Sobre come backs e algumas séries

Acho que parte deste post era para ter saído no início do mês ou finalzinho do mês passado, mas como não sou jornalista, nem mesmo produtora de conteúdo, vamos lá para mais uma nota deste diário virtual. É meio que coincidência, mas bem vinda, esse negócio dos “come backs”. Comentei que o Oscar deste ano teve isso como característica e na minha vida pessoal também, esse mês de março me deu essa sensação. Em uma reunião virtual, para discutirmos sobre eu voltar a fazer algumas traduções e revisões, um médium comentou que parecia como um momento de “come back” pra mim (desse jeito mesmo, japoneses às vezes usam termos em inglês misturados ao japonês). E sobre a eterna questão minha de escrever, ou de procurar fazer algo relacionado a cinema, foi também um tempo em que comecei a pesquisar algumas coisas – sobre cursos que eu poderia fazer, talvez uma especialização, talvez no exterior até. Quando descobri sobre um curso online, claro que pensei nisso logo, com o atual cenário pós-pandemia talvez eu encontrasse minha chance.

E quer saber? Tomei mesmo essa resolução. Eu não tenho muito mais tempo de vida e tenho é que fazer o que der e mais do que eu amo, se possível. Volto, mais uma vez, depois de tantos anos, a ver sobre roteiros – como as coisas funcionam agora? O Brasil hoje já tem uma outra produção audiovisual de quando eu tinha sonhos de me mudar para Los Angeles aos 10 anos de idade… Que tipo de concursos existem por aí, será que valem a pena? O que é possível fazer nas minhas atuais condições (de idade, financeiras, com certos compromissos como esta pequenina vida a criar…)? Aliás, é difícil eu dizer isto aqui, mas se alguém por aí tiver boas dicas e sugestões, passem, por favor.

No ano passado, decidi que antes do meu marco de vida eu precisava terminar pelo menos um roteiro, aquele que eu deveria escrever mesmo que fosse o único, antes de morrer. Nas últimas semanas vim trabalhando em um argumento, com novas esperanças e me preparando psicologicamente para escrever pelo menos mais dois roteiros até o ano que vem (pretensões…).

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Enfim, fora esse momento de “come backs”, vamos deixar registrado por aqui algumas séries vistas.

Lockwood & Co.” mostra uma jovem aprendiz de “caça-fantasmas” num mundo em que os adolescentes podem ser sensíveis a esses espíritos e trabalhar com isso, pois um fantasma pode matar. Há muitos detalhes, pois é baseada em uma série de livros, como os rituais para espantar ou acabar com um fantasma, mas conseguem deixá-los instigantes e o espectador anseia por acompanhar a jornada da protagonista Lucy, que foge e acaba conseguindo trabalhar com outros dois na pequena agência Lockwood, descobrindo ter poderes únicos. Existem os trabalhos complicados – e aquela mansão cheia de monges, gente! E um mistério maior a ser desvendado, a rivalidade com outros agentes, locais obscuros e pessoas de má índole, boas cenas de ação e tensão, suspense. A série tem um ritmo muito bom, surpreendendo a cada episódio. Netflix.

Paper girls” acompanha um grupo de quatro garotas entregadoras de jornais que numa noite muito estranha viajam no tempo e precisam descobrir como voltar para casa. Baseada em quadrinhos, confesso que comecei a ver também por causa da Ali Wong, que fez uma comédia romântica que eu tinha gostado bastante (embora eu não tenha tido a coragem ainda de encarar “Treta”). Aqui ela faz uma das garotas em sua versão futura, mais velha e meio que decepcionante por não ter tido uma carreira de sucesso e se distanciado da irmã mais nova, mas por isso mesmo é um personagem interessante – e ela vai ter a chance de controlar um robozão estilo “Círculo de fogo” ou daquelas séries japonesas infantis no final dos anos 80. As garotas se veem envolvidas em uma guerra maior de outros que controlam viagens no tempo, com mortes pelo caminho, conhecendo suas outras versões e contestando um ponto ou outro das suas escolhas “futuras”: descobrir que gosta de garotas; ter ido para a faculdade, mas largado; ter morrido e criado uma outra relação com o irmão. É uma série divertidinha, mas que parece já ter sido cancelada. Primevideo.

De volta aos 15” – outra série adolescente, o que anda acontecendo, Dê? Ai, bem, deixa eu, vai. Na verdade, me surpreendi com esta, porque achei que ia ser bem clichê, mas até que gostei. E vi toda a temporada numa noite só. A menina Anita, vivida pela Maísa, viaja no tempo também, por acidente, mas ela consegue ir e voltar entre seu eu de 30 anos e de 15 anos. Conforme cada mudança de comportamento dos 15 anos seu futuro melhora ou piora, como a amizade com uma miga trans; um garoto que era bad boy e na verdade é apaixonado pela irmã mais velha dela; um outro que muda e se apaixona por ela; a amiga que pode casar com um mala ou acabar com seu melhor amigo (por quem Anita descobre estar apaixonada). Aborda boas questões vividas por adolescentes, mas o que me pegou mesmo logo no primeiro episódio e me fez continuar assistindo é porque o filme preferido da personagem principal é “O fabuloso destino de Amélie Poulain” – um dos meus favoritos também, óin. E daí, aquele final de passear pelas ruas de Paris foi bem legal. Netflix.

Enxame” – cara, essa série é “uó”. Produzida pelo Danny Glover, o mesmo carinha responsável por “Atlanta” e companheiro do Abed em “Community”. Baseada em fatos reais, não é pra qualquer espectador… Tem violência explícita, a personagem principal é uma fã de carteirinha, obcecada por uma diva pop – claramente Nijah representa a Beyoncé, ela é a “rainha” do enxame de abelhas, que vão te ferroar para defendê-la… E essa obsessão leva ela a matar como se fosse a coisa mais normal do mundo, como os junk food que são a única coisa que ela consome. Eu me surpreendi com as participações especiais, como Paris, filha de Michael Jackson – que deve saber muito bem o que é o escrutínio da mídia e esses fãs loucos. Mais para o final, uma comunidade feminina doidona liderada pela personagem vivida por Billie Eilish (estreia dela como atriz). Tem algumas cenas engraçadas também, como a apresentação de Dre no clube de strip. E um ótimo episódio que mostra a detetive desvendando esse caso como num programa de TV. Cada episódio surpreende por algum motivo inesperado, como quando descobrimos sua adoção pela família e inclusive o final com a mudança total na aparência, a morte da namorada (gente, coitados desses pais de filha única!), e o abraço da diva com o rosto da irmã perdida. Em mim, doeu a picada, porque o mundo inteiro sabe como sempre fui e serei fã do DiCaprio, por exemplo, e quando ela fica sonhando acordada com o encontro dela com sua ídola, com uma conexão imediata etc, eu me identifiquei muito… Primevideo.

Eu também vi um episódio de “Insustentáveis” e “American Gods”, temporada 2, porque tem alguns temas pelos quais ando tendo algum interesse especial para minhas próprias ideias. Devo continuar, vamos ver.

E pra finalizar, uma série que ainda não terminei (falta o último episódio) foi “Extrapolations“, da AppleTV. Trata do perigo da crise climática – bem propício escrever sobre ela hoje, Dia da Terra. Que série mais difícil, gente, doída. Porque eles tem um climão de “acabou”, creio que foi realmente a intenção dos criadores, gerar esse desconforto, porque é para conscientizar mais, fazer refletir, até buscar mudanças. Mas que é tudo muito triste, terrível e desolador é. No primeiro episódio, apesar de protestos, simplesmente verificamos o poder de poucos e grandes corporações. Em seguida um episódio devastador sobre animais maravilhosos que simplesmente são extintos mesmo, e a relação de uma mãe com o filho que sofre das altas temperaturas e a última baleia viva na Terra. Acho que foi o pior para mim, sendo uma mãe que também torce por um futuro.

Depois desse dei um tempo na série, aproveitando o feriadão de Páscoa. A baleia (narrada no original por Meryl Streep) queria ser mãe de novo, ela diz ter sido tudo para seu filhote, todo alimento – e eu me lembrei de como mãe eu deveria saber da minha bebê, novamente aquela culpa por não ter feito o mais básico, alimentá-la o máximo que podia…

Enfim, apesar das minhas agruras pessoais, o episódio 3 abordou a fé religiosa, outro baque. A adolescente que questiona se Deus não está bravo com a humanidade, entre outros pontos que ela ataca, um rabino em provação e defendendo a fé. O quarto episódio traz Edward Norton como um cientista com acesso à alta cúpula do governo, sua ex-esposa que quer resolver o aquecimento com uma aposta de naves que não necessitam de pilotos e o filho envolvido nessa empreitada. A parte II traz um pouco desse ano 2059 numa Índia em que é preciso aparelhos de oxigênio, cujas estradas podem ficar tão quentes a ponto de matar, e um motorista carrega sementes como contrabando, ao lado de um matador em cadeira de rodas. Cada episódio avança em alguns anos, e o seguinte traz Ezra com uma doença de perda de memória, e um sistema pago de armazenamento das lembranças; é terrível vê-lo apagando tudo, inclusive o momento com a mãe quando viu a última baleia, e sabemos que não devemos ficar muito apegado ao passado, mas ter que deixar momentos felizes vividos porque as empresas ou mesmo hackers querem lucrar é horrendo. No penúltimo episódio, de 2068, temos um jantar de ano novo/despedida, um casal vivido por Marion Cotillard e Forest Whitaker brigam diante dos convidados porque ele tem a chance de virar digital, uma nova tecnologia. Dizem que o texto conversa com “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, mas honestamente, eu seria uma das poucas no mundo que não ia querer viver para sempre? Porque isso é o que o modo digital permitiria, não? Renascer quantas vezes quiser em diferentes, novos corpos.

Esta série em si não teve boas cotações, mas há algumas partes que eu gosto, seja pela criatividade do que os homens devem desenvolver nos próximos anos, seja pela mensagem de “ainda temos tempo de mudar”. Talvez eu goste do último episódio também, de finalmente punir o que representaria gananciosas grandes corporações (representada na série pela figura de Bilton, vivido por Kit Harington). Vamos ver.

Bem, abril é isso, tempos de renascimentos. Logo vem por aí maio, e quem sabe vou ver mais coisas sobre mães, como tema do mês? ;)

“Nada de novo no front” para o Oscar 2023

Continuando a série de posts com breves comentários sobre os filmes indicados ao Oscar, conforme as categorias às quais foram indicados.

Para as notações abaixo, consideremos:

Nota 01 – na lama.

Nota 02 – comida, mas com muitos ratos correndo por baixo.

Nota 03 – o entusiasmo juvenil de sair pelo mundo e pela honra.

Nota 04 – o momento em que após tentar se matar, descobrimos humanidade.

Nota 05 – doce e afável como um lenço de esperança que vale a pena carregar consigo.

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“Nada de novo no front” é um filme alemão, que julgo ter bem mais chances no prêmio pela indicação a melhor filme estrangeiro do que em qualquer outra. E é uma proeza que, com bem menos orçamento, consiga se sair tão bem nas categorias técnicas, no geral, realmente valendo a indicação a:

Desenho de produção, esses filmes de guerra sempre precisam se esmerar nesse ponto, para dar credibilidade e levar seu espectador decentemente. Temos os campos nevados, as trincheiras, os becos “esconderijo” dos soldados, os inúmeros figurantes preenchendo as batalhas e as incontáveis mortes. Destaque para quando descobrem mortos por gás e o contraste da mesa farta de comida e vazia de convidados ou moral, daquela autoridade energúmena jantando. Nota 05, um lenço.

Maquiagem e cabelo, seguindo junto com toda a parte e direção de arte, fica na memória a lama trincando no rosto do soldado, aquele outro para quem foram buscar sopa engarfando o próprio pescoço e jorrando sangue, um dos melhores amigos gangrenado por uma bala que parecia inofensiva, corpos destroçados pendurados em árvore e nos mais diversos lugares. Nota 04.

Fotografia, eficaz, própria para cada ambiente e sentimento. Basta pensar no contraste entre os jovens esfuziantes antes de partir para a guerra e a paleta de cores no confronto final, deixando bem cinza triste que às vezes os homens não fazem sentido. Muitas vezes nesse tipo de produção podemos ficar meio perdidos na ação e nas escuridões, mas não é o caso aqui. E o plano do garoto com arma na mão diante do soldado que rouba seus animais, naquele inverno? Nota 04.

Som, mais uma vez nada de novo, pensa no trabalhão de tiros, bombas, gritos, diálogos, tudo misturado. E quando se fica surdo, aturdido. “Que horas são?”, quase alguns minutos para o fim da guerra. Nota 03.

Trilha sonora original, bem colocada, batidas de tambores do batalhão, iminência do perigo quase que imediatamente reconhecível. Nota 04.

