The Marvelous Mrs. Maisel – season 04

Sim, estou comendo um sanduíche de pastrami enquanto engenho este texto, simplesmente porque ver essa série me deu vontade de comer esse sanduíche. Lá em Nova Iorque tem várias delis que vendem e eu cheguei a visitar aquela que ficou famosa pelo filme com a Meg Ryan e o Billy Crystal (“Harry e Sally: feitos um para o outro”, que pretendo rever em algum momento este ano, saudades de boas comédias românticas). Fato é que ver essas séries dos Palladinos nos dão muita fome (e lá vem segunda temporada de “The bear”, hein!), eu queria sempre poder comer um monte de besteiras igual às “Gilmore Girls”, hambúrguer e fritas (alguma vez na vida pensei que poderia comer isso todos os dias), e as noites de filmes em que passavam primeiro no mercadinho e depois na locadora, pizza e depois jujubas diversas, e os sorvetes?, e lembrei o Dean explicando para o Max (aliás, ator que faz uma ponta inesperada aqui nesta série também) que elas comem muito e ainda os culpam por comerem demais.

Falando propriamente desta quarta temporada, que tinha sido interrompida por causa da pandemia da Covid, foi bem triste, né. Quer dizer, vi alguns comentários de pessoas reclamando como decaiu a série, algumas não gostam de tanta exposição dos personagens coadjuvantes e algumas reclamam que nada importante acontece com a Midge, mas querem saber minha humilde opinião? Pensando como alguém que gostaria de escrever roteiros, fora eu apreciar muito todos os coadjuvantes e seus intérpretes (então nem liguei para reclamações sobre eles, exceto em certos momentos que Stephanie Hsu parecia meio artificial entregando suas falas, que supostamente tinham que ser super corridas), digo que a temporada inteira foi estruturada para seu grande final, no último episódio; que foi proposital Midge parecer estar obscurecida e empacada, que é exatamente esse momento da jornada que ela precisava passar e então levar um tapa na cara, um discurso do Lenny, que ela tanto admirou desde o início como comediante stand-up; e digo mais, que todos nós seres humanos passamos por momentos semelhantes da vida, em que “teimamos” com algo, sofremos frustrações, queremos brigar com o mundo, fazemos planos. E daí precisamos de alguém ou algum acontecimento para percebermos que não precisamos planejar, e sim trabalhar, trabalhar, trabalhar e continuar. Digo isso com toda a convicção de uma virginiana que sempre fez planos e já se frustrou demais, que aos 10 anos planejou uma escapada do aeroporto em Los Angeles e imaginava fazer filmes com Spielberg, mas 30 anos depois ninguém nunca descobriu seus roteiros. Talvez porque nunca tenha se dedicado com tudo o que tinha para esse objetivo, faltou sair dos planos, dos sonhos, para trabalhar, de verdade.

Pois é. Vamos então à esta temporada, que nos fez chorar algumas vezes… E o que verei em seguida? “Succession”? Aquela da rainha Charlotte? “Breaking Bad”? “Iluminadas”, porque foi produzida pelo Leo? Ah é, eu vi “Big little lies” esses tempos também, mas fica pra outro post. Meu esposo estava revendo “The office” (que eu tinha dropado lá pela quinta temporada) e chorou no final, talvez essa não. Vamos ver.

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S04ep01 – Rumble on the wonder wheel
Midge está amarga, com raiva e desejo de vingança, sim, ela teve um surto no táxi voltando do aeroporto em que o pessoal do Shy a deixou, tirando a roupa, arranjando um galho para bater no carro, recebendo buzinadas de caminhoneiros e discutindo com Susie sobre o fim da carreira. Susie está numa enrascada, precisa devolver o dinheiro que perdeu e era da Midge, vai com a irmã receber o cheque da seguradora e elas acabam numa salinha secreta que parece de interrogatório, ao final pede para a irmã dar em cima do cara pra ver se libera a investigação do “caso”. O clube de Joel está indo muito bem, mas isso é ruim para o casal que lhe alugou o lugar, que estava só querendo um negócio de fachada, mas se fosse bem sucedido iria chamar muito a atenção, acaba seguindo o conselho de Moishe de “molhar a mão” do capanga com quem ele tentara falar chinês usando um dicionário velho. Por telefone, Midge descobre que a família está comemorando o aniversário do filho Ethan adiantado, porque eles não poderiam mais tarde, e vai encontrar com eles em Coney Island, que fica ainda mais charmosa nesta reconstrução sessentista, e cada membro da família acaba entrando em uma cabine diferente da roda gigante, discutindo aos berros sobre a atual situação de Miriam, que deve a Moishe, enquanto Shirley se delicia com um doce local. Assim, Joel acaba aceitando emprestar dinheiro para Susie, e ela não concorda lá muito bem com Midge querendo mudar as regras do jogo e se apresentar em um lugar em que ela possa ser ela mesma, pois suas melhores apresentações foram de improviso. Aliás, conversa no diner, com sanduíches de pastrami, ai, ai.

