“O território” e o que me dizem os Globos de Ouro

Que Hollywood sempre irá se reinventar? É, porque eu honestamente (ingenuamente) achava que esse negócio de Globo de Ouro já era e ninguém mais iria participar ou endossar o prêmio, com várias polêmicas e talz, mas que nada. Tava um montão de celebridades lá, como de costume senti um pouco de vergonha alheia com o host da vez (mas sério, hein, foi pavoroso), todos sentimos uma invejazinha da juventude que faz Timotheé Chalamet tão apaixonadinho, dei muito mais risada com a dancinha da dupla Will Ferrell + Kristen Wiig do que com todos os outros piadistas, faz total sentido terem um prêmio novo para maiores bilheterias, Lily Gladstone estava linda com seu vestido pomposo e mamãe apoiando para um dos melhores discursos da noite, e essa seria sim uma festa à qual eu gostaria de ir porque tem open bar, como bem pontuou Mark Hamill.

E que mais teve neste início de ano? Vi de uma tacada só uma das séries lá no Top da Netflix, “A grande ilusão” (Fool me once/2024) **, que é até bem competente em sua narrativa com uma protagonista interessante, por ser uma mulher forte e capacitada, com trauma passado em guerra, envolvida em um mistério após a morte do marido e da irmã, tendo que cuidar de uma pequenina e lidar com a família rica do ex. A atriz que interpreta Maya (Michelle Keegan) convence, mas acho que o destaque ainda maior é para o detetive Sami com sintomas de doença e bebê a caminho, ainda tendo que aguentar um novato parceiro designado ao caso. Acho que os atores seguram bem a trama para podermos nos surpreender ao final. Mas, para mim, pessoalmente, serviu mais para descobrir que Harlan Coben (autor original dos romances) tem vários títulos no Netflix! Gentem.

Também foi de supetão “Você é o que você come: as dietas dos gêmeos“, só porque estou nesta de meia-idade e já começo o ano pensando na minha saúde (como uma boa virginiana hipocondríaca), mas bem enganosa a chamada dessa série, hein. Eles tinham mais é o propósito de defender a dieta vegana em prol do meio ambiente do que os resultados em si na saúde, mas tudo bem, porque me fez relembrar alguns pontos, descobrir outros (como os cogumelos substituindo frangos, o restaurante da 11 Madison Square) e “dar um gás” a mais na vontade de ter uma dieta mais plant-based ainda este ano – além do motivo ecológico, a bem da verdade, também pela diabetes. O reality de poucos episódios (ainda bem!) mostra alguns pares de gêmeos que participam de uma experiência, enquanto um continua na dieta onívora, o outro gêmeo passa a ter uma dieta vegana, e o experimento tem duração de oito semanas.

Finalmente continuei e terminei a primeira temporada de “Only murders in the building“! Às vezes comédias em séries demoram um pouco para engatar comigo, mas acho que agora vai, pretendo terminar as três, porque ouço dizer que continuam bem boas. Seguindo um trio de moradores de um prédio rico em Nova York, que investigam um crime ocorrido no local enquanto fazem episódios para seu podcast de true crime, é uma delicinha de ver a dinâmica estranha e engraçada dos três e outros personagens se desenrolando – e eu bem gosto desses mistérios à la Agatha Christie. Por exemplo, os episódios que mostram mais da vida da detetive Williams, ou do surdo-mudo filho do patrocinador vivido por Nathan Lane, um dos melhores da temporada, em que procuraram deixar tudo “silencioso” como na visão do personagem Theo. Tem participação especial da Tina Fey, como outra autora de podcast famosa que vai até o Jimmy Fallon!; tem o Sting hahaha; e a Jane Lynch, então? Fazendo dublê do Charles (Steve Martin), genial. É incrível também notar a comédia física que tanto Martin Short quanto Steve Martin conseguem, apesar da idade – como não rir com aquele corpo mole meio envenenado no elevador? A eterna Holly do The Office (Amy Ryan) também tem seu momento de reviravolta, apesar de ser o interesse romântico trabalhado desde o início como uma musicista e só essa quebra de expectativa é ótima, inclusive o momento em que percebemos e desvendamos junto com Charles (na verdade ele já sabia antes de nós!).

