Que tal umas rapidinhas antes do Oscar 2024?

Eu aqui no meu atrapalhamento este ano, nem consegui fazer posts para cada um dos indicados (sequer!) a melhor filme, com muita coisa na cabeça, muita vida pra viver. Mas como não poderia deixar de ser, tem que ter o anual post dos meus votos (sublinhados), acompanhado desta vez de algumas breves notas por falta de tempo hábil no aprofundamento (ou simplesmente falta de ânimo?) sobre os filmes deste ano.

Então vamos lá. Assim como os membros da Academia, para a categoria principal de melhor filme temos a ordem de preferência (nota 10 para o que mais gostei). E como já é de se esperar desta pessoinha atarantada como o Doc Brown, os tradicionais chutes em categorias que não deu pra ver os títulos não (principalmente curtas e documentário).

Após a cerimônia no domingão, atualizamos aqui os ganhadores com um ou outro comentário da festa.

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Melhor curta

A incrível história de Henry Sugar” – o mais famosinho da lista, muita gente deve ter visto pois estava na Netflix, do Wes Anderson.

“E depois?” – um pai motorista de aplicativo em luto, também disponível pela Netflix.

“Invincible” – um garoto de 14 anos em busca da liberdade, do Canadá.

“Red, white and blue” – uma mulher cruzando estados pelo aborto.

“Ridder Lykke” – um senhor lidando com a dor, da Dinamarca.

Melhor curta documentário

A última loja de consertos” – em Los Angeles, consertos de instrumentos musicais gratuitos.

“Island in between” – ilhas de Quemói, reflexões chinesas.

“Nai Nai & Wai Pó” – duas senhorinhas ativas.

“O ABC da proibição de livros” – taí, inesperadamente conversando com nossa situação no Brasil em que um livro (“O avesso da pele”) está sendo censurado por algumas escolas, fazendo as vendas desse ganhador do Jabuti subirem em 400%.

“The barber of little rock” – aparentemente, sobre a situação dos negros e o sistema bancário.

Melhor curta de animação

“Carta para um porco” (Israel/França) – sonho após ouvir o relato de uma carta para um porco que salvou do Holocausto.

“Ninety-five senses” – sobre cinco sentidos por um velhinho.

“Our uniform” – lembranças de uma iraniana pelas marcas do uniforme.

“Paquiderme” – verão e o monstro vai morrer. O visual deste parece bem fabuloso.

“War is over” – pombos-correio, xadrez, inspirado na canção de John e Yoko.

Melhor filme internacional

“A sala dos professores” (Alemanha)

“A sociedade da neve” (Espanha)

Dias perfeitos” (Japão) – meu voto, embora seja o candidato do Japão, é dirigido pelo Wim Wenders.

“Eu, Capitão” (Itália)

“Zona de Interesse” (Reino Unido) – talvez levem, hein.

Melhor documentário

“20 dias em Mariupol” – jornalistas ucranianos sob invasão russa.

“A memória infinita” (Chile) – um casal e o Alzheimer.

“As quatro filhas de Olfa” (Tunísia e outros) – duas filhas desaparecidas.

“Bobi Wine: o presidente do povo” (Uganda) – música contra um regime político.

To kill a tiger” – um fazendeiro na Índia atrás de justiça para a filha que sofreu estupro coletivo.

Melhor animação

“Elementos” – apesar de não ter se saído tão bem em bilheterias, parece que ganhou as graças dos espectadores de streaming. Claro que conta com as maravilhas técnicas da Pixar, então é super agradável ver o trabalho com os diferentes elementos e suas caracterizações, a água e o fogo se misturando, todas as cores e tudo tão fluido, embora a narrativa seja mais para uma comédia romântica como muitas que já vimos.

“Homem-Aranha através do Aranhaverso” – acho que tem grandes chances, parece ser um queridinho do pessoal nos States. Técnica impecável, continua num ritmo bom de ação, memorável a perseguição daquele milhão de Aranhas atrás do Miles.

“Meu amigo robô” – uma graça, amizade entre um cão e esse robô inspirado naquele do Ghibli!

“Nimona” – mais uma de amizade, um injustiçado procurado pelo governo e uma “monstrinha” que muda de forma, com uma personalidade rebelde muito divertida. Também mais de ação e efeitos, me surpreendeu a indicação, mas é uma divertida jornada.

O menino e a garça” – não tem jeito né, gente, meu coração sempre vai falar mais alto pelo Miyazaki. Meu voto sem titubear.

Melhores efeitos visuais

“Godzilla Minus One” – que divertido, um candidato japonês aqui!

