The Marvelous Mrs. Maisel – season 04

Sim, estou comendo um sanduíche de pastrami enquanto engenho este texto, simplesmente porque ver essa série me deu vontade de comer esse sanduíche. Lá em Nova Iorque tem várias delis que vendem e eu cheguei a visitar aquela que ficou famosa pelo filme com a Meg Ryan e o Billy Crystal (“Harry e Sally: feitos um para o outro”, que pretendo rever em algum momento este ano, saudades de boas comédias românticas). Fato é que ver essas séries dos Palladinos nos dão muita fome (e lá vem segunda temporada de “The bear”, hein!), eu queria sempre poder comer um monte de besteiras igual às “Gilmore Girls”, hambúrguer e fritas (alguma vez na vida pensei que poderia comer isso todos os dias), e as noites de filmes em que passavam primeiro no mercadinho e depois na locadora, pizza e depois jujubas diversas, e os sorvetes?, e lembrei o Dean explicando para o Max (aliás, ator que faz uma ponta inesperada aqui nesta série também) que elas comem muito e ainda os culpam por comerem demais.

Falando propriamente desta quarta temporada, que tinha sido interrompida por causa da pandemia da Covid, foi bem triste, né. Quer dizer, vi alguns comentários de pessoas reclamando como decaiu a série, algumas não gostam de tanta exposição dos personagens coadjuvantes e algumas reclamam que nada importante acontece com a Midge, mas querem saber minha humilde opinião? Pensando como alguém que gostaria de escrever roteiros, fora eu apreciar muito todos os coadjuvantes e seus intérpretes (então nem liguei para reclamações sobre eles, exceto em certos momentos que Stephanie Hsu parecia meio artificial entregando suas falas, que supostamente tinham que ser super corridas), digo que a temporada inteira foi estruturada para seu grande final, no último episódio; que foi proposital Midge parecer estar obscurecida e empacada, que é exatamente esse momento da jornada que ela precisava passar e então levar um tapa na cara, um discurso do Lenny, que ela tanto admirou desde o início como comediante stand-up; e digo mais, que todos nós seres humanos passamos por momentos semelhantes da vida, em que “teimamos” com algo, sofremos frustrações, queremos brigar com o mundo, fazemos planos. E daí precisamos de alguém ou algum acontecimento para percebermos que não precisamos planejar, e sim trabalhar, trabalhar, trabalhar e continuar. Digo isso com toda a convicção de uma virginiana que sempre fez planos e já se frustrou demais, que aos 10 anos planejou uma escapada do aeroporto em Los Angeles e imaginava fazer filmes com Spielberg, mas 30 anos depois ninguém nunca descobriu seus roteiros. Talvez porque nunca tenha se dedicado com tudo o que tinha para esse objetivo, faltou sair dos planos, dos sonhos, para trabalhar, de verdade.

Pois é. Vamos então à esta temporada, que nos fez chorar algumas vezes… E o que verei em seguida? “Succession”? Aquela da rainha Charlotte? “Breaking Bad”? “Iluminadas”, porque foi produzida pelo Leo? Ah é, eu vi “Big little lies” esses tempos também, mas fica pra outro post. Meu esposo estava revendo “The office” (que eu tinha dropado lá pela quinta temporada) e chorou no final, talvez essa não. Vamos ver.

***

S04ep01 – Rumble on the wonder wheel
Midge está amarga, com raiva e desejo de vingança, sim, ela teve um surto no táxi voltando do aeroporto em que o pessoal do Shy a deixou, tirando a roupa, arranjando um galho para bater no carro, recebendo buzinadas de caminhoneiros e discutindo com Susie sobre o fim da carreira. Susie está numa enrascada, precisa devolver o dinheiro que perdeu e era da Midge, vai com a irmã receber o cheque da seguradora e elas acabam numa salinha secreta que parece de interrogatório, ao final pede para a irmã dar em cima do cara pra ver se libera a investigação do “caso”. O clube de Joel está indo muito bem, mas isso é ruim para o casal que lhe alugou o lugar, que estava só querendo um negócio de fachada, mas se fosse bem sucedido iria chamar muito a atenção, acaba seguindo o conselho de Moishe de “molhar a mão” do capanga com quem ele tentara falar chinês usando um dicionário velho. Por telefone, Midge descobre que a família está comemorando o aniversário do filho Ethan adiantado, porque eles não poderiam mais tarde, e vai encontrar com eles em Coney Island, que fica ainda mais charmosa nesta reconstrução sessentista, e cada membro da família acaba entrando em uma cabine diferente da roda gigante, discutindo aos berros sobre a atual situação de Miriam, que deve a Moishe, enquanto Shirley se delicia com um doce local. Assim, Joel acaba aceitando emprestar dinheiro para Susie, e ela não concorda lá muito bem com Midge querendo mudar as regras do jogo e se apresentar em um lugar em que ela possa ser ela mesma, pois suas melhores apresentações foram de improviso. Aliás, conversa no diner, com sanduíches de pastrami, ai, ai.