Sobre filmes, meu sentimento geral é a vontade de escrever. E isso vai se refletindo (inconscientemente?) nas minhas primeiras escolhas do ano, uma comédia romântica da Nora Ephron para eu relembrar como eu gosto de boas comédias românticas, apesar de ser um gênero tão detratado por tantos. “A crônica francesa” é bem especial, sobre um jornal francês, separado em “colunas” contadas por seus autores em causos particularmente peculiares: tem uma voltinha de bicicleta com o jornalista de Owen Wilson; o pintor louco vivido por Benicio del Toro inspirado por uma policial (Wes Anderson se aproveitando bem dos atributos físicos de Léa Seydoux), um caso apresentado pela curadora Tilda Swinton e contando ainda com o negociador Adrien Brody; o apreciador culinário (Jeffrey Wright, que eu desconhecia antes desse hype sobre “American Fiction”, apesar de várias incursões nos 007 e outros filmes no currículo) que visita um chefe de delegacia e presencia o salvamento do filho sequestrado do inspetor; e talvez o que mais tenha me tocado, a rebelião juvenil liderada por um Timotheé Chalamet jogador de xadrez contada pela mulher que não se casou porque não quis, mas quando se quer viver de escrita… vivida pela Frances McDormand. É, como já virou praxe, o elenco é estelar e Anderson continua com seus enquadramentos perfeccionistas, fotografia vintage, brincadeiras de imagem, mas eu nunca desgosto dos trabalhos desse diretor, são sempre aprazíveis para mim.

Quando Paris alucina” (1964) também veio aos meus olhos porque me interessei pela historinha, sobre um roteirista em Paris! E tem a Audrey Hepburn que eu amodoro desde sempre, vivendo a datilógrafa que ilustra as possibilidades desse roteiro para ele, um alcoólatra com bloqueio (vivido por William Holden, que no meio da produção foi realmente internado, ele sofria mesmo nessa época com o álcool). Audrey é adorável, com seus olhos mágicos, apontados pelo roteirista, vestidinhos clássicos e aura amorosa, e talvez o ritmo capengue um pouco, mas o filme tem seus momentos divertidos, paspalhices (incluindo participação especial do ator Tony Curtis) a ainda algumas piscadelas aos cinéfilos – como não reconhecer a cena descrita de “Bonequinha de Luxo”, ou sorrir porque sabemos que “Minha bela dama” (My fair lady) foi protagonizada por Audrey também (e lançado no mesmo ano! Apesar deste ter sido filmado em 62).

Outra escolha por ver uma personagem escritora foi “A flor do meu segredo” – fazia tempo que eu não conferia um Almodóvar, e que bom pra mim, ótimo pra um início de ano. Sobre uma romancista de novelas água com açúcar, que tem que lidar com a traição de uma amiga e separação do marido, além de querer escrever outras coisas. Sempre com suas cores fortes e retrato apurado das mulheres e seus sentimentos profundos, chamou-me a atenção o que a mãe da Leo conta sobre um momento após a separação para ir ao seu interior natal e não se tornar uma “vaca sem sino” (sem rumo, sem eira nem beira). De modo único, diálogo muito apropriado. Quantas vezes já não me senti como essa vaca, após algum desses baques de vida ao me iludir com uma coisa ou outra?