S04ep02 – Billy Jones and the orgy lamps
Midge tem que rebolar para voltar a morar em seu antigo apartamento e conseguir um tempo maior de fiado com o comércio local, desesperando-se quando não tem leite para o cereal de Ethan e xingando o fornecedor, para então chorar as mágoas com Susie pelo telefone, porque depois de um jantar convidando os pais relutantes a morarem com ela, Rose acaba fazendo Midge e Abe acordarem, contando a história que eles é que compraram o apartamento. Abe começa a escrever para o jornal, conhecendo o pessoal, ele fica feliz escrevendo – até dando uma de Trumbo, com a máquina na banheira – mas o pagamento pelo jeito é medíocre, ele bebe e conta à filha que ninguém gostava dele na Columbia e ela aceita o cheque que dá pra comprar um ou dois ovos. Já o cheque da seguradora finalmente sai para Susie, após a irmã ter dormido com o cara que agora a contratou como secretária, e Susie consegue pagar Joel, que é convidado pela mãe a jantar, mas é só Shirley tentando arranjar uma nova mulher para o filho – uma candidata grávida! – o que o faz pensar em contar para os pais sobre Mei. Numa conversa no parque com Harry (adorei os figurantes comprando picolé ao fundo), após descrições confusas das suas ex-mulheres, este aconselha Susie a fazer seu talento subir aos palcos novamente, e também a diversificar sua clientela. Ela leva Midge de surpresa a um clube, onde a comediante não consegue vaga e conhece todas as piadas de judeus, e Susie deixa Billy Jones preso para fora só para Midge subir ao palco fingindo ser ele e ser presa de novo, “oferecendo diversão” ao serem expulsas do clube. Saindo da prisão, dão uma carona para uma garota até seu clube de stripper, que tem um comediante apresentador prestes a se aposentar – o que será que Midge conversa com Susie e vai aprontar agora, hein?

S04ep03 – Everything is Bellmore
Este episódio é dedicado a Brian Tarantina, que interpretava o Jackie, e foi bem apropriado incluir a morte na ficção, do seu personagem (os Palladino também fizeram isso com o ator que fazia o pai da Lorelai de “Gilmore Girls”, e acho muito digno, uma chance do público e dos colegas dizerem seu adeus. Já na sequência de “Pantera Negra” eu achei um pouco over, mas essa sou eu). O discurso de Susie ficou à altura, emocionada, tocando num tema comum, que às vezes as pessoas envelhecem e nem damos conta ou valor sobre tudo o que elas viveram. Também procuraram colocar situações cômicas entorno, não sei se todas funcionaram, como Midge fazendo um monte de comida e afastando a bebida de Susie, a agente sem conseguir dormir hospedada na casa de Midge, não ter ninguém no funeral e ela levar o quadro pra sala ao lado. Fora isso, Abe é convidado a fazer uma crítica de uma nova peça, consegue ingressos para todos e é uma festa, é de um rapaz que ele conheceu desde criança, da comunidade judaica; só que a peça é horrível e ele não consegue escrever sem detonar o teatro moderno, mas é detratado pela comunidade no templo, criticado até pelo rabino, porém se defendendo e saindo triunfalmente (só faltou a capa). Um outro momentinho logo no início do episódio foi Lenny Bruce aparecer para ver Midge se apresentar no clube de strippers, ela com vergonha, mas ele contando que ela deve evitar as distrações – e ele e os colegas se esmeram mesmo para distraí-la, jogando tudo o que podem no palco.