Efeitos visuais, creio que principalmente pelas armas de fogo, bombas e tanques de guerra, desabamento de abrigo, e tudo mais, convincente. Nota 04.

Fora essas, ainda a indicação a melhor roteiro adaptado, de um romance alemão. Lembro-me que eu não estava com muita vontade de ver este filme, porque eu não sou lá muito fã de filmes de guerra, e sempre fico com a sensação de “o que de diferente eles podem mostrar?”, ainda mais com esse título. Se bem que o outro filme que haviam feito foi lá nos anos 30 (“Sem novidade no front”). Ou seja, eu realmente acabei vendo mais por causa do Oscar, e não é que não foi tão ruim assim? O fato é que o romance é alemão mesmo, e se pensar bem, não é sempre que vemos a versão do “lado de lá”, pelo menos na minha experiência pessoal, fui mais exposta aos americanismos de guerra. Mostrando jovens empolgados no início – mas que logo percebem sua ideia errada e testemunham crueldades atrozes, vivenciam situações angustiantes e terríveis, a narrativa também pincela um pouco do absurdo que é essa sobrevivência comparando com as autoridades que discutem calmamente uma resolução burocrática do conflito. Gosto dessa pequena participação do Daniel Bruhl, mas desconhecer os demais atores talvez seja um trunfo, pois poderia ser qualquer jovem deste mundão, a mando e à mercê de poderes inescrupulosos e insensatos. Gosto de alguns detalhes, como a etiqueta da roupa “reciclada” ser rasgada e jogada em meio a muitas outras, o óculos do amigo morto, o Paul desesperado querendo fazer algo por outro humano que estava lutando para matar, o Paul realmente acreditar que poderia salvar Kat. Com outros candidatos mais fortes, parece difícil levar o prêmio, mas com certeza uma forte adaptação. E mesmo sem “nada de novo”, uma boa adaptação, já que talvez seja necessário revisitar o front de tempos em tempos – lembremos que apesar de o mundo inteiro já saber que guerras são ruins, vejam só, certos humanos ainda continuam a repetir guerras e guerras.

Ah, claro, “Nada de novo no front” foi indicado também a melhor filme.

Espírito natalino e favoritos de 2022

Cá estamos nós em mais um final de ano e eu me pergunto se já fiz antes algo como o que fiz este ano, buscando alguns títulos pra “entrar no clima de Natal”? Faz tanto tempo que parece que não passo por um turbilhão nesta época de final de ano, parece até que isso nunca aconteceu na minha vida. Quer dizer, claro que tem alguns títulos clássicos de Natal, quando era criança, ano após ano era certeiro, ia ter “Esqueceram de mim” (1990)*** na TV, quando chegou minha idade adulta descobri o clássico “A felicidade não se compra” (1946)****, que é uma beleza de filme mesmo, não à toa tradição de muita gente nos States.

Já “Milagre na rua 34” é o favorito de muitos, mas eu mesma conferi poucas vezes. Desta vez, parece até que vivo calmaria – nem é que não tenho uma lista enorme de coisas a fazer, virginianos sempre terão tal lista. Eu fui lá checar o especial de festas dos Guardiões da Galáxia – que nem foi tão engraçado assim, achava que me divertiria mais. Drax e Mantis vem para a Terra roubar o Kevin Bacon para deixar o Quill mais alegre, e até que é divertido ver a Nebula tentando dançar ou Groot servir de árvore de Natal.

Também vi o “Murderville” especial de Natal esperando dar mais risadas, com menos sucesso de risadas ainda. Trouxeram o Jason Bateman que, lembremos, já tinha trabalhado muito ao lado do Will Arnett em “Arrested Development”, e também a Maya Rudolph, como assistentes do detetive. De cara eu já sabia quem era o assassino do Papai Noel, e até que foi engraçado a disputa entre diferentes tipos de policiais interrogando, ou a bagunça no final – “então foi a prefeita, você acha que foi suicídio, e você, que fui eu!”, com os atores segurando risos várias vezes. A piada final do órfão Terry também foi boa.

Por falar em Noel, minha filhinha adorou o especial de Natal do Zé Coleta (#ficadica para crianças), com o caminhãozinho de lixo ajudando o Papai Noel a entregar presentes; ela fica querendo ver de novo e de novo. Aliás, para minha surpresa, ela gosta de ir lá falar com os Noel dos shoppings – esperta, descobriu que ganha pirulitos e só nesta temporada já ganhou uns 5 (e eu achando que ela ia chorar hah!).

Uma série despretensiosa e graciosa é “Dash & Lily”*** para os adolescentes espertinhos. Muito bem conduzida, os personagens começam com um jogo de desafios anotados em um caderno; os dois gostam de ler, ele não gosta de Natal e ela geralmente ama. Gosto da diversidade, sim, tem casal gay, amigo negro que trabalha em pizzaria (aliás, preciso terminar de ver “Faça a coisa certa”!), garota latina espetacular, a mocinha é asiática (adoro as tradições japonesas apresentadas de modo único à família dela), tudo sem estereótipos – até os irmãos Jonah tem uma ponta sem estrelismo, os personagens coadjuvantes são interessantes, como a tia e o avô de Lily, com suas próprias rusgas, a banda de rock dos judeus, entre outros. É bem gostoso acompanhar os dois se correspondendo e passeando por Nova Iorque nessa época festiva, ponto positivo para a direção de arte que faz um vestido árvore de Natal pra Lily e deixa os ambientes realmente lindos e reconfortantes. Ah, e ter Joni Mitchell como reforço de conexão não é pra qualquer um. Acho que se saíram muito bem com esta pequena ótima série, recomendaria pra qualquer um.

Mas acho que o que mais enche as listas de filmes natalinos nas opções de streaming (e Tv), fora os infantis, são as comédias românticas. Meldels, como tem filme de romance com Natal como pano de fundo… Eu tinha que pegar unzinho pra ver, né. Na verdade, mais de um. “Natal em Hollywood” (2022)* até brinca com os clichês típicos desse tipo de filme, mas entre tantos eu quis ir adiante com “Um castelo para o Natal” (2021)* porque a protagonista é uma escritora… Numa crise na carreira – e vida pessoal – ela acaba partindo numa viagem e comprando um castelo na Escócia. Claro que ela se apaixona; é engraçado a referência de espadachim e lendas medievais, visto que o duque é vivido pelo Cary Elwes, de “A princesa prometida” (1987)** e que já foi um Robin Hood. O Hamish serve bem em seu papel de bicho fofo, o enredo é aquela coisa previsível, mas é interessante incluir o dialeto local, e que a faixa etária seja um pouco mais avançada do que grande parte dos filmes do gênero. Ambos são separados e a escritora tem filha na faculdade – Brooke Shields tá com quase 60, gente, não ousem reclamar dos peitinhos dela.

Na verdade, esta é a deixa pra entrar no tema de alguns favoritos deste 2022. É, cá estamos nós, em mais um final de ano fazendo nossas retrospectivas. Este ano sinto que escolhi um pouco mais de filmes com personagens escritores. Teve “Mank” e “Barton Fink”, mas uma boa surpresa pra mim foi “Sob o sol da Toscana” (2003)**, com uma escritora já mais madura, também em crise, que sai pra viajar – e eu diria que, meio que pra se inspirar a viver de novo. Por coincidência ela também acaba comprando uma propriedade. É a crise de meia idade – sim, eu deveria pensar em comprar um imóvel, mas no meu caso preferiria um motorhome. Bem, não é bem essa a crise, é o fato de chegar em certo ponto da vida e querer resgatar aquele sentimento da sonhadora que sempre existiu em mim, de querer ser escritora.

Acabei nem fazendo posts aqui sobre minha jornada em Gramado; neste 50° ano de festival de cinema – um dos mais importantes do país, eu decidi me dar esse presente de aniversário. Foi um dos meus momentos favoritos de 2022, embora sempre exista um lado ruim implicado, como minha bebê e gata doentes longe de mim e meu companheiro estressado lidando com o caos. Mas essa viagem não foi apenas para conferir alguns filmes, depois de tanto tempo sem telas grandes, ou comer delícias e chocolates.

Secretamente, essa era uma viagem para eu me sentir como uma escritora. Assim como esses personagens de filmes, saindo numa jornada inspiradora – até Bilbo Baggins entrou nessa descrição? (Com saudades de “Senhor dos anéis” após o fiasco da série, comecei as versões estendidas, mas não estou nem na metade). E não é que parece até que o universo queria que eu realmente tomasse vergonha na cara coragem e abraçasse esse meu verdadeiro eu? Por puro acaso, numa manhã chuvosa, acabei de gaiato numa capacitação para roteiristas, com apresentação e análise de uns profissionais relacionados ao FRAPA, um festival de roteiros que eu simplesmente desconhecia por estar fazendo justamente 10 anos – de festival e de tempo que passei piamente desacreditada dos meus sonhos.

Incrível, não? Achei uma bela sacada do destino. Não, não terminei o roteiro que queria terminar em cinco dias, à la John Hughes. Mas, sim, eu escrevi! Eu realmente estava escrevendo! No meu jardim secreto (literalmente, o nome da pousada era Jardim Secreto), com o ar puro do vento batendo no rosto num passeio bucólico de bicicleta, um café da manhã caprichado, friozinho perfeito pra usar um casaco Amélie, um chazinho pra esquentar a alma no final da noite. E o meu quarto era perfeitamente o de uma escritora, tive até direito a banho de banheira, sem no entanto ficar lá como Trumbo. Mas eu estava escrevendo. De verdade. E por isso eu estava tão feliz…

Porém, como muitas felicidades são passageiras, acabamos voltando à rotina da vida real. É.

Minha gata se foi. E tudo meio que desmoronou. E eu tentei me concentrar nas coisas que de fato precisam ser feitas, vi algo aqui, algo ali. Me entreti com a Copa, que teve uns azarões engraçados – Japão, Arábia Saudita, Espanha perdendo, Marrocos chegando na reta final, e que emoção a final da Argentina, histórica, depois de 36 anos. Eu consegui ver o reality “Drink Masters” e me impressionar no requinte e na elaboração daquelas bebidas; xenti, eles cozinham melhor que os Master Chefs… E consegui ver a primeira temporada completa de “O conto da aia” (2017)***, série realmente contundente, sem barrigas, baseada nos livros de Margaret Atwood, meio subversiva, revolucionária em certo ponto, imaginando uma realidade de poucas mulheres férteis obrigadas a dar à luz, numa sociedade que deveria “limpar o mundo”, mas como em todas as teorias impraticáveis da história da humanidade, já denunciando a podridão humana em sua primeira temporada. Está no Star e devo continuar vendo.

Ah! Devo mencionar que curti, inesperadamente e com muita avidez, “O sabotador” (The mole/2022)***, o reality da Netflix que reformula um programa que passou no início dos anos 2000. São 12 competidores que devem fazer provas diversas para acumular dinheiro para um prêmio final e ao mesmo tempo tentar descobrir quem dentre eles é a pessoa tentando sabotar a empreitada. Talvez eu esteja descobrindo esse meu lado que curte um bom mistério. Antes do último episódio eu repensei as provas e consegui adivinhar quem era o sabotador, mas não tava fácil não. E gostei bastante de todas as provas, muito loucas! Tinha várias ali que eu não conseguiria fazer (mergulhar pelas caixas de tesouro, rapel na montanha, carregar blocos de gelo na neve, vix). A primeira prova do avião já nos surpreende com um segredo, tensão pra fugir da prisão, desconfiança no roubo do banco, ousado e terrível os 25000 apostados, surpreendente os finalistas da mesa com “delícias” e detonadores. Adrenalina, sem querer parar de ver os episódios, haha, belezura pra “férias”.

Porém, vamos lá, finalmente para o favoritasso do ano, aproveitando que também é muito propício para esta época de confraternizações de fim de ano. Não, vocês erraram se imaginaram que meu escolhido seria “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” (2022)***, que anda ganhando prêmios por aí, tem a ótima Michelle Yeoh e o envelhecido garoto asiático amigo do Indiana Jones. É realmente uma bela confusão divertida, com comédia, inteligente, muita ação e lutas, Jamie Lee Curtis velhinha lutando, às vezes zumbi, pedrinhas singelas conversando existencialismos – e no final, pra quem não curte tudo isso, tem a relação mãe e filha/marido/família pra tocar no coração de qualquer um.

Mas meu favorito é uma produção anterior a este ano, que só fui conferir no Primevideo e agora, com ótimo timing, chega à Netflix. Então vai lá conferir pra poder dar mais valor à sua família ou qualquer pessoa próxima neste Natal ou Ano Novo. “Um lindo dia na vizinhança” (2019)**** meio que passou batido no Oscar, com uma só indicação para Tom Hanks, que faz uma personalidade das infâncias de muita gente nos EUA, com seu programa de TV e caráter, consideração incomparáveis. É um filme realmente muito especial, sério candidato a revisões futuras, que permanece na nossa alma quando lembramos mesmo passado um bom tempo. Aquela cena de pararmos e simplesmente olharmos é maravilhosa.

