Fome de poder / O mínimo para viver

Fome de poder (The founder / 2016)**

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É o filme que me fez querer parar de vez de comer no Mc Donald’s. Bem, isso já tinha me passado pela cabeça antes, que eu nem gosto taaanto assim dos sanduíches deles, se for pra comer hambúrguer, que seja um bom de verdade (porque tem tanta coisa errada num combo pra gente que tem diabetes…). O maridão também já fez o “voto” de nunca comer porque é uma das empresas gigantes que querem dominar o mundo (hahaha, mais ou menos isso).

Daí este filme conta a historinha não dos irmãos que dão nome à lanchonete, mas do cara ambicioso – que quer dominar o mundo. Então… bem, acho que deu pra entender. Ele foi o cara que transformou uma boa ideia de dois irmãos metódicos e persistentes em um sistema, franquia, máquina de dinheiro. Eu gosto bastante do Michael Keaton, que faz o “fundador” do filme – um nome curioso, já que ele não é o verdadeiro fundador e lá pelo final do filme a gente percebe um certo ponto fraco ali na trajetória dele; ah, se ele tivesse nascido com o nome certo!

Porém, seu personagem deixa esse sentimento ambíguo na gente. Pôxa, gostamos dos irmãos Mc Donald’s, que falharam e se reergueram e queriam entregar um hambúrguer gostoso, pensando na qualidade. Daí vem esse cara e praticamente toma tudo deles, então não queremos torcer por esse personagem. Que também tem sua luta, mas também vai lá e dispensa a esposa que sempre tentou apoiá-lo e sofreu com sua ausência. Não sei. É um filme que não deixa a gente muito feliz quando acaba.

Gostei da escalação dos outros atores também, a cena dos irmãos coreografando funcionários num chão riscado de giz é ótima (e me perguntei se realmente aquilo existiu), nos quesitos técnicos tudo ok, mas o que fica é a sensação de que não quero mais comer no Mac.

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O mínimo para viver (To the bone / 2017) **

Uma coisa a gente tem que admitir. O Netflix às vezes consegue entregar umas produções que tocam em temas delicados e talvez não ganhariam espaço por um estúdio grande ou outro meio. Teve um outro título, The fundamentals of caring (2016), que toca também numa questão delicada, um garoto cadeirante e a relação com um novo cuidador. E até que conseguiram um trabalho bom, cada personagem tem sua bagagem e contribuição na trama, conseguem nossa afeição e interesse.

Já neste filme, eu não sei se ligo tanto assim pro médico vivido por Keanu Reeves (no início não parece tão controverso assim?) e talvez tenham forçado um pouco a mão na “vontade de viver”. A questão delicada aqui é o tratamento da personagem Ellen, que sofre de anorexia nervosa. A anorexia é um tema controverso, e eu não costumo ver filmes do gênero, então o ponto que achei interessante é como eles mostram alguns aspectos reais da doença. Algumas coisas que eu não sabia, como o corpo produzir mais pelo para compensar a falta de gordura para se esquentar; a obsessão com exercícios físicos (corrida ou abdominais sem limites); a maneira de se preocupar incessantemente nas calorias que devem perder. A atriz emagreceu de dar dó, a maquiagem ajuda. Ou seja, conseguem passar que é uma doença, sim, não é “besteira” e não é bonito de se ver.

Talvez um dos problemas do filme seja alguns momentos bizarros. Tudo bem, a causa para Ellen ser anoréxica não é tão simples e plana, esse é um ponto positivo do filme. Mas a cena em que a mãe amamenta a filha, apesar de tocante, é difícil de descrever. E a construção de uma relação de amizade é aceitável para mim, mas aquele colega que era dançarino querer “ir pros finalmente” ali no quintal também foi meio bizarro. A sequência do sonho talvez um pouco exagerada e não tão necessária? E se era pra chegar ao fundo do poço, o que foi a visita à instalação de arte (que na verdade pra mim foi só chuva falsa, mas era arte, né?).

Enfim, talvez seja eu que esteja de má lua, mas eu definiria o filme como “meio bizarro”.