S04ep02 – Billy Jones and the orgy lamps
Midge tem que rebolar para voltar a morar em seu antigo apartamento e conseguir um tempo maior de fiado com o comércio local, desesperando-se quando não tem leite para o cereal de Ethan e xingando o fornecedor, para então chorar as mágoas com Susie pelo telefone, porque depois de um jantar convidando os pais relutantes a morarem com ela, Rose acaba fazendo Midge e Abe acordarem, contando a história que eles é que compraram o apartamento. Abe começa a escrever para o jornal, conhecendo o pessoal, ele fica feliz escrevendo – até dando uma de Trumbo, com a máquina na banheira – mas o pagamento pelo jeito é medíocre, ele bebe e conta à filha que ninguém gostava dele na Columbia e ela aceita o cheque que dá pra comprar um ou dois ovos. Já o cheque da seguradora finalmente sai para Susie, após a irmã ter dormido com o cara que agora a contratou como secretária, e Susie consegue pagar Joel, que é convidado pela mãe a jantar, mas é só Shirley tentando arranjar uma nova mulher para o filho – uma candidata grávida! – o que o faz pensar em contar para os pais sobre Mei. Numa conversa no parque com Harry (adorei os figurantes comprando picolé ao fundo), após descrições confusas das suas ex-mulheres, este aconselha Susie a fazer seu talento subir aos palcos novamente, e também a diversificar sua clientela. Ela leva Midge de surpresa a um clube, onde a comediante não consegue vaga e conhece todas as piadas de judeus, e Susie deixa Billy Jones preso para fora só para Midge subir ao palco fingindo ser ele e ser presa de novo, “oferecendo diversão” ao serem expulsas do clube. Saindo da prisão, dão uma carona para uma garota até seu clube de stripper, que tem um comediante apresentador prestes a se aposentar – o que será que Midge conversa com Susie e vai aprontar agora, hein?

S04ep03 – Everything is Bellmore
Este episódio é dedicado a Brian Tarantina, que interpretava o Jackie, e foi bem apropriado incluir a morte na ficção, do seu personagem (os Palladino também fizeram isso com o ator que fazia o pai da Lorelai de “Gilmore Girls”, e acho muito digno, uma chance do público e dos colegas dizerem seu adeus. Já na sequência de “Pantera Negra” eu achei um pouco over, mas essa sou eu). O discurso de Susie ficou à altura, emocionada, tocando num tema comum, que às vezes as pessoas envelhecem e nem damos conta ou valor sobre tudo o que elas viveram. Também procuraram colocar situações cômicas entorno, não sei se todas funcionaram, como Midge fazendo um monte de comida e afastando a bebida de Susie, a agente sem conseguir dormir hospedada na casa de Midge, não ter ninguém no funeral e ela levar o quadro pra sala ao lado. Fora isso, Abe é convidado a fazer uma crítica de uma nova peça, consegue ingressos para todos e é uma festa, é de um rapaz que ele conheceu desde criança, da comunidade judaica; só que a peça é horrível e ele não consegue escrever sem detonar o teatro moderno, mas é detratado pela comunidade no templo, criticado até pelo rabino, porém se defendendo e saindo triunfalmente (só faltou a capa). Um outro momentinho logo no início do episódio foi Lenny Bruce aparecer para ver Midge se apresentar no clube de strippers, ela com vergonha, mas ele contando que ela deve evitar as distrações – e ele e os colegas se esmeram mesmo para distraí-la, jogando tudo o que podem no palco.