S04ep04 – Interesting people on Christopher Street
Isso é verdade, que existia uma rua em Nova York para procurar pessoas, er, “diversas”? E vocês sabiam que um cravo verde na lapela referencia Oscar Wilde? Bem, Midge leva Susie num clube para lésbicas porque ela nunca fala da vida pessoal, enquanto ela sai com uns caras nada a ver como um médico que só fala espanhol e pede o prato no restaurante por ela, fazendo-a usar o código pra Susie lhe salvar – o chapéu errado. Mas Susie está mais preocupada é com seus negócios, e velhos amigos capangas conseguem arranjar para ela um lugar barato para ser seu escritório e moradia, com uma vista para a Times Square que a deslumbra; tem muita coisa para arrumar, mas Sophie Lennon a visita e Susie promete ajudá-la contanto que a altona saia de sua cola depois, ainda maravilhada com o elevador. A crítica no jornal de Abe também faz Asher vir conversar com o advogado Kessler em NY, pois estão sendo investigados por um prédio federal que detonaram no passado, e falando em passado, Abe parece muito amigável relembrando aventuras da juventude até que Asher não para de elogiar Rose e lembra que eles já saíram juntos. Mais tarde Abe vai brigar com Asher com este tendo uma ideia para uma nova peça. Os créditos finais deste episódio são diferentes, aparecem após Midge anunciar o final do show e as luzes se acenderem no clube noturno – e ela anda se empenhando mesmo para fazer a balbúrdia do lugar diminuir e melhorar a organização, saber qual o próximo número, o gerente bater na porta das meninas, o tempo que a orquestra toca e quem cuida das cortinas ou do microfone, melhorar a segurança… embora ela própria caia do palco.


S04ep05 – How to chew quietly and influence people
Susie está à procura de uma secretária, utilizando livros e dicas de colegas, como saber como a moça mastiga, mas depois de uma longa noite com Midge, encontra Dinah, que ficara esperando desde as quatro da tarde por uma entrevista. Além de conseguir para Sophie uma entrevista no show do Gordon, também acolhe um jovem mágico bêbado e consegue lugar para ele no clube do Joel, que ainda está fugindo da mãe querendo lhe arranjar uma nova mulher e insiste com Mei para que ela conheça os pais dele. Já os negócios de Rose como casamenteira andam bem, com ela sendo convidada até o rancho de alguém importante da sociedade, Solomon Melamid (xenti! O Max Medina, professor da Rory que quase casou com a Lorelai em “Gilmore Girls”! Olha como ele envelheceu!). Só vai ser difícil manter a “discrição”, com Rose descobrindo em qual clube Miriam se apresenta… Mas para mim o destaque deste episódio é o casamento de Shy Baldwin (obviamente de fachada), para o qual Midge e Susie parecem ter sido convidadas por engano, e comparecem querendo acabar com a festa, mas adoram os canapés e a bebida improvisada do melhor whisky com cereja, avistam Sidney Poitier, James Stewart, veem Shy se apresentar com Monica, e chamar Harry Belafonte para o palco (!), até que Midge volta ao início de tudo, encontrando Shy no banheiro feminino e eles conversam, com ela revelando o que teria dito se tivesse a oportunidade de entrar naquele avião: não ia pedir o emprego, ia pedir desculpas, porque ela o considerava um amigo. Finalmente, as duas descobrem por que foram chamadas para o evento, o pessoal de relações públicas quer chantageá-las para não falar mais nada de Shy, mas Midge é firme em recusar altas propostas, mesmo com Susie oscilando, porque afinal as duas andam bem falidas; e Midge ainda tem tempo de resgatar alguém caído na rua.


S04ep06 – Maisel vs Lennon: the cut contest
É Lenny Bruce que Midge recolhe e acorda no quarto do filho dela, estranhando muito estar nesse universo de dona de casa do Upper West Side, sendo reconhecido por várias pessoas e por acaso comentando que tem uma filha. Sophie foi muito bem no programa de entrevistas e conseguiu apresentar um programa de jogos, seu sucesso reflete nos presentes enviados a Susie – inclusive um Cadillac! – e no retorno de Dawes. Finalmente vemos alguns resultados, mudanças positivas no clube onde Midge se apresenta, e uma reunião de sócios acaba aprovando-a, apesar de ter mais mulheres frequentando o local, porque estão lucrando mais também. Porém, isso ainda não impede Midge de dever a Moishe e meio mundo, e Sophie faz uma proposta para que ela tenha uma geladeira de volta, fazer um “aquecimento” com a plateia ao vivo antes do seu programa na TV, para que Susie aceite ser sua agente. Enquanto o mágico de Susie conta algo de sua infância com Orson Welles e ponche (é o quê?); e Joel fica sabendo que Mei está grávida, após aquela vez em que até torcemos por ela e seus vestidos, mas ela acabou não aparecendo na casa dos Maisel e Moishe ficou em dúvida em qual dos três nomes judeus ele deveria acreditar; Abe testa as habilidades de datilógrafa de Imogene e Rose também se pega em uma turbulência, achando que seria um encontro de “mulheres empreendedoras”, é ameaçada na fogueira, vindo a saber que cada região de NY fica a cargo de uma casamenteira diferente e que ela transgrediu regras, não é uma concorrência desejável. Kelly Bishop faz uma das casamenteiras (a eterna Emily de “Gilmore Girls” :). E é claro que acabamos o episódio com o que se torna um embate entre Midge e Sophie, tudo ia bem até que Sophie quer provar que é mais querida, as duas ficam fazendo piadas uma da outra cada vez mais baixas e o título do episódio faz referência a esse “duelo” com um termo do jazz. Perfeita a canção que botam ao fundo: “Why can’t we be friends?”


