han Mi-nyeo. Inclusive faz um escarcéu para ir ao banheiro de madrugada e fumar, e Sae-byeok se aproveita para ir junto, que sabe descobre algo; a mocinha sobe pelo duto de ventilação, mas só consegue ver grandes panelas com açúcar a tempo de não serem pegas pelo controlador. Já o policial adentra as escadas coloridas, vai imitando todos e chega em seu quarto como número 29, que tem o mínimo necessário para repouso, já vai anotando no celular informações, apesar de não ter acesso à qualquer rede para enviar algo. Mi-nyeo ajudou e agora quer saber o que a garota viu, Sang-woo também percebe e pergunta à Sae-byeok, pois talvez ele possa deduzir qual será o próximo jogo; numa lembrança de infância, ele reconhece os símbolos diante dos quais os jogadores precisam se posicionar, por livre escolha: círculo, triângulo, estrela e guarda-chuva. Gi-hun fala para os amigos se ajudarem no próximo jogo, mas fica óbvio que Sang-woo sabe de algo e acaba não falando depois de cada colega escolher uma figura diferente. O jogo é para recortar a forma em um biscoito doce, e claro que um triângulo é mais fácil de contornar do que um guarda-chuva… Sae-byeok acaba se dando bem por observar Sang-woo e escolher a mesma forma; Mi-nyeo tinha um isqueiro escondido que a ajuda queimando a ponta da vareta de metal, e passa o isqueiro para Deok-su; conforme os jogadores que vão quebrando o biscoito de forma errada levam tiros na cabeça, a tensão cresce, e todos suam, Gi-hun percebe molhando por trás as linhas finas vão derreter primeiro e conseguirá fazer o desenho – 001 e outros jogadores copiam a manobra! Mesmo assim, nessa angústia, um jogador se rebela, pede para um dos controladores tirar a máscara, e os dois são mortos. Número 29 consegue pegar uma máscara de símbolo quadrado, alguém que não precisa responder perguntas dos círculos…
S1E4 – Fiquem juntos
Depois de todo o suador, para recarregar a energia os jogadores só recebem um refrigerante e um ovo. Como a gangue patota de bullies do bairro, Deok-su e sua turma dão uma de espertos e furam fila de novo, só que aí falta alimento para os últimos. Claro que isso gera uma briga, Deok-su acaba matando o rapaz mais franzino que reclamou, mas nada acontece com o mau caráter e só é acrescentado mais dinheiro no porquinho lustre. É revelado também como outro jogador tem informações privilegiadas sobre os jogos, num esquema de contrabandear órgãos dos mortos no jogo, pois 111 é um médico (agora me explica como é que conseguiram colocar um papelito dentro do ovo cozido, que ainda está envolto por casca dura?!). Com a possível matança entre jogadores a acontecer durante a noite (afinal, matando mais o jogo vai acabar mais rápido), 111 busca o grupo de Deok-su para protegê-lo. As luzes não apenas se apagam, mas começa um piscar atordoante acionado pelo Frontman, e começa o quebra-quebra, as lutas, Gi-hun de Sangnum intervém e seu grupo protege Sae-byeok de Deok-su, o velhinho aparece no topo de um beliche gritando para pararem senão todos vão morrer ali. As luzes acendem, os controladores atiram para o alto e depois contabilizam os eliminados, confiscam a faquinha que foi roubada de Sae-byeok por Deok-su, que ainda se dá bem numa rapidinha no banheiro com Mi-neyo, que o faz prometer sempre estarem juntos enquanto o ameaça de matá-lo caso a traia. Todos os principais personagens acabam assim numa conversa de revelarem seus nomes, depois que o policial disfarçado pergunta a Gi-hun sobre o próprio irmão e ele responde que ninguém sabe o nome de ninguém. Depois dessa batalha noturna, é preciso que os jogadores formem times, todos procuram homens fortes, Deok-su inclusive dispensa Mi-neyo, sabendo qual será o próximo jogo. A equipe de Gi-hun e Sang-woo acaba se tornando a mais fraca, com Mi-neyo invadindo e completando três mulheres, além do idoso, e não é que a prova parece ser de força mesmo? Cabo-de-guerra, cada equipe puxando um lado da corda, só que o lado perdedor cai de uma altura que faz todo o time morrer. O time forte de Deok-su e do médico vence com facilidade; quando chega a hora de Gi-hun, o velhinho começa a contar a estratégia que ele e os amigos tinham que os fazia sempre vencer, sobre o posicionamento de cada jogador e os dez segundos iniciais em certa postura física, parece dar certo, quando começam a serem puxados e no limite Sang-woo sugere darem passos na direção contrária para fazer o outro time cair.