S04ep04 – Interesting people on Christopher Street
Isso é verdade, que existia uma rua em Nova York para procurar pessoas, er, “diversas”? E vocês sabiam que um cravo verde na lapela referencia Oscar Wilde? Bem, Midge leva Susie num clube para lésbicas porque ela nunca fala da vida pessoal, enquanto ela sai com uns caras nada a ver como um médico que só fala espanhol e pede o prato no restaurante por ela, fazendo-a usar o código pra Susie lhe salvar – o chapéu errado. Mas Susie está mais preocupada é com seus negócios, e velhos amigos capangas conseguem arranjar para ela um lugar barato para ser seu escritório e moradia, com uma vista para a Times Square que a deslumbra; tem muita coisa para arrumar, mas Sophie Lennon a visita e Susie promete ajudá-la contanto que a altona saia de sua cola depois, ainda maravilhada com o elevador. A crítica no jornal de Abe também faz Asher vir conversar com o advogado Kessler em NY, pois estão sendo investigados por um prédio federal que detonaram no passado, e falando em passado, Abe parece muito amigável relembrando aventuras da juventude até que Asher não para de elogiar Rose e lembra que eles já saíram juntos. Mais tarde Abe vai brigar com Asher com este tendo uma ideia para uma nova peça. Os créditos finais deste episódio são diferentes, aparecem após Midge anunciar o final do show e as luzes se acenderem no clube noturno – e ela anda se empenhando mesmo para fazer a balbúrdia do lugar diminuir e melhorar a organização, saber qual o próximo número, o gerente bater na porta das meninas, o tempo que a orquestra toca e quem cuida das cortinas ou do microfone, melhorar a segurança… embora ela própria caia do palco.


S04ep05 – How to chew quietly and influence people
Susie está à procura de uma secretária, utilizando livros e dicas de colegas, como saber como a moça mastiga, mas depois de uma longa noite com Midge, encontra Dinah, que ficara esperando desde as quatro da tarde por uma entrevista. Além de conseguir para Sophie uma entrevista no show do Gordon, também acolhe um jovem mágico bêbado e consegue lugar para ele no clube do Joel, que ainda está fugindo da mãe querendo lhe arranjar uma nova mulher e insiste com Mei para que ela conheça os pais dele. Já os negócios de Rose como casamenteira andam bem, com ela sendo convidada até o rancho de alguém importante da sociedade, Solomon Melamid (xenti! O Max Medina, professor da Rory que quase casou com a Lorelai em “Gilmore Girls”! Olha como ele envelheceu!). Só vai ser difícil manter a “discrição”, com Rose descobrindo em qual clube Miriam se apresenta… Mas para mim o destaque deste episódio é o casamento de Shy Baldwin (obviamente de fachada), para o qual Midge e Susie parecem ter sido convidadas por engano, e comparecem querendo acabar com a festa, mas adoram os canapés e a bebida improvisada do melhor whisky com cereja, avistam Sidney Poitier, James Stewart, veem Shy se apresentar com Monica, e chamar Harry Belafonte para o palco (!), até que Midge volta ao início de tudo, encontrando Shy no banheiro feminino e eles conversam, com ela revelando o que teria dito se tivesse a oportunidade de entrar naquele avião: não ia pedir o emprego, ia pedir desculpas, porque ela o considerava um amigo. Finalmente, as duas descobrem por que foram chamadas para o evento, o pessoal de relações públicas quer chantageá-las para não falar mais nada de Shy, mas Midge é firme em recusar altas propostas, mesmo com Susie oscilando, porque afinal as duas andam bem falidas; e Midge ainda tem tempo de resgatar alguém caído na rua.


S04ep06 – Maisel vs Lennon: the cut contest
É Lenny Bruce que Midge recolhe e acorda no quarto do filho dela, estranhando muito estar nesse universo de dona de casa do Upper West Side, sendo reconhecido por várias pessoas e por acaso comentando que tem uma filha. Sophie foi muito bem no programa de entrevistas e conseguiu apresentar um programa de jogos, seu sucesso reflete nos presentes enviados a Susie – inclusive um Cadillac! – e no retorno de Dawes. Finalmente vemos alguns resultados, mudanças positivas no clube onde Midge se apresenta, e uma reunião de sócios acaba aprovando-a, apesar de ter mais mulheres frequentando o local, porque estão lucrando mais também. Porém, isso ainda não impede Midge de dever a Moishe e meio mundo, e Sophie faz uma proposta para que ela tenha uma geladeira de volta, fazer um “aquecimento” com a plateia ao vivo antes do seu programa na TV, para que Susie aceite ser sua agente. Enquanto o mágico de Susie conta algo de sua infância com Orson Welles e ponche (é o quê?); e Joel fica sabendo que Mei está grávida, após aquela vez em que até torcemos por ela e seus vestidos, mas ela acabou não aparecendo na casa dos Maisel e Moishe ficou em dúvida em qual dos três nomes judeus ele deveria acreditar; Abe testa as habilidades de datilógrafa de Imogene e Rose também se pega em uma turbulência, achando que seria um encontro de “mulheres empreendedoras”, é ameaçada na fogueira, vindo a saber que cada região de NY fica a cargo de uma casamenteira diferente e que ela transgrediu regras, não é uma concorrência desejável. Kelly Bishop faz uma das casamenteiras (a eterna Emily de “Gilmore Girls” :). E é claro que acabamos o episódio com o que se torna um embate entre Midge e Sophie, tudo ia bem até que Sophie quer provar que é mais querida, as duas ficam fazendo piadas uma da outra cada vez mais baixas e o título do episódio faz referência a esse “duelo” com um termo do jazz. Perfeita a canção que botam ao fundo: “Why can’t we be friends?”


