Que tal umas rapidinhas antes do Oscar 2024?

Eu aqui no meu atrapalhamento este ano, nem consegui fazer posts para cada um dos indicados (sequer!) a melhor filme, com muita coisa na cabeça, muita vida pra viver. Mas como não poderia deixar de ser, tem que ter o anual post dos meus votos (sublinhados), acompanhado desta vez de algumas breves notas por falta de tempo hábil no aprofundamento (ou simplesmente falta de ânimo?) sobre os filmes deste ano.

Então vamos lá. Assim como os membros da Academia, para a categoria principal de melhor filme temos a ordem de preferência (nota 10 para o que mais gostei). E como já é de se esperar desta pessoinha atarantada como o Doc Brown, os tradicionais chutes em categorias que não deu pra ver os títulos não (principalmente curtas e documentário).

Após a cerimônia no domingão, atualizamos aqui os ganhadores com um ou outro comentário da festa.

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Melhor curta

A incrível história de Henry Sugar” – o mais famosinho da lista, muita gente deve ter visto pois estava na Netflix, do Wes Anderson.

“E depois?” – um pai motorista de aplicativo em luto, também disponível pela Netflix.

“Invincible” – um garoto de 14 anos em busca da liberdade, do Canadá.

“Red, white and blue” – uma mulher cruzando estados pelo aborto.

“Ridder Lykke” – um senhor lidando com a dor, da Dinamarca.

Melhor curta documentário

A última loja de consertos” – em Los Angeles, consertos de instrumentos musicais gratuitos.

“Island in between” – ilhas de Quemói, reflexões chinesas.

“Nai Nai & Wai Pó” – duas senhorinhas ativas.

“O ABC da proibição de livros” – taí, inesperadamente conversando com nossa situação no Brasil em que um livro (“O avesso da pele”) está sendo censurado por algumas escolas, fazendo as vendas desse ganhador do Jabuti subirem em 400%.

“The barber of little rock” – aparentemente, sobre a situação dos negros e o sistema bancário.

Melhor curta de animação

“Carta para um porco” (Israel/França) – sonho após ouvir o relato de uma carta para um porco que salvou do Holocausto.

“Ninety-five senses” – sobre cinco sentidos por um velhinho.

“Our uniform” – lembranças de uma iraniana pelas marcas do uniforme.

“Paquiderme” – verão e o monstro vai morrer. O visual deste parece bem fabuloso.

“War is over” – pombos-correio, xadrez, inspirado na canção de John e Yoko.

Melhor filme internacional

“A sala dos professores” (Alemanha)

“A sociedade da neve” (Espanha)

Dias perfeitos” (Japão) – meu voto, embora seja o candidato do Japão, é dirigido pelo Wim Wenders.

“Eu, Capitão” (Itália)

“Zona de Interesse” (Reino Unido) – talvez levem, hein.

Melhor documentário

“20 dias em Mariupol” – jornalistas ucranianos sob invasão russa.

“A memória infinita” (Chile) – um casal e o Alzheimer.

“As quatro filhas de Olfa” (Tunísia e outros) – duas filhas desaparecidas.

“Bobi Wine: o presidente do povo” (Uganda) – música contra um regime político.

To kill a tiger” – um fazendeiro na Índia atrás de justiça para a filha que sofreu estupro coletivo.

Melhor animação

“Elementos” – apesar de não ter se saído tão bem em bilheterias, parece que ganhou as graças dos espectadores de streaming. Claro que conta com as maravilhas técnicas da Pixar, então é super agradável ver o trabalho com os diferentes elementos e suas caracterizações, a água e o fogo se misturando, todas as cores e tudo tão fluido, embora a narrativa seja mais para uma comédia romântica como muitas que já vimos.

“Homem-Aranha através do Aranhaverso” – acho que tem grandes chances, parece ser um queridinho do pessoal nos States. Técnica impecável, continua num ritmo bom de ação, memorável a perseguição daquele milhão de Aranhas atrás do Miles.

“Meu amigo robô” – uma graça, amizade entre um cão e esse robô inspirado naquele do Ghibli!

“Nimona” – mais uma de amizade, um injustiçado procurado pelo governo e uma “monstrinha” que muda de forma, com uma personalidade rebelde muito divertida. Também mais de ação e efeitos, me surpreendeu a indicação, mas é uma divertida jornada.

O menino e a garça” – não tem jeito né, gente, meu coração sempre vai falar mais alto pelo Miyazaki. Meu voto sem titubear.

Melhores efeitos visuais

“Godzilla Minus One” – que divertido, um candidato japonês aqui!

Guardiões da Galáxia Vol. 3” – devo confessar que foi o único que vi desta categoria, e é bem fantástica a sequência de ação com os guardiões num corredor, como uma longa tomada com várias coisas acontecendo.

“Missão impossível: Acerto de contas, parte um”

“Napoleão”

“Resistência”

Melhor som

“Maestro”

“Missão impossível: acerto de contas, parte um”

“Oppenheimer” – acho que este leva.

“Resistência”

Zona de interesse” – poxa, o trabalho de som faz toda a diferença para esta obra, viu. Tenho que dar meu voto.

Melhor trilha sonora original

“Assassinos da lua das flores”

“Ficção americana”

“Indiana Jones e a relíquia do destino”

Oppenheimer” – deve levar esse mesmo.

“Pobres criaturas”

Melhor canção original

“American Symphony” – “It never went away”

“Assassinos da lua das flores” – “Wahzhazhe (a song for my people)

“Barbie” – “What was I made for?”

“Barbie” – “I’m just Ken” – povo é muito entusiasmado com essa dança, mas acho que a Billie leva.

“Flamin’ Hot” – “The fire inside” – que aconteceu, se empolgaram com a indicação indiana ano passado?

Melhor maquiagem e cabelo

“A sociedade da neve”

“Golda – a mulher de uma nação”

Maestro” – achei tão orgânico o envelhecimento do Bradley Cooper!

“Oppenheimer” – muito boa a transformação do Robert Downey Jr. que faz Levis Strauss.

“Pobres criaturas”

Melhor figurino

“Assassinos da lua das flores” – ai, todos os trajes dos Osage… ótimos.

Barbie” – desculpem, mas sou time Barbie nessa, recriando tudo aquilo das bonecas.

“Napoleão”

“Oppenheimer”

“Pobres criaturas”

Melhor desenho de produção (direção de arte)

“Assassinos da lua das flores”

Barbie” – comentário idem de figurino, é muito perfeita essa produção.

“Napoleão”

“Oppenheimer”

“Pobres criaturas” – cenários tão artísticos, incluindo uma mistura de futurismo e vanguarda com eras clássicas, inspirações barrocas e surrealistas.

Melhor montagem

“Anatomia de uma queda” – tem que ter uma boa montagem pra gente ficar duvidando e se perguntando que lado tomar, assim como o pequeno Daniel.

“Assassinos da lua das flores” – gosto muito, com a crescente maldade envenenando tudo.

Oppenheimer” – a tensão do teste da bomba, numa sala revelando um caso, aquela galera gritando eufórica.

“Os rejeitados”

“Pobres criaturas” – não sei se estão se referindo à sucessão de f0did@s da Bela?

Melhor fotografia

“Assassinos da lua das flores” – e quando Ernest vai pra prisão, e sai e entra na sala inquisitória de olhares, e nos momentos esgueirados de crimes encobertos?

“Maestro” – logo de início abrindo a janela, a cena, o musical, a TV.

“O conde”

“Oppenheimer” – em campo aberto, em salas políticas, sobre ciência…

Pobres criaturas” – o preto e branco, as lentes, o colorido avassalador.

Melhor roteiro adaptado – as categorias de roteiro são sempre as mais difíceis de votar, acho todos tão bons…

“Barbie” – uma surpresa que a história de uma boneca possa trazer questões de patriarcado, reafirmação e maturidade feminina.

“Ficção americana” – uma belezinha de roteiro né, o personagem principal luta contra os estereótipos dos negros norte-americanos ainda enfrentando os conflitos familiares. A conversa com o produtor, os diálogos com seu agente e os compradores na editora, tem espaço até pra metalinguagem.

Oppenheimer” – não deve ser fácil adaptar um momento político e os conflitos internos dos personagens, ainda mantendo a história interessante de se ver em tela.

“Pobres criaturas”

“Zona de interesse” – parece que no livro sobre o qual se baseou este roteiro os personagens eram bem mais fictícios e tinha a ver com a possível traição da mulher. Em tela não precisou, só seguir a vida familiar “comum” já foi suficiente.

Melhor roteiro original

“Anatomia de uma queda”

“Maestro”

“Os rejeitados” – acusado de plágio pelo roteirista de “Luca”? Como, minha gente?

“Segredos de um escândalo”

Vidas passadas” – gente, esse é o filme da vida dela, entendem? E é super sensível e tocante, de um modo sutil e difícil de construir. Como uma imigrante escritora já casada reencontra um antigo amor de infância da Coréia, refletindo sobre suas decisões e tendo que aceitar as vidas que não (ou já) foram.

Melhor atriz coadjuvante

America Ferrara – grandes chances de levar principalmente pelo que representa na comunidade dos artistas, em sua luta pelos direitos das mulheres e dos latinos. O monólogo em “Barbie” sobre a posição da mulher na sociedade atual é relevante e foi amplamente divulgado.

Da’Vine Joy Randolph – um destaque como a mãe que perdeu o filho ainda jovem, o contraponto do sistema de jovens brancos de elite nas instituições de ensino.

Danielle Brooks

Emily Blunt

Jodie Foster

Melhor ator coadjuvante

Mark Ruffalo – é no mínimo divertido ver esse personagem devasso e “espertalhão” cair por essa mulher.

Robert DeNiro – o que dizer, todo mundo sabe que ele é um ator fantástico, super ardiloso nesse papel de lobo em pele de cordeiro.

Robert Downey Jr. – já andou arrebatando outros prêmios e merece mesmo, só pense na diferença entre o papel que lhe deixou mais famoso, o Homem de Ferro, e esta interpretação.

Ryan Gosling – tá, a gente gosta muito dele, mas ainda não é assim trabalho pra vencer Oscar, eu acho.

Sterling K. Brown – belo acréscimo entre os conflitos familiares do escritor, num momento de mudanças, incluindo ressentimentos e apesar de tudo um afeto imenso.

Melhor atriz principal

Annette Benning

Carrey Mulligan – é a “alma” de “Maestro”, eu diria. A melhor coisa que Bradley Cooper conseguiu pra esse filme. Infelizmente parece que este não é o ano dela, mas uma atuação realmente tocante como esposa que conhece a bissexualidade do marido, que ressente, mas ama, que vive um câncer, mas adora as suas crias.