S04ep07 – Ethan… Esther… Chaim
Abe fica aterrorizado ao ser abordado por casamenteiras na loja em que compra tabaco, e Rose realmente considera desistir desse negócio, mas Midge argumenta que ela estava muito feliz fazendo isso e a não desistir, após Rose ser hipnotizada num show de mágica do novo cliente da Susie, apresentando todo o ato da Midge no clube de stripper e fazendo seus familiares encolherem nos assentos. Todo mundo acha que “matou” Moishe, quando ele tem um ataque cardíaco após beber um gole com Joel, que acabara de contar sobre a namorada chinesa grávida, mas Archie acha que é porque ele perdeu do nada uma maleta de dinheiro do clube e Midge porque ela não está conseguindo pagar o que deve. Ou seja, Midge não pode se dar ao luxo de dispensar trabalhos, quando uma colega stripper revela que seu pai na verdade é senador e ela pode indicar a comediante para um encontro entre mulheres organizado pela Jackie Kennedy – Midge começa bem, só elogios folheando a revista, até que menciona um caso que teve com um homem que conheceu no parque a caminho da escola de Ethan (interpretado pelo querido Milo Ventimiglia), que nos é mostrado no início do episódio com Midge querendo o vestido de volta, após ser pega no flagra pela mulher do cara e ao contar essa parte acabar com a graça da Kennedy… Susie também está querendo mandar Dinah embora, porque as crianças vivem correndo por todo lado, apesar de ela ter criado um sistema de outra linha telefônica com a vizinha da janela, e não é nada discreta pedindo para a moça pegar seu casaco e esvaziando sua mesa, vão jantar num lugar que tem waffles e frango, mas o que Susie descobre é um potencial novo cliente, comediante, faz a proposta a ele de conseguir trabalhos em banheiros melhores e não consegue despedir a secretária – que também consegue o vestido de Midge de volta.


S04ep08 – How do you get to Carnegie Hall?
Enquanto a família se reveza em vigília no quarto de Moishe, com Joel tentando entender livros de medicina de Mei, Midge lhe trazendo um bagel enorme e depois fazendo Mei entender que ela terá um certo papel com as crianças de Midge também, Shirley sendo melhor no mah-jong do que Mei (!), Abe (que não gosta nada de hospitais) vai procurar o cara do Einstein para escrever o obituário para Moishe sem sucesso, tendo que escrevê-lo ele próprio – e quando corre para encontrar o ex-sogro da filha desperto, é a coisa mais emocionante descrevendo o que contém o obituário, inclusive a parte em que Moishe os acolheu em seu lar e cuidou de todos sem pedir nada em troca (óin, lágrima real). Já Midge foi chamada para o clube porque ela fez tantas mudanças por lá que o público que aparece quer é vê-la, inclusive Lenny aparece nos bastidores para fazer as pazes com ela, diz que a indicou para abrir para Tony Bennett, quando chega a polícia fazendo uma batida do lugar que é ilegal. Uma algazarra, todos saem correndo pro que Deus quiser, lá fora há uma forte nevasca e Midge acaba no quarto azul de hotel que o Carnegie Hall preparou especialmente para Bruce. É, já era algo que tínhamos imaginado ser possível de acontecer, eles passam a noite e Midge apenas pede para ele que continue a respeitá-la como comediante. Um detalhe: Midge encontra uma bolsinha de Lenny que sugere o uso de substâncias ilegais, e na vida real Lenny Bruce morreu de overdose mesmo (triste :/). Susie já está ficando pê da vida (e nós também) que Midge fique recusando trabalhos – com’on, é o Tony Bennett, até Lady Gaga ficou honrada –, os capangas Frank e Nicky estão por lá cozinhando e também acham que ela tem que mudar de ideia, logo em seguida indo ajudar Dinah com a segunda linha de telefone, e Midge tenta avisar Susie de que eles devem estar querendo algo dela fazendo todos esses favores, mas Susie não quer saber muito nesse momento. Quando volta para casa, Moishe afirma a Joel que o ataque do coração não teve a ver com o fato de ele estar com uma garota chinesa, mas que ela precisará ser judia até contarem para Shirley, hah; e Abe dá uma caixa para Rose com papeis de carta e envelopes, que servem para ela enviar à “máfia das casamenteiras” um recado: ela não vai parar, e Benedetta apenas conclui que vai haver guerra. Mas o melhor momento (talvez de toda esta temporada) é mesmo ver Lenny se apresentando no Carnegie Hall, aplaudido pela casa cheia, depois dando sermão na Midge, que ele não merece um pedestal por ser preso sempre, que o que ele quer é ter um público para ouvi-lo sem medos, que deveria pensar no que ela queria de objetivo, que ela estava se escondendo, que não importava quantas vezes tivesse que ser demitida, é preciso trabalhar e continuar, que se ela estragasse tudo, partiria seu coração. E saindo em mais uma noite de nevasca (uai, onde estavam guardadas essas botas, naquela bolsinha minúscula?), a névoa faz ela ler “siga em frente” (move forward) no outdoor do show do Gordon Ford.

