“You can’t have it all”, a série que eu tava precisando depois de Fleabag

É, meus amigos, eu esperava trazer alguma boa nova por aqui neste mês de abril, mas aconteceu que cá estou novamente para lamuriamentos. É o que mais tem neste blog, sorry, este é meu canto de desabafos mermo.

O mês já está acabando, mas vou continuar mesmo este rascunho iniciado semanas atrás. Foi um mês meio difícil, com algumas semanas chatas. Tenho dormido mal, acordando de madrugada, desanimada. De março para abril me ocupando por demais com planejamentos de uma grande viagem que vamos fazer para o Japão aí para o final de maio/início de junho. E depois, com um resultado de concurso sem resultados pra mim, mais uma vez contestando minha própria capacidade. Meu próprio lugar.

Outro dia eu estava vendo uns vídeos no YouTube e descobri que o que eu sofri quando era criança tem o nome de fobia social. Eu era muito, mas muitíssimo mesmo tímida, não conseguia encarar direito as pessoas, falar o que realmente queria ou sentia, me expressar devidamente. De tempos em tempos esse meu eu volta, e eu tinha achado que após tantos anos trabalhando com recepção e apresentações eu teria “treinado” e aprendido. Aparentemente, bastou uma pandemia e um isolamento de pouquinhos anos não forçado (mas com esparsas interações sociais) para eu voltar à estaca quase zero.

Hoje talvez eu me considere um tipo de introvertida, pois realmente sinto certo cansaço após algumas ocasiões sociais (ou um tempo delas). Eu realmente prefiro a minha própria companhia – não porque eu me ache melhor, de modo algum, tem tantas mentes brilhantes por aí, ou que já passaram por esta humanidade terrena, mas eu simplesmente me sinto mais confortável sozinha. É, hoje em dia pessoal já rotulou muita coisa e sabemos que não estamos tão sozinhos assim em nossa jornada solitária. Live together, die alone.

Da feita que, inadequação. Foi o sentimento que me permeou (mais uma vez) nos últimos tempos. Sei que tenho que trabalhar isso, me joguei aí em um grupo de discussão (pra quê, melDeus, pra que eu faço essas coisas) e falta-me coragem ou timing, ou sei lá. Sinto-me inadequada ao audiovisual nacional, embora, continuo a insistir em tentar e teimar. Porque nesta vida a gente teima. Sinto-me inadequada como a pessoa religiosa que uma vez eu desenvolvera. Inadequada como esposa. Como mãe. E de repente a gente se pergunta se nasceu pra qualquer coisa mesmo. E se foi um acidente?

Dramédias são ótimas nesse sentido. Como “Fleabag”. Com protagonistas bem falhas, rindo da vida dolorosa. E nesse último mês, órfã já dessa série curtinha (e gosto, se pudesse escolher, minhas séries seriam curtinhas), eu conferi muito animadamente “Is it cake?“, temporada 2. Nem sei se cheguei a comentar por aqui quando vi a primeira, um reality em que confeiteiros fazem bolos que se passam por diferentes objetos da vida e se enganarem os jurados passam para a seguinte fase tendo a chance de ganhar uma bolada. É muito divertido e dá uma vontade enorme de provar todos aqueles bolos lindos que demoraram 8h pra ficarem prontos.

Ah, sim, isso é um alívio, mas não era bem essa que eu pensava quando falava em dramédia. Vi também “Wellmania“, poucos episódios também, que se passa na Austrália – adoro sotaques! Com a mulher que precisa cuidar mais da saúde (me identifico!) antes que tenha um piripaque, e ela é toda doidona e acha que tende a estragar tudo, apesar de ser muito extrovertida, a alma da festa. Nessa jornada meio doida pra que ela recupere seu Greencard e volte logo para os EUA, onde um programa de TV que significa muito para sua carreira a espera, o interesse amoroso da Liz é um AA que também pratica o celibato e lhe diz com franqueza: “não se pode ter tudo”. Para a crítica gastronômica que quer aproveitar tudo de comida, bebida, festas e drogas etc. É assim, os autores conseguem trazer algumas situações bem inesperadas, eu me surpreendi muito com o episódio da guru que se desnuda e também de uma “doula da morte”!