S1E5 – Um mundo justo
O time de Gi-hun, Sang-woo, Sae-byeok, Mi-neyo, Ali, 001 e mais alguns consegue se salvar; um dos que integraram é religioso e tem uma discussão com outra garota novinha que não acredita nessa absolvição. Todos se preparam temendo um novo ataque ao apagar das luzes, combinando de se revezarem na vigília, em duplas; ao ser confrontado, Gi-hun pergunta a Deok-su se ele realmente pode confiar nos colegas do próprio time. Sang-woo conhece mais sobre Ali, Gi-hun lembra de um protesto na fábrica onde trabalhava em que um amigo morreu, 001 está com febre e é substituído por Sae-byeok, que até dá sua água para o velhinho. E não é que o 29 era um dos envolvidos no contrabando de drogas? (muito conveniente por parte do roteiro, não?). Entre conversas com outros mascarados enquanto o médico trabalha tirando os órgãos, surge a desconfiança; 111 se rebela pois precisa saber qual será o próximo jogo, acaba fugindo e se perde no labirinto, até que o Frontman pega ele e um dos capangas que o perseguia e os mata, pois acabaram com algo muito precioso no jogo – a chance por igual dada a todos. Na descida por uma passagem secreta, 29 descobre que VIPs podem usar esse caminho para sair da ilha, por isso há equipamentos de mergulho ali, teoricamente 28 e 29 são bons mergulhadores e devem levar os órgãos para outro lugar, mas é descoberto e acaba matando 28; decide subir de volta e acaba no quarto do Frontman, vai explorando os cômodos e descobre uma sala de arquivos, pastas com vários anos e listas dos ganhadores dos jogos, e o policial finalmente descobre a ficha do seu irmão entre os jogadores.
S1E6 – Gganbu
Os controladores fazem todos se levantarem, sendo o último na fila e depois do 001, Gi-hun percebe que o velhinho tinha se mijado e empresta o agasalho para ele se cobrir. Os jogadores passam pelo labirinto de escadas rosa e verde e dependurados estão corpos de controladores e do médico, mortos e exibidos. Para o próximo jogo, os competidores precisam formar duplas; Gi-hun até ia perguntar a Sang-woo, mas o colega do bairro convida Ali, um matemático se oferece para ser sua dupla, mas ao final não tem jeito, ele acaba convidando o velhinho 001 para jogar com ele. Como houve a morte do doutor, sobre um jogador sem dupla, que é a mulher barraqueira. Todos adentram uma espécie de réplica de bairro coreano de antigamente, que remete à infância tanto para Gi-hun quanto para 001; todos os jogadores recebem um saquinho com bolinhas de gude e 001 lembra que sempre tinha o amigo do bairro com quem se dividia as bolinhas, o chamado “gganbu”, e entram no acordo de um ser o “gganbu” do outro. O problema são as regras: a dupla vai ter que jogar entre si e ganha quem tiver conseguido as bolinhas do outro – ou seja, a maioria vai acabar perdendo um aliado ou amigo dentro do jogo, e tem até o caso de um casal. Dessa forma, cada dupla combina um jogo: Deok-su começa a perder e sugere mudarem o jogo; Sang-woo também tinha explicado para Ali, que nunca tinha jogado, e se exaspera quando se vê quase sem bolinhas; Sae-byeok e a outra garota decidem por apenas conversar até o último minuto, com um jogo de perder ou ganhar tudo. 001 parece estar com a mente confusa, enrolando para jogar, e demonstrando certa perda de memória num diálogo absurdo a cada jogada com Gi-hun, em que ele fica no controle para enganar ou ser honesto – mas numa situação limite, será que todo espectador não se imaginou no lugar, o que faria, não defenderia sua própria sobrevivência? Sang-woo acaba enganando Ali, inventando uma teoria e convencendo-o a ir contar jogadores, sendo garantido que teria duplas que acabariam o tempo sem ganhador, Sang-woo rouba-lhe as bolinhas e Ali só percebe no final em quem tinha confiado. Deok-su acaba realmente tendo sorte e o comparsa que o apoiava é morto. Apenas nesse episódio as duas moças ganham empatia uma pela outra, mas Sae-byeok ganha porque a outra se sacrifica por ela, perdendo de propósito e dizendo que ainda não saberia o que fazer com o dinheiro caso saísse vitoriosa do jogo, e Sae-byeok sabia muito bem, então ela deveria pelo menos ter a chance. 