Para finalizar este apanhado, o filme que mais conversa com minha vontade de escrever. Talvez inesperadamente para o leitor deste post, “O território” foi o documentário ganhador do último Emmy! (2023 ou 2024?). A primeira vez que ouvi falar dele foi, pra ser honesta, num post do Instagram do Leo DiCaprio (claro, por que não?). Sem muitas “barrigas”, como vários documentários que já vi, mostra a luta de um grupo indígena cujas terras sofrem invasão, principalmente depois do apoio do governo federal (do Bolsonaro) a agricultores, ou mesmo madeireiros, grileiros e afins. Lembram como os desmatamentos estão ligados às questões ambientais, mas são bem justos, mostrando o outro lado, dos invasores, também. Afinal, se a questão fosse simples, já teria sido resolvida, não? Há muito mais envolvido, os invasores que não sentem estar fazendo algo errado, o “espírito colonialista” arraigado de ocupar terras, tomar posse, aquela ideia de ter o seu para levar uma vida melhor… Muito boa a atenção dada à futura geração, conseguiram criar tensão com a morte do indígena após o termos conhecido e seguimos com as câmeras do próprio povo no meio da mata inspecionando. Por vezes, fiquei pensando em como até parece ficção – só que não, bem que a gente gostaria que fosse ficção.

E esse filme fala comigo porque de certo modo é o que eu gostaria de fazer. De ver mais. Sobre natureza, meio ambiente, algo que contribua para que mais pessoas entendam o que realmente é importante, além das economias ou das pequenices, cuidar do planeta tornou-se algo urgente e que está aqui, não está mais longe de nós não. Que bom o prêmio para o pessoal, que dê mais visibilidade às vozes indígenas. Que traga mais consciência. E olha que o diretor, a produção, é de pessoal de fora. Então, eu não preciso sentir vergonha de não ser uma daquelas pessoas ali pra poder contar essas histórias. Porque dizem que devemos contar algo que conhecemos, nossa vivência, mas talvez também seja bom ter a visão de quem está de fora no interesse e respeito para dar abertura e expressão a quem está ali envolvido realmente nas situações difíceis. Até o próprio filme do Scorsese aí nas premiações deste ano, vejo como um exemplo disso. Sim, é um filme feito por “brancos”, mas com todo o respeito e consideração pelo coração desse povo indígena, abrindo sua história para que chegue a muito mais pessoas. Não é presunção. São histórias que precisam ser contadas, para incitar, fazer refletir, inspirar. E são as que queremos ver.

“Cavaleiro de Copas” e budismo

Eu sou dessas agora. Que assiste aos filmes porque podem ter algo a ver com o que eu gostaria de escrever. Assim que o que mais achei interessante no mais recente “Shazam!” foram as referências a figuras da mitologia grega – pois uma das minhas candidaturas num concurso de roteiros teve a ver um pouco com isso, trazer numa narrativa moderna e fantástica referências gregas e indígenas.

De modo que, para as narrativas futuras que descobri ter mais interesse em me debruçar, estão na minha lista alguns filmes (Ex. “Soylent Green”, alguém já viu?) na temática ambiental, e até documentários, “Território”, “A última floresta”, aquela série documental do Zac Efron (quem diria que ele faria algo assim, e quem diria que ele ganharia um Emmy por isso?), quem sabe até essa comédia parte 2 aí em que a moça é médica na Amazônia? E vi a série “Extrapolations” – não sei se cheguei a tecer algum comentário por aqui, principalmente da dor de ver aquele episódio da baleia, uma série mais difícil pra mim do que “Black Mirror”. E comecei a brasileira “Insustentáveis” (no Primevideo). E vi “A era da estupidez”, que eu nem sabia que existia, por acaso, zapeando, caí nela, apresentada pelo Pete Postlethwaite, com o diferencial de imaginarmos ele como um arquivista no futuro indagando-se por que a humanidade não fez algo enquanto ainda podia, antes do fim, de acabar com o planeta de vez. É uma boa montagem contrapor um casal que calcula suas emissões de carbono e percebe que o pior são as viagens de avião com o cara da Índia que quer se tornar um novo magnata dos ares e clama que vai erradicar a pobreza. Horrível saber que a comunidade local vetou uma usina eólica simplesmente porque “atrapalharia” a vista deles – esse filme foi lançado em 2009, muita coisa aconteceu desde então, o mundo está mudando, mas horrível mesmo assim. E muito especial ver o velhinho francês alpinista ainda disposto a fazer uma passeata de bicicleta sob chuva, apesar de parecer que aquilo não vai dar em nada.