Com isso, termino aqui este post e este ano, desejando aos esparsos leitores, mas a todos, os conhecidos, amigos, familiares inclusos, ótimas confraternizações de fim de ano, filmes e séries que importam, realizações no novo ano que importam também, saúde e coragem, que importam demais. Um abraço caloroso.

“Desencantada” – com várias coisas…

Ai, esta crise de meia idade, né. Se eu já era rabugenta naturalmente, uma velhinha em corpo de menina, como a Sophie de “O Castelo Animado” (2004)****, imagino que a partir desta quilometragem vou assumir de vez a velhice, começar a ficar remoendo o passado como todos os velhos do mundo, porque a vida atual não parece lá tão empolgante.

Logo que vi “Encantada” (2007) ***, eu fiquei muito entusiasmada, eu me diverti “à beça” (sim, vamos sempre usar expressões datadas por aqui. Não sei usar “shippar” ou “lacração”, embora eu me identifique com “tá na Disney”). Foi muito divertido imaginar como seria se uma princesa Disney caísse na real, principalmente euzinha tendo crescido com as princesas na retomada das animações Disney anos 90, com técnica preciosa, personagens carismáticos e canções maravilhosas – não essa coisa xoxa e pavorosa das live actions caça-níqueis que invadiram nossas telas nos últimos anos.

Daí me chegaram com esse “Desencantada” (2022) *, e confirmei o que já sabia, que iam desandar a poção mágica. Claro, Amy Adams continua talentosa (e todo mundo falava do Leo, mas quando será que essa mulher vai levar um Oscar?), e a premissa não era ruim, aqui na realidade não existe um “felizes para sempre” como nos contos de fadas. Mas confiam em um montão de efeitos estrambóticos, as canções não empolgam, a trama a gente já sabe no que vai dar… E tem um bocado de referências às outras produções Disney, sendo citados nomes mesmo em canções, mas principalmente “A Bela e a Fera” (naquele passeio pela cidade da Morgan, no café da manhã com os objetos de cozinha falantes) – também pudera, o compositor é o mesmo, Alan Menken; e referências à Cinderela (versão Disney, claro, com vestido azul pra Morgan, a madrasta tem que ter um gato e não um ratinho). Mas nem merece um post de “coisinhas divertidas a notar”, porque nem é tão divertido assim.

Enfim, passamos as eleições – e, xenti, como assim o Lula foi convocado para (e compareceu) a COP27 antes mesmo de assumir a presidência? E, xenti, que que é isso no QG? Mas “passou raspando” e nem podemos exatamente respirar aliviados, temos é aquele medinho, desencantados com tudo o que vem acontecendo no mundo. Ainda existe salvação mesmo para esta humanidade?

E a Copa, como chega aí pra vocês? Eu já estou é com o pezinho no clima de Natal, escolhendo uns filmes de fim de ano e pensando qual panetone comprar, mas pela primeira vez acho que vou conseguir ver os jogos, depois de muitos anos sem conseguir acompanhar direito. Eu me surpreendi muito com a vitória do Japão sobre a Alemanha, time que sempre considerei mais forte – e talvez inclua-se aí o traumazinho deixado pela goleada naquela final contra o Brasil, 7 a 1 inesquecível! Uma Copa meio engraçada.

Devo deixar registrada por aqui também a segunda temporada de Fleabag, que me agradou um pouco mais do que a primeira, talvez por não se basear tanto no sexo, com mais situações inusitadas e totalmente imprevisíveis da protagonista que tem que lidar com a perda da melhor amiga e a dor da culpa de tê-la magoado. Aqui, a vida tem que seguir, e isso serve para a irmã que tem que enfrentar o marido e lutar pela própria felicidade, e também para Fleabag, que tem que aceitar o casamento do pai e que o ex-namorado realmente já está em outra vida, que é questionada pela fé e moral, envolvendo-se com um padre (!). Um dos meus momentos favoritos foi a participação da Kristin Scott Thomas, num diálogo no bar, ela resume sobre toda a dor que nós mulheres já carregamos desde o momento em que nascemos. Sublime. E simplesmente explicando a recusa do flerte como “estou cansada”. É, chega uma idade em que a gente não precisa mais, sabe? Dar-se ao trabalho.

E eu ando meio que assim também. Me perguntando por que eu me dei tanto trabalho quando jovem? Nessa última viagem solo que fiz, eu li todo o meu diário. Não as agendas em que registro compromissos e pensamentos diários, mas um diário de vida, que de tempos em tempos paro para escrever algo. Percebi como eu me apaixonei, tantas vezes, tanto, e depois sofri, como sofri, tanto… e pra quê? E os sonhos? Sempre falando sobre meus sonhos, de querer ser escritora, de querer fazer cinema, de querer “mudar o mundo”. Nada, nada, e acaba na praia. Ou, na verdade, é que as ondas são assim mesmo, é o oceano da vida. Não é culpa de ninguém, nem mesmo minha.

Mas ando meio assim, desencantada. Pensando que dediquei dez anos da minha vida para algo e agora tenho que recomeçar, do zero. E este ano todo em dúvidas sobre minha escolha de ter um filho, eu nunca quis ter filhos, daí a gente pensa neste mundo louco, no meio ambiente, e penso em como eu não tenho vocação pra ser mãe, sou uma mãe ruim. Não tenho vocação pra ser dona de casa, não faço nada direito (lavar, cozinhar etc, na visão de todas as visões de mundo como o conhecemos – até agora, ainda), odeio ver meu companheiro todo estressado achando que eu tenho metade da culpa nisso, e agora, que larguei tudo e não sei fazer nada da vida?

Daí me lembrei de um outro filme que vi este ano e ia deixar pra comentar num post futuro, como um dos meus favoritos do ano, “Sob o Sol da Toscana” (2003)***. Esses tempos Netflix lançou uma série de comédia, “Blockbuster”(2022) e logo no primeiro episódio já fazem referência a vários filmes, mas um dos recomendados para um cara que precisa superar uma separação é esse filme com a Diane Lane, ela acaba comprando uma propriedade na Toscana para uma nova vida. Ela vive uma escritora que vive adiando também seu livro, lembrou-me um pouco de quando eu lia “Comer, Rezar, Amar”.

Às vezes eu me imagino assim, mudando de país, de vida. Será que daria certo? Ou meus problemas continuariam os mesmos? No filme, sendo romântico, ela volta e meia está envolta por um possível pretendente – desde o corretor imobiliário, passando por um caso de litoral, até poder realmente terminar os trabalhos na casa e estar pronta para um novo amor. Homenageiam também Fellini, com uma madame imitando a famosa cena na fonte de “A doce vida”, e com certeza, se tiver condições, a Itália é um país que gostaria de visitar um dia e não deixaria de provar o famoso gelato original. Por se tratar de um ambiente totalmente diferente, o filme caminha como um passeio, leve, sem afetações e acontecimentos mais interessantes do que previsíveis – como a carta para a mãe de um turista, enquanto quando visitam locais com o grupo de casais gays, os trabalhadores que não falam a língua dela para a reforma do local e os almoços maravilhosos, o “sinal” para a senhorinha concordar em vender a propriedade, o velhinho na estrada que finalmente a cumprimenta.

Será que eu conseguiria, agora (na suposta maturidade) conseguir viver mais leve? Levar a vida mais leve? Conseguiria me desprender das tensões do passado e das impostas obrigações pra vida que segue?

Eu também andei vendo a primeira temporada de “Guia astrológico para corações partidos” (2021), pretendo continuar até terminar os 12 signos do zodíaco, mas a descrição de Virgem não me cai exatamente muito bem: alguém que gosta de fazer a mesma coisa, dia após dia? Eu? Que queria era morar num motor home aposentada, viajando e conhecendo lugares e pessoas diferentes até o fim dos meus dias? Talvez seja o ascendente Sagitário falando mais alto. A série em si até que é bem engraçada, italiana, sobre uma assistente de produção libriana de coração partido. No primeiro episódio a cena de tudo dando errado, ela toda doida, pegando chuva, a saia improvisada para uma reunião importante e conhecer um novo chefe lembrou Bridget Jones. Depois ela vai conhecendo vários caras, com informações de diferentes signos pelo “bidu” amigo “fluido”. Aliás, algo que aprecio dos tempos modernos é a possibilidade de tantas produções de lugares diferentes, e eu simplesmente adoro ouvir outros idiomas. Vi o primeiro episódio de “A imperatriz” e de uma série coreana… e comecei “Manifest” – talvez caiba-me bem esta agora, com a sensação de ter perdido anos de vida, embora eu sempre adiei ver esta série pelo ranço de achar que me lembrava muito “Lost” (avião, mistérios, ir conhecendo cada passageiro…).

Flanando pela vida e também pelas séries? Será que eu tenho salvação? Ou vou sempre estar na Disney, sem desencantar da vida que se queria ter vivido?

A relegação e as indicações de curtas no Oscar

Vocês acharam que nem ia ter mais post relacionado ao Oscar deste ano, né? Eu também achei.

E o que acharam dos relegados ao telecast, hein? Oito categorias da premiação vão ser anunciadas antes da transmissão ao vivo este ano, e eu: “mas é só nessa única vez do ano que esse pessoal ganha mais visibilidade, e eles também adoram cinema e trabalharam muito, como todos nós…” Será que só eu não gostei dessa “novidade”? Deu até uma desanimada.

Mas como teve feriadão de Carnaval ao qual eu preferi não viajar (e nem teve folias adequadas, nem deveria ter, certo?), deu pra fazer uma maratona aí; e minha Baby Yu está voltando à escolinha, então acho que vai dar pra escrever uma série de posts sobre o dourado desinibido (indo na onda do Otávio Uga, que sempre arranja uma boa denominação alternativa). Vamos começar com alguns comentários sobre esses relegados…

  • Indicações a melhor curta de animação

Achei divertido que numa prévia do reality de casamento às cegas que se passa no Japão apareceu para mim uma conversa das moças discutindo quanto de sexo seria aceitável. Uma diz que o mínimo tinha que ser uma vez por mês, a conversa chega em 7 vezes por dia como algo impossível – e eu que tinha aquela imagem puritana das mulheres casadas japonesas, nessa minha crise de meia (?) idade acabo é me identificando muito mais com o puritanismo (imaginado). Com a minha filhinha na época do “Terrible Twos”, nem aguento ver os filmes e escrever sobre eles, temo. Queria ser aqueles que conseguem parar para analisar o filme e trazer vários fatos interessantes, mas nesta atual conjuntura, vamos acabar ficando com os posts no “quase uma vez por mês” mesmo – exceto por esta época do Oscar.

Ah, sim, mas é uma digressão. Que me veio porque podemos indagar o que será que essas moças de hoje em dia querem? Eu mesma, por vários momentos destas décadas de vida, perguntei-me inúmeras vezes, o que será que eu realmente queria? E, de algum modo, em todos os indicados a melhor curta animado ao Oscar deste ano nós temos personagens femininas e essa certa indagação.

1)”A sabiá sabiazinha” – dos Aardman, na Netflix, facinho de todo mundo ver, fofinho, mas nada que nos surpreenda muito. A história da sabiá que queria ser rato porque foi criada por uma família de ratos, decepciona-se com a estrela de Natal não realizando seu desejo, mas descobre seu próprio valor.

2) “Affairs of the art” – eu li o texto de algum animador envolvido nesse meio lá nas América e me parece que essa animadora já o tinha cansado. Só de ver o trailer eu imagino que seja meio cansativo ficar ouvindo suas indagações, parece basicamente uma animadora extravasando suas neuras, que ela queria mesmo era fazer arte, sua obsessão; e o ponto positivo parece ser porque é a expressão de alguém com mais idade, coisa meio difícil de ver por aí.

3) “The Windshield Wiper” – eu vi pelo YouTube (ou Vimeo, não me lembro?), é um belo acabamento, tem muita técnica de animação. Vamos vendo vários personagens aleatórios a partir do questionamento num bar sobre o que seria mesmo amor; me ficou mais marcado o casal que só fica no celular enquanto poderia encontrar seu par ali do lado, no mercado que frequentam; o mendigo que começa a conversar com um manequim na vitrine.

4) “Boxballet” – é uma animação russa, que pareceu muito interessante, fiquei com vontade de ver pelo trailer. O caso do encontro entre um boxeador e uma bailarina – diferentes se combinando, pareceu muito propício a este momento da história que a humanidade vive, a convivência e o amor independente das diferenças.