S04ep07 – Ethan… Esther… Chaim
Abe fica aterrorizado ao ser abordado por casamenteiras na loja em que compra tabaco, e Rose realmente considera desistir desse negócio, mas Midge argumenta que ela estava muito feliz fazendo isso e a não desistir, após Rose ser hipnotizada num show de mágica do novo cliente da Susie, apresentando todo o ato da Midge no clube de stripper e fazendo seus familiares encolherem nos assentos. Todo mundo acha que “matou” Moishe, quando ele tem um ataque cardíaco após beber um gole com Joel, que acabara de contar sobre a namorada chinesa grávida, mas Archie acha que é porque ele perdeu do nada uma maleta de dinheiro do clube e Midge porque ela não está conseguindo pagar o que deve. Ou seja, Midge não pode se dar ao luxo de dispensar trabalhos, quando uma colega stripper revela que seu pai na verdade é senador e ela pode indicar a comediante para um encontro entre mulheres organizado pela Jackie Kennedy – Midge começa bem, só elogios folheando a revista, até que menciona um caso que teve com um homem que conheceu no parque a caminho da escola de Ethan (interpretado pelo querido Milo Ventimiglia), que nos é mostrado no início do episódio com Midge querendo o vestido de volta, após ser pega no flagra pela mulher do cara e ao contar essa parte acabar com a graça da Kennedy… Susie também está querendo mandar Dinah embora, porque as crianças vivem correndo por todo lado, apesar de ela ter criado um sistema de outra linha telefônica com a vizinha da janela, e não é nada discreta pedindo para a moça pegar seu casaco e esvaziando sua mesa, vão jantar num lugar que tem waffles e frango, mas o que Susie descobre é um potencial novo cliente, comediante, faz a proposta a ele de conseguir trabalhos em banheiros melhores e não consegue despedir a secretária – que também consegue o vestido de Midge de volta.