The marvelous Mrs. Maisel – season 02

Continuando a maratona desta série feminista e bem falante, e outro dia eu fui comer num lugar aqui que tinha pastrami – será influência de vê-las naquele diner de NY? Uma coisa que acho também é que os filhos de Midge aparecem pouco, como ela conseguia cuidar deles e ter 2 carreiras, o cabelo e as unhas e o visual impecável, tá loko meu! Quer dizer, na verdade, pensando que ela é rica e os avós estão sempre a postos para cuidar das crianças (ou Zelda, ou babás), até que dá pra entender. Eu é que não tenho cozinheira, nem diarista, faço esses papeis e mais cuidar de uma serelepe que não para quieta, mais pensar no lanchinho da escola e em agendar consultas, mais fazer algumas traduções e trabalhar o lado espiritual; é, eu é que tenho que sentir dificuldades em me organizar para um novo curso e (finalmente) buscar a carreira que eu sempre quis, e em como/quando fazer vídeos legais para o YouTube também. Mas vamu que vamu, nos maravilhar com esta senhora Maisel.

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S02ep01 – Simone

Abe descobre que a esposa fugiu para Paris, sem ele ter notado, e arrasta Midge com ele, achando que a filha fala francês. Aliás, que doideira a “apresentação” de Midge num clube noturno com interpretação simultânea em francês! E uma inusitada piscadela dessa tradutora entregando um cartão do psiquiatra que estava atendendo Sylvia Plath! (famosa escritora, que se suicidou com seu forno, pelo jeito ele realmente fez “maravilhas”). É divertido a senhorinha brigando em francês sem eles entenderem nada, o encontro com uma Mama toda afrancesada (ai, que vontade a minha de fugir também!) junto de sua nova companheira, cadelinha Simone e, como sempre, a produção de arte fica de parabéns fazendo a gente se sentir na Paris desta época do final dos anos 50, com os ótimos figurinos e ambientações. Neste episódio também acompanhamos Susie sendo ameaçada pelo Harry (na temporada anterior ele disse que acabaria com ela por detratar sua melhor cliente), mas no “rapto” após controvérsia se ela é mulher ou homem, descobre que os capangas são do mesmo lugar de onde ela veio, janta moussaka feita por uma esposa siciliana e deixam ela ir. Também vemos que Joel anda só na bebedeira, após aquele pedido de demissão no final da primeira temporada; e junto com Midge relembramos de como acabou a temporada anterior, com o coração partido dela ligando para o (novamente) ex-marido.