Emma Stone – não à toa já levou alguns prêmios por aí, mais uma vez um mergulho intenso na personagem, uma mulher com cérebro de bebê e corpo adulto, que descobre linguagem, as relações sociais, filosofias, sem filtros de pudores sexuais ou morais.

Lily Gladstone – talvez não seja um papel de enorme desafio, como a esposa indígena que vê seu povo ser dizimado, fica à mercê dos malfeitores, talvez pela discrição própria da personalidade de sua personagem – porém não uma interpretação tão simples quanto possa parecer. Mas, gente, dá um pra ela vai, ela nunca mais vai ter esta chance e a Emma já tem um na estante.

Sandra Hüller – como ela conseguiu este feito, não? Estar num filme francês indicado a melhor filme, em que ela fala inglês e francês; e também no outro indicado britânico que na verdade é da Alemanha. Papeis distintos e duas atuações ótimas.

Melhor ator

Bradley Cooper – ai, ai, ele se esforça tanto, e na verdade até consegue transmitir a intensidade de desejos e deslumbramento do Leonard Bernstein. Tanto até que parece forçação de barra.

Cillian Murphy – passamos horas e não conseguimos nos desligar da tela acompanhando este personagem, muito porque sentimos realmente, por vezes no olhar, por vezes na disposição corporal. Um trabalho às vezes sutil, mas que fica na nossa impressão.

Colman Domingo

Jeffrey Wright

Paul Giamatti – é bem possível que leve a estatueta, desse professor recluso que se abre na jornada com um aluno que acabou ficando só na época do Natal. Os olhos que fazem a gente se confundir rendem um ótimo momento de diálogo. É um bom ator que talvez finalmente tenha a chance de reconhecimento, mas não vejo como um papel assim tão desafiador para ele.

Melhor diretor

Christopher Nolan – difícil acreditar que depois de tantos títulos que marcaram (pelo menos o grande público), Nolan nunca tenha realmente ganhado um Oscar. E são todos trabalhos bem laboriosos, talvez desta vez venha o reconhecimento

Jonathan Glazer – o trabalho com os atores, na disposição de câmeras, íntimas dentro da vida familiar e amplas quando necessário (e todas aquelas tomadas em que só vemos o topo dos prédios dos campos de Auschwitz, sempre nos assombrando?), até mesmo a decisão de imagem “invertida” (como filme queimado) ou por momentos desconfortantes de tela sem imagens e sons – aliás, não foi indicado por montagem, hein.

Justine Triet – bem eficaz no trabalho com os atores, o advogado que nunca admite acreditar na cliente, a suspeita com falas enormes e controle emocional, o menino cego, até mesmo o cachorro!

Martin Scorsese – nem precisamos dizer nada, né. É só um dos últimos mestres vivos do cinema, não leva mais prêmio porque nem precisa.

Yorgos Lanthimos – o grande diretor das crueldades… como sofri com “O lagosta”! Aqui um pouco menos ferino, mas ainda masoquista, de certa forma. Sempre trabalhando ideias não convencionais.

Melhor filme – no geral, parece que este ano temos muitos filmes de qualidade, todos são muito bons e o ranking acaba sendo muito pessoal mesmo, nem é que um é melhor que o outro, todos os títulos tem seus méritos de modos diferentes (não consigo pensar em um que não deveria ter sido indicado).

1 – “Os rejeitados”

O diretor de “Sideways”, Alexander Payne, conta mais uma vez com a parceria do ator Paul Giamatti como um professor solitário, acompanhado por uma cozinheira da escola e um aluno deixado pra trás, para tratar de feridas internas, incluindo uma parte em road movie. É uma outra época, mas a injustiça de classe pode conversar com a atualidade, bem como outras fragilidades sociais e pessoais.

2 – “Anatomia de uma queda”

Um acidente ou assassinato permeado por incisivos questionamentos, de relações, de traumas, de (des) confiança. Como público, ficamos em dúvidas, somos levados ora pendendo para entender o caso, ora torcendo pela compreensão mais profunda, contra a superficialidade de julgamentos (tão em voga atualmente) apontada. Ai, que aflição com o Snoopy, após os analgésicos! E que alívio que depois ficou tudo bem para esse menino.

3 – “Maestro”

Desde antes de ser lançado esse era o típico filme “feito para o Oscar”, e por isso mesmo ganhando um pouco de desprezo geral. Fiquei surpresa ao saber que Spielberg viu só um pouco de “Nasce uma estrela” (2018)*** e já recomendou a direção para Bradley Cooper. É até bem conduzido, com umas cenas bem trabalhadas, nem falo tanto do flerte teatral e o súbito número musical entre Leonard e a esposa; também, por exemplo, a aula do maestro mais para o final, com a gente entendendo melhor seu trabalho, os closes nas expressões de outros atores valorizando-os. A grandiosa cena na igreja, talvez seja um pouco prolongada, mas sentimos a paixão e o papel central da esposa vivida por Carey Mulligan que é uma verdadeira joia, sua alma é que realmente conduz as melhores cenas.

4 – “Ficção Americana”

Sendo honesta, eu esperava algo diferente quando li a sinopse, e fiquei bem contente com o resultado. Divertido por vezes, com o escritor negro fingindo ser o que os brancos esperam (o que faz sucesso?), o estereótipo, criticando uma colega de profissão e revendo o que o distancia da família. O casamento da senhorinha que cuidava da mãe é tão singelo, o relacionamento com a namorada natural, a relação com a mãe e o irmão tão bem construídos que a gente até pensa que não precisamos tanto “ver” os possíveis finais da história, mas entendo que queriam fazer uma graça com o típico produtor hollywoodiano escolhendo o mais inverossímil, já que o ponto é exatamente esse da ironia dos dias atuais.

5 – “Zona de interesse”

É perturbadora a banalidade do mal. Como em um momento da história alguns humanos se consideraram tão superiores que podiam viver tranquilamente ao lado de massacres, como essa seria a vida ideal? O conto infantil de João e Maria nem tão inocente, um comandante descendo escadas em espiral e imagens de um museu no futuro, será que estamos tão distantes assim da maldade?

6 – “Pobres criaturas”

A sensação de estar entrando em diversas pinturas surrealistas, com personagens e situações bizarras. Toda a produção é muito esmerada e merecedora de todas as indicações, a visão deste diretor é sempre audaciosa, desta vez com muito mais sexo explícito para lidar com o lado animal natural de todos os humanos, seus desejos por prazer e suas maleficências. O debate existencialista está ali sem pudores, com a “versão feminina de Frankenstein” (como muitos tem denominado) Bella a aproveitar absolutamente tudo, ao máximo, que a vida tem a oferecer.

7 – “Barbie

8 – “Vidas passadas”

Ah, vocês nem imaginam como este filme conversa de modo pessoal comigo. E por isso ele acabou figurando nesta posição tão alta aqui desta lista. Quando eu tinha 12 anos de idade, eu tive meu primeiro amor, uma paixão platônica para quem não consegui me declarar e tempos depois eu fiquei imaginando se teria dado certo. Quantas vezes não paramos para pensar isso, “e se?”, no passado, no presente. A verdade é que não temos os multiversos da ficção e que nossas escolhas trazem suas próprias repercussões e consequências, mas são nossas, com alguns arrependimentos ou não, mas é a vida que segue. Às vezes ver isso é doloroso, às vezes precisamos deixar o passado ir, ou aprender, ou rever para mudar. Celine Song também inclui nesse processo sua condição de imigrante, e nunca escapa por caminhos fáceis ou óbvios, respeitando todos os seus personagens tão reais.

9 – “Assassinos da lua das flores

10 – “Oppenheimer

Barbie (e a vontade de boicotar o Oscar?)

Pois é, saíram as indicações ao Oscar deste ano e não apareceu nenhum post por aqui, daí algum esparso leitor afoito poderia se perguntar se eu finalmente desisti disso. Porque todo ano eu faço uma “maratona”, fico toda animadinha pra ver todos os filmes, quer dizer, pelo menos os indicados a melhor filme, é meio que minha diversão de cinema do ano. “Ah, não me diga que é porque a Greta Gerwig e a Margot Robbie foram esnobadas?”; “Pior, não me diga que é porque o Leonardo DiCaprio foi esnobado?!”. Calma, calma, não criemos cânico.

Recentemente eu revi o filme com os comentários da diretora Greta, e sim, continua para mim como eu lembrava, um charme, uma graça, com algumas cenas maravilhosas, porém… não é exatamente material de Oscar, né. Tipo, o monólogo da America Ferrera é perfeito, eloquente talvez porque eu entenda que ela própria luta pelos direitos das mulheres e dos latinos em Hollywood há algum tempo – o que ficou bem claro com a homenagem recebida no Critics Choice Awards (aliás, primeira vez que vejo esse evento e fiquei bem contente, piadas bem melhores da host, que não ofendeu nenhum roteirista nem implorou por aplausos ou risadas). Mas… é realmente uma indicação digna de Oscar? Pra mim, é meio que pra preencher um espaço ali, mais como uma declaração de que sim, reconhecemos tudo o que ela representa, a diversidade e tudo o mais, mas como em muitas outras indicações na história do Oscar, sua performance em si não é exatamente a que merece o prêmio ou mesmo a indicação.

O mesmo vale para o Ryan Gosling, que sim, garante várias risadas como um Ken submisso, que descobre um valor pra própria existência além de servir a Barbie – são sim ótimas as piscadelas em toda a projeção para esse papel invertido que as mulheres sempre tiveram e nesse mundo da Barbie é o contrário, elas é quem tem o poder e mandam no mundo – muito engraçado, como ver um garotinho que ganhou um cavalo de brinquedo novo no Natal, por vezes bobo e até ingênuo, mâsss… pensem, será mesmo que vale uma indicação ao Oscar? Será mesmo que ele vai aparecer num número musical homenageando sua cena de dança “I’m just Ken” do filme? Aliás, Greta se inspirou em “Cantando na chuva” e fiquei contente de saber que nisso também ela quis fazer a inversão – geralmente nos filmes antigos víamos várias mulheres dançarinas para um homem, aqui temos vários dançarinos para a Barbie.

Tá, podem me chamar de preconceituosa, quer dizer que uma boa comédia não tem direito a ganhar o Oscar, como sempre aconteceu, não está na hora de mudar algo? Claro que sim, amo ver comédias românticas, e há comédias incríveis por aí. Mas sério que vocês não ficaram com nenhum pouquinho de vergonha alheia quando a Barbie sai correndo pelo prédio da Mattel e os executivos atrás dela? Tá, foi proposital a paspalhada, inclusive manter a bobagem de ninguém ter um crachá para passar pela catraca, mas vocês realmente acharam isso genial?