Guardiões da Galáxia Vol. 3” – devo confessar que foi o único que vi desta categoria, e é bem fantástica a sequência de ação com os guardiões num corredor, como uma longa tomada com várias coisas acontecendo.

“Missão impossível: Acerto de contas, parte um”

“Napoleão”

“Resistência”

Melhor som

“Maestro”

“Missão impossível: acerto de contas, parte um”

“Oppenheimer” – acho que este leva.

“Resistência”

Zona de interesse” – poxa, o trabalho de som faz toda a diferença para esta obra, viu. Tenho que dar meu voto.

Melhor trilha sonora original

“Assassinos da lua das flores”

“Ficção americana”

“Indiana Jones e a relíquia do destino”

Oppenheimer” – deve levar esse mesmo.

“Pobres criaturas”

Melhor canção original

“American Symphony” – “It never went away”

“Assassinos da lua das flores” – “Wahzhazhe (a song for my people)

“Barbie” – “What was I made for?”

“Barbie” – “I’m just Ken” – povo é muito entusiasmado com essa dança, mas acho que a Billie leva.

“Flamin’ Hot” – “The fire inside” – que aconteceu, se empolgaram com a indicação indiana ano passado?

Melhor maquiagem e cabelo

“A sociedade da neve”

“Golda – a mulher de uma nação”

Maestro” – achei tão orgânico o envelhecimento do Bradley Cooper!

“Oppenheimer” – muito boa a transformação do Robert Downey Jr. que faz Levis Strauss.

“Pobres criaturas”

Melhor figurino

“Assassinos da lua das flores” – ai, todos os trajes dos Osage… ótimos.

Barbie” – desculpem, mas sou time Barbie nessa, recriando tudo aquilo das bonecas.

“Napoleão”

“Oppenheimer”

“Pobres criaturas”

Melhor desenho de produção (direção de arte)

“Assassinos da lua das flores”

Barbie” – comentário idem de figurino, é muito perfeita essa produção.

“Napoleão”

“Oppenheimer”

“Pobres criaturas” – cenários tão artísticos, incluindo uma mistura de futurismo e vanguarda com eras clássicas, inspirações barrocas e surrealistas.

Melhor montagem

“Anatomia de uma queda” – tem que ter uma boa montagem pra gente ficar duvidando e se perguntando que lado tomar, assim como o pequeno Daniel.

“Assassinos da lua das flores” – gosto muito, com a crescente maldade envenenando tudo.

Oppenheimer” – a tensão do teste da bomba, numa sala revelando um caso, aquela galera gritando eufórica.

“Os rejeitados”

“Pobres criaturas” – não sei se estão se referindo à sucessão de f0did@s da Bela?

Melhor fotografia

“Assassinos da lua das flores” – e quando Ernest vai pra prisão, e sai e entra na sala inquisitória de olhares, e nos momentos esgueirados de crimes encobertos?

“Maestro” – logo de início abrindo a janela, a cena, o musical, a TV.

“O conde”

“Oppenheimer” – em campo aberto, em salas políticas, sobre ciência…

Pobres criaturas” – o preto e branco, as lentes, o colorido avassalador.

Melhor roteiro adaptado – as categorias de roteiro são sempre as mais difíceis de votar, acho todos tão bons…

“Barbie” – uma surpresa que a história de uma boneca possa trazer questões de patriarcado, reafirmação e maturidade feminina.

“Ficção americana” – uma belezinha de roteiro né, o personagem principal luta contra os estereótipos dos negros norte-americanos ainda enfrentando os conflitos familiares. A conversa com o produtor, os diálogos com seu agente e os compradores na editora, tem espaço até pra metalinguagem.

Oppenheimer” – não deve ser fácil adaptar um momento político e os conflitos internos dos personagens, ainda mantendo a história interessante de se ver em tela.

“Pobres criaturas”

“Zona de interesse” – parece que no livro sobre o qual se baseou este roteiro os personagens eram bem mais fictícios e tinha a ver com a possível traição da mulher. Em tela não precisou, só seguir a vida familiar “comum” já foi suficiente.

Melhor roteiro original

“Anatomia de uma queda”

“Maestro”

“Os rejeitados” – acusado de plágio pelo roteirista de “Luca”? Como, minha gente?

“Segredos de um escândalo”

Vidas passadas” – gente, esse é o filme da vida dela, entendem? E é super sensível e tocante, de um modo sutil e difícil de construir. Como uma imigrante escritora já casada reencontra um antigo amor de infância da Coréia, refletindo sobre suas decisões e tendo que aceitar as vidas que não (ou já) foram.