S02ep02 – Mid-way to Mid-town
Engraçado como Susie e Midge discutem a ascensão na carreira conforme a “subida” das ruas de Nova York, e bem divertido é o início com Susie usufruindo da vida opulenta do Upper West Side. Susie e suas conexões também são bem engraçadas, na forma como conversa com um amigo no Deli e o Harry, que supostamente a está ameaçando. Midge consegue um trabalho pago, mas tem que aturar vários caras passando na sua frente para se apresentar e sabíamos que ela não ia aguentar, ia comer e beber e não ia se manter “fresh”, mas que ótima virada quando ela acaba detonando os outros humoristas que só estavam ali esperando ela se dar mal. Apesar de acharmos lindos o casal pais de Miriam em Paris (ai que saudades do Museu Rodin, de comprar baguete pra comer numa praça), Abe sabe muito bem que aquilo não é uma nova vida, é como umas férias. Bom paralelo de narrativa e montagem com os dois casais visitando apartamento, e Midge ficando super brava com Joel – claro, as coisas mudaram, ela já não vai deixar que alguém determine sua vida.

S02ep03 – The punishment room
Midge não se aguenta e quer ajudar a amiga Mary a ter um belo dia de casamento, e consegue que o padre mude do “quarto de castigo” para o da janela, mas se empolga com o hábito de piadas sujas dos clubes noturnos e estraga tudo – como é bom a gente ver que nossos protagonistas tão “perfeitos” também erram! Aliás, acho que nesta temporada passamos a gostar mais do Joel, pelas suas ações: não quer que Miriam deixe de se apresentar embora não queira estar junto sabendo que ele é a piada, quer ajudar o caos da fábrica dos pais e quase enlouquece procurando tesouros e arranjando um empréstimo no banco. E a mãe dele na cara do atendente falando de uma mala de propina? hahaha Já Rose e Abe voltaram (coitada da Susie, mesmo ela se dando bem com a família italiana que tem um garotinho que se faz de TV), mas Abe providenciou que a esposa voltasse a ter aulas, e como esta série não é nada menos que feminista, ela indaga para as colegas de classe sobre suas reais intenções de estudo – nessa época devem querer um marido, porque nenhuma artista mulher sobrevive! Tapa na cara da sociedade.

S02ep4 – We’re going to Catskills!
Que pitoresco, aparentemente a elite de Nova York vai todos os verões em um resort para relaxar, cada família com seu chalé à beira do lago, com muito suco de tomate para Abe, salão para as senhoras fofocarem, diversas atividades para passar o tempo, como o concurso de trajes de banho do qual Midge ganhou por anos seguidos, mas desta vez foi dispensada pelo atual status de separada… o que faz a mãe ficar de olhos (ou ouvidos) abertos para um possível novo match para a filha, tanto blablazando que a filha acaba armando um “encontro” num barco a remo com Benjamin (Zachary Levi! Nosso sempre querido Chuck). Que trabalho de desenho de produção, a começar pela locação, muitas cenas filmadas em um resort real – embora o nome do resort aqui seja Steiner, mesmo nome do estúdio no Brooklyn onde filmam a série ^^; todo o figurino e referência à Mimi Van Doren, e até que é engraçado Susie entrar à paisana como funcionária carregando um desentupidor por aí (por que é que Mário me vem à mente?).

S02ep05 – Midnight at the Concord
Moishe e Shirley, pais de Joel, também chegam para acabar com a paz de Abe – e até sabem do macacãozinho tão bem apresentado a Joel. Midge tem a chance de sair da posição de telefonista para voltar a atender no balcão de maquiagem da loja B. Altman, mas precisa a retornar à cidade para isso, conseguindo carona com o médico Benjamin que havia sido bem chato com ela no barco, e se esquecendo de avisar Susie… no caminho, o canal de rádio de notícias dá uma travada e Midge assume com notícias engraçadas, “e fazem dormir assim como o ópio” hah! Benjamin acaba chamando Midge para ver uma peça na Broadway (que pesquisa de roteirista, hein, essa peça realmente passou e com aquele visual mesmo do teatro fora), e Susie a chama de volta porque finalmente conseguiu uma apresentação no Concord. Midge volta com o irmão e a esposa dele, que está cheirando mal por um creme chinês para engravidar, o salão é muito maior do que estão acostumadas, e pra ajudar… o pai de Midge tinha fugido da festa polinésia e assiste a todo o ato dela – que ótima atuação da Rachel Brosnahan, que traduz bem o nervosismo, o pânico por ter visto o pai na plateia, mas solta suas piadas num timing que faz sentido todo o público dar risada.