Gostei bastante de alguns personagens coadjuvantes, como a Barbie “estranha” (Kate McKinnon), refletindo como muitas garotinhas gostam de ser criativas com suas bonecas, ou o próprio CEO vivido pelo Will Ferrell, que não é aquele magnata sem coração, quebrando mais um estereótipo. A canção da Billie Eilish realmente foi feita com muito carinho, ressoando o coração da Barbie em seu dilema.

Vou dizer o que achei genial: a direção de arte. Sim, esse desenho de produção, trazendo para o nosso tamanho da vida real o universo das bonecas, foi fabuloso, incluindo claro todos os figurinos e referências às diversas bonecas, os cenários em que parte parece brincadeira de criança (a geladeira com adesivos, a casa aberta sem escadas, a praia sem água de verdade, a ambulância que se desdobra ali mesmo etc), o carro pequenino que não precisa realmente ser dirigido, até os dioramas na viagem até o mundo real. Tudo perfeitinho.

Genial é o mote que é a essência de toda a narrativa: Barbie pode ser o que quiser. E o roteiro elabora bem o desdobramento disso, e se ela não quiser essa vida perfeitinha, porque todas as mulheres do mundo sempre tem inquietações, isso é fato, desde o início quando não se queria apenas ser mãe (por que não já começar o filme com referência a 2001?, esse também é um dos meus favoritos, essa é a cena de r/evolução); passando pela adolescência ou juventude, querendo reafirmação do seu próprio lugar no mundo, reconhecimento e merecimento; ou simplesmente mais velhas, ver admiradas nossas crias alçarem outros voos. E Barbie pode sim não usar salto alto e dizer com orgulho que vai ao ginecologista!

Ou seja, essas são categorias que ganham meu voto, com certeza. Foi um fenômeno mundial, como há muito tempo não se via no mundo do cinema (tudo bem, teve aqueles anos de super-heróis da Marvel, mas sem tantos fãs vestidos de cor de rosa e a gente esperando ansioso para ver o figurino da Margot Robbie promovendo o filme por aí), levou muita gente ao cinema e tinha que ser reconhecido de algumas maneiras. Não podia ter tido uma atriz melhor para encarnar a boneca mais famosa do mundo, e é óbvio que todos os envolvidos se divertiram e abraçaram o projeto. Mas nem achei tanto que foram “esnobadas”. Deve ser difícil preencher apenas cinco vagas entre tantos talentos.

“Barbie” foi indicado a melhor canção original (“I’m just Ken” e “What was I made for?”), desenho de produção, figurino, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, roteiro adaptado e melhor filme.

A minha vontade boicotar o Oscar este ano é simples e pura… preguiça. Acho que “Oppenheimer” leva vários, já sei quem vai ganhar certos prêmios. Quer dizer, todo ano é meio previsível, mas este em particular, não sei. Não tá me dando muita vontade de ficar me deslocando aos cinemas pra ver certos títulos. Não tá me dando nem vontade de ver certos títulos no conforto do meu sofá pelo Netflix! (“A sociedade da neve”? Sério que vocês se animaram com outro filme desses, do pessoal preso na neve sem ter o que comer?). Acho que sou eu, preguiçosa.

Claro que vou acabar vendo a festa, mas parece que estou velha mesmo e lá se foram os tempos em que eu ficava chateada por não poder ver o Oscar…

“O território” e o que me dizem os Globos de Ouro

Que Hollywood sempre irá se reinventar? É, porque eu honestamente (ingenuamente) achava que esse negócio de Globo de Ouro já era e ninguém mais iria participar ou endossar o prêmio, com várias polêmicas e talz, mas que nada. Tava um montão de celebridades lá, como de costume senti um pouco de vergonha alheia com o host da vez (mas sério, hein, foi pavoroso), todos sentimos uma invejazinha da juventude que faz Timotheé Chalamet tão apaixonadinho, dei muito mais risada com a dancinha da dupla Will Ferrell + Kristen Wiig do que com todos os outros piadistas, faz total sentido terem um prêmio novo para maiores bilheterias, Lily Gladstone estava linda com seu vestido pomposo e mamãe apoiando para um dos melhores discursos da noite, e essa seria sim uma festa à qual eu gostaria de ir porque tem open bar, como bem pontuou Mark Hamill.

E que mais teve neste início de ano? Vi de uma tacada só uma das séries lá no Top da Netflix, “A grande ilusão” (Fool me once/2024) **, que é até bem competente em sua narrativa com uma protagonista interessante, por ser uma mulher forte e capacitada, com trauma passado em guerra, envolvida em um mistério após a morte do marido e da irmã, tendo que cuidar de uma pequenina e lidar com a família rica do ex. A atriz que interpreta Maya (Michelle Keegan) convence, mas acho que o destaque ainda maior é para o detetive Sami com sintomas de doença e bebê a caminho, ainda tendo que aguentar um novato parceiro designado ao caso. Acho que os atores seguram bem a trama para podermos nos surpreender ao final. Mas, para mim, pessoalmente, serviu mais para descobrir que Harlan Coben (autor original dos romances) tem vários títulos no Netflix! Gentem.

Também foi de supetão “Você é o que você come: as dietas dos gêmeos“, só porque estou nesta de meia-idade e já começo o ano pensando na minha saúde (como uma boa virginiana hipocondríaca), mas bem enganosa a chamada dessa série, hein. Eles tinham mais é o propósito de defender a dieta vegana em prol do meio ambiente do que os resultados em si na saúde, mas tudo bem, porque me fez relembrar alguns pontos, descobrir outros (como os cogumelos substituindo frangos, o restaurante da 11 Madison Square) e “dar um gás” a mais na vontade de ter uma dieta mais plant-based ainda este ano – além do motivo ecológico, a bem da verdade, também pela diabetes. O reality de poucos episódios (ainda bem!) mostra alguns pares de gêmeos que participam de uma experiência, enquanto um continua na dieta onívora, o outro gêmeo passa a ter uma dieta vegana, e o experimento tem duração de oito semanas.

Finalmente continuei e terminei a primeira temporada de “Only murders in the building“! Às vezes comédias em séries demoram um pouco para engatar comigo, mas acho que agora vai, pretendo terminar as três, porque ouço dizer que continuam bem boas. Seguindo um trio de moradores de um prédio rico em Nova York, que investigam um crime ocorrido no local enquanto fazem episódios para seu podcast de true crime, é uma delicinha de ver a dinâmica estranha e engraçada dos três e outros personagens se desenrolando – e eu bem gosto desses mistérios à la Agatha Christie. Por exemplo, os episódios que mostram mais da vida da detetive Williams, ou do surdo-mudo filho do patrocinador vivido por Nathan Lane, um dos melhores da temporada, em que procuraram deixar tudo “silencioso” como na visão do personagem Theo. Tem participação especial da Tina Fey, como outra autora de podcast famosa que vai até o Jimmy Fallon!; tem o Sting hahaha; e a Jane Lynch, então? Fazendo dublê do Charles (Steve Martin), genial. É incrível também notar a comédia física que tanto Martin Short quanto Steve Martin conseguem, apesar da idade – como não rir com aquele corpo mole meio envenenado no elevador? A eterna Holly do The Office (Amy Ryan) também tem seu momento de reviravolta, apesar de ser o interesse romântico trabalhado desde o início como uma musicista e só essa quebra de expectativa é ótima, inclusive o momento em que percebemos e desvendamos junto com Charles (na verdade ele já sabia antes de nós!).

Sobre filmes, meu sentimento geral é a vontade de escrever. E isso vai se refletindo (inconscientemente?) nas minhas primeiras escolhas do ano, uma comédia romântica da Nora Ephron para eu relembrar como eu gosto de boas comédias românticas, apesar de ser um gênero tão detratado por tantos. “A crônica francesa” é bem especial, sobre um jornal francês, separado em “colunas” contadas por seus autores em causos particularmente peculiares: tem uma voltinha de bicicleta com o jornalista de Owen Wilson; o pintor louco vivido por Benicio del Toro inspirado por uma policial (Wes Anderson se aproveitando bem dos atributos físicos de Léa Seydoux), um caso apresentado pela curadora Tilda Swinton e contando ainda com o negociador Adrien Brody; o apreciador culinário (Jeffrey Wright, que eu desconhecia antes desse hype sobre “American Fiction”, apesar de várias incursões nos 007 e outros filmes no currículo) que visita um chefe de delegacia e presencia o salvamento do filho sequestrado do inspetor; e talvez o que mais tenha me tocado, a rebelião juvenil liderada por um Timotheé Chalamet jogador de xadrez contada pela mulher que não se casou porque não quis, mas quando se quer viver de escrita… vivida pela Frances McDormand. É, como já virou praxe, o elenco é estelar e Anderson continua com seus enquadramentos perfeccionistas, fotografia vintage, brincadeiras de imagem, mas eu nunca desgosto dos trabalhos desse diretor, são sempre aprazíveis para mim.

Quando Paris alucina” (1964) também veio aos meus olhos porque me interessei pela historinha, sobre um roteirista em Paris! E tem a Audrey Hepburn que eu amodoro desde sempre, vivendo a datilógrafa que ilustra as possibilidades desse roteiro para ele, um alcoólatra com bloqueio (vivido por William Holden, que no meio da produção foi realmente internado, ele sofria mesmo nessa época com o álcool). Audrey é adorável, com seus olhos mágicos, apontados pelo roteirista, vestidinhos clássicos e aura amorosa, e talvez o ritmo capengue um pouco, mas o filme tem seus momentos divertidos, paspalhices (incluindo participação especial do ator Tony Curtis) a ainda algumas piscadelas aos cinéfilos – como não reconhecer a cena descrita de “Bonequinha de Luxo”, ou sorrir porque sabemos que “Minha bela dama” (My fair lady) foi protagonizada por Audrey também (e lançado no mesmo ano! Apesar deste ter sido filmado em 62).

Outra escolha por ver uma personagem escritora foi “A flor do meu segredo” – fazia tempo que eu não conferia um Almodóvar, e que bom pra mim, ótimo pra um início de ano. Sobre uma romancista de novelas água com açúcar, que tem que lidar com a traição de uma amiga e separação do marido, além de querer escrever outras coisas. Sempre com suas cores fortes e retrato apurado das mulheres e seus sentimentos profundos, chamou-me a atenção o que a mãe da Leo conta sobre um momento após a separação para ir ao seu interior natal e não se tornar uma “vaca sem sino” (sem rumo, sem eira nem beira). De modo único, diálogo muito apropriado. Quantas vezes já não me senti como essa vaca, após algum desses baques de vida ao me iludir com uma coisa ou outra?