S04ep08 – How do you get to Carnegie Hall?
Enquanto a família se reveza em vigília no quarto de Moishe, com Joel tentando entender livros de medicina de Mei, Midge lhe trazendo um bagel enorme e depois fazendo Mei entender que ela terá um certo papel com as crianças de Midge também, Shirley sendo melhor no mah-jong do que Mei (!), Abe (que não gosta nada de hospitais) vai procurar o cara do Einstein para escrever o obituário para Moishe sem sucesso, tendo que escrevê-lo ele próprio – e quando corre para encontrar o ex-sogro da filha desperto, é a coisa mais emocionante descrevendo o que contém o obituário, inclusive a parte em que Moishe os acolheu em seu lar e cuidou de todos sem pedir nada em troca (óin, lágrima real). Já Midge foi chamada para o clube porque ela fez tantas mudanças por lá que o público que aparece quer é vê-la, inclusive Lenny aparece nos bastidores para fazer as pazes com ela, diz que a indicou para abrir para Tony Bennett, quando chega a polícia fazendo uma batida do lugar que é ilegal. Uma algazarra, todos saem correndo pro que Deus quiser, lá fora há uma forte nevasca e Midge acaba no quarto azul de hotel que o Carnegie Hall preparou especialmente para Bruce. É, já era algo que tínhamos imaginado ser possível de acontecer, eles passam a noite e Midge apenas pede para ele que continue a respeitá-la como comediante. Um detalhe: Midge encontra uma bolsinha de Lenny que sugere o uso de substâncias ilegais, e na vida real Lenny Bruce morreu de overdose mesmo (triste :/). Susie já está ficando pê da vida (e nós também) que Midge fique recusando trabalhos – com’on, é o Tony Bennett, até Lady Gaga ficou honrada –, os capangas Frank e Nicky estão por lá cozinhando e também acham que ela tem que mudar de ideia, logo em seguida indo ajudar Dinah com a segunda linha de telefone, e Midge tenta avisar Susie de que eles devem estar querendo algo dela fazendo todos esses favores, mas Susie não quer saber muito nesse momento. Quando volta para casa, Moishe afirma a Joel que o ataque do coração não teve a ver com o fato de ele estar com uma garota chinesa, mas que ela precisará ser judia até contarem para Shirley, hah; e Abe dá uma caixa para Rose com papeis de carta e envelopes, que servem para ela enviar à “máfia das casamenteiras” um recado: ela não vai parar, e Benedetta apenas conclui que vai haver guerra. Mas o melhor momento (talvez de toda esta temporada) é mesmo ver Lenny se apresentando no Carnegie Hall, aplaudido pela casa cheia, depois dando sermão na Midge, que ele não merece um pedestal por ser preso sempre, que o que ele quer é ter um público para ouvi-lo sem medos, que deveria pensar no que ela queria de objetivo, que ela estava se escondendo, que não importava quantas vezes tivesse que ser demitida, é preciso trabalhar e continuar, que se ela estragasse tudo, partiria seu coração. E saindo em mais uma noite de nevasca (uai, onde estavam guardadas essas botas, naquela bolsinha minúscula?), a névoa faz ela ler “siga em frente” (move forward) no outdoor do show do Gordon Ford.

The Marvelous Mrs. Maisel – season 01

Posso dizer a vocês que, apesar de tanta coisa nova por aí, de vez em quando me dá uma vontadezinha de rever “Gilmore Girls”? E não é que acabei deixando passar anos sem ver essa mais recente série da mesma autora, Amy Sherman-Palladino (que adora chapéus! Não à toa tem fala da protagonista impressionada com chapéus), super premiada, elogiada, facinha de assistir e até com ponta do Milo Ventimiglia (o nosso eterno bad boy Jesse, não importa quantas “This is us” ele faça). Pois é, a série chegou em sua temporada final este ano, dizem que tem aquelas ótimas tiradas e diálogos afiados de praxe, então por que não encará-la agora, que estou em processo de me recuperar de mais um período doente? Vamos ver se esta maratona realmente vinga. Comecei vendo a segunda temporada, mas cheguei no meio e voltei para rever toda a primeira, que eu tinha visto anos atrás e já nem lembrava de tanta coisa… foi ótimo, muito esclarecedor ehe. Uma coisa que eu devo acrescentar é que na época não tinha prestado tanta atenção na trilha sonora, as canções dialogam muito bem com o enredo de cada episódio e seus momentos, não vou logo pro próximo episódio, fico cantando junto “rebel, rebel”, ou “trouble, trouble” (que na verdade era uma apresentação na Broadway), “temporary, temporary”… Aliás, é ótimo que o Primevideo tenha esse recurso do “raio-X”, a gente só dá uma pausa e dá pra ver qual canção está ali tocando no fundo. Ainda tenho que fazer um post comparando streamings e seus layouts, o que acham?

Então vamos lá, desde a primeira temporada.