S02ep06 – Let’s face the music and dance
Coitado do Abe que anda tendo muitas surpresas com os filhos, além de pedir para Miriam não contar nada a ninguém até que ele decida que é hora; fica feliz com a aprovação do seu projeto (início de inteligência artificial!?), apenas para depois se surpreender que o filho tem um emprego secreto junto ao governo e sua hierarquia de segurança é pior do que a dos faxineiros da universidade. Coitada também daquela esposa do Noah, Astrid, única jejuando por sei lá o quê. Já é bem divertido ver que Susie se tornou uma pessoa querida do resort, e dançando com a apresentação final dos funcionários ainda perseguida pelo carinha que também a “sacou” e “trabalha” ali… Apresentação que conta até com menção do Brasil (xenti, que canção é essa, “The coffee song” do Sinatra?) e já estávamos esperando algo musical, já que na recepção teve aquele desafio da nota pelo guarda-costas sempre peladão. Na coreografia do salão, Joel e Midge dançam, mas chega a hora de separarem, cada um com um par diferente.

S02ep07 – Look, she made a hat!
Ah, eu adorei esse personagem inesperado do artista boêmio (Rufus Sewell) que não quer vender seus quadros, mas após Midge contar como ela escolheu um pequenino para comprar numa salinha solitária que veio com um chapéu, mostra a ela sua grande obra, que dizem ter sido elogiada por Pollock, obra da vida – “esquece da família, do senso de lar, para olhar o que existe”, é meio triste, mas se quiser ser grande tem que abdicar de algumas coisas… Sim, Midge continua saindo com Benjamin, que gosta de arte e tem algumas obras compradas, e a leva nesse bar Cedar em que o tal artista sobe no balcão recitando poetas diversos, e na vida real era frequentado por escritores como Jack Kerouac, artistas e a ativista que existiu na vida real. Aliás, saindo da galeria uma brincadeira com Yoko Ono (que fez uma instalação com escada que chamou a atenção do John Lennon :) Joel também já vinha recebendo “incentivo” da família por estar solteiro, mas nos surpreendermos ao vê-lo meio mulherengo, numa festa celebrando a compra do prédio da fábrica da família, porém a secretária sabe que são só muitos casinhos, e o amigo que vai ter o terceiro filho também. Susie vai pedir ajuda à família, conhecemos os dois estúpidos irmãos e a irmã casada com outro idiota, quer vender um terreno para conseguir grana para seguir com a carreira de agente, acaba conseguindo o carro que era da mãe. Finalmente, apesar de conseguirem o rabino para jantar desta vez, em mais um Yom Kippur tumultuado, Midge conta a todos que está buscando a carreira de comediante stand-up, com a Zelda louca pra trazer a comida, todos famintos por causa do jejum, menos o filho de 4 anos que já estava no chocolate, a mãe indagando sobre a agente ser encanadora, o pai também amuado com o filho ser da CIA e Astrid anuncia que está grávida (esperava o momento certo para contar!).

S02ep08 – Someday…
Midge sai em um tour de apresentações com Susie, mas as condições são mais difíceis do que tinham imaginado: o carro antigo da mãe de Susie precisa de uma placa falsa e que Midge levante o bumbum para dar ignição (é o quê!?), até que no início parece bom embora Midge não saiba que nos hotéis à beira de estrada não tem ninguém para carregar suas malas (“motel”), mas depois encaram uma casa praticamente vazia de público; um quarto em que Midge não tem coragem de se deitar na cama, com dente na gaveta e Susie acorda com alergia; chuva inesperada e show cancelado; até que finalmente voltam para Nova York num estado deplorável depois de um trânsito no túnel infindável e o carinha do bar não quer pagá-las, fazendo Midge ligar para Joel fazer seu papel de macho para tirar Susie da salinha dos faxineiros. No meio da viagem, Midge ainda encara o fato de ter se esquecido do chá de bebê da amiga Imogene, fazendo o pai Abe que contava sobre um episódio de uma nova série de TV (Twilight Zone!) para os outros homens da festa na cozinha adicionar o “autofalante”, e quando Midge chega em casa tem a bagunça da festa para arrumar. Esse é um episódio que não é dirigido por um dos Palladino, mas Jamie Babbit é uma colaboradora recorrente.