Para finalizar este apanhado, o filme que mais conversa com minha vontade de escrever. Talvez inesperadamente para o leitor deste post, “O território” foi o documentário ganhador do último Emmy! (2023 ou 2024?). A primeira vez que ouvi falar dele foi, pra ser honesta, num post do Instagram do Leo DiCaprio (claro, por que não?). Sem muitas “barrigas”, como vários documentários que já vi, mostra a luta de um grupo indígena cujas terras sofrem invasão, principalmente depois do apoio do governo federal (do Bolsonaro) a agricultores, ou mesmo madeireiros, grileiros e afins. Lembram como os desmatamentos estão ligados às questões ambientais, mas são bem justos, mostrando o outro lado, dos invasores, também. Afinal, se a questão fosse simples, já teria sido resolvida, não? Há muito mais envolvido, os invasores que não sentem estar fazendo algo errado, o “espírito colonialista” arraigado de ocupar terras, tomar posse, aquela ideia de ter o seu para levar uma vida melhor… Muito boa a atenção dada à futura geração, conseguiram criar tensão com a morte do indígena após o termos conhecido e seguimos com as câmeras do próprio povo no meio da mata inspecionando. Por vezes, fiquei pensando em como até parece ficção – só que não, bem que a gente gostaria que fosse ficção.

E esse filme fala comigo porque de certo modo é o que eu gostaria de fazer. De ver mais. Sobre natureza, meio ambiente, algo que contribua para que mais pessoas entendam o que realmente é importante, além das economias ou das pequenices, cuidar do planeta tornou-se algo urgente e que está aqui, não está mais longe de nós não. Que bom o prêmio para o pessoal, que dê mais visibilidade às vozes indígenas. Que traga mais consciência. E olha que o diretor, a produção, é de pessoal de fora. Então, eu não preciso sentir vergonha de não ser uma daquelas pessoas ali pra poder contar essas histórias. Porque dizem que devemos contar algo que conhecemos, nossa vivência, mas talvez também seja bom ter a visão de quem está de fora no interesse e respeito para dar abertura e expressão a quem está ali envolvido realmente nas situações difíceis. Até o próprio filme do Scorsese aí nas premiações deste ano, vejo como um exemplo disso. Sim, é um filme feito por “brancos”, mas com todo o respeito e consideração pelo coração desse povo indígena, abrindo sua história para que chegue a muito mais pessoas. Não é presunção. São histórias que precisam ser contadas, para incitar, fazer refletir, inspirar. E são as que queremos ver.

Meu show da virada foi o do Paul

Eu não sei se é só uma impressão falsa que eu tenho cá comigo, de que o show da virada degringolou para o mal. Quer dizer, teve alguma época da minha vida que eu gostava de ver os artistas que fizeram sucesso no ano cantando seus hits e depois acompanhar os fogos e a virada do ano por todo o Brasil. Mas talvez essa memória seja errônea e falha. Talvez isso nunca tenha sido realmente bom, só sei que este ano acabamos voltando para casa em vez de passar a virada na praia, e eu não consegui acompanhar o tal “show da virada”. Até botei um alarme para 10 minutos antes eu trocar o canal e acompanhar apenas os fogos. E antes disso? Meu show da virada foi o show do Paul McCartney, pela Disney +. Se eu tivesse com quem deixar a pequena, com certeza teria ido conferir no Mané Garrincha aqui em Brasília, mas não deu pra estar lá ao vivo, com toda aquela vibe boa (porque todo fã de Beatles tem uma vibe boa, ou talvez essa também seja uma impressão falha pessoal minha).

Aproveitando a deixa, comento aqui que no final do ano passado conferi o clipe da chamada “última canção dos Beatles”, “Now and Then”. Gostei mais do mini documentário mostrando os bastidores de como se deu essa canção, aproveitando o áudio gravado do John que a Yoko cedeu e gravações de quando George ainda estava vivo também, com a tecnologia mais avançada que possibilitou trabalhar com as faixas de som. Todos dirigidos por Peter Jackson, só que o clipe eu achei meio estranho eles tentando colocar versões diferentes dos quatro na mesma cena, ficou meia boca e não tão elegante como poderia ter sido. Enfim, a melodia é agradável o suficiente como outras composições mais simples do quarteto de Liverpool.

E assim começo o ano, embora não tenha conseguido conferir já no primeiro dia a cerimônia budista tradicional do Ano Novo, com ecos de Beatles (melhor do que Ludmilla, pelo menos pro meu gosto) e comédias românticas. No final do ano eu quis ver algum filme natalino e qual não foi minha surpresa que a comédia romântica típica que escolhi se saiu melhor do que a encomenda: “Resgate do coração” (2019)** tem a ver mais com elefantes resgatados do que a simples e básica estrutura de comédias românticas, fora que ver Kristin Davis (Sex and the City) fazendo par com Rob Lowe também não foi ruim.

Depois de ser arrebatada pela série dramática coreana “Uma dose diária de sol”, que me ajuda também a pensar num roteiro em desenvolvimento, tratando de saúde mental e romance, e que me fez chorar em todos os episódios, eu fui procurar algo mais “leve”… E acabei vendo de uma tacada só a adolescente “Minha vida com a família Walter” (2023) pela Netflix, simplesmente escolhida pela descrição de ser uma mistura de “Heartland” e “Gilmore Girls” – ou algo assim. E a Jackie, personagem principal, realmente lembra um pouco a Rory, por ser toda certinha e estudiosa, em busca de uma vaga numa universidade renomada. Ela é de Nova York, mas depois da morte dos pais e irmã em um acidente, vai morar com amigos dos pais no interiorzão dos EUA, numa família com oito rapazes (!), ficando com um que é mais atencioso e nerd, e se envolvendo com outro mais velho problemático, que por problemas de saúde teve que desistir de seu sonho de ser jogador de futebol americano. A dinâmica da família é bem legal, cada irmão tem alguma característica sua, os pais também se viram com os problemas nas terras, a mãe é veterinária, e tem o conflito do irmão que já está noivo e decide empreender em outros negócios. Não é uma série de todo ruim, só que pra mim a química ali entre Jackie e Cole não funciona tão bem, ou talvez seja eu chata que não ande aceitando muito bem os castings…

É, como a escalação de outra comédia romântica que vi, “Case comigo” (2022)*, com a Jenifer Lopez e o Owen Wilson, sobre uma cantora famosa que está prestes a casar em um show com outro famoso (interpretado por Maluma, que tem 25 anos de diferença com a J. Lo, essa mulher tá em muito boa forma, né não). Acaba se “casando” com um professor de matemática – e pontos positivos para a turma que ele ensina, garotada que parece ter se divertido; achei essa escalação bem ruinzinha, pelo menos pra mim, não vejo esse casal combinando, enquanto que com o Maluma parece ter muito mais química mesmo!

Enfim, os planos para este ano são de continuar o curso de pós voltado para roteiros e conseguir terminar pelo menos alguns… E claro que alguns desses são comédias românticas – como vocês já perceberam faz tempo, é um gênero que gosto de ver, apesar de parecer muito bobo. Continuar a cuidar da melhor forma que consigo da minha fofurinha espevitada, pensar e fazer algo possível pelo meio ambiente, cuidar do lado espiritual para poder oferecer apoio para mais pessoas. Segundo o horóscopo chinês, este ano é do Dragão, para alçarmos voos ainda mais altos, progredindo no que já mudamos com os pulinhos de coelho do ano anterior. Vamos ver se vai dar certo e de vez em quando venho aqui para deixar algum registro de voo. Feliz voos para todos nós!

Coisinhas divertidas que me fizeram gostar mais de John Wick 4

Sabe aqueles comentários aleatórios que a gente pode fazer superficialmente sobre um filme como esse, uma sequência de ação de um filminho lá de 2014 que imagino nem ter tido grandes pretensões, mas bombou no mundo inteiro, explodiu em popularidade e até com críticos, e daí foi ganhando proporções cada vez maiores; coisas do tipo “ai, por que tem toda essa duração, uma hora a mais que o primeiro!”; “ai, que ridículo, e esse povo todo aí na boate nem vai parar de dançar ou fugir? E esses carros todos nessa famosa rotatória, com esses tiroteios, nem vão parar e fugir?”, “cadê todos os turistas ou boêmios desses lugares?”; “como um trem no Japão poderia estar com vagão totalmente vazio, e o cara tinha fugido há um tempão, deu tempo da moça ver o duelo final do pai e ir atrás dele?”, “como que uma pessoa cai dessas alturas e nem quebra nada, levanta e sai andando pra lutar?” etc.

Pois é, mas daí é que vem a coisa, as coisas, de quem gosta de cinema mais do que por aquela uma horinha (ou quase três?) de historinha que entretém e faz a gente esquecer um pouquinho das nossas atribulações diárias, comuns e por vezes enfadonhas. São coisinhas divertidas que, pelo menos pra mim, funcionam às vezes para curtir determinado filme com outros olhos. Aqui vão algumas sobre “John Wick 4: Baba Yaga”.

***

(!) Lembrando que este blog não acredita em spoilers – uma coisa é você sabe quem vai morrer, outra é se divertir vendo como e quantos vão com ele.

*Vamos começar com o primeiro item meu favorito: Keanu Reeves. Muita gente no mundo adora o Keanu por inúmeras razões, e eu sou uma delas, apesar de geralmente eu gostar de ser “do contra”, não tem jeito, gente, o cara é muito gente boa independente de tudo que lhe tenha acontecido na vida, das pessoas que conheça, ele já foi “the one”, ele já foi “Buda”, não tem como! Mesmo ainda mais lacônico como de costume (muita gente também pode argumentar que ele não é bom ator, a gente sabe, mas a gente continua a gostar dele, tá), nós torcemos para John Wick finalmente encontrar sua paz, depois de tanta luta, de tanta morte – este foi o que ele mais matou gente!

*E daí passamos para outra coisa muito divertida aqui: a camaradagem. Keanu traz com ele alguns amigos, o hoje diretor Chad Stahelski foi dublê do Keanu lá pelos “Matrix” da vida, no segundo filme já trouxeram o colega Laurence Fishburne (Bowery King); neste Keanu reencontra um japa que já está há um tempão na ativa como ator, mas recentemente me lembro de trabalharem juntos em “47 ronins”, Hiroyuki Sanada (Shimazu).

*Apesar de quase sessentão, é admirável que Keanu se disponha a treinar o máximo que puder para suas cenas de lutas e ação, além de cuidar dos dublês! Não só vendo se estão se alimentando direito (!), mas vocês conseguem imaginar quantos figurantes e dublês trabalham numa produção como essa? Alguns devem ser usados em cenas diferentes, vivendo mortes diversas, e não é que Keanu providenciou camisetas distribuídas ao final das filmagens para os dublês, com o número de mortes que cada um viveu? Inclusive o principal que foi seu próprio dublê foi convidado pelo próprio Keanu para a premiere do filme em Londres, bem legal, hein.