Melhor atriz coadjuvante

America Ferrara – grandes chances de levar principalmente pelo que representa na comunidade dos artistas, em sua luta pelos direitos das mulheres e dos latinos. O monólogo em “Barbie” sobre a posição da mulher na sociedade atual é relevante e foi amplamente divulgado.

Da’Vine Joy Randolph – um destaque como a mãe que perdeu o filho ainda jovem, o contraponto do sistema de jovens brancos de elite nas instituições de ensino.

Danielle Brooks

Emily Blunt

Jodie Foster

Melhor ator coadjuvante

Mark Ruffalo – é no mínimo divertido ver esse personagem devasso e “espertalhão” cair por essa mulher.

Robert DeNiro – o que dizer, todo mundo sabe que ele é um ator fantástico, super ardiloso nesse papel de lobo em pele de cordeiro.

Robert Downey Jr. – já andou arrebatando outros prêmios e merece mesmo, só pense na diferença entre o papel que lhe deixou mais famoso, o Homem de Ferro, e esta interpretação.

Ryan Gosling – tá, a gente gosta muito dele, mas ainda não é assim trabalho pra vencer Oscar, eu acho.

Sterling K. Brown – belo acréscimo entre os conflitos familiares do escritor, num momento de mudanças, incluindo ressentimentos e apesar de tudo um afeto imenso.

Melhor atriz principal

Annette Benning

Carrey Mulligan – é a “alma” de “Maestro”, eu diria. A melhor coisa que Bradley Cooper conseguiu pra esse filme. Infelizmente parece que este não é o ano dela, mas uma atuação realmente tocante como esposa que conhece a bissexualidade do marido, que ressente, mas ama, que vive um câncer, mas adora as suas crias.

Emma Stone – não à toa já levou alguns prêmios por aí, mais uma vez um mergulho intenso na personagem, uma mulher com cérebro de bebê e corpo adulto, que descobre linguagem, as relações sociais, filosofias, sem filtros de pudores sexuais ou morais.

Lily Gladstone – talvez não seja um papel de enorme desafio, como a esposa indígena que vê seu povo ser dizimado, fica à mercê dos malfeitores, talvez pela discrição própria da personalidade de sua personagem – porém não uma interpretação tão simples quanto possa parecer. Mas, gente, dá um pra ela vai, ela nunca mais vai ter esta chance e a Emma já tem um na estante.

Sandra Hüller – como ela conseguiu este feito, não? Estar num filme francês indicado a melhor filme, em que ela fala inglês e francês; e também no outro indicado britânico que na verdade é da Alemanha. Papeis distintos e duas atuações ótimas.

Melhor ator

Bradley Cooper – ai, ai, ele se esforça tanto, e na verdade até consegue transmitir a intensidade de desejos e deslumbramento do Leonard Bernstein. Tanto até que parece forçação de barra.

Cillian Murphy – passamos horas e não conseguimos nos desligar da tela acompanhando este personagem, muito porque sentimos realmente, por vezes no olhar, por vezes na disposição corporal. Um trabalho às vezes sutil, mas que fica na nossa impressão.

Colman Domingo

Jeffrey Wright

Paul Giamatti – é bem possível que leve a estatueta, desse professor recluso que se abre na jornada com um aluno que acabou ficando só na época do Natal. Os olhos que fazem a gente se confundir rendem um ótimo momento de diálogo. É um bom ator que talvez finalmente tenha a chance de reconhecimento, mas não vejo como um papel assim tão desafiador para ele.

Melhor diretor

Christopher Nolan – difícil acreditar que depois de tantos títulos que marcaram (pelo menos o grande público), Nolan nunca tenha realmente ganhado um Oscar. E são todos trabalhos bem laboriosos, talvez desta vez venha o reconhecimento

Jonathan Glazer – o trabalho com os atores, na disposição de câmeras, íntimas dentro da vida familiar e amplas quando necessário (e todas aquelas tomadas em que só vemos o topo dos prédios dos campos de Auschwitz, sempre nos assombrando?), até mesmo a decisão de imagem “invertida” (como filme queimado) ou por momentos desconfortantes de tela sem imagens e sons – aliás, não foi indicado por montagem, hein.

Justine Triet – bem eficaz no trabalho com os atores, o advogado que nunca admite acreditar na cliente, a suspeita com falas enormes e controle emocional, o menino cego, até mesmo o cachorro!

Martin Scorsese – nem precisamos dizer nada, né. É só um dos últimos mestres vivos do cinema, não leva mais prêmio porque nem precisa.

Yorgos Lanthimos – o grande diretor das crueldades… como sofri com “O lagosta”! Aqui um pouco menos ferino, mas ainda masoquista, de certa forma. Sempre trabalhando ideias não convencionais.