A bem da verdade, essa história começou já no ano passado, quando eu trabalhava numa antiga ideia para roteiro, que tem algo a ver com celebridade, e por isso acabei vendo aquela série “Starstruck”. Seguindo essa linha, fui conferir “Idol” super nova no HBO Max, com a filha do Johnny Depp, Lily-Rose (cara da mãe cantora); sem me cativar, parece que vão seguir uma linha ali de muita nudez explícita, drogas e o limite entre o que é aceitável ou violência, eu simplesmente não estou nessa vibe e não devo continuar. E revi o “Celebridades” do Woody Allen, que é um pouco datado já, não é um grande trabalho do diretor, mediano, com as idiossincrasias de exemplos das celebridades norte-americanas, estrelas do cinema ou modelo ou da TV, tem ali sua tara por louras avassaladoras (Charlize Theron), queda por jovens (Winona Ryder), o protagonista é mais uma vez um escritor (Kenneth Branagh), dez minutos de Leo DiCaprio logo após “Titanic”, uma ex-esposa que ascende após a separação (Judie Davis), mesmo sem acreditar que mereça tanta sorte – nisso eu me afeiçoei um pouco, não quero ser essa pessoa que não consegue aceitar a própria felicidade. Confessemos, com o #metoo e várias acusações de abuso, não temos muita vontade mais de ver Woody Allen, embora, na minha mera opinião, ele tenha em seu prolífico currículo alguns dos melhores filmes da história do cinema. Meus favoritos: “Meia-noite em Paris” (2011) ****, “A rosa púrpura do Cairo” (1985) ***, “Noivo neurótico, noiva nervosa” (1977), só para citar três.

Daí, chego em “Cavaleiro de Copas”, do Terrence Malick, que após “A árvore da vida” (2011) *** deve ter achado que essa era sua nova fórmula, seu estilo? Câmera baixa, luzes edificantes, narração em off, improvisos, olhares perdidos, paisagens naturais e algumas vazias (em diversos sentidos). Agora, nesse meio de Los Angeles e vida de celebridades, como aquela festa numa mansão do anfitrião vivido por Antonio Banderas, passando por algumas garotas após um casamento errado com a esposa vivida por Cate Blanchett. Sim, muitos nomes de peso, para mostrar uma existência que parece à deriva, até ser confrontado por um filho da amante vivida por Natalie Portman, e a relação com o próprio pai. Esse tema de buscar um significado maior para a vida me interessa, mas o “estilo” do Malick, já batido a este ponto, é bem cansativo.

Algo que me chamou mais atenção foi uma visita ao que parece um retiro, ou espaço de meditação, em que um senhor de idade fala que passou pela Ásia, conheceu monges (no Nepal? Não me recordo bem agora), e comenta que lá em meio à serenidade é fácil se manter em meditação, em mais paz, sem o trânsito para enfrentar após o trabalho ou a esposa reclamando de algo. Pois é. Reservo-me algumas últimas palavras para falar um pouco de budismo. Realmente, me parece que a primeira coisa que vem à mente das pessoas quando se fala em budismo é de um monge de cabeça raspada sentado em meditação no meio da natureza. Enquanto as linhagens de budismo tradicional realmente são de indivíduos isolados, que entraram para uma vida religiosa (tornando-se assim monges, vivendo em monastérios), existe hoje uma ordem budista que busca trazer para a vida diária os ensinamentos e a meditação. Essa é a ordem ou escola que sigo, que defende a prática budista no local de trabalho, no lar, no cotidiano. E, sim, afirmo que é um local de treinamento bem mais difícil, mas também por isso, quando vemos “resultados”, é bem mais compensatório, faz muito sentido.