5) “Bestia” – é um estilo diferentão de animação, também não consegui ver, mas meu voto vai pra ele, pois foi o que mais me chamou a atenção, com a mulher descontente consigo mesma e ao mesmo tempo abordando a ditadura no Chile. Sempre bom relembrar que ditaduras nunca são uma boa ideia.

  • Indicações a melhor curta em live action
  1. “Ala Kachuu – Take and run” – vi o trailer, uma moça que parece ter que seguir com tradições, apesar dos pesares. Pelos prêmios e por ser uma realizadora mulher, eu diria que vai levar este.
  2. “On my mind” – um homem quer cantar no karaokê para a mulher, mas… Eu deveria votar nesse, só por causa do karaoke.
  3. “Sukienka” – uma mulher um “pouco diferente” e solitária. É um retrato único, mas todos nós já quisemos ser alguém normal?
  4. “The long goodbye” – o único que vi, disponível no YouTube. É com o Riz Ahmed, o carinha lá do ano passado, de “O som do silêncio” (2019)***, e só por aquele quase rap depois que ele leva o tiro no final já vale a pena. Como foi muito visto, talvez tenha chances?
  5. “Please hold” – só vi o trailer, mas meu voto vai pra este aqui! Fiquei com muita vontade de ver, uma justiça automatizada é responsável pela vida de um detento…

  • Indicações a melhor curta documentário

1)”Audible” – vi no Netflix. Acompanha um jovem líder de um grupo na escola para surdos, no desafio da final de campeonato de futebol americano, com os relacionamentos de amigo que se suicidou, namorada, pai ausente.

2)”Onde eu moro” – também Netflix. Mostra alguns moradores de rua em cidades dos Estados Unidos e suas situações de vida que os levaram às ruas. Tem a senhora da limpeza, a mãe que quer fazer suas próprias compras, o transgênero que ficou sem apoio dos pais. Tudo bem que é um curta, não dá pra abranger tudo, mas fica a sensação de que falta, é só uma pequenina janela pra tanta coisa…

3) “The queen of basketball” – acompanha a vida de uma das grandes jogadoras de basquete. Se eu conseguir ver, atualizo aqui o post.

4) “When we were bullies” – também não pude conferir, visita os alunos de uma década passada.

5) “Três canções para Benazir” – Netflix, e meu voto. Não é tão longo mesmo, mas em sua pouca duração consegue passar sensações e gerar reflexões apropriadas. Um jovem no Afeganistão quer deixar de trabalhar em plantações de ópio e entrar para o exército, mas para isso precisa da aprovação de outros familiares. Chamou-me a atenção os dedos alaranjados e os pés descalços dos pequenos filhos na visita.

Festival de Brasília quem sabe ano que vem?

Faz quase dois meses que não registro nada por aqui e nem um postezinho da Mostra SP teve, mas às vezes eu consigo ser supersticiosa e venho aqui deixar registrado para minha alma futura, que só existirá virtualmente num metaverso, como neste momento sinto ares auspiciosos.

Só por causa do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília? Mah-omenus. Vejam só, quem quer acreditar, acredita, né. Depois de algumas semanas na bagunça da mudança, aqui estoy yo, pronta para a semana de Natal programada para incluir maratona de série e pelo menos uma comédia romântica natalina. E daí a gente deixa pro ano que vem os grandes filmes, cults, oscarizáveis etc, combinado?

Sim, mudei com minha pequena e meu John Lennon para Brasília. Foram alguns dias cansativos para separar e encaixotar tudo que dava pra levar – e ainda sobrou várias coisas que ainda vou buscar numa próxima viagem para São Paulo, porque tínhamos combinado um determinado número de caixas com uma transportadora e depois Leno levou o carro, abarrotado. E depois fui eu e a baby de avião, despachando mais 2 malas. Como a gente junta coisa, não? Isso porque tenho ganas de minimalismo e ser zero waste, porém ainda não consegui destralhar direito desta vez, é uma meta para o próximo ano.

Como por aqui é tudo 220v, preferimos adquirir alguns eletrodomésticos novos, e nessas últimas semanas estávamos atrás de algumas coisas, como sofá, que não tínhamos um bom mesmo. Fora procurar pediatra, e marcar algumas visitas em escolinhas porque no próximo ano pretendemos colocar a princesinha em uma. Acho que será o melhor para ela, fazer amizades, outras atividades, outros ambientes. E foram semanas de ir tirando das caixas, arrumando, limpando, um pouco a cada dia. Ufa. Parece fácil, mas sempre porque não é com a gente, né?

Mas taí, agora são apenas algumas poucas coisas aqui e ali, estamos praticamente estabelecidos; gosto que tem um parque verde muito próximo onde podemos ir à pé, tem muitas opções de hambúrgueres, tem playground e piscina no condomínio do prédio; é uma experiência para mais qualidade de vida. Vamos ver, dá aquela dúvida de quanto tempo vamos realmente acabar por aqui… E euzinha, como sempre, sou acompanhada por sinais do cinema.

Descobri que Brasília abriga o mais antigo cinema Drive-in na ativa (antes da pandemia funcionava também!) nesse meio tempo. E pouco depois de chegarmos, descubro os candangos. Não deu pra conferir este ano, nem é como o Festival do Rio, mas já fico animada, talvez um lume de esperança que eu possa ter o cinema de volta na minha vida? Porque sinto que faz tanto tempo que nos distanciamos… ah, sim, num desses finais de semana até conseguimos ir numa sessão de tela grande presencial, foi pra conferir “Ghostbusters – mais além”, que nem é grande coisa assim, mas foi num Espaço Itaú e depois de praticamente 2 anos sem pisar numa sala de cinema.

Sim, como podem perceber, os tempos andam mais favoráveis para eu deixar de lado minha rabugentisse costumeira e ficar feliz – apesar do alarmante estado ambiental da natureza deste planeta.

E esse tal filme do DiCaprio e mais um super elenco no Netflix? Claro que vou ver, e mais um bom sinal, como um aval dos deuses do cinema para essa grande mudança. Ano novo, vida nova, vem aí, estamos prontos. E muito bem acompanhados, com esperanças renovadas. Porque é um filme (aparentemente) de esperança para que mais pessoas se conscientizem sobre a gravidade da questão ambiental para nossas e as futuras vidas humanas.

Deuses do cinema me presenteando com nostalgia clássica, com o alternativo e o mainstream, me apoiando a acreditar que estou indo na direção certa – claro, como não? É a que sempre apontou meu coração. Eles me trazem esses presentes como reis magos, para um renascimento, de novo. Quem sabe eu passe realmente a me dedicar ao que gosto? Ficar mais tranquila, mais pura, escrever, com mais sabedoria, compartilhar experiências e incentivar outros a cuidarem de si e do planeta, com mais fé, acreditar em si e em tudo.

Talvez você esteja me lendo achando tudo isso uma grande bobagem. Mas quem sabe? Se não precisamos de grandes bobagens para podermos continuar em frente apesar de todo o caos? Depende de cada um. De todos. Eu vejo esses sinais, cada um pode escolher ver os seus. E assim desejo um ótimo final de ano e uma ótima nova vida, de novo, para todos.

P.S. e é aniversário do Spielberg! Meu padrinho imaginário. Também me dá esperanças na vida e no futuro que minha pequena tenha nascido num dia 18 como ele… Gratidão ao universo…!

“o jogo da lula” e um pouco de “Turma do peito”

Como metade do mundo já viu a nova série coreana tão polêmica e popular (até este início de outubro 2021, a mais vista da história) do Netflix, deixo-me à vontade para divagar sobre outras coisas nesta introdução antes de abordar a série em si.

Pois que já está aí mais uma Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e eu nem fiz post algum em setembro, mês escabroso em que tive algumas preocupações de saúde e passamos duas semanas em Brasília. E questões de saúde ainda continuaram incomodando nestas primeiras semanas de outubro.

Eu até tentei ver a última temporada da “The Crown” só para o Emmy (e porque minha mãe sempre admirou a Princesa Diana), mas fiquei pela metade. Assim como a tão elogiada “I may destroy you”, que deve ter merecido melhor roteiro, comecei e não deu pra continuar. Episódios animados de Palavra Cantada no YouTube? Sim, claro, esses eu vi quase todos, afinal, quem manda na casa é a pequena princesa. Até lady Mitinha, que era então considerada rainha, perde (minha gata branca mutante com olhos bicolores).

Bem, bem, eu vi a primeira temporada da série australiana pequenina “Turma do peito” (The letdown / 2017)***. Poucos episódios de meia hora, bem apropriado para o público alvo, que imagino ser como eu, mamães cuidando muito atarefadas de pequenos, sem tempo pra ficar horas maratonando qualquer coisa. Realmente a gente se identifica bastante – claro que acho difícil alguma mãe sair dirigindo pela cidade com a bebê, embora eu reconheça que era fácil ela dormir no embalo de viagens de carro (ainda é! Se você quiser, veja lá meu Insta). Mas dando uma relevada nos exageros que imagino existirem para serem situações mais cômicas, mostram bem a realidade que talvez por muito tempo ninguém mostrava, dos muitos casais recém-paridos: o homem querendo sexo e a mulher simplesmente exausta, incontinência urinária, peito vazando e molhando a blusa, vovós querendo dar pitaco, na era do Google não ter um livro sobre a criação dos filhos, memória ruim da nova mamãe, sensação de que há outras pessoas mais aptas no antigo trabalho, diferenças religiosas, o papai não conseguir lidar com certas obrigações (e, sim, a maioria dos trocadores de fraldas existe só no banheiro feminino), a necessidade da mamãe de um tempo para si, comparações infundadas, dificuldades em balancear carreira e maternidade. No geral, uma série que aborda os temas acertadamente e dá para darmos algumas risadas, até nos emocionarmos de vez em quando.

E, agora, sim, do que todo mundo tem falado nos últimos tempos…

(!) Alerta: este blog não acredita em spoilers. Uma coisa é saber quem vai ganhar o jogo, outra é acompanhar a jornada em crescentes constatações da crueldade humana.

O jogo da lula (ou Round 6, no Brasil)

(e por que raios não? Por que no Brasil o título ficou outro? Pra remeter a jogos? Mas o próprio título já diz que é um jogo… Ou é por causa do molusco, que pro povo brasileiro logo lembra… com tantas teorias doidas em relação a essa série, por que não contribuir com outra de conspiração de politicagem?)

S1E1 – Batatinha 1,2,3 (em inglês deve existir um jogo semelhante a um semáforo, em que se deve parar ao sinal vermelho!)

Maravilhosa introdução explicando as regras do Jogo da Lula com o protagonista ainda criança jogando, jogo de ângulos e closes e câmera lenta, em preto e branco por ser uma memória, já denotando o potencial do nosso anti-herói de trapacear, ou fazer o que tiver, para ganhar o jogo. Como uma dança filmada, mas exaltando a brutalidade natural das crianças. Adulto, Seong Gi-hun do bairro de Ssangmun se prova um ordinário que não tem vergonha de pegar dinheiro da mãe já idosa para apostar em corrida de cavalos, nem sempre tomando as decisões mais espertas – devia ter comprado o frango frito, meu filho! E a gente sabia que aquele presente misterioso na caixa ia dar ruim, né? Apesar de ter sorte em ganhar uma aposta, é roubado e não pode pagar o agiota que lhe ameaça, sem poder dar um presente decente para a pequena filha. Perdendo o trem, é abordado por um homem bem vestido que lhe dá a chance de ganhar dinheiro, ou tapas na cara, ao ganhar um jogo de criança – virando dobraduras de papel. O homem ainda lhe convida pra um jogo maior, oferecendo um cartão com símbolos e nós vemos o lado bom de Gi-hun quando oferece sardinha para um gato faminto. Ao ser relembrado pela mãe da importância de criar a filha, ele acaba aceitando entrar no jogo misterioso, é adormecido numa van para acordar num salão com vários outros jogadores em beliches, todos de uniforme verde, numerados, e tão logo se veem, um bandido já reconhece a menina batedora de carteiras, mesma que havia roubado Gi-hun. Essa briga é interrompida por controladores do jogo, vestidos de rosa com máscaras de símbolos (triângulo, quadrado, círculo, veremos depois, diferenciando sua hierarquia). Mostram alguns vídeos de jogadores, aparentemente todos ali estão endividados, há 456 (Gi-hun aliás é o último recrutado), e nas “cláusulas contratuais” está: jogador não pode parar de jogar, quem se recusar será eliminado, a maioria decide se quer encerrar o jogo. Todos tiram fotos e são levados a uma réplica de campo aberto, Gi-hun reconhece um antigo amigo de infância, Cho Sang-woo, cuja mãe pensa que está nos Estados Unidos e bem de vida, enquanto ela continua a vender peixe no bairro humilde. Nesse campo, uma boneca gigante vira a cabeça para cantarolar e quando ela faz isso ninguém pode se mexer (em português foi traduzido como “batatinha 1,2,3”), os jogadores tem que correr e chegar até a linha próxima dela para ganhar. O que ninguém esperava nessa primeira rodada é que ser “eliminado” no jogo tem significado literal… e nessas, um montão de gente desesperada correndo pra sair dali é eliminada. Conforme se percebem na situação, alguns personagens principais se viram para conseguir passar de fase, indo atrás de alguém maior para não ser detectado pela máquina, por exemplo. E Gi-hun acaba sendo salvo por um paquistanês muito forte que consegue segurá-lo por trás sem se mexer! Todo o desenrolar do jogo é apreciado por um líder (Frontman) de máscara preta em seu quarto luxuoso, ouvindo um jazz de bonecos de uma elaborada caixinha de música – cena antológica.