S02ep09 – Vote for Kennedy, vote for Kennedy
Abe parece que anda insatisfeito e se sentindo na pasmaceira, em seu projeto da Bell Labs parece que não faz nada, sua turma da faculdade diminuiu e o melhor aluno pediu transferência, ele surtando que todos podem ir embora. Já Joel só trabalha, a ponto de o pai lhe oferecer “pagar” por todas as coisas que ele veio devendo na vida de Joel (inclusive a grande festa de Bar Mitzvah após a qual contaram envelopes e dinheiro que deveria ter guardado, mas precisou comprar equipamentos para a fábrica), mesmo assim Joel não parece saber exatamente o que quer, pois os filhos continuam ali. Numa dinâmica divertida de Susie passando nas diversas mesas do diner, Susie consegue que Midge seja incluída num teleton para reumatismo e artrite, que a princípio os pais elogiavam até saber que Miriam vai se apresentar. E mais coisa vai dar errada, um dos capangas que raptaram Susie agora trabalha para Sophie Lennon, que também vai se apresentar nesta noite com destaque, e Midge acaba não aparecendo atendendo telefones, com horário alterado para o final do programa; e Susie vai lá ficar na frente do arzinho e brigar com a dona. Apesar de tudo, Midge se sai muito bem para finalizar o Teleton na madrugada, mesmo após já terem lançado confetes, passando pelos telefones com piadas e conhecendo no banheiro um famoso cantor que a mãe adora, Shy Baldwin. Todo o cenário de um estúdio desse tipo de programa na TV da época está perfeito, com a sala de controle todas as vezes irritadamente banindo as garotas, até a apresentação de Midge, embora incluindo uma piada política que não deveria existir (Kennedy!), a garota ganha destaque para eles, para os pais, Joel e um mundaréu.

S02ep10 – All alone
E não é que desta vez a “adivinha” Madame Cosma (Katrina Lenk, que fez musical na Broadway com o ator que faz o pai Abe), que parece ainda mais picareta que a outra com quem Rose se consultava, acerta em cheio? Embora Rose vá tirando conclusões precipitadas, o vestido é preto de coquetel e não de casamento… Começamos o episódio com Midge relembrando do impulsivo e apaixonante pedido de casamento de Joel, como ficou no meio da rua e dançaram juntos (pareceu até um sonho cor de rosa?), enquanto Benjamin tenta impressionar Abe, que fica de dar uma resposta; e a mãe afirma que um segundo casamento pede uma recepção menor e um vestido champanhe – “cor branca que ficou triste”, hah! Joel e o amigo Archie batem bolas num campo com bastão de baseball para afogar mágoas, Archie com as agruras de mais um filho na casa e na conta; Joel, após descobrir pelo filho que a mãe tem um “amigo”, concluindo que talvez nunca fosse o lance da comédia e sim a cena noturna, que deveria abrir um clube. Após uma apresentação em que Midge é empurrada para fora do palco porque ia comentar da amiga que acabou de ter um bebê – Imogene, e xenti, colocavam os bebês em gavetas daquele jeito mesmo? – ela encontra Lenny Bruce (Luke Kirby, ótimo e com mais destaque neste episódio) que também precisa de uma bebida para aliviar seu estado miserável de achar que não vai conseguir mais se apresentar e se tudo realmente vale a pena, mesmos sentimentos. Eis que Midge recebe uma ligação do Shy Baldwin a convidando para abrir seu show em um tour, e euforicamente ela aceita, meio que esquecendo de todo o resto, até seu pai a lembrar, quando vai anunciar que ela pode se casar com Benjamin. O próprio pai também quer dar um basta e uma guinada, avisa Rose sobre querer deixar Columbia, mas e o apartamento?; após os rumores que ouviu do filho sobre acabarem com o projeto na Bell Labs, ele vai esclarecer sobre a piada da filha e acaba até ameaçando os caras do governo; vai precisar de um advogado – e não é que Kessler volta em cena? Já Susie está pronta para se desculpar com Sophie Lennon, quando vai para a mansão da famosa comediante, não é que esta admirou como a agente defendeu sua cliente? Susie ganha um casaco de pele também! Para finalizar, Midge vai apoiar Lenny nos bastidores de sua apresentação com Steve Allen (um episódio que realmente aconteceu, em 05 de abril de 1959 e dizem estar disponível online para quem quiser ver!); percebendo toda a narrativa que Lenny contava tinha a ver com sua própria vida, sobre uma separação e cada um levando a vida de um modo, que ela fez a escolha da carreira e não de dona de casa com três filhos antes dos 30, e terá que aceitar a possibilidade de ficar sozinha como o cara da apresentação do Lenny, que conseguiu fama e dinheiro, mas acabou só. Só por uma noite, porém, Midge quer ficar com alguém que a ame – e não é Benjamin, é Joel quem ela procura…