Como ter empatia por pessoas que a gente já conhece tão bem, inclusive todos os defeitos? Como se acalmar e tentar ver o lado bom ou engrandecedor de certas situações? O que podemos fazer realmente para contribuir nem que seja um pouco para mais felicidade e um mundo melhor? Há muitos jeitos, em diversas instâncias, por diversas formas, de encontrar mais sentido para esta vida.

Sobre come backs e algumas séries

Acho que parte deste post era para ter saído no início do mês ou finalzinho do mês passado, mas como não sou jornalista, nem mesmo produtora de conteúdo, vamos lá para mais uma nota deste diário virtual. É meio que coincidência, mas bem vinda, esse negócio dos “come backs”. Comentei que o Oscar deste ano teve isso como característica e na minha vida pessoal também, esse mês de março me deu essa sensação. Em uma reunião virtual, para discutirmos sobre eu voltar a fazer algumas traduções e revisões, um médium comentou que parecia como um momento de “come back” pra mim (desse jeito mesmo, japoneses às vezes usam termos em inglês misturados ao japonês). E sobre a eterna questão minha de escrever, ou de procurar fazer algo relacionado a cinema, foi também um tempo em que comecei a pesquisar algumas coisas – sobre cursos que eu poderia fazer, talvez uma especialização, talvez no exterior até. Quando descobri sobre um curso online, claro que pensei nisso logo, com o atual cenário pós-pandemia talvez eu encontrasse minha chance.

E quer saber? Tomei mesmo essa resolução. Eu não tenho muito mais tempo de vida e tenho é que fazer o que der e mais do que eu amo, se possível. Volto, mais uma vez, depois de tantos anos, a ver sobre roteiros – como as coisas funcionam agora? O Brasil hoje já tem uma outra produção audiovisual de quando eu tinha sonhos de me mudar para Los Angeles aos 10 anos de idade… Que tipo de concursos existem por aí, será que valem a pena? O que é possível fazer nas minhas atuais condições (de idade, financeiras, com certos compromissos como esta pequenina vida a criar…)? Aliás, é difícil eu dizer isto aqui, mas se alguém por aí tiver boas dicas e sugestões, passem, por favor.

No ano passado, decidi que antes do meu marco de vida eu precisava terminar pelo menos um roteiro, aquele que eu deveria escrever mesmo que fosse o único, antes de morrer. Nas últimas semanas vim trabalhando em um argumento, com novas esperanças e me preparando psicologicamente para escrever pelo menos mais dois roteiros até o ano que vem (pretensões…).

***

Enfim, fora esse momento de “come backs”, vamos deixar registrado por aqui algumas séries vistas.

Lockwood & Co.” mostra uma jovem aprendiz de “caça-fantasmas” num mundo em que os adolescentes podem ser sensíveis a esses espíritos e trabalhar com isso, pois um fantasma pode matar. Há muitos detalhes, pois é baseada em uma série de livros, como os rituais para espantar ou acabar com um fantasma, mas conseguem deixá-los instigantes e o espectador anseia por acompanhar a jornada da protagonista Lucy, que foge e acaba conseguindo trabalhar com outros dois na pequena agência Lockwood, descobrindo ter poderes únicos. Existem os trabalhos complicados – e aquela mansão cheia de monges, gente! E um mistério maior a ser desvendado, a rivalidade com outros agentes, locais obscuros e pessoas de má índole, boas cenas de ação e tensão, suspense. A série tem um ritmo muito bom, surpreendendo a cada episódio. Netflix.