S1E2 – Inferno

Só na primeira rodada do jogo, praticamente metade dos competidores foram eliminados, e vemos que os corpos são levados em caixas pretas para serem incinerados depois. Após alguma comoção com pessoas implorando para não serem mortas e poderem sair dali, mostram o tanto de dinheiro que já foi acumulado num cofrinho transparente iluminado lá no alto e os controladores dizem que não obrigam ninguém a jogar. Sang-woo menciona uma das cláusulas contratuais e decidem então fazer uma votação: se a maioria decidir por terminar o jogo, todos saem. Durante a votação já se argumenta que lá fora não se tem chance, ali pelo menos podem conseguir algo para a vida; e acaba que o velhinho número 001 é o voto decisivo, deixando quem quiser sair do jogo. Cada competidor é jogado de volta à sua realidade, e acompanhamos alguns deles. Gi-hun vai delatar para a polícia sobre o tal jogo, mas o número de telefone já não vale e acaba numa discussão ouvida por um jovem policial que traz um prisioneiro e reconhece aquele cartão de visitas peculiar. O jovem, Hwang Jun-ho, dá um jeito de entrar no quarto do irmão desaparecido e confirma ser o mesmo cartão. A batedora de carteiras, Kang Sae-byeok, visita o irmão no orfanato e lhe promete que um dia irão reencontrar os pais e morar juntos; também tira satisfação com um cara que tinha prometido intervir para encontrar os pais e passarem pela fronteira (ou algo assim?), ameaçando-o com uma faca na garganta. O forte paquistanês, Ali, agradece a Sang-woo por emprestar o telefone e lhe pagar um macarrão instantâneo e uma passagem de trem, porque senão iria andando para casa; vai ter com seu chefe, aparentemente perdeu 2 dedos e a empresa não tomou as devidas providências, numa briga o chefe acaba perdendo sua mão e um envelope cheio de dinheiro que Ali entrega à esposa para ir embora do país com o bebezinho deles. Já Sang-woo, que seria o orgulho do bairro, vai para um hotel se afundar porque não vê saída para o montante de dívidas que tem, continuando a enganar a mãe idosa. O grandão de cara feia, Jang Deok-su, que foi traído e queria brigar com Sae-byeok antes mesmo do jogo começar, acha que tem um comparsa e quer bolar um golpe para roubar o dinheiro do jogo, mas é traído sendo entregue para cobradores de cassino nas Filipinas, encurralado pula da ponte no rio. “Por acaso” Gi-hun encontra o velhinho 001, toma umas com ele e batem papo, 001 argumenta por que vai voltar. A mãe de Gi-hun está internada, as pernas deterioradas pela diabetes e precisando de cirurgia, mas precisa trabalhar e se recusa a continuar no hospital. Ele tenta emprestar dinheiro, até conseguiria com o marido atual da ex-esposa, que lhe pede para sair da vida deles, ainda mais que vai levar a filha de Gi-hun para morar nos EUA. Gi-hun fica tão triste que nem fala mais nada sobre o jogo quando procurado pelo policial Jun-ho. Todos acabam entrando na van novamente para voltar ao jogo – e a vã de Gi-hun seguida por Jun-ho.

S1E3 – O homem do guarda-chuva

Agora temos uma trama paralela à principal que acrescenta muito ao que estamos vendo, pelo personagem do policial Jun-ho que consegue se infiltrar na organização desconhecida. Entra no navio com as vans que carregam os jogadores, rouba a identidade de um deles jogando o corpo no rio com seu próprio documento, vemos o controle de escaneamento dos jogadores. Sae-byeok na verdade conseguiu não ser posta para dormir e esconde um canivete consigo. Acordando novamente, começam a se formar amizades; Deok-su chama Sae-byeok para entrar na sua equipe e uma mulher barraqueira se oferece no lugar, número 212, Han Mi-nyeo. Inclusive faz um escarcéu para ir ao banheiro de madrugada e fumar, e Sae-byeok se aproveita para ir junto, que sabe descobre algo; a mocinha sobe pelo duto de ventilação, mas só consegue ver grandes panelas com açúcar a tempo de não serem pegas pelo controlador. Já o policial adentra as escadas coloridas, vai imitando todos e chega em seu quarto como número 29, que tem o mínimo necessário para repouso, já vai anotando no celular informações, apesar de não ter acesso à qualquer rede para enviar algo. Mi-nyeo ajudou e agora quer saber o que a garota viu, Sang-woo também percebe e pergunta à Sae-byeok, pois talvez ele possa deduzir qual será o próximo jogo; numa lembrança de infância, ele reconhece os símbolos diante dos quais os jogadores precisam se posicionar, por livre escolha: círculo, triângulo, estrela e guarda-chuva. Gi-hun fala para os amigos se ajudarem no próximo jogo, mas fica óbvio que Sang-woo sabe de algo e acaba não falando depois de cada colega escolher uma figura diferente. O jogo é para recortar a forma em um biscoito doce, e claro que um triângulo é mais fácil de contornar do que um guarda-chuva… Sae-byeok acaba se dando bem por observar Sang-woo e escolher a mesma forma; Mi-nyeo tinha um isqueiro escondido que a ajuda queimando a ponta da vareta de metal, e passa o isqueiro para Deok-su; conforme os jogadores que vão quebrando o biscoito de forma errada levam tiros na cabeça, a tensão cresce, e todos suam, Gi-hun percebe molhando por trás as linhas finas vão derreter primeiro e conseguirá fazer o desenho – 001 e outros jogadores copiam a manobra! Mesmo assim, nessa angústia, um jogador se rebela, pede para um dos controladores tirar a máscara, e os dois são mortos. Número 29 consegue pegar uma máscara de símbolo quadrado, alguém que não precisa responder perguntas dos círculos…

S1E4 – Fiquem juntos

Depois de todo o suador, para recarregar a energia os jogadores só recebem um refrigerante e um ovo. Como a gangue patota de bullies do bairro, Deok-su e sua turma dão uma de espertos e furam fila de novo, só que aí falta alimento para os últimos. Claro que isso gera uma briga, Deok-su acaba matando o rapaz mais franzino que reclamou, mas nada acontece com o mau caráter e só é acrescentado mais dinheiro no porquinho lustre. É revelado também como outro jogador tem informações privilegiadas sobre os jogos, num esquema de contrabandear órgãos dos mortos no jogo, pois 111 é um médico (agora me explica como é que conseguiram colocar um papelito dentro do ovo cozido, que ainda está envolto por casca dura?!). Com a possível matança entre jogadores a acontecer durante a noite (afinal, matando mais o jogo vai acabar mais rápido), 111 busca o grupo de Deok-su para protegê-lo. As luzes não apenas se apagam, mas começa um piscar atordoante acionado pelo Frontman, e começa o quebra-quebra, as lutas, Gi-hun de Sangnum intervém e seu grupo protege Sae-byeok de Deok-su, o velhinho aparece no topo de um beliche gritando para pararem senão todos vão morrer ali. As luzes acendem, os controladores atiram para o alto e depois contabilizam os eliminados, confiscam a faquinha que foi roubada de Sae-byeok por Deok-su, que ainda se dá bem numa rapidinha no banheiro com Mi-neyo, que o faz prometer sempre estarem juntos enquanto o ameaça de matá-lo caso a traia. Todos os principais personagens acabam assim numa conversa de revelarem seus nomes, depois que o policial disfarçado pergunta a Gi-hun sobre o próprio irmão e ele responde que ninguém sabe o nome de ninguém. Depois dessa batalha noturna, é preciso que os jogadores formem times, todos procuram homens fortes, Deok-su inclusive dispensa Mi-neyo, sabendo qual será o próximo jogo. A equipe de Gi-hun e Sang-woo acaba se tornando a mais fraca, com Mi-neyo invadindo e completando três mulheres, além do idoso, e não é que a prova parece ser de força mesmo? Cabo-de-guerra, cada equipe puxando um lado da corda, só que o lado perdedor cai de uma altura que faz todo o time morrer. O time forte de Deok-su e do médico vence com facilidade; quando chega a hora de Gi-hun, o velhinho começa a contar a estratégia que ele e os amigos tinham que os fazia sempre vencer, sobre o posicionamento de cada jogador e os dez segundos iniciais em certa postura física, parece dar certo, quando começam a serem puxados e no limite Sang-woo sugere darem passos na direção contrária para fazer o outro time cair.

S1E5 – Um mundo justo

O time de Gi-hun, Sang-woo, Sae-byeok, Mi-neyo, Ali, 001 e mais alguns consegue se salvar; um dos que integraram é religioso e tem uma discussão com outra garota novinha que não acredita nessa absolvição. Todos se preparam temendo um novo ataque ao apagar das luzes, combinando de se revezarem na vigília, em duplas; ao ser confrontado, Gi-hun pergunta a Deok-su se ele realmente pode confiar nos colegas do próprio time. Sang-woo conhece mais sobre Ali, Gi-hun lembra de um protesto na fábrica onde trabalhava em que um amigo morreu, 001 está com febre e é substituído por Sae-byeok, que até dá sua água para o velhinho. E não é que o 29 era um dos envolvidos no contrabando de drogas? (muito conveniente por parte do roteiro, não?). Entre conversas com outros mascarados enquanto o médico trabalha tirando os órgãos, surge a desconfiança; 111 se rebela pois precisa saber qual será o próximo jogo, acaba fugindo e se perde no labirinto, até que o Frontman pega ele e um dos capangas que o perseguia e os mata, pois acabaram com algo muito precioso no jogo – a chance por igual dada a todos. Na descida por uma passagem secreta, 29 descobre que VIPs podem usar esse caminho para sair da ilha, por isso há equipamentos de mergulho ali, teoricamente 28 e 29 são bons mergulhadores e devem levar os órgãos para outro lugar, mas é descoberto e acaba matando 28; decide subir de volta e acaba no quarto do Frontman, vai explorando os cômodos e descobre uma sala de arquivos, pastas com vários anos e listas dos ganhadores dos jogos, e o policial finalmente descobre a ficha do seu irmão entre os jogadores.

S1E6 – Gganbu

Os controladores fazem todos se levantarem, sendo o último na fila e depois do 001, Gi-hun percebe que o velhinho tinha se mijado e empresta o agasalho para ele se cobrir. Os jogadores passam pelo labirinto de escadas rosa e verde e dependurados estão corpos de controladores e do médico, mortos e exibidos. Para o próximo jogo, os competidores precisam formar duplas; Gi-hun até ia perguntar a Sang-woo, mas o colega do bairro convida Ali, um matemático se oferece para ser sua dupla, mas ao final não tem jeito, ele acaba convidando o velhinho 001 para jogar com ele. Como houve a morte do doutor, sobre um jogador sem dupla, que é a mulher barraqueira. Todos adentram uma espécie de réplica de bairro coreano de antigamente, que remete à infância tanto para Gi-hun quanto para 001; todos os jogadores recebem um saquinho com bolinhas de gude e 001 lembra que sempre tinha o amigo do bairro com quem se dividia as bolinhas, o chamado “gganbu”, e entram no acordo de um ser o “gganbu” do outro. O problema são as regras: a dupla vai ter que jogar entre si e ganha quem tiver conseguido as bolinhas do outro – ou seja, a maioria vai acabar perdendo um aliado ou amigo dentro do jogo, e tem até o caso de um casal. Dessa forma, cada dupla combina um jogo: Deok-su começa a perder e sugere mudarem o jogo; Sang-woo também tinha explicado para Ali, que nunca tinha jogado, e se exaspera quando se vê quase sem bolinhas; Sae-byeok e a outra garota decidem por apenas conversar até o último minuto, com um jogo de perder ou ganhar tudo. 001 parece estar com a mente confusa, enrolando para jogar, e demonstrando certa perda de memória num diálogo absurdo a cada jogada com Gi-hun, em que ele fica no controle para enganar ou ser honesto – mas numa situação limite, será que todo espectador não se imaginou no lugar, o que faria, não defenderia sua própria sobrevivência? Sang-woo acaba enganando Ali, inventando uma teoria e convencendo-o a ir contar jogadores, sendo garantido que teria duplas que acabariam o tempo sem ganhador, Sang-woo rouba-lhe as bolinhas e Ali só percebe no final em quem tinha confiado. Deok-su acaba realmente tendo sorte e o comparsa que o apoiava é morto. Apenas nesse episódio as duas moças ganham empatia uma pela outra, mas Sae-byeok ganha porque a outra se sacrifica por ela, perdendo de propósito e dizendo que ainda não saberia o que fazer com o dinheiro caso saísse vitoriosa do jogo, e Sae-byeok sabia muito bem, então ela deveria pelo menos ter a chance. 001 ainda vagueia mais pelo bairro, entrando numa casa que ele diz ser exatamente igual à da infância, propõe que Gi-hun tente ganhar sua última bolinha apostando todas as que tem, quando Gi-hun diz que isso não fazia sentido, ao que 001 demonstra que estava bem são o tempo todo. Mas ele já tinha um tumor mesmo no cérebro, sabia que ia morrer, e simplesmente cede, agradecendo Gi-hun por ter jogado com ele, que foi divertido antes de partir. E se lembra do próprio nome: Oh Il-nam. (comentário à parte: xenti! Que episódio de partir o coração!!! Chorei. Melhor episódio da temporada, por tudo que tinham construído, incluindo as relações entre personagens e público-personagem).

