“Os Banshees de Inisherin” para o Oscar 2023

Continuando a série de posts sobre os indicados ao Oscar deste ano, com breves comentários conforme as categorias às quais foram indicados.

Para a notação abaixo, consideremos:

Nota 01 – tão horrível quanto atos extremos, guerras sem sentido.

Nota 02 – miserável como a pobre que precisa de fofocas-notícias para ficar feliz.

Nota 03 – médio, ter uma jumentinha como companheira amiga.

Nota 04 – bom, acreditar que a vida ainda vale a pena, que a arte vale a pena.

Nota 05 – muito bom, acreditar que a gentileza vale a pena, e que seremos lembrados ao menos pelas pessoas próximas pelo nosso bom caráter.

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O diretor Martin McDonagh já havia trabalhado antes com esses dois atores principais e aqui é indicado a roteiro original (03) e direção (04), levando-nos para uma ilha da Irlanda em algo que se assemelha a uma fábula com humor negro. Como pano de fundo há a guerra na Irlanda, mas os moradores desse lugarzinho nem sabem ao certo o que se passa, aliás, mesmo sendo fictícia, parece representar comunidades que devem ter existido exatamente assim. A guerra que acontece na ilha é entre dois homens que eram amigos até que o mais velho Colm (Brendan Gleeson, indicado a melhor coadjuvante, nota 03) decide cortar a amizade com Pádraic (Colin Farrell, que já tem ótimos trabalhos no currículo, mas recebe sua primeira indicação a melhor ator aqui, nota 04), alegando que já não tem muito tempo de vida e quer aproveitá-lo para fazer algo relevante, como dedicar-se à sua música, em vez de perdê-lo com conversas triviais, como o que tinha na merda da jumentinha de Pádraic. Este, sem compreender, vai constantemente atrás do velho amigo, mesmo diante do ultimato de que Colm cortaria seu dedo da mão que toca violino toda vez que fosse incomodado. O diretor consegue navegar bem na progressão do conflito, com ótima presença dos seus atores – Kerry Condon que faz a irmã, indicada a melhor atriz coadjuvante, nota 03, é um alívio de maturidade em meio ao absurdo, inclusive na decisão de deixar a ilha por ter outros interesses na vida; e Barry Keoghan é o outro indicado a melhor coadjuvante, nota 04, roubando a cena como o rapaz filho de policial que parece ter algum problema mental não diagnosticado, mas o faz com muita naturalidade e trejeitos detalhados. Outra indicação é a melhor trilha sonora, nota 03, parece que o diretor só pediu para que não houvesse música irlandesa tradicional (!), mas considerando que o filme também conta com cenas de cantoria em pub, músicos e violino, até que Carter Burwell se saiu bem. Já a montagem, nota 03, não precisou inventar muito para conseguir uma boa impressão, talvez porque o próprio texto já nos deixe tensos, lá se vão dedos, e que terrível descobrir o que acontece com a jumentinha – ainda bem que não mataram o cachorro, como em “O Lagosta” com o próprio Farrell. A velhinha (que seria uma banshee, afinal, segundo a descrição daquela que proclama a morte) nos chama a atenção e “pressentimos” a morte no lago, mas até mesmo nessa pequena Inisherin (“ilha da Irlanda”) é triste mesmo ver a degradação humana por estupidez – e não falo da estupidez simplória de Pádraic no início, acreditando que era bom.

“Os Banshees de Inisherin”, claro, foi indicado também a melhor filme.

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