Finados e “o jogo do diabo”

Hoje é dia de Finados e este ano eu estava pensando em quão peculiar é essa conjuntura. No dia 31 de outubro temos o Halloween comemorado nos Estados Unidos – e importado por nós, pelo menos no quesito “festa”, com direito a fantasias e doces para as crianças. Aliás, minha pequena foi num shopping com seu baldinho em formato de abóbora laranja e conseguiu muitas balinhas e pirulitos. Bem diferente da minha (falta de) ideia quando era criança e vi “E.T.” e o pessoal saindo na rua como monstros diversos e eu achando aquilo tudo muito bizarro (como o próprio E.T. deve ter olhado para tudo aquilo, pensando bem). Logo depois, dia 01 de novembro é Dia de Todos os Santos, e dia 02 é o “Dia de los muertos” no México, ou Finados no Brasil. É ou não uma época para considerar o sobrenatural?

Pelos ensinamentos budistas que pratico, nós podemos fazer pedidos de oração direcionados aos espíritos. Talvez seja algo estranho para alguns, mas lembrar dos entes queridos ou ancestrais parece ser algo comum em muitas religiões e essa é uma forma pela qual acreditamos que podemos oferecer algo de bom daqui desta existência à outra. É um tema importante trabalhado no longa de animação “Viva!”, não lembro se comentei pormenores, mas lembrar dos que se foram talvez seja uma forma de mantê-los “vivos” ou existentes.

E daí contemplo também algumas vidas. Lembrei-me da minha gatinha, do meu avô. Pensei no Matthew Perry, que se foi tão recentemente, e que na verdade só lhe faltava era compartilhar sua experiência aqui (não foi recente também a publicação da sua autobiografia?) para estar livre para ir. Algumas mortes – e vidas – me parecem fazer mais sentido que outras.

Este ano, então, não vi uma lista de filmes de terror. Eu vi aquele especial do “Friends”, da reunião da galera, realmente Courtney acertou, seria a última vez que todos os seis amigos mais icônicos da cultura pop estariam juntos na mesma sala comentando sobre sua série mais famosa.

Na verdade, esse eu vi “de folga”. Mas para o Halloween mesmo estava maratonando “Wandinha“, do velho (e bom?) Tim Burton. Quer dizer, eu sei que ele só dirigiu alguns episódios, trabalhou mais como diretor executivo, mas tem toda a cara dele, até mesmo na escalação da Cristina Ricci – muito acertada, homenageando a intérprete de Wednesday nos filmes dos anos 90. Ano passado teve todo aquele hype com dancinha no TikTok, mas eu sou aquelas “do contra” que quando todo mundo fica falando eu prefiro evitar. Bom, depende do caso. Mas foi assim com essa personagem da Família Addams, e ficou uma série bem acertadinha, aproveitando os trejeitos únicos da garota macabra, algo diferenciado no cenário juvenil de escola nova, novas e estranhas amizades, ainda misturando um mistério a ser desvendado. Curti bastante, oito episódios bem trabalhadinhos, aproveitando pistas enganosas, o contraste entre a protagonista e seus colegas, fazendo graça das estranhezas, os efeitos pra dar vida ao Mãozinha (Thing) ficaram perfeitos, e a gente até se emociona quando acha que ele vai morrer. Só não gostei muito do visual do monstro, e convenhamos que deu saudade do Raul Julia que era o Gomez perfeito… mas todo o contexto de caça às bruxas, o Hyde (bebendo da famosa história de Jackill & Hyde) e referência a Edgar Allan Poe, tem até participação especial do Fester, não esqueceram do Primo It, capricharam.

Porém, se for para comentar sobre uma série que me surpreendeu mesmo foi “O jogo do diabo” (Netflix). A primeira vez que vi só a “capinha” eu achava que era algo meio de terror. Mas foi uma grata surpresa conferir este reality que é na verdade de jogo intelectuais! É uma série coreana e não consegui parar de ver, muito instigante – pronto, finalmente achei realities que fazem mais meu tipo, que BBB que nada. Esses jogos de competição mais “espertos” tão ótimos (o último que gostei foi “O sabotador”, embora tivesse mais desafios físicos).

Já no primeiro episódio propõe um jogo onde existe um vírus, e personagens, onde todos tem que descobrir quem é quem – quem está infectado, quem é policial, jornalista ou pesquisador, e é uma loucura, uns tentando enganar outros… Os participantes ficaram uma semana confinados, a cada dia um jogo diferente para cada um poder ganhar mais “chips” (se acabarem todos você é eliminado) e um jogo para aumentar o prêmio final. Mas o pessoal é bem inteligente, apesar de entre os jogadores terem nomes que parecem ser famosos na Coreia – incluindo youtubers, atores, apresentadora de TV, garoto de boyband, jogadores de jogos eletrônicos, além de médico, advogado. Na verdade, acho mesmo que o ganhador final é um gênio, ele é muito crânio! E também foi o mais honesto e valoroso, na minha opinião. Eu estava torcendo pra ele! hahaha

Teve jogo de estratégia, de montagem de formas, de combinações, de variáveis, de tabuleiros complicados, de pôquer com muita matemática. Em alguns dos jogos foi difícil até entender as regras para mim >.< Duas pessoas ainda iam para a prisão caso fossem as que ficassem com menos chips, e lá na prisão ainda tinha um jogo surpresa que pra desvendar e depois vencer também foi um baita desafio. Eu torci contra a aliança do Orbit, prontofalei, e me emocionei bastante! Recomendo.

E é isso aí. Ainda só comecei a nova temporada de “Loki” e vi “Mila no Multiverso”, mais por causa do Frapa, mas nem me empolguei tanto assim – gostei dos figurinos do Instituto, de uma vida mais “natureba” e alquímica. E estou bem contente com a nova série baseada numa graphic novel, “B.A.” (HBO Max). Muito divertido os figurinos coloridos e é ousada, para a galera jovem do Brasil, porque convenhamos, hoje em dia todo mundo beija todo mundo mesmo. (Eu é que sou velha e prefiro as histórias românticas tradicionais). A série me lembrou um pouco um filme que eu gostei bastante, “A vida em preto e branco”. Os mais velhos sofrem de “monocromia” e alguns jovens que vomitam colorido descobrem ter poderes especiais. Com esse visual lidando no fantástico, o que mais acertaram foi mesmo o retrato da geração mais jovem atual.

Filmes eu tenho começado e parado no meio… acho que tenho lido mais roteiros, principalmente por causa do curso – que já está no meio do trimestre! Xenti. Reli “O fugitivo” (filme disponível na HBO Max também), li “Gênio Indomável”, “A testemunha”, pulei só “Beleza Americana” porque não gosto muito do tema (nem do Kevin Spacey). Também li capítulos do Lajos Egri, estou gostando de trabalhar sobre uma história a se tornar roteiro.

É, enquanto a gente ainda está por aqui, continuamos né? Com o melhor que temos, da melhor forma que podemos, e quem sabe sermos lembrados por alguém depois que passarmos desta (para melhor?). Vendo os relatos de alguns fãs no episódio especial de “Friends” eu percebo por que a série foi uma das mais vistas e continua sendo tão popular, ajudou tantas pessoas no mundo a se sentirem menos sozinhas e continuarem em frente apesar das dificuldades. Matthew será lembrado e espero que todos nós também possamos ser, nem que seja por alguns amigos próximos.