*Quando o diretor vem em entrevista citando alguns nomes de personagens que vivem absurdos – até, por exemplo, o Coiote do Papa-Léguas, dizendo que só quer que o público relaxe e se divirta, a gente compreende que existe uma suspensão da realidade, talvez um pouco distante de certa verossimilhança no primeiro filme, mas talvez alcançada após toda essa saga que acompanhamos. Ele próprio considera como um filme de fantasia, só que se fosse passada na atualidade, com todo esse submundo e suas regras bem debaixo do nosso nariz – e por isso é proposital vermos tanta ação ocorrendo com todas as outras pessoas alheias à sua gravidade.

*Sim, as cenas de ação, bem como vários diálogos e outros momentos, referenciam outros filmes, como ir atrás de um vilão no clube noturno, ter a cabeça a prêmio, mas pessoalmente não acredito que comprometa, pelo contrário, crescendo, vemos como um desafio ainda mais grandioso. É muito divertido ver, por exemplo, a câmera nos mostrando do alto os inimigos de John e como os corpos se movimentam naquele velho apartamento, quase como um video-game, mas não sem a surpresa de armas que cospem fogo ou sem perder detalhes como os posicionamentos para que saibamos que John consegue ver o capanga quase para atirar no cachorro – e é claro, sabíamos que ele optaria por salvar o cachorro! S2

*A renovação fica por conta dos cenários e uma das sequências bem exploradas em questões de arte foi no Hotel Continental Osaka, com o tema das cerejeiras (símbolo da efemeridade) e os belos painéis de vidro com artes de samurais; os arcos e flechas, pois armas no Japão são mais difíceis de serem obtidas e talvez mais pela questão de tradicionalismo da cultura local; teve até direito a alguns lutadores de sumô e, obviamente, embates de espadas – por falar nisso, o personagem de Caine é baseado em Zatoichi, mas o ator (Donnie Yen) traz consigo também referências de outros tipos de lutas de filmes anteriores seus.

*Mais um belíssimo cenário: no Museu do Louvre, por trás do Marquis vemos um quadro de um soberano vendo diversas mortes por seus guardas, em sua frente Winston passa por outros quadros de Delacroix, que remetem à revolução e liberdade.

*E que maravilhoso descobrir que esse diretor virginiano também gosta de “O fabuloso destino de Amelie Poulain” (de outro diretor virginiano, como eu, e como Keanu), não à toa a escolha de locação de Montmartre. A escadaria realmente tem 200 e tantos degraus, faz referência ao mito de Sísifo e é outra cena trabalhosa para os coreógrafos – mas gente, nem acreditei quando o cara sai rolando escada abaixo sem parar! Porém, gostei da referência de Caim e Abel em comparação aos “irmãos” John e Caine. Sem falar no duelo final diante da Sacre Couer (que na tradução do seu título completo faz referência a um mártir, assim como Wick se torna).

*Por falar em referências, que tal logo no início fazer homenagem à “Lawrence da Arábia” (embora eu, particularmente, nem achei que fosse muito útil essa sequência haha)? E lembramos também do jeitão western de “Três Homens em Conflito”, ou simplesmente do Sergio Leone. O modo como a caçada ao John por Paris é narrada pela DJ faz referência a “Os selvagens da noite” (1979).

*E o que mais? Provável que tenha muito mais coisinhas divertidas para se notar, mas fico por aqui. Achei bem competente todo o visual, os efeitos, e principalmente o duelo final para John Wick finalmente ganhar liberdade. Claro que Hollywood sempre vai dar um jeito de “ressuscitar” personagens – mas é legal nos despedirmos bem, e pra mim é despedida, assim como foi daquele último 007 James Bond do Daniel Craig. Assim como foi da Midge da Mrs. Maisel; gente, não esqueci da última temporada, juro – assim como não esqueci que a filha Akira tinha jurado ir atrás do cara que matou seu pai. Que ano! E pensar que Lance Reddick também se despediu neste (como Charon), e deste mundo. Mas acho que as melhores mortes são assim, quando a pessoa meio que fez tudo o que veio para fazer neste mundo, aproveitando o melhor de sua vocação e natureza, fazendo o que ama. No caso de John Wick, matar, mas, enfim né.

Dia Mundial da Diabetes e “Assassinos da lua das flores”

Pois este ano que eu estava lembrando do dia, 14 de novembro, como estava em viagem acabei nem registrando nada. Alguns dias antes eu tinha pensado em conferir “Continência ao Amor” que está disponível no Netflix, a princípio insuspeitável de se tratar do diabetes, que só descobri ter a ver com o assunto quando uma influencer postou no Instagram uma lista de filmes com a temática. Ainda pretendo conferir, mas eis que sou tomada de surpresa por outro personagem diabético do qual nem suspeitava, no filme do Scorsese.

Deixei pra ver em tela grande numa data especial também, aniversário do meu eterno Leo, e aproveitando que ia estar “de boas”, de “férias” da pequena. Mais de 3 horas e meia de filme tem que ser em ocasiões especiais assim, temos que nos preparar antecipadamente.

Férias essas, a bem da verdade, um tanto quanto cansativas, porque eu peguei a semana para participar de um festival de roteiros em Porto Alegre, e mais sobre isso deve vir num post compilado do que pude ver por lá. Aliás, imagino que vou tirar uma semana em dezembro para “desovar” alguns posts que ficaram por sair para ganharem a luz da world wide web. Por agora, concentro-me no filme que com certeza arrebatará indicações ao Oscar (já me adiantando para futura maratona anual…).

Assim que pisei os pés para fora do aeroporto de Porto Alegre começou a chover, e fui ver na previsão do tempo que aquela semana choveria todos os dias. Acabei indo de uber para o hotel e depois também para o cinema mais próximo onde pude encontrar uma sala em que estivesse passando, seria a do Shopping Moinhos, lugar muito chique que me pareceu ter sido construído consonante ao público do hotel Hilton grudado, com uma série de homens de preto na porta (depois me perguntei se estavam à espera de algum convidado importante?). Eu tinha um guarda-chuva, fui na farmácia comprar um resfenol, fui em um mercadinho próximo comprar água, passei no café e acabei com uma mini ciabatta com rúcula no recheio e um chá gelado tropical sem açúcar. Sim, comprei pipoca, para me “alimentar” durante esse tempo de tela, embora eu tenha sempre que relembrar meu próprio tamanho: uma pipoca grande é um pouco demais pra mim mesmo, depois fiquei comendo essa pipoca em outras madrugadas.

Pois é, tenho diabetes, mas a essa pipoca eu não resisti. Sempre levo pelo menos um chocolatinho pras sessões (adoro aquelas barrinhas fininhas de Kinder!), não gosto de fazer muito barulho comendo no cinema, mas sabia que ia ficar mais de quatro horas sem nada se não fosse pelas indulgências. E no transcorrer, fiquei imaginando como deveria ser complicado na época, existia muito menos conhecimento sobre a doença do que há hoje em dia. Acertado quando Ernest aponta para o doutor alguma comida que a esposa não falou, quantas vezes nós diabéticos não somos apontados por outros sobre alimentos que não deveríamos ingerir? Muitas vezes a intenção da pessoa é boa (mas que é um saco, é). A bem da verdade, sempre imaginava que antigamente as pessoas nem eram diagnosticadas – ainda hoje acredito que há muita gente por aí que tem a condição e nem desconfia, pois não há sinais debilitantes tão gritantes, pelo menos não por um bom tempo. Daí me surpreendi que Mollie já sabe que tem, os médicos lhe arranjam a recém-criada insulina (e realmente na época advinda de animais, hoje já é fabricada sinteticamente).

Ou seja, sim, aprovo o realismo desse retrato, talvez isso se dê porque os personagens são baseados em pessoas reais, assim como o caso dos assassinatos do povo Osage, o grande tema do filme. É ótimo que ao dar contexto à condição de “novos ricos” da região, Scorsese tenha optado por além de um didatismo convencional no início e trazido a efusão com o petróleo numa câmera lenta e bela fotografia.

Por vários momentos é claro que se beneficiam da localização e as paisagens, e a construção dos cenários, os figurinos especiais para os Osage contribuem imensamente para sentirmos essa época, vide a reconstituição de uma cerimônia de casamento. É muito especial a cena da morte de uma senhora, nos deixando vivenciar um pouco da espiritualidade desse povo, presenciando o respeito que a obra procura trazer por suas tradições e própria existência.

Fiquei sabendo que mesmo depois de já ter trabalhado na história por alguns anos, decidiram mudar o foco do detetive (nesta versão vivido por Jesse Plemmons, adequadamente nos fazendo sentir que quer ajudar, mas calmamente inquisidor), para o do personagem ambíguo do Ernest (Leo DiCaprio), que é meio estúpido, em certos pontos até vulnerável, mas sabe que é melhor aproveitar o apadrinhamento do tio William Hale (Robert De Niro), um lobo na pele de cordeiro, fazendeiro rico ardiloso que se finge amigo, mas é quem realmente está por trás dos crimes cometidos contra o povo indígena.

A tensão crescente só poderia dar certo com um diretor do calibre de Scorsese – um dos últimos mestres do cinema ainda vivos, não? A esta altura do campeonato, nem tem como produzir algo ruim, ele sabe o que quer com suas cenas, o que e como tirar de seus atores, entende muito bem de conflitos em cena. De modo que, apesar da longa duração, é pouco sentida uma “enrolação” na trama, tudo vai degringolando para complicações com Ernest se envolvendo em golpes cada vez mais hediondos, até se dar conta da gravidade num intenso momento após a explosão de uma casa.

Como todos os atores são muito bons, não há muitos momentos desperdiçados, seja em embates de olhar, do clima criado também pelo ambiente (e o que é aquela gente toda naquela sala escura quando Ernest sai da prisão?), até por silêncios. Adoro a cena em que Mollie diz para Ernest simplesmente parar e ouvir a tempestade; e, claro, ao final, quando ele já tinha confessado tanta coisa, ela lhe pergunta se foi apenas insulina.

No fundo, no fundo, eu esperava que ele fosse completamente honesto, porque de algum modo sentimos um certo tipo de “amor” ali, mas ela já nunca mais poderia confiar nele. E Scorsese não precisa explicar, embora ele dê seu aparecer bem lá no final de tudo mesmo, alterando abruptamente o tom meio de “bordão” teatral, para que as audiências modernas compreendam que apesar de ele próprio ser um realizador branco, existe sim o registro, a empatia e o respeito, devidos para este e tantos outros povos na história injustiçados.