Melhor filme – no geral, parece que este ano temos muitos filmes de qualidade, todos são muito bons e o ranking acaba sendo muito pessoal mesmo, nem é que um é melhor que o outro, todos os títulos tem seus méritos de modos diferentes (não consigo pensar em um que não deveria ter sido indicado).

1 – “Os rejeitados”

O diretor de “Sideways”, Alexander Payne, conta mais uma vez com a parceria do ator Paul Giamatti como um professor solitário, acompanhado por uma cozinheira da escola e um aluno deixado pra trás, para tratar de feridas internas, incluindo uma parte em road movie. É uma outra época, mas a injustiça de classe pode conversar com a atualidade, bem como outras fragilidades sociais e pessoais.

2 – “Anatomia de uma queda”

Um acidente ou assassinato permeado por incisivos questionamentos, de relações, de traumas, de (des) confiança. Como público, ficamos em dúvidas, somos levados ora pendendo para entender o caso, ora torcendo pela compreensão mais profunda, contra a superficialidade de julgamentos (tão em voga atualmente) apontada. Ai, que aflição com o Snoopy, após os analgésicos! E que alívio que depois ficou tudo bem para esse menino.

3 – “Maestro”

Desde antes de ser lançado esse era o típico filme “feito para o Oscar”, e por isso mesmo ganhando um pouco de desprezo geral. Fiquei surpresa ao saber que Spielberg viu só um pouco de “Nasce uma estrela” (2018)*** e já recomendou a direção para Bradley Cooper. É até bem conduzido, com umas cenas bem trabalhadas, nem falo tanto do flerte teatral e o súbito número musical entre Leonard e a esposa; também, por exemplo, a aula do maestro mais para o final, com a gente entendendo melhor seu trabalho, os closes nas expressões de outros atores valorizando-os. A grandiosa cena na igreja, talvez seja um pouco prolongada, mas sentimos a paixão e o papel central da esposa vivida por Carey Mulligan que é uma verdadeira joia, sua alma é que realmente conduz as melhores cenas.

4 – “Ficção Americana”

Sendo honesta, eu esperava algo diferente quando li a sinopse, e fiquei bem contente com o resultado. Divertido por vezes, com o escritor negro fingindo ser o que os brancos esperam (o que faz sucesso?), o estereótipo, criticando uma colega de profissão e revendo o que o distancia da família. O casamento da senhorinha que cuidava da mãe é tão singelo, o relacionamento com a namorada natural, a relação com a mãe e o irmão tão bem construídos que a gente até pensa que não precisamos tanto “ver” os possíveis finais da história, mas entendo que queriam fazer uma graça com o típico produtor hollywoodiano escolhendo o mais inverossímil, já que o ponto é exatamente esse da ironia dos dias atuais.

5 – “Zona de interesse”

É perturbadora a banalidade do mal. Como em um momento da história alguns humanos se consideraram tão superiores que podiam viver tranquilamente ao lado de massacres, como essa seria a vida ideal? O conto infantil de João e Maria nem tão inocente, um comandante descendo escadas em espiral e imagens de um museu no futuro, será que estamos tão distantes assim da maldade?

6 – “Pobres criaturas”

A sensação de estar entrando em diversas pinturas surrealistas, com personagens e situações bizarras. Toda a produção é muito esmerada e merecedora de todas as indicações, a visão deste diretor é sempre audaciosa, desta vez com muito mais sexo explícito para lidar com o lado animal natural de todos os humanos, seus desejos por prazer e suas maleficências. O debate existencialista está ali sem pudores, com a “versão feminina de Frankenstein” (como muitos tem denominado) Bella a aproveitar absolutamente tudo, ao máximo, que a vida tem a oferecer.

7 – “Barbie

8 – “Vidas passadas”

Ah, vocês nem imaginam como este filme conversa de modo pessoal comigo. E por isso ele acabou figurando nesta posição tão alta aqui desta lista. Quando eu tinha 12 anos de idade, eu tive meu primeiro amor, uma paixão platônica para quem não consegui me declarar e tempos depois eu fiquei imaginando se teria dado certo. Quantas vezes não paramos para pensar isso, “e se?”, no passado, no presente. A verdade é que não temos os multiversos da ficção e que nossas escolhas trazem suas próprias repercussões e consequências, mas são nossas, com alguns arrependimentos ou não, mas é a vida que segue. Às vezes ver isso é doloroso, às vezes precisamos deixar o passado ir, ou aprender, ou rever para mudar. Celine Song também inclui nesse processo sua condição de imigrante, e nunca escapa por caminhos fáceis ou óbvios, respeitando todos os seus personagens tão reais.

9 – “Assassinos da lua das flores

10 – “Oppenheimer

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