001 ainda vagueia mais pelo bairro, entrando numa casa que ele diz ser exatamente igual à da infância, propõe que Gi-hun tente ganhar sua última bolinha apostando todas as que tem, quando Gi-hun diz que isso não fazia sentido, ao que 001 demonstra que estava bem são o tempo todo. Mas ele já tinha um tumor mesmo no cérebro, sabia que ia morrer, e simplesmente cede, agradecendo Gi-hun por ter jogado com ele, que foi divertido antes de partir. E se lembra do próprio nome: Oh Il-nam. (comentário à parte: xenti! Que episódio de partir o coração!!! Chorei. Melhor episódio da temporada, por tudo que tinham construído, incluindo as relações entre personagens e público-personagem).
S1E7 – VIPs
O Frontman atende o telefone e percebe que seu recinto havia sido infiltrado, que o policial que procuravam estava escondido ali, mas é interrompido para um chamado sobre um corpo. O marido que tinha ganhado o último jogo da esposa (significando que tiveram que escolher que ela morresse) tenta convencer o resto a decidirem parar e saírem, mas depois de tudo e chegarem até ali, qual bem faria sair do jogo agora? Chegam os VIPs, convidados especiais usando máscaras de bichos douradas, para acompanharem o próximo jogo ao vivo. Pelas conversas, podemos deduzir que há pessoas de muito poder que assistem aos jogos de diferentes países, talvez a cada edição um país é o anfitrião (como nas Olimpíadas?), e podem fazer apostas sobre os jogadores. A essa altura, o policial também já se infiltrou, desta vez no lugar de um dos garçons que servem os VIPs; ele acaba entrando nas graças de um dos poderosos que quer ver seu rosto, sugere irem para uma sala mais reservada. Para o próximo jogo, os competidores precisam escolher um número que corresponderá à ordem em que vão jogar; logo acabam os números do meio, pois ninguém quer começar ou terminar, sem saber qual é o jogo. Gi-hun fica pensando demais, mas quando não tem jeito e ia ficar com o número 01, um jogador pede para que ele fique com o último, 16, pois sempre ficou atrás dos outros e gostaria de pelo menos uma vez ser o corajoso e ir na frente. Finalmente adentram o local do jogo, com duas pistas de vidro para pularem a cada passo e chegarem do outro lado, o problema é que um dos lados vai quebrar e a queda da ponte leva à morte. Assim, os jogadores vão seguindo, mas o de trás só pode seguir após o da frente, e só podem subir em um espaço 2 pessoas no máximo. Conforme vão errando e o tempo vai passando, cresce a tensão, pois existe um limite de tempo e se a pessoa da frente não se decidir e demorar, pode não dar tempo – ou ela pode ser empurrada. Gi-hun teve sorte, afinal, ao ficar por último, só precisa seguir os da frente, mas dá uma titubeaa até no primeiro passo, que todos já deram! Claro que Deok-su não receia em pressionar o da frente, mas na própria vez diz que não vai escolher e que alguém passe na frente dele e escolha; eis que chega Mi-neyo, mulher que tinha prometido matá-lo caso ele a traísse, e ela dá um jeito de levá-lo junto com ela mesmo! Depois disso, aparece um velho que diz saber diferenciar os dois vidros, pois já trabalhou com isso, ele vai acertando pelos reflexos e refração da luz, mas quando percebem que ele vê algo, Frontman apaga as luzes; precisa então comparar pelo som, só que Gi-hun só tem 1 bolinha de gude a oferecer; como ele para, Sang-woo acaba empurrando o cara para poderem chegar no final a tempo; quando o relógio termina, explodem todos os vidros restantes. Após matar o VIP, o policial consegue escapar por aquela passagem secreta para VIPs e com um kit de mergulho.