Paper girls” acompanha um grupo de quatro garotas entregadoras de jornais que numa noite muito estranha viajam no tempo e precisam descobrir como voltar para casa. Baseada em quadrinhos, confesso que comecei a ver também por causa da Ali Wong, que fez uma comédia romântica que eu tinha gostado bastante (embora eu não tenha tido a coragem ainda de encarar “Treta”). Aqui ela faz uma das garotas em sua versão futura, mais velha e meio que decepcionante por não ter tido uma carreira de sucesso e se distanciado da irmã mais nova, mas por isso mesmo é um personagem interessante – e ela vai ter a chance de controlar um robozão estilo “Círculo de fogo” ou daquelas séries japonesas infantis no final dos anos 80. As garotas se veem envolvidas em uma guerra maior de outros que controlam viagens no tempo, com mortes pelo caminho, conhecendo suas outras versões e contestando um ponto ou outro das suas escolhas “futuras”: descobrir que gosta de garotas; ter ido para a faculdade, mas largado; ter morrido e criado uma outra relação com o irmão. É uma série divertidinha, mas que parece já ter sido cancelada. Primevideo.

De volta aos 15” – outra série adolescente, o que anda acontecendo, Dê? Ai, bem, deixa eu, vai. Na verdade, me surpreendi com esta, porque achei que ia ser bem clichê, mas até que gostei. E vi toda a temporada numa noite só. A menina Anita, vivida pela Maísa, viaja no tempo também, por acidente, mas ela consegue ir e voltar entre seu eu de 30 anos e de 15 anos. Conforme cada mudança de comportamento dos 15 anos seu futuro melhora ou piora, como a amizade com uma miga trans; um garoto que era bad boy e na verdade é apaixonado pela irmã mais velha dela; um outro que muda e se apaixona por ela; a amiga que pode casar com um mala ou acabar com seu melhor amigo (por quem Anita descobre estar apaixonada). Aborda boas questões vividas por adolescentes, mas o que me pegou mesmo logo no primeiro episódio e me fez continuar assistindo é porque o filme preferido da personagem principal é “O fabuloso destino de Amélie Poulain” – um dos meus favoritos também, óin. E daí, aquele final de passear pelas ruas de Paris foi bem legal. Netflix.

Enxame” – cara, essa série é “uó”. Produzida pelo Danny Glover, o mesmo carinha responsável por “Atlanta” e companheiro do Abed em “Community”. Baseada em fatos reais, não é pra qualquer espectador… Tem violência explícita, a personagem principal é uma fã de carteirinha, obcecada por uma diva pop – claramente Nijah representa a Beyoncé, ela é a “rainha” do enxame de abelhas, que vão te ferroar para defendê-la… E essa obsessão leva ela a matar como se fosse a coisa mais normal do mundo, como os junk food que são a única coisa que ela consome. Eu me surpreendi com as participações especiais, como Paris, filha de Michael Jackson – que deve saber muito bem o que é o escrutínio da mídia e esses fãs loucos. Mais para o final, uma comunidade feminina doidona liderada pela personagem vivida por Billie Eilish (estreia dela como atriz). Tem algumas cenas engraçadas também, como a apresentação de Dre no clube de strip. E um ótimo episódio que mostra a detetive desvendando esse caso como num programa de TV. Cada episódio surpreende por algum motivo inesperado, como quando descobrimos sua adoção pela família e inclusive o final com a mudança total na aparência, a morte da namorada (gente, coitados desses pais de filha única!), e o abraço da diva com o rosto da irmã perdida. Em mim, doeu a picada, porque o mundo inteiro sabe como sempre fui e serei fã do DiCaprio, por exemplo, e quando ela fica sonhando acordada com o encontro dela com sua ídola, com uma conexão imediata etc, eu me identifiquei muito… Primevideo.

Eu também vi um episódio de “Insustentáveis” e “American Gods”, temporada 2, porque tem alguns temas pelos quais ando tendo algum interesse especial para minhas próprias ideias. Devo continuar, vamos ver.