Claro que o baixinho não deve enviar uma indígena em seu lugar, à la Marlon Brando, mas desde já torço no Oscar pela Lily Gladstone, que sisuda, contida, firme, é uma joia que só acrescenta ao brilhante todo.

Finados e “o jogo do diabo”

Hoje é dia de Finados e este ano eu estava pensando em quão peculiar é essa conjuntura. No dia 31 de outubro temos o Halloween comemorado nos Estados Unidos – e importado por nós, pelo menos no quesito “festa”, com direito a fantasias e doces para as crianças. Aliás, minha pequena foi num shopping com seu baldinho em formato de abóbora laranja e conseguiu muitas balinhas e pirulitos. Bem diferente da minha (falta de) ideia quando era criança e vi “E.T.” e o pessoal saindo na rua como monstros diversos e eu achando aquilo tudo muito bizarro (como o próprio E.T. deve ter olhado para tudo aquilo, pensando bem). Logo depois, dia 01 de novembro é Dia de Todos os Santos, e dia 02 é o “Dia de los muertos” no México, ou Finados no Brasil. É ou não uma época para considerar o sobrenatural?

Pelos ensinamentos budistas que pratico, nós podemos fazer pedidos de oração direcionados aos espíritos. Talvez seja algo estranho para alguns, mas lembrar dos entes queridos ou ancestrais parece ser algo comum em muitas religiões e essa é uma forma pela qual acreditamos que podemos oferecer algo de bom daqui desta existência à outra. É um tema importante trabalhado no longa de animação “Viva!”, não lembro se comentei pormenores, mas lembrar dos que se foram talvez seja uma forma de mantê-los “vivos” ou existentes.

E daí contemplo também algumas vidas. Lembrei-me da minha gatinha, do meu avô. Pensei no Matthew Perry, que se foi tão recentemente, e que na verdade só lhe faltava era compartilhar sua experiência aqui (não foi recente também a publicação da sua autobiografia?) para estar livre para ir. Algumas mortes – e vidas – me parecem fazer mais sentido que outras.

Este ano, então, não vi uma lista de filmes de terror. Eu vi aquele especial do “Friends”, da reunião da galera, realmente Courtney acertou, seria a última vez que todos os seis amigos mais icônicos da cultura pop estariam juntos na mesma sala comentando sobre sua série mais famosa.

Na verdade, esse eu vi “de folga”. Mas para o Halloween mesmo estava maratonando “Wandinha“, do velho (e bom?) Tim Burton. Quer dizer, eu sei que ele só dirigiu alguns episódios, trabalhou mais como diretor executivo, mas tem toda a cara dele, até mesmo na escalação da Cristina Ricci – muito acertada, homenageando a intérprete de Wednesday nos filmes dos anos 90. Ano passado teve todo aquele hype com dancinha no TikTok, mas eu sou aquelas “do contra” que quando todo mundo fica falando eu prefiro evitar. Bom, depende do caso. Mas foi assim com essa personagem da Família Addams, e ficou uma série bem acertadinha, aproveitando os trejeitos únicos da garota macabra, algo diferenciado no cenário juvenil de escola nova, novas e estranhas amizades, ainda misturando um mistério a ser desvendado. Curti bastante, oito episódios bem trabalhadinhos, aproveitando pistas enganosas, o contraste entre a protagonista e seus colegas, fazendo graça das estranhezas, os efeitos pra dar vida ao Mãozinha (Thing) ficaram perfeitos, e a gente até se emociona quando acha que ele vai morrer. Só não gostei muito do visual do monstro, e convenhamos que deu saudade do Raul Julia que era o Gomez perfeito… mas todo o contexto de caça às bruxas, o Hyde (bebendo da famosa história de Jackill & Hyde) e referência a Edgar Allan Poe, tem até participação especial do Fester, não esqueceram do Primo It, capricharam.

Porém, se for para comentar sobre uma série que me surpreendeu mesmo foi “O jogo do diabo” (Netflix). A primeira vez que vi só a “capinha” eu achava que era algo meio de terror. Mas foi uma grata surpresa conferir este reality que é na verdade de jogo intelectuais! É uma série coreana e não consegui parar de ver, muito instigante – pronto, finalmente achei realities que fazem mais meu tipo, que BBB que nada. Esses jogos de competição mais “espertos” tão ótimos (o último que gostei foi “O sabotador”, embora tivesse mais desafios físicos).

Já no primeiro episódio propõe um jogo onde existe um vírus, e personagens, onde todos tem que descobrir quem é quem – quem está infectado, quem é policial, jornalista ou pesquisador, e é uma loucura, uns tentando enganar outros… Os participantes ficaram uma semana confinados, a cada dia um jogo diferente para cada um poder ganhar mais “chips” (se acabarem todos você é eliminado) e um jogo para aumentar o prêmio final. Mas o pessoal é bem inteligente, apesar de entre os jogadores terem nomes que parecem ser famosos na Coreia – incluindo youtubers, atores, apresentadora de TV, garoto de boyband, jogadores de jogos eletrônicos, além de médico, advogado. Na verdade, acho mesmo que o ganhador final é um gênio, ele é muito crânio! E também foi o mais honesto e valoroso, na minha opinião. Eu estava torcendo pra ele! hahaha

Teve jogo de estratégia, de montagem de formas, de combinações, de variáveis, de tabuleiros complicados, de pôquer com muita matemática. Em alguns dos jogos foi difícil até entender as regras para mim >.< Duas pessoas ainda iam para a prisão caso fossem as que ficassem com menos chips, e lá na prisão ainda tinha um jogo surpresa que pra desvendar e depois vencer também foi um baita desafio. Eu torci contra a aliança do Orbit, prontofalei, e me emocionei bastante! Recomendo.

E é isso aí. Ainda só comecei a nova temporada de “Loki” e vi “Mila no Multiverso”, mais por causa do Frapa, mas nem me empolguei tanto assim – gostei dos figurinos do Instituto, de uma vida mais “natureba” e alquímica. E estou bem contente com a nova série baseada numa graphic novel, “B.A.” (HBO Max). Muito divertido os figurinos coloridos e é ousada, para a galera jovem do Brasil, porque convenhamos, hoje em dia todo mundo beija todo mundo mesmo. (Eu é que sou velha e prefiro as histórias românticas tradicionais). A série me lembrou um pouco um filme que eu gostei bastante, “A vida em preto e branco”. Os mais velhos sofrem de “monocromia” e alguns jovens que vomitam colorido descobrem ter poderes especiais. Com esse visual lidando no fantástico, o que mais acertaram foi mesmo o retrato da geração mais jovem atual.

Filmes eu tenho começado e parado no meio… acho que tenho lido mais roteiros, principalmente por causa do curso – que já está no meio do trimestre! Xenti. Reli “O fugitivo” (filme disponível na HBO Max também), li “Gênio Indomável”, “A testemunha”, pulei só “Beleza Americana” porque não gosto muito do tema (nem do Kevin Spacey). Também li capítulos do Lajos Egri, estou gostando de trabalhar sobre uma história a se tornar roteiro.

É, enquanto a gente ainda está por aqui, continuamos né? Com o melhor que temos, da melhor forma que podemos, e quem sabe sermos lembrados por alguém depois que passarmos desta (para melhor?). Vendo os relatos de alguns fãs no episódio especial de “Friends” eu percebo por que a série foi uma das mais vistas e continua sendo tão popular, ajudou tantas pessoas no mundo a se sentirem menos sozinhas e continuarem em frente apesar das dificuldades. Matthew será lembrado e espero que todos nós também possamos ser, nem que seja por alguns amigos próximos.

Uma fala do Luffy e ainda sobre o fiasco de 25

Tanta coisa, passou mais de mês desde meu aniversário e acabei nem registrando qualquer coisa aqui. Pois bem, vamos primeiro falar do fiasco desse 25.

Conforme se passaram os anos desde jovenzinha, eu fiquei muito contente por compartilhar meu aniversário com Sean Connery (que já morreu, mas ficou marcado na história do cinema como um dos melhores 007, não?), Tony Ramos (que já foi galã de novelas, xenti), Rachel Bilson (a Summer do The O.C. e possível parzinho do Chuck), Blake Lively (que tem cada visual incrível no Met Gala e acabou se casando com um escorpião de 23 de outubro, minha primeira paixão platônica na vida real também era desse aniversário). Claro que meu nome favorito, porém, sempre foi Tim Burton, que apesar de ser estranho e meio sinistro, já se deu bem com animações, romances bizarros e até filmes bem sucedidos de heróis. Representa um pouco de mim, que apesar de não pensar de modo muito convencional, ainda teria alguma chance com o cinema e Hollywood até.

Mas este ano eu decidi ir no IMDB dar uma conferida e atualizada na minha lista. Em primeiro lugar, mais popular, Alexander Skarsgard! E eu acho que vou ter mesmo que ver “Succession”. Ou vocês me recomendam essa lenda de Tarzan com a Margot Robbie? E não é que descobri o William Friedkin (que morreu no início do mês de agosto, xentem, desconfio que também acontecerá comigo, morrer no mês de aniversário), isso mesmo, o diretor de um dos clássicos do terror, “O exorcista”. É até peculiar que vários virginianos tenham um lado meio sombrio, meio dark, expressando-se pelas artes: Stephen King é de virgem, Agatha Christie também era.

E se o Tim Burton andou meio chateado com as aparições de duas “criações” suas ajudando a dar dinheiro pro estúdio – quer dizer, na verdade a conversa era outra, era sobre o uso de efeitos rejuvenescedores – aqui vamos eu para mais um post desta minha blog-terapia. Sim, andei uns tempinhos meio chateada. E me perguntando se vai ser assim pelo restante deste ano todo de vida; por alguma tradição japonesa alguns aniversários são marcantes e anos “difíceis”, pelo menos segundo minha mãe, isso implica em bolo redondo sem falta: entre essas idades, 33 (idade de Jesus!) e 42.

Aqui vamos eu desabafar sobre o fiasco do último 25 de agosto, em que tudo deu errado. Estendendo-se à sensação de “e se a vida inteira deu errado, o que a gente faz?”. Ou foi a onda de calor que andou fritando meu cérebro, me derretendo? 

Vamos eu admitir que esperava alguma coisinha do concurso de argumentos, relembrei como é me sentir completamente inadequada ao meio audiovisual brasileiro, que fiquei um pouquinho triste sim e quase querendo desistir da viagem no final do ano, e daí relembrei de como já andei desistindo de tanta coisa nesta estrada de vida.