S01ep01 – Piloto
Uma das coisas maravilhosas do audiovisual pra mim é ser transportada para outra época e vidas que eu nunca tinha pensado em visitar, mas acabam por ser muito interessantes. Mesmo com o “boom” no Brasil dos comediantes de stand up (para mera euzinha achava que isso era coisa recente, de umas décadas pra cá), nunca me interessei muito por essas apresentações, e imagina ainda conhecer como seria para uma mulher tentar uma carreira nesse meio, e há meio século, numa Nova York pra lá de charmosa, com possibilidades de nomes muito interessantes de artistas efervescendo por lá? Uma viagem e tanto. E, no entanto, que ganhou os corações de milhares de pessoas no mundo, eu diria, em grande parte, ao gênio criativo dos autores.
Num piloto imagino que seja preciso capturar o público, instigar com possibilidades de enredos e desenvolvimentos e o povo aqui trabalhou muito bem. Miriam Maisel é uma garota judia que começa com seu próprio discurso no próprio casamento, o que daria o tom para a série inteira, um pouco de graça, muito da sua vida pessoal e alguma informação bombástica causando o caos no seio familiar. Assim somos apresentados à nossa protagonista, sabendo que ela sempre foi muito determinada, planejadora, e bem sucedida, e que desde antes de casar já tivera contato com o mundo da comédia stand up – vendo Lenny Bruce, que virá a ser bem importante mais pra frente.
Quatro anos depois, Midge é uma dona de casa com dois filhos, cuida das medidas (hilário depois ela medindo a testa da filha bebê!) e é vaidosa o suficiente para fazer aquele truque das mulheres no cinema (enquanto o marido dorme passar creme e todas as firulas para acordar antes e surpreendê-lo linda e cheirosa) – eu digo no cinema porque honestamente eu nunca faria isso por nenhum homem. Ela apoia o marido que quer fazer stand-up também, apesar de descobrir que seu ato foi copiado de Bob Newhart, após subornar o dono do clube noturno Gaslight com brisket para conseguir um bom horário de apresentação. E de repente tudo dá errado, numa noite antes do Yom Kippur e conseguirem o rabino para jantar, o marido Joel fica muito nervoso e tem uma noite horrível em frente ao amigo e esposa dele, em casa faz a mala (que é da Midge!) e diz que vai deixar a família, que está tendo um caso com a secretária Penny; “sabe o que é um sonho? O que faz você continuar aturando um trabalho que odeia”.
Ao que Miriam por sua vez, depois do surto dos pais – Abe muito bravo julgando que ela escolheu um cara fraco e a mãe Rose aos prantos – se embebeda e vai parar no palco do Gaslight de madrugada, transformando sua própria vida em piada, literalmente. De camisola, acaba mostrando as tetas (muito engraçada o desenvolvimento da piada “você não gostaria de voltar pra casa para isso?”) e vai presa, com fiança paga por uma funcionária do clube que acredita ter encontrado o próximo grande sucesso da comédia em Midge; e reencontrando aquele outro comediante na prisão, que apesar de odiar seu trabalho, também ama o que faz.
Com uma protagonista cativante, esperta, cheia de conflitos, ótimos coadjuvantes (adoro o pai vivido por Tony Shalhoub), direção de arte brilhante, trilha sonora nostálgica e apropriada, timings perfeitos – senhoras e senhores, que piloto.


S01ep02 – Ya Shivu v Bolshom Dome Na Kholme
Eu diria que este é um título bem audacioso para um segundo episódio de série que mal começou, é uma frase em russo (Midge cursou literatura russa na faculdade!) e ela começa sua segunda apresentação com essa frase. Relembrando um café da manhã recém-casada, Midge se esquece do combinado com Susie, que pretende ser sua agente no mundo do stand-up, e é muito engraçado a falação de Susie enquanto conhecemos o apartamento de Midge e dos seus pais no outro andar, com muitas referências históricas a pessoas importantes e muito ricas. Apenas para mais tarde a gente entender ainda mais como é ruim a revelação de que o dono do apartamento era na verdade Moishe, pai do Joel, que também lhe garantiu um emprego com o irmão e muda sua secretária – acertando bem no alvo sobre um dos motivos da separação. Enquanto Joel está abrigado no apartamento do seu amigo Archie, sua esposa Imogene tenta ser solidária com a amiga Midge – que aula de ginástica mais fofa, gente, elas se exercitavam assim mesmo, com aquelas ropitchas e rotina? Mas… com as divorciadas de preto num canto!? Aliás, mais pontos positivos pra desenho de produção, cenário grandioso para a fábrica de roupas do Moishe, e para a universidade do pai da Midge também – que ótima piada com os vetores, não é sempre que a gente vê piada com matemáticos, afinal. Sim, os dois pais estão em frangalhos com a separação, Shirley (mãe do Joel) toda escarcéu tenta um jantar com todos que vira um Deus-dará; Rose procurou uma cartomante de chá e Midge sai tempestuosa pra subir de novo no palco do Gaslight, e ser presa de novo!