S1E8 – O líder
Gi-hun finalmente consegue ver a verdadeira personalidade de Sang-woo e já não pode mais confiar no amigo do bairro, só restaram eles e Sae-byeok para a rodada final e os três recebem novas roupas elegantes para usarem, no banheiro vemos como ela se feriu feio na explosão dos vidros. Aos três finalistas é oferecido um banquete, mas Sae-byeok mal toca na comida; ao final do banquete recolhem tudo, mas deixam uma faca para cada um. Enquanto isso, o policial alcança uma outra ilha e tenta enviar mensagens pelo celular, só que o sinal é bem ruim ali também. Ele é perseguido pelo líder (Frontman) e outros controladores-capangas do jogo, finalmente a identidade dele é revelada, numa tentativa de fazer o policial se render, e o confronto acaba com o líder atirando no irmão, que cai do despenhadeiro no mar. Durante a noite, Gi-hun vai conversar com Sae-byeok, pois nela ele confia é mais, ela o impede de usar a faca, pois ele não é esse tipo de pessoa; lhe conta do irmão que está no orfanato, e o faz prometer que quem sair vivo vai cuidar da família do outro, ele quer que juntos vençam Sang-woo, mas percebe que ela não está bem, ela desafalece e Gi-hun vai correndo até a porta chamar por alguém, quando finalmente abrem o portão e acendem a luz é para buscar o corpo da garota, que foi cortada na garganta. Gi-hun é impedido de atacar Sang-woo e o líder fica na cabeça com a pergunta do irmão: “por quê?”
S1E9 – Um dia de sorte
No cara e coroa é decidido quem vai ser ataque e quem será defesa, é claro que o jogo final é o Jogo da Lula. É o mesmo campo aberto da boneca gigante, demarcado e a céu aberto, e começa a chover. Os dois começam a lutar, sendo observados pelos VIPs (e eles nem parecem ter ligado que um dos membros estava faltando!), é uma luta cheia de raiva e rancor, amarguras e dores suprimidas, a certo momento Sang-woo consegue vantagem, acerta a faca na mão de Gi-hun, que abocanha a perna do outro e consegue dar a volta por cima, desta vez tendo a chance de matá-lo de vez. Mas Gi-hun não o mata. Ele já seria o vitorioso, o controlador já estava pronto para matar Sang-woo, e ele receberia seu dinheiro, porém Gi-hun sugere que parem o jogo, pela vontade da maioria; Gi-hun oferece a mão ao amigo, para que voltem para casa. E Sang-woo não vê saída. (comentário à parte: eu aliás já tava achando que ele ia se matar naquela banheira do hotel!) Gi-hun é deixado numa rua qualquer com um cartão para uma conta com o valor prometido. Ele retira só um pouco, segue para casa sendo indagado pela mãe de Sang-woo se não tinha tido alguma notícia do filho, a própria mãe morta em casa. Um ano depois, com péssima aparência, Gi-hun conversa com o que aparenta ser um gerente de banco, ainda pedindo algum dinheiro emprestado. Uma senhora lhe vende flores e com elas ele recebe um convite do seu “gganbu”. Ele vai até um prédio endereçado pelo cartão, descobrindo um suposto Il-nam num leito de frente para uma janela. Gi-hun tem perguntas e eles apostam que se alguém ajudar um homem sem teto que está caído na rua, antes da meia noite, Gi-hun terá suas respostas. Durante sua conversa, aguardando o resultado, ex-001 conta sobre pessoas com muito dinheiro para quem a vida não tem tanta diversão e da criação do jogo. O velhinho insiste para que Gi-hun use seu dinheiro, até então intocado, porque ele ganhou, mereceu. Um minuto antes surge o carro de polícia com alguém que havia passado e decidiu ajudar aquele homem que a maioria prefere ignorar. Mas Il-nam morre sem saber que perdeu. Depois desse encontro, Gi-hun busca o irmão de Sae-byeok e o entrega aos cuidados da mãe de Sang-woo junto de recursos suficientes. Ao ver o mesmo recrutador do jogo em uma estação de trem, rouba o cartão e embarcando num voo para os EUA, provavelmente para encontrar a filha, não resiste e acaba ligando para o número. A voz do outro lado reconhece quando ele diz quem é, que é uma pessoa e não um mero joguete, Gi-hun diz que precisa saber quem são e não consegue aceitar as atrocidades que cometem, acaba não entrando no avião.