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And now, for something completely different. Sobre os ensinamentos budistas.

Eu diria que algo que me fez sentir com ambos os filmes é como às vezes nós subestimamos o impacto de nossa própria vida para as outras pessoas. Até onde nós podemos chegar achando que estamos certos? No filme do fundador do Mac, vemos um cara que tem garra, mas o quanto ele fez a esposa e os criadores originais do Mc Donald’s sofrerem? No filme sobre anorexia, Ellen acha que tem as coisas sob controle, mas o quanto sua família próxima está sofrendo e querendo vê-la feliz?

Os ensinamentos que sigo são da vertente Mahayana do budismo, o que significa que buscamos ter atos altruístas. Pensar no próximo. E não precisa ser algo grandioso, começa com as pessoas ao nosso redor. Lógico que no caso da Ellen é uma doença. Mas e quando nós mesmos temos o controle de “ceder” um pouco, temos a escolha de pensar um pouco mais, ter mais consideração pelo outro?

 

Good morning call

Em meio a tanto produto cheio de sexo e violência, como é bom ver que uma novelinha ingênua e de adolescentes ainda pode ser divertida de acompanhar… Eu peguei do nada ali no Netflix e fui assistindo sem parar.
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Historinha: uma adolescente tem que dividir o apartamento com um cara que é o mais bonito e popular da escola.

:D – aquela trilha sonora engraçada que chega quando surge algum problema na vida de Nao!

– me deu vontade de comer esse tal pudim de leite.

– o bolo de morango no Natal!

– o aquário e o bonzinho do amigo Daichi… puxa, será que alguém ainda é assim? Mas não adianta, no coração ninguém manda, né, Nao.

– as cenas no parque de diversões Fuji Q (o hospital mal assombrado em que Abe dá em cima das personagens, a confusão na roda gigante); as cenas da viagem para as águas termais (como Uehara acaba decidindo ir, a caçada ao tesouro no escuro, o combate de ping pong, o medo de Nao e Uehara de que “algo” aconteça…)

– a mãe de Nao ensinando a fazer bolinho de carne

– proposta de casamento? hahaha E eles mudando pro apartamento novo.

– o desenvolvimento do relacionamento dos dois. Apesar de bonitão e popular, Nao não gosta nada de Uehara no início, depois vai ficando sonhadora e apaixonada… a indagação se ele ainda gosta da mulher que casou com seu irmão ou se ele sente ciúmes, alguns atos doces que ele faz apesar de por fora tentar se manter durão, os desencontros que sofrem, a descoberta de sentimentos, a preocupação com o bem estar do outro.

D: – eu não sei se o mangá é datado, mas apesar de tão moderno, mostra bem como é machista e conservadora às vezes a sociedade japonesa. Tanto o escândalo na escola por morarem juntos, quanto o modo rude como Uehara trata Nao a princípio, ou até mesmo o fato de ela cozinhar um monte pra ele (poderia servir de alvo para críticas como “lugar de mulher não é na cozinha não”), pode parecer estranho aos olhos ocidentais, mas pode realmente acontecer nessa sociedade ainda.

– dózinha do Issei, que parece ser um cara tão legal e gostar da Nao de verdade…

 

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No Budismo “S” que sigo, uma das coisas que falam muito é colocar o conceito em prática. E um dos conceitos principais é de pensar sempre no próximo, o que deixaria a outra pessoa feliz? Durante a novela, há muitos momentos assim – até o Uehara, por exemplo, pensa em dar um presente apesar de Nao nem ter comentado antes que era aniversário dela… E o Daichi? Que apesar de ser apaixonado pela Nao, quer vê-la feliz, então aceita que ela goste do Uehara e até briga com o Hisashi quando pensa que ele está a tratando mal.

A prática é para ser feita no dia a dia, pois a sociedade é nosso local de treinamento também. Mas podem ser coisas simples, como lembrar de se oferecer para carregar uma sacola, por exemplo, oferecer uma comida gostosa, ouvir o amigo que está precisando…