S1E7 – VIPs

O Frontman atende o telefone e percebe que seu recinto havia sido infiltrado, que o policial que procuravam estava escondido ali, mas é interrompido para um chamado sobre um corpo. O marido que tinha ganhado o último jogo da esposa (significando que tiveram que escolher que ela morresse) tenta convencer o resto a decidirem parar e saírem, mas depois de tudo e chegarem até ali, qual bem faria sair do jogo agora? Chegam os VIPs, convidados especiais usando máscaras de bichos douradas, para acompanharem o próximo jogo ao vivo. Pelas conversas, podemos deduzir que há pessoas de muito poder que assistem aos jogos de diferentes países, talvez a cada edição um país é o anfitrião (como nas Olimpíadas?), e podem fazer apostas sobre os jogadores. A essa altura, o policial também já se infiltrou, desta vez no lugar de um dos garçons que servem os VIPs; ele acaba entrando nas graças de um dos poderosos que quer ver seu rosto, sugere irem para uma sala mais reservada. Para o próximo jogo, os competidores precisam escolher um número que corresponderá à ordem em que vão jogar; logo acabam os números do meio, pois ninguém quer começar ou terminar, sem saber qual é o jogo. Gi-hun fica pensando demais, mas quando não tem jeito e ia ficar com o número 01, um jogador pede para que ele fique com o último, 16, pois sempre ficou atrás dos outros e gostaria de pelo menos uma vez ser o corajoso e ir na frente. Finalmente adentram o local do jogo, com duas pistas de vidro para pularem a cada passo e chegarem do outro lado, o problema é que um dos lados vai quebrar e a queda da ponte leva à morte. Assim, os jogadores vão seguindo, mas o de trás só pode seguir após o da frente, e só podem subir em um espaço 2 pessoas no máximo. Conforme vão errando e o tempo vai passando, cresce a tensão, pois existe um limite de tempo e se a pessoa da frente não se decidir e demorar, pode não dar tempo – ou ela pode ser empurrada. Gi-hun teve sorte, afinal, ao ficar por último, só precisa seguir os da frente, mas dá uma titubeaa até no primeiro passo, que todos já deram! Claro que Deok-su não receia em pressionar o da frente, mas na própria vez diz que não vai escolher e que alguém passe na frente dele e escolha; eis que chega Mi-neyo, mulher que tinha prometido matá-lo caso ele a traísse, e ela dá um jeito de levá-lo junto com ela mesmo! Depois disso, aparece um velho que diz saber diferenciar os dois vidros, pois já trabalhou com isso, ele vai acertando pelos reflexos e refração da luz, mas quando percebem que ele vê algo, Frontman apaga as luzes; precisa então comparar pelo som, só que Gi-hun só tem 1 bolinha de gude a oferecer; como ele para, Sang-woo acaba empurrando o cara para poderem chegar no final a tempo; quando o relógio termina, explodem todos os vidros restantes. Após matar o VIP, o policial consegue escapar por aquela passagem secreta para VIPs e com um kit de mergulho.

S1E8 – O líder

Gi-hun finalmente consegue ver a verdadeira personalidade de Sang-woo e já não pode mais confiar no amigo do bairro, só restaram eles e Sae-byeok para a rodada final e os três recebem novas roupas elegantes para usarem, no banheiro vemos como ela se feriu feio na explosão dos vidros. Aos três finalistas é oferecido um banquete, mas Sae-byeok mal toca na comida; ao final do banquete recolhem tudo, mas deixam uma faca para cada um. Enquanto isso, o policial alcança uma outra ilha e tenta enviar mensagens pelo celular, só que o sinal é bem ruim ali também. Ele é perseguido pelo líder (Frontman) e outros controladores-capangas do jogo, finalmente a identidade dele é revelada, numa tentativa de fazer o policial se render, e o confronto acaba com o líder atirando no irmão, que cai do despenhadeiro no mar. Durante a noite, Gi-hun vai conversar com Sae-byeok, pois nela ele confia é mais, ela o impede de usar a faca, pois ele não é esse tipo de pessoa; lhe conta do irmão que está no orfanato, e o faz prometer que quem sair vivo vai cuidar da família do outro, ele quer que juntos vençam Sang-woo, mas percebe que ela não está bem, ela desafalece e Gi-hun vai correndo até a porta chamar por alguém, quando finalmente abrem o portão e acendem a luz é para buscar o corpo da garota, que foi cortada na garganta. Gi-hun é impedido de atacar Sang-woo e o líder fica na cabeça com a pergunta do irmão: “por quê?”

S1E9 – Um dia de sorte

No cara e coroa é decidido quem vai ser ataque e quem será defesa, é claro que o jogo final é o Jogo da Lula. É o mesmo campo aberto da boneca gigante, demarcado e a céu aberto, e começa a chover. Os dois começam a lutar, sendo observados pelos VIPs (e eles nem parecem ter ligado que um dos membros estava faltando!), é uma luta cheia de raiva e rancor, amarguras e dores suprimidas, a certo momento Sang-woo consegue vantagem, acerta a faca na mão de Gi-hun, que abocanha a perna do outro e consegue dar a volta por cima, desta vez tendo a chance de matá-lo de vez. Mas Gi-hun não o mata. Ele já seria o vitorioso, o controlador já estava pronto para matar Sang-woo, e ele receberia seu dinheiro, porém Gi-hun sugere que parem o jogo, pela vontade da maioria; Gi-hun oferece a mão ao amigo, para que voltem para casa. E Sang-woo não vê saída. (comentário à parte: eu aliás já tava achando que ele ia se matar naquela banheira do hotel!) Gi-hun é deixado numa rua qualquer com um cartão para uma conta com o valor prometido. Ele retira só um pouco, segue para casa sendo indagado pela mãe de Sang-woo se não tinha tido alguma notícia do filho, a própria mãe morta em casa. Um ano depois, com péssima aparência, Gi-hun conversa com o que aparenta ser um gerente de banco, ainda pedindo algum dinheiro emprestado. Uma senhora lhe vende flores e com elas ele recebe um convite do seu “gganbu”. Ele vai até um prédio endereçado pelo cartão, descobrindo um suposto Il-nam num leito de frente para uma janela. Gi-hun tem perguntas e eles apostam que se alguém ajudar um homem sem teto que está caído na rua, antes da meia noite, Gi-hun terá suas respostas. Durante sua conversa, aguardando o resultado, ex-001 conta sobre pessoas com muito dinheiro para quem a vida não tem tanta diversão e da criação do jogo. O velhinho insiste para que Gi-hun use seu dinheiro, até então intocado, porque ele ganhou, mereceu. Um minuto antes surge o carro de polícia com alguém que havia passado e decidiu ajudar aquele homem que a maioria prefere ignorar. Mas Il-nam morre sem saber que perdeu. Depois desse encontro, Gi-hun busca o irmão de Sae-byeok e o entrega aos cuidados da mãe de Sang-woo junto de recursos suficientes. Ao ver o mesmo recrutador do jogo em uma estação de trem, rouba o cartão e embarcando num voo para os EUA, provavelmente para encontrar a filha, não resiste e acaba ligando para o número. A voz do outro lado reconhece quando ele diz quem é, que é uma pessoa e não um mero joguete, Gi-hun diz que precisa saber quem são e não consegue aceitar as atrocidades que cometem, acaba não entrando no avião.

***

E é isso aí… Deixo aqui registrado o fenômeno que foi essa série, pronto para o próximo sucesso de streaming roubar os holofotes logo logo, mas realmente uma série bem feitinha, que prende o telespectador, que dá vontade de continuar vendo e ver no que vai dar. Confesso que logo que vi o primeiro trailer eu fiquei com um pé atrás, pois assim como outras séries de jogos que eu havia desprezado antes, é grande a possibilidade de eu só assistir a uma temporada e não continuar vendo – bem o que aconteceu com a brasileira “3%”. Fora que eu não sou tão assim levada pelos rumores populares das séries badaladas (nem vi “La casa de papel”, minha gente!). E depois do tão aclamado “Parasita” (2019) surpreendendo e levando tudo no Oscar, parece até que agora é que o mundo vai descobrir produções sul-coreanas… Daí, vão vendo, assim como criar altas expectativas sobre alguma obra audiovisual não funciona para mim (sempre saio decepcionada), ter vários pés atrás pode funcionar positivamente. Realmente curti, achei que conseguiram mesmo trabalhar bem a direção, arte, som, efeitos. Como sempre tendo a ver primeiro sobre a narrativa, pelo histórico de sonho frustrado de ser roteirista, é claro que eu já conseguia prever muita coisa do que ia acontecer. Mas o roteiro também me apeteceu muito, não tanto pela criatividade dos jogos numa abordagem mais violenta (quem dos geeks ou otakus já não viu violência gráfica e coisas do mesmo estilo em mangás ou animes?), mais pelo trabalho com os personagens, a gente se coloca mesmo no lugar imaginando como reagiríamos e tentando entender as motivações e as reações deles. Não à toa, a morte mais sentida foi a do 001, acaba com a gente, depois de toda aquela relação construída com o protagonista. E será que depois de ganhar essa bolada, passando por tudo aquilo, realmente usaríamos à vontade o que ganhamos? Já sabemos, dinheiro não compra felicidade. E também não traz paz de espírito. Mesmo sendo um vencedor, sentir-se como uma pequena marionete do sistema, em que tantos sofrem desvantagens, são eliminados, não há piedade, não por razões justas deixam o “jogo”… não é uma realidade simples de encarar.

E o que isso tem a ver com budismo?

Creio que a primeira coisa que fica óbvia é sobre a importância do dinheiro, do material. Será que é realmente a solução dos nossos problemas, traria a felicidade? Uma resposta fácil, mas a ganância continua como um dos principais pecados capitais, apesar de na teoria já sabermos de tudo. E olhando para os senhores do jogo, como é esse prazer que existe vendo a crueldade humana? Alguém poderia apontar que é o mesmo que nós, telespectadores, acompanhando a série, com o adendo de que sabemos que é fictício e, por isso, aceitável. Talvez o que mais tenha a ver com budismo nesta série seja também seu maior mérito: a natureza humana. Nós nos identificamos com falhas, pois todos também somos falhos, seja de caráter, seja uma decisão errada. Nós gostamos de perceber que não estamos só. O prazer em acompanhar os jogos está muito mais em reconhecer como somos humanos. Apesar de todos os revezes que podem surgir no mundo, diante de nós, temos algo inexplicável lá dentro para nos dar força e superar, perseverar, lutar. A nossa verdadeira natureza, apesar de tudo, é algo que gera o bem e busca o bem, e se importa com o outro. Por isso nos afeiçoamos tanto a Gi-hun; assim como o personagem principal, todos nós temos um lado para o bem, apesar de quaisquer falhas. Ninguém é completamente ruim e condenável. Essa natureza verdadeira é o que chamamos de natureza búdica, o potencial de todos em se tornar um Buda, alguém mais sábio, com mais compaixão, compreensão dos sofrimentos humanos, iluminado.

Como o Mandaloriano me fez querer ver a última trilogia (e não, não valeu a pena)

Ai, tá, tá, tá. Não é esse título que deveria ser o post, porque tem algumas séries que eu andei vendo e achei até bem legal e preciso deixar registrado por aqui para que esta memória frágil possa relembrar num futuro como foi este início de ano – sem maratona de filmes de Oscar encavalando com a vontade de ir pro bloco de carnaval que toca Beatles! Pelo, menos por enquanto, vamos ver como vai se dar essa tal festa lá por abril, toda remodelada (à força) (como sempre muita gente reclamou que queria, que mudassem).