E depois de tantas tentativas, ficamos a indagar se realmente isso não é pra gente, afinal. Que ficamos nos iludindo, acreditando que poderíamos ser alguém especial. Quer dizer, cada um tem ou desenvolve seus talentos e aptidões, mas talvez eu estivesse errada o tempo inteiro, e não quis acreditar que não havia qualquer coisa de especial em mim.

Pois então. Dia 25 eu tinha planejado, este ano ia pegar o bolo sabor brullé (que fui encomendar dias antes e não ia dar para fazerem, só depois de sábado, sendo que o niver caía na sexta); ia no Cine Drive-in ver “Barbie”, porque daria pra levar a pequena junto (no dia antes saiu de cartaz pra “Besouro Azul” e um filme de vampiro), acabei desistindo; daí decidi fazer um bolo com a filhota, esqueci a colher que ela tinha usado pra mexer e botado dentro do copo do liquidificador, copo que quebrou e espalhou massa de bolo pela cozinha toda, fiquei metade do dia limpando a casa; ia jantar no Paris 6 pra ver se eu ganhava sobremesa de brinde, mas acabei desistindo com essa série de atrapalhadas.

Daí revi para analisar quantas vezes na minha vida eu já havia desistido de algo – sou uma desistidora? Para ser honesta, até que avaliei e procurei ver por um viés positivo, não me achei tão mal assim. Sim, eu deveria ter desistido é do segundo ano de cursinho e ido fazer o curso de teatro. Sim, eu deveria ter desistido de prestar audiovisual na USP e escolhido japonês, feito uma faculdade pública, deixado pra fazer um curso de audiovisual como segunda opção mesmo. Na verdade, meus arrependimentos são mais por coisas que acabei não fazendo, nem tanto aquelas que desisti.

E assim, passei anos com a sensação de ter desistido tantas vezes de trabalhar com cinema, porém continuo por aqui. De tempos em tempos retornando aos sonhos – ou seja, eu não desisti realmente, nunca por completo. Voltamos. Em novas conjunturas, com algumas diferenças.

Outro dia eu estava zapeando o Netflix – aliás, ultimamente eu percebo que ando passando muito mais tempo zapeando os canais de streaming do que realmente vendo alguma coisa! – e num desses trechos de imagens que o Netflix nos apresenta para gerar interesse em vermos determinado título, eu me deparei com uma fala do Luffy (do anime de “One Piece”, a série em live action comecei a ver, mas estou indo aos poucos), em que ele diz que ele decidiu que quer ser pirata e pronto. Pode ter que lutar e morrer tentando, mas ele decidiu.

Me identifiquei, mais ou menos. Acho que mesmo que nunca dê certo, vou morrer tentando. Posso falar que vou desistir, mas não consigo, é algo já em mim. E é isso. Agora já decidi que vou me tornar roteirista, e pronto.

E tudo anda tão diferente! Pelo menos comparando a quando eu tinha 10 anos e achava que tinha que aprender inglês por conta própria para ir trabalhar nos EUA, já que a produção cinematográfica no Brasil era escassa (sim, era início dos anos 90). Hoje tem canal no YouTube falando só de roteiros no Brasil, tem curso de assistência de roteiro (coisa que eu nem imaginava que existia no Brasil, sala de roteiro!), temos concursos de roteiro e o maior festival de roteiros da América Latina que eu também desconhecia, mesmo tendo feito aqueles dois anos de curso audiovisual no início da última década.

Aliás, descobri sobre este festival ano passado, quando fui para Gramado, e este ano me comprometi comigo mesma a ir lá conferir. Será no próximo mês e talvez eu consiga postar alguns comentários por aqui, vamos ver.

Porque era pra eu ter tecido comentários sobre “Novela” e “Insustentáveis”, séries brasileiras disponíveis no Primevideo que até que foram interessantes, ou mesmo a inesperadamente divertida “Jury Duty”, xenti, nem sequer comentei de “Barbie” (que acabei vendo depois) ou “Bacurau” (que foi o que acabei vendo no meu aniversário).

Fora novas resoluções sobre o que quero escrever e ver, principalmente me aproximando mais de Hayao Miyazaki, digamos bem resumidamente. Nesse meio começam a entrar pra minha lista de querer ver títulos como o doc “Território” e um filme antigo, “Soylent Green”, dessa lista já estou na metade de “Aruanas” que acabei perdendo lá por 2019, afoita com a gravidez, enrolada com a pandemia. É, andei perdendo um certo tempo nos últimos anos…

E os comentários então sobre esta leva de produções relacionadas à carreira de youtuber? No Prime tem uma série mexicana, lançada pouco antes da série brasileira “Compro likes” no Star, que é o mesmo tema de um filme com Andrew Garfield e a filha da Umma Thurman e do Ethan Hawke lançado na mesma plataforma. Tantas, tanta coisa. Então, sobre novos posts, veremos. Vejamos.

Apesar de tudo isso, ainda tenho meus sonhos grandiosos de Hollywood – e por que não, né Luffy? Então também me decidi a conseguir um certificado! E se posso ir em busca de um internacional, por que não, não é mesmo, Luffy? Pois é, faltou também post comentando sobre essas reviravoltas pessoais de querer mudar um pouco, deixar de sempre achar que não sou boa o suficiente pra essas coisas… e quem falou? E mesmo que eu não seja tão boa escritora, olha só quanta gente ruim além de mim tem por aí, né? Hahaha.

Supostamente este novo curso deve durar um ano e meio, por aí. Tenho até cinco anos para terminar, mas com um investimento financeiro relativamente alto, vamos ver como isso se dará… Por agora, apenas fico por aqui ansiosa pela minha próxima viagem para escrever e ver o último do Scorsese (e do DiCaprio, claro).

O passado que nos condena: Oppenheimer, Guardiões da Galáxia vol. 3

Pensaram que eu tinha entrado de greve junto com os roteiristas e atores de Hollywood? Quem me dera. Ultimamente tenho daydreameado bastante com isso, e se eu pudesse morar em Los Angeles, viver na Califórnia, como naquela canção do Lulu, ser artista de cinema? E, às vezes eu me pergunto se eu tivesse feito escolhas diferentes quando jovem talvez essa realidade teria sido mesmo possível sem tantas perdas e danos pelo caminho.

Só que não, eu só acabei não escrevendo por aqui por mais de mês simplesmente pelas correrias diversas a que eu mesma me imponho; então calma que o último post da série “The marvelous Mrs. Maisel” vai chegar, só que vou ter que rever os últimos dois episódios que foram muito emocionados e sem tempo hábil para eu sentar e tomar nota antes das curtas férias escolares da minha espevitada offspring. Viajamos para o norte nessas férias de julho (e nem conseguimos tomar o saboroso Carimbó da Cairu! Shame!), ela ficou doentinha, eu fiquei mal, pensando em complicações de saúde e mais uma vez distante numa visita curta a São Paulo, embora muito bem aproveitada: com direito a affogato da Bacio, longa conversa com uma amiga querida no Guarita, consulta na oftalmo e pesquisa de óculos mais sustentáveis, sala Imax num espaço agradável (e a surpresa feliz de descer em frente aos estúdios da O2), almoço francês (tartare e drink de Lillet no Rendesvouz, aquela indulgência que a gente precisa se permitir de vez em quando), além de, principalmente, um treinamento espiritual intensivo.

E aqui devo me debruçar um pouco mais em palavras se misturando com dois ótimos filmes que pude conferir dentro dessas últimas semanas – finalmente algum filme bom! Sentia-me até então fadada a preencher meus dias com comédias românticas bem medíocres. “Oppenheimer” (2023) é um deles, um filme grandioso, para um cineasta que é sempre meio megalomaníaco – confesso que Christopher Nolan tinha me perdido com “Tenet”, que desgostei bastante, embora eu tenha apreciado bastante as várias incursões complexas anteriores, “Interestelar” e “A origem” meus favoritos. Com certa ironia por ser um filme mais intimista, sobre um personagem da vida real, o criador da bomba atômica (e não sobre a bomba em si), o que também nos faria duvidar se vale o ingresso do Imax? Ou valeu para Kodak fazer um negativo especial para o formato do diretor? Fazia um tempão que eu não conferia um filme numa sala Imax e me peguei surpreendida com o tamanho da tela, mas pela qualidade de som e sentando no lugar indicado pelo diretor, para mim, valeu a pena sim. Sem falar que peguei desconto de dia de semana ;)

Com certeza o filme vai entrar aí como indicado em várias categorias para o próximo Oscar, e desde já torço pelo Cillian Murphy, porque já tava na hora desse ator ganhar esse reconhecimento, né. Mas todas as outras atuações de apoio também estão firmes, com algumas surpresas de atores famosos em pontas (Kenneth Branagh, Gary Oldman, Rami Malek, Casey Affleck entre tantos), com destaque para um envelhecido Robert Downey Jr. vulnerável e arrogante, um militar Matt Damon, a esposa sem trelas Emily Blunt e a presença intensa da amante que dispensa flores Florence Pugh. Na verdade, são tantos os nomes que vemos interagir com Oppie que até o espectador norte-americano deve ficar perdido, mas o que importa é que Einstein tem indagações maiores do que um político pode imaginar.

Todos os artifícios visuais são envolventes, nós nos impressionamos juntos naquele teste, que parecia que ia dar tudo errado; sentimos o amor do cientista por Los Alamos. A montagem do filme é entrecortada, com alternância de impressões conforme as visões diferentes dos personagens – mais declarada pelo preto e branco – sem se ater à cronologia. As cenas conflituosas são escolhidas a dedo, ótima a tensão aplicada na possibilidade de uma maçã envenenada ou como Oppie se sente desnudado, com uma relação íntima escancarada em seu interrogatório. Também compreendemos as inserções das fusões e explosões, como um sentimento e algo que invade sua mente constantemente. Assim, mais do que a trilha sonora, vejo um destaque para os efeitos sonoros, seja num ruído atordoante, ou naquele momento marcante do público celebrando o final bem sucedido do projeto, mas os gritos tendo um quê de horror, pois o que paira além da ciência são as mortes e o horror causado pela guerra.

Aliás, que coisa mais triste a discussão sobre os locais a serem atingidos pela bomba, sem importar o número de mortos (que foi muitíssimo maior que o esperado e com reverberações ainda piores), sem ética ou moral, ou humanidade. O finalzinho do filme é dedicado a Oppie lidando com algumas consequências, tentando usar sua imagem para que o uso de avanços como esse que ele conquistou fosse mais consciente. No início da projeção me surpreendi com alegria ao ver a citação sobre Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, pois a ideia está ligada a um argumento de roteiro que escrevi este ano. Porém, meu roteiro não tinha a ver com esse outro recorte apontado pela citação, de como Prometeu foi acorrentado e torturado – como alguns de nossos erros sempre vamos arrastar conosco, nos torturando (mesmo que não física e sim mentalmente).