E pra finalizar, uma série que ainda não terminei (falta o último episódio) foi “Extrapolations“, da AppleTV. Trata do perigo da crise climática – bem propício escrever sobre ela hoje, Dia da Terra. Que série mais difícil, gente, doída. Porque eles tem um climão de “acabou”, creio que foi realmente a intenção dos criadores, gerar esse desconforto, porque é para conscientizar mais, fazer refletir, até buscar mudanças. Mas que é tudo muito triste, terrível e desolador é. No primeiro episódio, apesar de protestos, simplesmente verificamos o poder de poucos e grandes corporações. Em seguida um episódio devastador sobre animais maravilhosos que simplesmente são extintos mesmo, e a relação de uma mãe com o filho que sofre das altas temperaturas e a última baleia viva na Terra. Acho que foi o pior para mim, sendo uma mãe que também torce por um futuro.

Depois desse dei um tempo na série, aproveitando o feriadão de Páscoa. A baleia (narrada no original por Meryl Streep) queria ser mãe de novo, ela diz ter sido tudo para seu filhote, todo alimento – e eu me lembrei de como mãe eu deveria saber da minha bebê, novamente aquela culpa por não ter feito o mais básico, alimentá-la o máximo que podia…

Enfim, apesar das minhas agruras pessoais, o episódio 3 abordou a fé religiosa, outro baque. A adolescente que questiona se Deus não está bravo com a humanidade, entre outros pontos que ela ataca, um rabino em provação e defendendo a fé. O quarto episódio traz Edward Norton como um cientista com acesso à alta cúpula do governo, sua ex-esposa que quer resolver o aquecimento com uma aposta de naves que não necessitam de pilotos e o filho envolvido nessa empreitada. A parte II traz um pouco desse ano 2059 numa Índia em que é preciso aparelhos de oxigênio, cujas estradas podem ficar tão quentes a ponto de matar, e um motorista carrega sementes como contrabando, ao lado de um matador em cadeira de rodas. Cada episódio avança em alguns anos, e o seguinte traz Ezra com uma doença de perda de memória, e um sistema pago de armazenamento das lembranças; é terrível vê-lo apagando tudo, inclusive o momento com a mãe quando viu a última baleia, e sabemos que não devemos ficar muito apegado ao passado, mas ter que deixar momentos felizes vividos porque as empresas ou mesmo hackers querem lucrar é horrendo. No penúltimo episódio, de 2068, temos um jantar de ano novo/despedida, um casal vivido por Marion Cotillard e Forest Whitaker brigam diante dos convidados porque ele tem a chance de virar digital, uma nova tecnologia. Dizem que o texto conversa com “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, mas honestamente, eu seria uma das poucas no mundo que não ia querer viver para sempre? Porque isso é o que o modo digital permitiria, não? Renascer quantas vezes quiser em diferentes, novos corpos.

Esta série em si não teve boas cotações, mas há algumas partes que eu gosto, seja pela criatividade do que os homens devem desenvolver nos próximos anos, seja pela mensagem de “ainda temos tempo de mudar”. Talvez eu goste do último episódio também, de finalmente punir o que representaria gananciosas grandes corporações (representada na série pela figura de Bilton, vivido por Kit Harington). Vamos ver.

Bem, abril é isso, tempos de renascimentos. Logo vem por aí maio, e quem sabe vou ver mais coisas sobre mães, como tema do mês? ;)

Festival de Brasília quem sabe ano que vem?

Faz quase dois meses que não registro nada por aqui e nem um postezinho da Mostra SP teve, mas às vezes eu consigo ser supersticiosa e venho aqui deixar registrado para minha alma futura, que só existirá virtualmente num metaverso, como neste momento sinto ares auspiciosos.

Só por causa do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília? Mah-omenus. Vejam só, quem quer acreditar, acredita, né. Depois de algumas semanas na bagunça da mudança, aqui estoy yo, pronta para a semana de Natal programada para incluir maratona de série e pelo menos uma comédia romântica natalina. E daí a gente deixa pro ano que vem os grandes filmes, cults, oscarizáveis etc, combinado?