***
E é isso aí… Deixo aqui registrado o fenômeno que foi essa série, pronto para o próximo sucesso de streaming roubar os holofotes logo logo, mas realmente uma série bem feitinha, que prende o telespectador, que dá vontade de continuar vendo e ver no que vai dar. Confesso que logo que vi o primeiro trailer eu fiquei com um pé atrás, pois assim como outras séries de jogos que eu havia desprezado antes, é grande a possibilidade de eu só assistir a uma temporada e não continuar vendo – bem o que aconteceu com a brasileira “3%”. Fora que eu não sou tão assim levada pelos rumores populares das séries badaladas (nem vi “La casa de papel”, minha gente!). E depois do tão aclamado “Parasita” (2019) surpreendendo e levando tudo no Oscar, parece até que agora é que o mundo vai descobrir produções sul-coreanas… Daí, vão vendo, assim como criar altas expectativas sobre alguma obra audiovisual não funciona para mim (sempre saio decepcionada), ter vários pés atrás pode funcionar positivamente. Realmente curti, achei que conseguiram mesmo trabalhar bem a direção, arte, som, efeitos. Como sempre tendo a ver primeiro sobre a narrativa, pelo histórico de sonho frustrado de ser roteirista, é claro que eu já conseguia prever muita coisa do que ia acontecer. Mas o roteiro também me apeteceu muito, não tanto pela criatividade dos jogos numa abordagem mais violenta (quem dos geeks ou otakus já não viu violência gráfica e coisas do mesmo estilo em mangás ou animes?), mais pelo trabalho com os personagens, a gente se coloca mesmo no lugar imaginando como reagiríamos e tentando entender as motivações e as reações deles. Não à toa, a morte mais sentida foi a do 001, acaba com a gente, depois de toda aquela relação construída com o protagonista. E será que depois de ganhar essa bolada, passando por tudo aquilo, realmente usaríamos à vontade o que ganhamos? Já sabemos, dinheiro não compra felicidade. E também não traz paz de espírito. Mesmo sendo um vencedor, sentir-se como uma pequena marionete do sistema, em que tantos sofrem desvantagens, são eliminados, não há piedade, não por razões justas deixam o “jogo”… não é uma realidade simples de encarar.
E o que isso tem a ver com budismo?
Creio que a primeira coisa que fica óbvia é sobre a importância do dinheiro, do material. Será que é realmente a solução dos nossos problemas, traria a felicidade? Uma resposta fácil, mas a ganância continua como um dos principais pecados capitais, apesar de na teoria já sabermos de tudo. E olhando para os senhores do jogo, como é esse prazer que existe vendo a crueldade humana? Alguém poderia apontar que é o mesmo que nós, telespectadores, acompanhando a série, com o adendo de que sabemos que é fictício e, por isso, aceitável. Talvez o que mais tenha a ver com budismo nesta série seja também seu maior mérito: a natureza humana. Nós nos identificamos com falhas, pois todos também somos falhos, seja de caráter, seja uma decisão errada. Nós gostamos de perceber que não estamos só. O prazer em acompanhar os jogos está muito mais em reconhecer como somos humanos. Apesar de todos os revezes que podem surgir no mundo, diante de nós, temos algo inexplicável lá dentro para nos dar força e superar, perseverar, lutar. A nossa verdadeira natureza, apesar de tudo, é algo que gera o bem e busca o bem, e se importa com o outro. Por isso nos afeiçoamos tanto a Gi-hun; assim como o personagem principal, todos nós temos um lado para o bem, apesar de quaisquer falhas. Ninguém é completamente ruim e condenável. Essa natureza verdadeira é o que chamamos de natureza búdica, o potencial de todos em se tornar um Buda, alguém mais sábio, com mais compaixão, compreensão dos sofrimentos humanos, iluminado.