Sim, eu vi Bridgerton (2020), como se estivesse de bobeira, me senti como uma daquelas donas de casa com vida monótona que compra romances baratos cheios de cenas “quentes” e sensuais – só que, não, não me importei de não ter tantas cenas de sexo, pra dizer a verdade, eu nem sabia que era uma série assim soft porn, eu comecei a ver só pra me deslumbrar com a direção de arte, os belos vestidos e a decoração dos bailes… Mas sabem que até que surpreendeu, tem até uma vibe bem feminista, com a personagem principal sempre repetindo que só por ser mulher não significa que ela não possa fazer escolhas, e tem a escritora secreta – se fosse eu, deixaria no ar, no mistério mesmo e não revelaria assim tão cedo quem é a escritora (narradora de voz original Julie Andrews!), acho que eles ficaram com medo que poderia não sair da primeira temporada – nos livros base esse mistério é revelado só lá pelo quarto livro, me parece.

Mas se é pra falar de uma série que me surpreendeu mesmo, tenho que mencionar a recém-chegada brasileira, Cidade Invisível (2021), que mistura trama policial com uma pegada ambiental e o folclore brasileiro numa abordagem mais “adulta” (andaram chamando de Sítio do Pica-pau amarelo para adultos?!). O animador brasileiro nas gringas, Carlos Saldanha, já tinha trazido elementos bem brasileiros em Rio (2011)***, o que casa bem em querer resgatar essa tradição de lendas do folclore, mas de um outro jeito para o público atual; não me admira que ele seja o criador e produtor executivo, me admirou é essa pegada mais visceral, que inclui mais violência e cenas meio obscuras. E a série é bem feitinha mesmo, gosto do roteiro, com as mortes às vezes inesperadas; da direção, que trabalha bem com seus atores e as possibilidades do olhar e imaginação do espectador; os efeitos quase sempre funcionam (o cadáver virando borboletas); a edição também, afinal, temos que montar um mistério, mesmo quando tudo já parece resolvido; Alessandra Negrini com roupitchas que lembram mariposas ou a bela personagem Iara que mesmo em terra usa um casaquinho que lembra escamas ou um top de conchas são pontos de acerto do figurino, embora a ambientação da casa da menina Luna parece meio artificial, com tudo muito novo.

O único adendo é que provavelmente será igual a 3% (2016), que até gostei bastante da primeira temporada, ponto positivo pro Netflix, abraçando aí esses projetos, mas… acabei não continuando. Mas isso é problema particular meu, que não consigo acompanhar séries por muito tempo. Se eu vejo que tem muitas temporadas e ainda não acabou, aí é que eu não vejo mesmo…

Isso aliás me lembra de deixar registrado aqui que venho me divertindo bastante com esta primeira temporada de Wanda Vision (2021). Meu interesse maior em ver foi, é claro, essa proposta inicial de cada capítulo emular um capítulo de série de TV de determinada época. Tivemos da TV dos anos 50, 60, 70, 80, 90… e tudo foi muito divertido!!! Claro que com uma equipe de produção caprichada como da Marvel (Disney), a pesquisa e a entrega de um visual perfeito seriam de se esperar, mas as brincadeiras que eles fazem na situação de cada “época” tentando esconder sua real condição – de super poderes – já vale a pena. Realmente, é um entretenimento de primeira, apesar de que eu provavelmente não vou continuar acompanhando isso por muito tempo; até todos os filmes do universo Marvel no cinema eu não consegui acompanhar muito bem não, já estava cansada dos heróis, acho que perdi o último do Homem-Formiga e não sei quantos mais…

Com isso tudo, incluindo terminar a série Mandou Bem versão francesa (gosto de ouvir o francês e o apresentador gordinho é engraçado, a chefe Noemie também é um doce), até parece que depois do ano maluco que vivi em 2020 estou tirando um hiato, alguns meses de pasmaceira, ficamos semanas mais tranquilas em Curitiba, no final do ano, depois meu esposo tirou uns dias de férias, e por alguma razão parece que eu ainda estou devagar no andor, será verdade aquela minha teoria de que meu ano só começa depois do Oscar?

Ou talvez minha vidinha seja assim daqui pra frente, chega de tanta, tanta coisa, talvez tenha chegado a época da minha vida em que eu possa ficar um pouco mais tranquila, relaxada, parar de sofrer tanto por pouca bobagem, sabe?

O que significa que talvez eu passe alguns anos só vendo filmes leves, e que perfeição receber de presente um canal só da Disney pra alegrar um ano muito, muito difícil, não? Sou muito suspeita, porque adoro muita coisa da Disney e Pixar, então posso dar a desculpa que estou vendo as produções por causa da minha pequena, quando em verdade estou é fazendo uma graça para meu próprio coração. E prometi no post passado, realmente já começamos com Jon Favreau e o ótimo The Mandalorian (2019-), que todo mundo já tinha visto e eu não, mas valeu muito maratonar – aliás, maratona que passou muito rápido! Não só pra me derreter com o baby Yoda, mas as cenas de ação são o forte do diretor e não deixam a desejar. Apesar de que em determinado ponto a gente meio que previu que seria uma aventura por episódio em algum lugar só para ganharmos alguma informação, mas cada aventura foi bem interessante. E a Starbucks do Battlestar Gallactica e a Ming-Na Wen como personagens deste universo são só brindes! Eu me surpreendi é que teve episódio dirigido pela Bryce Dallas Howard (quanto ela era criança presenciou uma conversa entre Lucas e Kurosawa? É isso mesmo, confere produção?), nem tanto pelo Taika Waititi, e claro que gostei mais é de saber que tinha super fã de Star Wars envolvido. Já gostei desde cara do androide inicialmente programado para matar que também se sacrifica à la Exterminador do Futuro (quando ainda era bom), os personagens coadjuvantes também são marcantes à sua maneira e torna tudo mais interessante. A própria história do Mandaloriano e seu povo, conhecer outros cenários dessas galáxias distantes, cada episódio é como um mini filme mesmo.

Antes de começar a ver, cheguei a me arriscar a dizer que poderia gostar mais desta série do que toda a trilogia mais recente que andaram fazendo e… bem, com algumas ressalvas, até posso dizer que funcionou meio assim mesmo, viu. Pôxa, desculpem. É até maldade fazer isso com George Lucas, mas eu só gostei de verdade foi da primeira trilogia, a antigona dos anos 70/80. Era como o encanto de um universo completamente fantástico, novo, era mágica na galáxia. Daí, imaginem minha emoção ao ver aquela sequência no final da segunda temporada, X-wing, sabre de luz verde, mãozinha… (e eu já tinha aquela intuição bem antes, lá no fundo, você pensa “algum Jedi tem que buscar esse pequeno, por que não…?”) e quase toda a internet já sabe, se emocionou, Mark Hamill se emocionou com a emoção dos fãs. Isso sim foi sacada de mestre. Tanto que eu tive vontade de ver a saga da Rey e Kylo Ren, só tinha visto o primeiro filme até então, como seria o treinamento da nova promessa com o último mestre Jedi recluso numa ilha? Poderia ter sido fenomenal. E eu gostei daquele deserto de sal que deixava rastros avermelhados, gostei até da interação do Finn com a Rose, confesso que gosto do BB-8, mas chegou depois a última parte me parece que avacalharam de vez com o Palpatine e a Ray manipulando uma nave inteira, essa personagem meio que coloca por água abaixo o suposto árduo treinamento que se deveria ter para dominar a força. Pra mim, a última trilogia serviu apenas para destruir toda a mitologia, acabar com nossos personagens tão queridos – todos se foram!!! quer dizer, menos o Chewie e o R2-D2. É uma das razões de eu ter ficado tão sentida com Logan (2017)****, apesar de admitir que este sim seja um filme muito bom.

É, eu não sei se vou continuar até mesmo essa série que me divertiu muito, agora que não vou ter mais cuti-cuti do Baby Yoda pra ficar toda hora na frente da TV dizendo “óin” e pensando em como ele parece com a baby Yu – não contando alguns quesitos, claro, como o fato de ele comer sapos ou engolir os ovos que eram para ser salvos (“não, baby, não!” – é uma das frases muito repetidas nos últimos meses aqui em casa!). Mas fato é que eu já me rendi. Que filmes cult que nada. Minha vida sempre foi muito e pode continuar sendo Disney, tudo bem, que mal tem, tô fazendo mal pra ninguém! Ah, sim, este post não contêm comentários dos poucos filmes vistos nesse meio tempo, mas Soul (2020)*** deve ganhar seu post próprio, porque é um assunto muito especial e à parte…

May the 4th, live with you

Ufa, anda bem difícil postar algo aqui no blog, hein… O mês de maio já passou e nem postei mais. Comecei maio terminando de ver todos os filmes da franquia Velozes & Furiosos, porque não tinha assistido a nenhum inteiro e queria ver o que poderia ser que faz o pessoal gostar tanto desses filmes. Até que são mais divertidos do que eu tinha pensado e estava até preparando post sobre isso, mas não saiu.

Daí, como dia 04 de maio é o “dia Star Wars” (que a força esteja com você!), eu pensei em aproveitar que o Amazon Prime Video tinha disponibilizado todos os filmes para pegar e maratonar em ordem cronológica. Porque eu, nascida no início dos anos 80 (mas sem me considerar muito millenial), fui assistindo conforme os filmes foram lançados e nunca peguei na “ordem certa”. Aliás, perdi o último, A Ascensão Skywalker, porque na sessão de Os Últimos Jedi eu passei mal e acabei nem indo atrás para ver o que tinha perdido. Sei lá, depois do Han e da Leia terminarem daquele jeito, eu fiquei ainda mais desinteressada.

Vejam bem, nem de longe sou fã, se bem que eu gostava bastante como entretenimento, principalmente da primeira trilogia lançada, lá pelos fins dos anos 70, quando aqueles efeitos especiais nos empolgavam – e ser um jedi sob a batuta do Mestre Yoda também. Sim, o carinha é baixinho, mas muito poderoso, e quando eu morei na Disney eu até comprei uma camiseta com os dizeres “Size matters not” (tamanho não importa!) – já que sou pequenina também, como um hobbit. Sem falar que há certas coisas da narrativa que tem a ver com budismo. É por algumas dessas coisas que gosto de Star Wars, e quando mais jovem, eu imaginei a minha própria versão de como Anakin teria sucumbido para o lado negro de Darth Vader.

Eis que, apesar de nunca ter acompanhado outros desenvolvimentos relacionados a esse universo – na TV ou pela internet, eu me deparo no final do ano passado com a onda de memes do Baby Yoda. E que vontade de ver The Mandalorian, só por causa dessa figurinha. Jon Favreau continua me surpreendendo, mostrando-se um cara que gosta das mesmas coisas que eu, após ter trazido pro live action heróis, o Balu cantando e nadando no rio e o rei leão, claro. Acabei não assistindo a série, mas é realmente tão fofinho. Então, embora já tenha passado uns seis meses desde o montão de memes e a polêmica do James Gunn comparando forças com o Baby Groot, talvez todos já tenham enjoado, mas eu continuo achando muito divertido. E agora posso incluir a minha Baby na brincadeira, provando mais uma vez que o cinema e seus derivados continuam animando a minha vidinha pessoal, que seria muito mais medíocre se não incluísse essas expressões da sétima arte.

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Aliás, eu postei no Instagram no dia 25 de maio, que só pra deixar registrado por aqui, é o chamado “dia do orgulho geek/nerd”, ou o “dia da toalha”, tributo ao Douglas Adams e seu Guia do Mochileiro das Galáxias. Bem apropriado, não? Sim, a vida pode ter os seus perrengues e não anda lá muito fácil, mas eu sempre me divirto assim!

Fora isso, tantas coisas aconteceram nas últimas semanas no mundo, não? Continuam as polêmicas com o nosso brasileiro presidente e mais trocas de ministros, pessoal já desistiu de levá-lo a sério? Tivemos astros do basquete lançando desafios, modas das máscaras, gente se reinventando para poder ter um dinheirinho e sustento, pessoal que já nem leva a sério mais o isolamento (também, olha a bagunça deste país!), honestamente eu fico envergonhada de ver esses números de casos e mortes pela covid-19 comparando com outros países… mas, como sempre, nós só podemos fazer a nossa parte, né? Continuando a ter esperança pela ampliação de mais consciência e ações.

E isso também vemos aí nesses últimos dias de protestos contra racismo – gente, essa discussão já faz séculos, e não resolvemos isso? Pra ver como a humanidade pode ser devagar mesmo. Eu tive vontade de fazer um meme com o cavaleiro negro de Em busca do cálice sagrado (1975)***, do Monty Python, “Yes, black lives matter!”. Mas sei que ainda é uma questão muito delicada para muita gente e talvez não fosse bem visto, não ousei. Como eu tinha falado num post anterior, eu só estou meio empolgada agora com memes porque perdi esse bonde, mas esta bobagem minha deve passar logo, não se preocupem.