É aqui que o cinema, como sempre, vem falar comigo, que tinha passado por uns dias de treinamento espiritual.

Esse treinamento espiritual envolveu três dias com eu indo ao templo (quando o planejado inicial era somente um dia) e me vendo em lágrimas nos três dias. O processo incluiu tocar lá no fundo da alma a questão da gratidão, também pelos antepassados, os que vieram antes e que me apoiaram – e continuam a apoiar ainda, e por todas as oportunidades que já tive e tenho. Um outro viés foi o de me libertar um pouco do sentimento de culpa, por algumas coisas que aconteceram e como se desenrolou afetando outras pessoas; e também relacionado ao evento de saúde com minha filha, desde bebê e até a atualidade.

O último foi o ponto em comum refletido junto com “Oppenheimer”; claro que em escala bem menor, mas fiquei pensando em como nos torturamos por erros do passado, que podem nos assombrar pelo resto da vida. Nessa ordem budista que frequento, podemos fazer uma meditação que nos orienta individualmente de formas práticas a superar, evoluir, crescer. Dessa vez, fui levada a superar um pouco desse sentimento de que as coisas teriam sido diferentes, procurar a substituir a insatisfação pela gratidão do que se abre à frente e é possível.

Daí, entramos em “Guardiões da Galáxia vol. 3“. Que belezinha de filme, não é? Com tanta coisa da Marvel – e tantos títulos que ficaram devendo ultimamente – a gente meio que tinha esquecido um pouco dos dois primeiros? Porque para mim, esse ficou como favorito, apesar de não gostar da “nova” Gamora, ter menos canções que eu conheço e gracinhas, conseguiram equilibrar bem a comédia com a ação, a coisa toda de heróis/vilão e dramas verdadeiros. Visual e efeitos competentes como devem ser – ah, os trajes coloridos de astronautas! E o mais importante: a história do Rocket, finalmente, o guaxinim mais inteligente de todos os universos! Foi impossível não se emocionar com as agruras, não só porque ele era um inocente bichinho fofo e daí sofreu vendo evoluções terríveis, mas e os amigos que perdeu e teve que se recompor nessa nova família dos Guardiões, e aí de novo como novo capitão…

Groot também arranja modos inovadores de crescer e lutar, Drax se reencontra como paizão e Mantis percebe que precisa mais. Quill continua protegendo seus amigos e amando Gamora, meio chateado com o universo, mas ele deve retornar (como 007 sempre indicava no final). Tem o cara dourado Warlock meio bobão que adota um bichinho, um alívio cômico típico, mas tá valendo. O vilãozão Alto Evolucionário até que tem boa motivação, querer uma sociedade melhorada, um mundo mais perfeito e é ótimo vê-lo enlouquecido que o guaxinim conseguiu criar algo, o que suas outras criações não fizeram. Uma curiosidade divertida é que a voz da Cosmo é da Maria Bakalova (que fez aquele filme improvável com o carinha do Borat); o Nico Santos é um coadjuvante divertido num filme recente da Netflix sobre uma mulher fazendo trilha para se reencontrar, que acabei de ver outro dia; outra curiosidade é que embora Bradley Cooper faça a voz do Rocket, o stand in pra motion capture era o irmão do diretor James Gunn (que fez um ótimo trabalho final após ser demitido uma vez, mas agora parte para trabalhar no universo DC), Sean Gunn (que também faz o Kraglin, finalmente controlando a caneta com assobios). Bem, é claro que há muitas outras coisinhas divertidas para se notar, como o Stan Lee numa foto nos créditos finais, mas só pra te contar isso existem alguns vários canais no YouTube.

Enfim, mais do que esses detalhes, a história do Rocket me pegou de jeito (e eu cantando “Rocky Racoon” dos Beatles, achando que era proposital? Mas o nome era diferente, e o da amiguinha era Lila). Rocket é muito querido e recebeu apoio de muitos em seu caminho, bem colocada a cena em que Nebula e outros ouvem a voz do amigo e eles param um segundo porque a emoção toma conta. Sabe quando a gente acha que já deu, já perdeu tanta coisa, já sofreu tanto, cadê o amor verdadeiro da nossa vida?, a gente queria era ir viver em paz. Mas continuamos. E deve ser porque, afinal, ainda temos potencial para fazer mais algumas coisinhas por aqui. Ainda há mais pessoas que podemos ajudar. Com quem podemos conviver. E, na verdade, devemos é nos sentir gratos por termos ainda oportunidades e possibilidades. E mais um tempinho para as pessoas que nos estimam passarem com a gente.

“Cavaleiro de Copas” e budismo

Eu sou dessas agora. Que assiste aos filmes porque podem ter algo a ver com o que eu gostaria de escrever. Assim que o que mais achei interessante no mais recente “Shazam!” foram as referências a figuras da mitologia grega – pois uma das minhas candidaturas num concurso de roteiros teve a ver um pouco com isso, trazer numa narrativa moderna e fantástica referências gregas e indígenas.

De modo que, para as narrativas futuras que descobri ter mais interesse em me debruçar, estão na minha lista alguns filmes (Ex. “Soylent Green”, alguém já viu?) na temática ambiental, e até documentários, “Território”, “A última floresta”, aquela série documental do Zac Efron (quem diria que ele faria algo assim, e quem diria que ele ganharia um Emmy por isso?), quem sabe até essa comédia parte 2 aí em que a moça é médica na Amazônia? E vi a série “Extrapolations” – não sei se cheguei a tecer algum comentário por aqui, principalmente da dor de ver aquele episódio da baleia, uma série mais difícil pra mim do que “Black Mirror”. E comecei a brasileira “Insustentáveis” (no Primevideo). E vi “A era da estupidez”, que eu nem sabia que existia, por acaso, zapeando, caí nela, apresentada pelo Pete Postlethwaite, com o diferencial de imaginarmos ele como um arquivista no futuro indagando-se por que a humanidade não fez algo enquanto ainda podia, antes do fim, de acabar com o planeta de vez. É uma boa montagem contrapor um casal que calcula suas emissões de carbono e percebe que o pior são as viagens de avião com o cara da Índia que quer se tornar um novo magnata dos ares e clama que vai erradicar a pobreza. Horrível saber que a comunidade local vetou uma usina eólica simplesmente porque “atrapalharia” a vista deles – esse filme foi lançado em 2009, muita coisa aconteceu desde então, o mundo está mudando, mas horrível mesmo assim. E muito especial ver o velhinho francês alpinista ainda disposto a fazer uma passeata de bicicleta sob chuva, apesar de parecer que aquilo não vai dar em nada.

A bem da verdade, essa história começou já no ano passado, quando eu trabalhava numa antiga ideia para roteiro, que tem algo a ver com celebridade, e por isso acabei vendo aquela série “Starstruck”. Seguindo essa linha, fui conferir “Idol” super nova no HBO Max, com a filha do Johnny Depp, Lily-Rose (cara da mãe cantora); sem me cativar, parece que vão seguir uma linha ali de muita nudez explícita, drogas e o limite entre o que é aceitável ou violência, eu simplesmente não estou nessa vibe e não devo continuar. E revi o “Celebridades” do Woody Allen, que é um pouco datado já, não é um grande trabalho do diretor, mediano, com as idiossincrasias de exemplos das celebridades norte-americanas, estrelas do cinema ou modelo ou da TV, tem ali sua tara por louras avassaladoras (Charlize Theron), queda por jovens (Winona Ryder), o protagonista é mais uma vez um escritor (Kenneth Branagh), dez minutos de Leo DiCaprio logo após “Titanic”, uma ex-esposa que ascende após a separação (Judie Davis), mesmo sem acreditar que mereça tanta sorte – nisso eu me afeiçoei um pouco, não quero ser essa pessoa que não consegue aceitar a própria felicidade. Confessemos, com o #metoo e várias acusações de abuso, não temos muita vontade mais de ver Woody Allen, embora, na minha mera opinião, ele tenha em seu prolífico currículo alguns dos melhores filmes da história do cinema. Meus favoritos: “Meia-noite em Paris” (2011) ****, “A rosa púrpura do Cairo” (1985) ***, “Noivo neurótico, noiva nervosa” (1977), só para citar três.

Daí, chego em “Cavaleiro de Copas”, do Terrence Malick, que após “A árvore da vida” (2011) *** deve ter achado que essa era sua nova fórmula, seu estilo? Câmera baixa, luzes edificantes, narração em off, improvisos, olhares perdidos, paisagens naturais e algumas vazias (em diversos sentidos). Agora, nesse meio de Los Angeles e vida de celebridades, como aquela festa numa mansão do anfitrião vivido por Antonio Banderas, passando por algumas garotas após um casamento errado com a esposa vivida por Cate Blanchett. Sim, muitos nomes de peso, para mostrar uma existência que parece à deriva, até ser confrontado por um filho da amante vivida por Natalie Portman, e a relação com o próprio pai. Esse tema de buscar um significado maior para a vida me interessa, mas o “estilo” do Malick, já batido a este ponto, é bem cansativo.

Algo que me chamou mais atenção foi uma visita ao que parece um retiro, ou espaço de meditação, em que um senhor de idade fala que passou pela Ásia, conheceu monges (no Nepal? Não me recordo bem agora), e comenta que lá em meio à serenidade é fácil se manter em meditação, em mais paz, sem o trânsito para enfrentar após o trabalho ou a esposa reclamando de algo. Pois é. Reservo-me algumas últimas palavras para falar um pouco de budismo. Realmente, me parece que a primeira coisa que vem à mente das pessoas quando se fala em budismo é de um monge de cabeça raspada sentado em meditação no meio da natureza. Enquanto as linhagens de budismo tradicional realmente são de indivíduos isolados, que entraram para uma vida religiosa (tornando-se assim monges, vivendo em monastérios), existe hoje uma ordem budista que busca trazer para a vida diária os ensinamentos e a meditação. Essa é a ordem ou escola que sigo, que defende a prática budista no local de trabalho, no lar, no cotidiano. E, sim, afirmo que é um local de treinamento bem mais difícil, mas também por isso, quando vemos “resultados”, é bem mais compensatório, faz muito sentido.

Como ter empatia por pessoas que a gente já conhece tão bem, inclusive todos os defeitos? Como se acalmar e tentar ver o lado bom ou engrandecedor de certas situações? O que podemos fazer realmente para contribuir nem que seja um pouco para mais felicidade e um mundo melhor? Há muitos jeitos, em diversas instâncias, por diversas formas, de encontrar mais sentido para esta vida.