Sim, mudei com minha pequena e meu John Lennon para Brasília. Foram alguns dias cansativos para separar e encaixotar tudo que dava pra levar – e ainda sobrou várias coisas que ainda vou buscar numa próxima viagem para São Paulo, porque tínhamos combinado um determinado número de caixas com uma transportadora e depois Leno levou o carro, abarrotado. E depois fui eu e a baby de avião, despachando mais 2 malas. Como a gente junta coisa, não? Isso porque tenho ganas de minimalismo e ser zero waste, porém ainda não consegui destralhar direito desta vez, é uma meta para o próximo ano.

Como por aqui é tudo 220v, preferimos adquirir alguns eletrodomésticos novos, e nessas últimas semanas estávamos atrás de algumas coisas, como sofá, que não tínhamos um bom mesmo. Fora procurar pediatra, e marcar algumas visitas em escolinhas porque no próximo ano pretendemos colocar a princesinha em uma. Acho que será o melhor para ela, fazer amizades, outras atividades, outros ambientes. E foram semanas de ir tirando das caixas, arrumando, limpando, um pouco a cada dia. Ufa. Parece fácil, mas sempre porque não é com a gente, né?

Mas taí, agora são apenas algumas poucas coisas aqui e ali, estamos praticamente estabelecidos; gosto que tem um parque verde muito próximo onde podemos ir à pé, tem muitas opções de hambúrgueres, tem playground e piscina no condomínio do prédio; é uma experiência para mais qualidade de vida. Vamos ver, dá aquela dúvida de quanto tempo vamos realmente acabar por aqui… E euzinha, como sempre, sou acompanhada por sinais do cinema.

Descobri que Brasília abriga o mais antigo cinema Drive-in na ativa (antes da pandemia funcionava também!) nesse meio tempo. E pouco depois de chegarmos, descubro os candangos. Não deu pra conferir este ano, nem é como o Festival do Rio, mas já fico animada, talvez um lume de esperança que eu possa ter o cinema de volta na minha vida? Porque sinto que faz tanto tempo que nos distanciamos… ah, sim, num desses finais de semana até conseguimos ir numa sessão de tela grande presencial, foi pra conferir “Ghostbusters – mais além”, que nem é grande coisa assim, mas foi num Espaço Itaú e depois de praticamente 2 anos sem pisar numa sala de cinema.

Sim, como podem perceber, os tempos andam mais favoráveis para eu deixar de lado minha rabugentisse costumeira e ficar feliz – apesar do alarmante estado ambiental da natureza deste planeta.

E esse tal filme do DiCaprio e mais um super elenco no Netflix? Claro que vou ver, e mais um bom sinal, como um aval dos deuses do cinema para essa grande mudança. Ano novo, vida nova, vem aí, estamos prontos. E muito bem acompanhados, com esperanças renovadas. Porque é um filme (aparentemente) de esperança para que mais pessoas se conscientizem sobre a gravidade da questão ambiental para nossas e as futuras vidas humanas.

Deuses do cinema me presenteando com nostalgia clássica, com o alternativo e o mainstream, me apoiando a acreditar que estou indo na direção certa – claro, como não? É a que sempre apontou meu coração. Eles me trazem esses presentes como reis magos, para um renascimento, de novo. Quem sabe eu passe realmente a me dedicar ao que gosto? Ficar mais tranquila, mais pura, escrever, com mais sabedoria, compartilhar experiências e incentivar outros a cuidarem de si e do planeta, com mais fé, acreditar em si e em tudo.

Talvez você esteja me lendo achando tudo isso uma grande bobagem. Mas quem sabe? Se não precisamos de grandes bobagens para podermos continuar em frente apesar de todo o caos? Depende de cada um. De todos. Eu vejo esses sinais, cada um pode escolher ver os seus. E assim desejo um ótimo final de ano e uma ótima nova vida, de novo, para todos.

P.S. e é aniversário do Spielberg! Meu padrinho imaginário. Também me dá esperanças na vida e no futuro que minha pequena tenha nascido num dia 18 como ele… Gratidão ao universo…!