Já os posts da websérie Comedians in Cars Getting Coffee eu até poderia continuar, vi mais episódios, mas acabei dropando. Isso porque nossa “rotina” ficou ainda menos rotineira, a bebê está sem horário para leite ou para dormir, gostaria de fazer ela dormir sem ser no colo, não tenho conseguido dar as papinhas de frutas recomendadas pelo pediatra, tem sido difícil marcar consultas nas condições atuais. Finalmente achamos uma neuro pediatra “decente”, temos que ir atrás ainda de hematologista, fisioterapeuta, cardiologista e ver onde o nosso plano de saúde cobre exames… É bastante coisa, fora que eu também ando precisando ir ver alguns médicos – fazer óculos novos, meio que relaxei por completo em relação à diabetes, e os acompanhamentos de praxe, dentista, ginecologista e o problema no meu braço que já não vira mais pra trás… ai, ai, lástima.

Quanto aos filmes, seria até interessante aproveitar o YouTube para ver clássicos do cinema que estão disponíveis na íntegra por esse meio, não? E como seria legal a gente poder ir num desses drive-in, parece que a moda tá voltando, eu via nos filmes isso e queria tanto que tivesse no Brasil! Mas nem os shows pirotécnicos na Disney que dá pra gente ver agora online eu vi. Então nem me pergunte o que achei daquele lançamento no Netflix, eu vi só A morte lhe dá parabéns (Happy death day/ 2017)***, descaradamente bebendo da fonte de (homenageando?) um filme bem simpático, Feitiço do tempo (Groundhog day / 1993)***, naquele momento em que todo mundo de repente decidiu fazer algo parecido. Até que achei bem aproveitado, o diretor é do mundo dos filmes de terror, tem umas partes engraçadas e atores bem carismáticos, a cada morte a narrativa vai acrescentando mais, claro que a personagem principal vai percebendo que tem que mudar, mas eles não enrolam muito e ela conversando com o carinha legal Carter, aos poucos percebendo como podem se dar bem e tem a questão da relação com os pais, não é chato de ver não; mesmo já prevendo quem era o assassino, até que o filme dá umas boas voltas na gente e nos deixa curiosos, afinal.

Se eu me interessei por Space Force? Oh, man. Eu assisti a várias temporadas do The Office rachando o bico, antes do Michael Scott sair. Mas honestamente, não me pareceu que vai ser tão divertido ver este; quis é ver o Some Good News do Krasinski, que não vi quase nada, talvez ainda confira.

Algo que peguei e fui rapidinho até o final foi Upload, o piloto é mais comprido, mas os outros episódios não duram mais que meia hora. Aliás, também é do Greg Daniels, um dos criadores do The Office norte-americano e do Space Force. A série está disponível pelo Amazon Prime, com a premissa de um dos episódios de Black Mirror que foi um episódio não tão desagradável, sobre a possibilidade de morrer, mas deixar sua mente viva com um avatar em um universo digital. No caso de Black Mirror, brincam com o tempo, com visual anos 90 e outros, por exemplo, e uma mulher procurando outra, mas as duas sendo apenas duas em milhões de pequenas memórias. Em Upload, desenvolvem a ideia, as pessoas podem escolher terem essa versão digital pós-morte em diversos lugares, um negócio lucrativo pra muita gente. Há os “anjos” que são como assistentes técnicos pessoais de cada convidado, o nosso personagem principal é um bonitão cuja namorada paga pelo seu upload em um hotel à beira do lago, aos poucos descobrindo que sua morte não foi acidental, e nós vamos descobrindo diversos detalhes desse universo. Os A.I. são uma ideia interessante, e quem não pode pagar pode ficar paralisado em um outro lugar que só tem capacidade de 2 GB… Ótima sacada um labrador servir de terapeuta; ver memórias num capacete que parece de salão de beleza me lembra outros filmes; há a questão do sexo com uma roupa virtual e como faz quando a pessoa morre ainda criança – todos os outros aqui fora envelhecem, mas ele não; seria possível um romance entre alguém vivo e um upload?; ótimo que o milionário é que vença a caça ao tesouro! O episódio em que vão para a “grey zone” e conseguem códigos ilícitos é outro bem inventivo. O carinha que faz o amigo Luke tem um jeitão bem engraçado mesmo. A atriz que faz Nora é bem bonita à sua maneira, sendo que o contraponto do carinha real que o aplicativo indica uma boa combinação só dá mais sentido para ela acabar se engraçando com seu “cliente”. Assim como em Matrix (1998)****, a vida real pode ser bem cinzenta nas cores, nas roupas, e com uma fotografia não tão perfeitinha de comercial de margarina. Não achei tão interessante a noite do funeral como se fosse uma festa, mas gostei da prima gordinha detetive, no diálogo com o caixa automatizado de uma loja de conveniências. Eu encararia uma segunda temporada, hein!

Bem, este junho não vai ter festa junina pra gente, embora alguns lugares estejam planejando lives por aí… E algo recorrente deste ano continua: não faço muitos planos. Vou encarando as dificuldades conforme surgem e procuro não criar muitas expectativas. Assim, sabe-se lá o que vou conseguir este mês, ver alguma comédia romântica, com certeza, ou tocar uma música no ukulele? Talvez nada, só de conseguir médicos para minha bebê eu devo me dar por satisfeita. Apesar de tudo, o cinema continua a me animar, me acalentar, me acompanhar, da forma que der…

CICGC – week 4

Acabei não postando no último final de semana, mas continuo assistindo aos episódios de Comedians in cars getting coffee. Estou vendo os episódios aleatoriamente, começando por alguns nomes da comédia que já conheço. Todos os carros que o Jerry escolhe são bem únicos e cada episódio começa com uma breve explicação sobre eles. Os locais em que vão tomar café também são diferentes a cada vez, engraçado que Jerry não tem medo de ser franco e se mostrar um chato – no episódio do Kevin Hart ele até reclama que estava tudo errado, veio no copo de plástico e mais gelo do que café, haha. Mas eu tenho a impressão de que o café Lavazza é o patrocinador desta série, porque tem muitos episódios em que eles estão tomando Lavazza, principalmente nos mais recentes.

Já na nossa vidinha ainda com o isolamento físico da Covid-19, nessa semana que passou eu acabei vendo um filme pela Netflix só porque estava entre os Top 10 do dia, essa nova do canal. Código 8: Renegados (2019)** tem a premissa de que pessoas com poderes acabaram marginalizadas e um rapaz que tem a mãe doente acaba se envolvendo com pessoas poderosas de contrabando de drogas. O mais legal foi eu descobrir depois que na verdade era um curta e o pessoal arrecadou dinheiro e conseguiram fazer o filme, além de que é empreitada de dois primos – um atua na série Arrow e o outro já atuou em Flash. Esses exemplos de produção me fazem lembrar sempre que às vezes é a vontade das pessoas “comuns” que faz a diferença mesmo, nessa semana em que continuamos a louvar as diversas iniciativas locais de solidariedade apesar de toda a politicagem e saída de Ministro da Saúde em meio a uma pandemia mundial…

Mais uma vez lembramos daquele velho conceito budista que depende de cada um para termos mais igualdade, harmonia, e consequentemente, felicidade. Cada um tem sua capacidade, seja em doações ou ajudando algum trabalhador autônomo, pode ser uma celebridade que tenha voz para incentivar outros – ai, como eu queria morar nos Estados Unidos e poder participar da doação pra concorrer a um papel num filme e almoço com o Martin Scorsese, Leo e Bob! Ai, ai…

Bem, vamos ver se esses auxílios da caixa e do governo realmente vão funcionar e quanto tempo o povo ainda aguenta a quarentena… me parece que daqui a pouco ninguém mais está respeitando e aí vamos ver essas taxas de mortes… ou será que vão funcionar aquelas teorias da conspiração?

Abaixo, os episódios desta semana da série do Seinfeld, o cara que fez a série sobre nada – o que parece que anda acontecendo em muitas lives por aí. Pelo menos eu dou alguma risada pela manhã com ele.

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Jerry Lewis (Heere’s Jerry! – 2018)

Parece que esta foi a última participação em programa de TV do Jerry Lewis, a maior parte do episódio é eles conversando no que presumimos ser seu escritório em casa, em Las Vegas (?!), com um Oscar bem ali no meio da mesa pra gente ver. Que vontade de ver essas comédias antigas com o Jerry Lewis, que me parece genial em ser um pateta… :) este episódio, aliás, tem bastante cenas dos filmes, achei; por exemplo analisando como surgiu a do telefone em Mensageiro Trapalhão (1960) – aliás, engraçado notar como costumavam usar muito a palavra “trapalhão” nos títulos de comédia mais antigos… Ótima a cena do programa antigo em que chamam por “Jerry” e os dois vão para o palco. Seinfeld demonstra uma admiração genuína pelo rei da comédia, então acho até digno que seja sua última aparição pra TV, com os dois no carro conversando e comentando que não acaba, Lewis não ia parar até o fim dos seus dias…

Jamie Foxx (You gotta get the alligator sweat – 2019)

E eu que nem sabia do histórico “cômico” do Jamie Foxx? Pra mim ele sempre foi o cara de Ray (2004) *** e Django Livre (2012)****, além de vários outros filmes que eu gostei em menor proporção. Puxa, o cara parece ter muita energia e gostar de um estilo diferentão, seja pra vestir ou pra morar – Nova Orleans? Tem alguns momentos bem engraçados, incluindo essa piada da comida servida nessa região quando ele quer só um frango frito, rs.

Melissa Villaseñor (TBA – 2019)

Na verdade eu peguei pra ver este episódio porque na descrição já falaram que visitavam um museu da comida – e essa foi a parte mais divertida! (Na realidade, acho que era só sobre comida chinesa, mas tinha um carinha lá cozinhando na hora para os visitantes!). Não sabia mesmo quem era Melissa, porque não vejo o programa SNL, mas por acaso andei pegando vários episódios com convidados que fizeram vozes em Pets: a vida secreta dos bichos (2016)**, o que não é o caso; embora ela tenha feito vários trabalhos para desenhos. Não achei nada neste episódio tão engraçado, e até me incomoda como ela ri de tudo, ri muito de qualquer coisa que o Jerry fala…

Dana Carvey (Na.. ga.. do.. it – 2018)

Que lugar mais chique esse em que eles vão tomar café… e Carvey pergunta das outras pessoas, se fazem parte do show, há! Sinceramente, eu só lembrava de Quanto mais idiota melhor (1992), mas ele também fez trabalhos de voz para animações e alguns filmes com Adam Sandler, sem falar que sempre me impressiono em como os convidados comediantes, mesmo com certa idade, parecem continuar trabalhando – talvez em apresentações de stand up? Eu não acompanho este universo, então só fico imaginando como deve ser isso, passar a vida trabalhando em bolar histórias engraçadas e esperar por risos. Jerry sempre afirma que não é o tipo fácil, mas ele sempre parece se divertir muito com seus convidados. Neste, ele racha o bico com algumas imitações do Dana e ele próprio comenta que é o cara que não entende nada de música e quer comprar o instrumento mais bonito!

Kevin Hart (You look amazing in the wind – 06 de novembro de 2014)

O próprio Kevin admite que ele teve uma época “baixa” em sua carreira, para depois voltar a decolar de novo. Eu mesma acho que só vi Jumanji (2017) *** recentemente, embora tenha vários filmes no seu currículo que eu tenha visto e não me lembre exatamente do seu personagem neles – No auge da fama (2014) **, É o fim (2013) **, Cinco anos de noivado (2012) **, O grande Dave (2008)**, O virgem de 40 anos (2005) ***, Quero ficar com Polly (2004)***. Legal foi ver Jerry comprar o mesmo tênis azul pros dois, depois de passarem pra pegar um suco verde, ehe.

Ricky Gervais (China maybe? – 2019)

Foi dividido em duas partes, o que vou considerar só um episódio, porque foi um convidado só. A gente já tinha visto um passeio com Ricky cagando de medo no carro com Jerry, desta vez é um carrão o escolhido, mas ficam presos no tráfego sem ter o que conversar, ehe, apesar de parecer que os dois se divertem na companhia um do outro. Na primeira parte, logo no início tem a “bomba” de Jerry responder “na China, talvez?”, o que seria algo politicamente incorreto, mas é o que deve vir na cabeça logo de cara para qualquer ocidental comediante. E daí fica a questão permeando todo o episódio, se devem manter essa piada na série ou não. Ricky parece ser por dentro um cara muito gentil e de bom coração, e tem até dózinha por não ter comprado nada na loja de doces… mas a piada ficou como algo central do episódio, claro.