S01ep03 – Because you left
Descobrirmos que mancha de sangue sai com sal, e que Lenny Bruce é um comediante famoso (e respeitado por Susie), pagando a fiança de Midge e informando-a que ela precisa arranjar um advogado. Susie conhece um que andou defendendo várias figuras e abomina a censura, mas Midge mesmo com um vestido fabuloso acaba desafiando o juiz e vai presa de novo! Desta vez, pede dinheiro ao ex, sem poder dar muitas explicações. Ela vai à apresentação do Lenny no Village Vanguard, um clube de jazz, acaba papeando com o pessoal e provando um baseado – ficando com muita fome e quase se esquecendo de chamar a banda! [Apesar de vergonhoso, devo admitir que essa questão de se perguntar se não escolheu o emprego errado ao decidir ser mãe e achar que deveria ter um instinto maternal “de fábrica” que não tem é uma das minhas grandes indagações dos últimos anos ‘- -] Enquanto isso, Rose faz um dramão e Abe vai ter com Moishe sobre o que podem fazer em relação ao apartamento, Moishe garante que o filho vai voltar; o que até acontece, Joel diz que as coisas não estão bem e propõe “dar uma outra chance”, mas de forma tão banal que é claro que Midge não vai simplesmente aceitar, o cara a deixou, pô!


S01ep04 – The disappointment of the Dionne quintuplets
Sim, fui procurar quem foram essas “quíntuplas” (cinco garotas que nasceram no mesmo dia prematuras e sobreviveram à infância). E iniciamos este episódio com uma boa montagem de quando Midge se casou e entrou no apartamento paralela à mudança saindo dali para voltar à casa dos pais… Não é fácil achar que tinha conquistado tudo e perder tudo. Outra montagem legal, o corte de Ethan vendo Liberacci na TV tocando uma máquina de escrever para Susie malemá conseguindo fazer manualmente seus cartões de visita. Parece que ela conhece mais gente do que pensamos, meio que invadindo um clube de cavalheiros (Ed Sullivan!) para conhecermos Harry, que pode ser seu mentor como agente de talentos. Depois de vermos como é a seleção de apresentações no Gaslight, Susie e Midge saem para comprar discos numa sala escondida de uma loja, porque Miriam precisa conhecer um pouco mais dos nomes desse meio da comédia. Além de participar de um protesto no parque bem feminista, em outra noite vai conhecer clubes com Susie, um lugar em que os artistas testam suas ideias (por que só elas riem da marionete que se suicidou?), um clube em que um comediante acha que Midge está roubando suas ideias por ficar anotando num caderninho (e por que ela não poderia estar roubando para ela mesma? haha), o Copa (e por que só com a música e a apresentação de dança eu adivinhei que era o Copa, quem sou eu? Vivi em outra vida em NY?). Mas a noitada fora traz outra realidade para Midge: está agora com seus pais, e não é mais adolescente, precisa de mais independência.


S01ep05 – Doink
Midge decide ir atrás de um emprego e se candidata a operadora de elevadores na B.Altman, conseguindo um no balcão de vendas de maquiagem. Tudo é novo para ela, de bater o ponto a levar sapatilhas e só usar salto na loja até novas amigas como a que referencia colegas por nomes famosos do cinema. Midge também não está acostumada a se dar mal em uma apresentação, mas depois desse dia cansativo ela cai por terra (tradução difícil essa, “bombar” funciona completamente de forma oposta em português) e Susie diz que todo artista tem seu dia ruim, mas Miriam acaba indo se encontrar com um cara que diz refinar as piadas, Herb Smith (Wallace Shawn, e a gente não adora suas aparições coadjuvantes, seja em filmes de Woody Allen, românticos como “A princesa prometida” ou mesmo voz de animações como o Rex de “Toy Story”), que entrega vários cartões. Aqui, devo admitir que este episódio foi mais difícil de assistir pela vergonha alheia – mas como a Midge subiria num palco sem nem ter visto os cartões antes!? Foi um show de horrores. Envergonhada e humilhada, briga com Susie e diz que desiste dessa carreira. Já Joel apresenta aos pais Penny num jantar, apesar de um Moishe amistoso contando piadas, são taxativos: “Não”, essa garota não é de se apresentar aos pais…


S01ep06 – Mrs. X at the Gaslight
Midge se sente à vontade contando piadas nas festinhas das novas colegas da loja de departamentos B.Altman, inclusive fazendo “parceria” com Randall (Nate Corddry), que se diz profissional e a apresenta no Stage Deli (mesmo do Herb!) ao seu agente que diz que eles podem ser um casal comediante. Com isso, Susie vai ter que também arregaçar as mangas, “invade” (Susie é especialista nisso, né não?) a agência William Morris, vai atrás de Midge, que finalmente desaba sobre sua situação, não sabe o que fazer com sua vida desmoronando, inclusive após o outro dia ter encontrado o ex-marido com a nova garota no restaurante chinês onde a família tinha ido para celebrar uma nova proposta de emprego da Bell Labs para o pai Abe, que ele havia esperado por anos. Assim, conhecemos também o irmão Noah, suposto filho favorito e brilhante, e a cunhada Astrid que está louca para ter filhos. A mãe Rose afirma que Joel não vai ficar muito tempo com essa garota e nós público também notamos claramente seu desânimo com ela, mesmo após termos visto Midge indignada conhecendo o novo apartamento deles – tudo era como uma versão dela menos sofisticada, e após ter percebido que Midge não usa mais aliança. O título do episódio se refere à loja de discos que acabou com a posse da gravação de áudio da primeira apresentação da Midge no Gaslight, decidindo fazer cópias e vender como disco!

S01ep07 – Put that on your plate!
Boa sequência mostrando como uma piada pode ser melhorada, Midge vai se apresentando no Gaslight, como Susie tinha aconselhado, tem que praticar fazendo mesmo, e o comentário de um garotinho que ela viu no metrô (sim, o metrô de NY é super velho, acho que eles montaram um em estúdio, no episódio em que vemos ela começar a trabalhar também foi pontual que no retorno para casa estava cercada pela maioria homens voltando do trabalho), um marido querendo maquiagem para a esposa parecer Elizabeth Taylor ou seus pais separando as camas de manhã embaraçados realmente ganham mais graça. E Susie acha que ela está pronta para começar a se apresentar em outros lugares, vai procurar o “mentor” Harry (David Paymer) para arranjar de abrir para uma de suas clientes mais famosas, Sophie Lennon (Jane Lynch) – que Midge visita e é bem diferente da sua apresentação, em vez de uma rechonchuda com palavreado mais chulo do Queens, é uma super ricaça, empregados passam seu jornal, “come” macarons da França e ainda aconselha Miriam de que precisa “criar” uma personagem para fazer sucesso como comediante, não pode ser tão bonita (pesquisando, muitas mulheres fizeram isso nessa época dos anos 60). Enquanto isso, Joel vai conseguir uma promoção no emprego e é bem engraçado o jantar preparado por Rose para um colega de Abe, ela achando que é um velhinho (que já tinha morrido 4 anos antes) e depois que o pai está querendo ser cafetão da filha, até que descobrem que o cara é um advogado de divórcios, casa quase cai. Justo na noite em que Harry vai ver Midge no Gaslight, ela teve um dia ruim com a mãe revoltada porque ninguém tinha lhe contado que Joel já quis voltar e Midge recusara, então ela acaba improvisando e detona Sophie Lennon, e o medo é real nos olhos da Susie quando Harry diz para ela que está acabada nesse ramo.

S01ep08 – Thank you and good night
Midge e Susie se embebedam e o plano agora é ela fazer qualquer trabalhinho que arranje até o pessoal esquecer o fiasco. Também nos planos está a festinha de aniversário de Ethan e Estelle, filha da amiga Imogene, que sonha com os dois filhos casando, e eles têm o comediante com marionete e um carrossel na festa! Midge come muito de ressaca, e tinha feito uma travessa extra de mac’n cheese, descobrimos que Joel nunca tirara sua aliança e eles acabam passando a noite juntos, com esperança de voltarem. Só que é claro que tudo é um pouco mais complicado, faz um tempo que Joel voltou a morar com os pais também, mas Penny vai fazer uma cena no trabalho de Miriam; animado em voltar também ao stand-up Joel acaba descobrindo a gravação da apresentação de Midge na loja de discos; os pais estão brigados, Rose mudou a sala de estudos do marido para um cantinho com pilhas de livros enquanto ela fica com uma sala de jantar – e é hilária a reação de Abe quando Midge diz que ela e Joel podem voltar, “estou bem” hahaha. Susie consegue conversar com Lenny para que ele se apresente no Gaslight e ajude Midge porque Harry está bloqueando todos os possíveis trabalhos das duas, apesar de o dono do lugar ter tido uma conversa com Susie para ela só receber a entrada e não cuidar mais da parte artística; sem Midge saber Joel aparece, vê suas piadas sobre eles, confronta Susie, mas lá fora bate no carinha que tinha quase estragado a apresentação da esposa porque “mulheres não são engraçadas”. Mas com seu vestidinho à la Audrey Hepburn (em “Sabrina”), até Joel admite que ela é boa.