Liz já está próxima dos quarenta anos, a melhor amiga também já tem filhos e seus problemas de carreira e resfriamento no casamento. O irmão que a ajuda a ficar em forma está para casar com o parceiro, a mãe já pronta para se aposentar é uma graça. Comecei a ver a série porque queria ver algo para uma faixa etária mais madura, e neste “gênero”, pois são assuntos que me interessam para um projeto que eu estou desenvolvendo. Vejam só estes tempos. Até parece que nós escrevemos mudando conforme os anos passam.

Sinto que até mesmo a percepção dos filmes mudou um pouco. Outro dia eu vi “Indiana Jones e os caçadores da arca perdida” (1981) e me peguei surpresa de como a direção de Spielberg era divertida e “engraçadinha”. Ah, esses anos 80… Claro que ainda gosto de filmes que eu gostava quando tinha meus 20 anos, mas talvez hoje eu encare certas cenas com outras profundidades. Lembro-me de quando estava no Japão pesquisando as primeiras informações sobre roteiros e eu acreditei mesmo que poderia ter escrito minhas aventuras fantásticas aos 13 anos. Claro que sim, só que com a maturidade surgem também outras questões, de outros tipos de filmes e obras.

Quase 30 anos depois, no entanto, ainda estou aqui, perdida. E ultimamente vendo as coisas darem errado depois de tantos, tantos planos. Nem sei o que será de mim se depois de teimar, de novo, tudo der errado. Mas como me foi dito em uma orientação espiritual em uma sessão de meditação, talvez eu tenha só que deixar as coisas acontecerem. Let it be. Que sera, sera. Ou como esses dias eu li em algum lugar, parar de ficar perdendo tempo se preocupando. Ah, esses arautos, se conhecessem a mente de um virginiano…

Bem, não se pode ter tudo. Quem sabe pelo menos alguma coisinha? Alguma pequena luz de felicidade?

Nas próximas semanas devo rever alguns filmes do Estúdio Ghibli, em preparação para visitar o Parque do Ghibli nesta viagem! E talvez os Indiana Jones todos, Aladdin e outros de aventura porque está nos planos um passeio pela Disneysea em Tóquio também. Sim, claro que temos traçados planos para cada dia. E nem quero prever o que não vai dar certo… Espero poder compartilhar um pouco dessa viagem (custosa!) no Instagram e em alguns vídeos no YouTube. Já faz uns 5 anos que não viajo assim e pretendo ver também vários filmes durante os voos, embora eu já não tenha meus 14 anos – ai, ai, será que ainda aguento esse tranco quarentona, e sério, depois dos 40 a gente precisa mesmo se cuidar. Vamos ver. E talvez eu volte aqui lá por junho, pra contar algo mais animador e menos lamuriento, quem sabe?

Uma fala do Luffy e ainda sobre o fiasco de 25

Tanta coisa, passou mais de mês desde meu aniversário e acabei nem registrando qualquer coisa aqui. Pois bem, vamos primeiro falar do fiasco desse 25.

Conforme se passaram os anos desde jovenzinha, eu fiquei muito contente por compartilhar meu aniversário com Sean Connery (que já morreu, mas ficou marcado na história do cinema como um dos melhores 007, não?), Tony Ramos (que já foi galã de novelas, xenti), Rachel Bilson (a Summer do The O.C. e possível parzinho do Chuck), Blake Lively (que tem cada visual incrível no Met Gala e acabou se casando com um escorpião de 23 de outubro, minha primeira paixão platônica na vida real também era desse aniversário). Claro que meu nome favorito, porém, sempre foi Tim Burton, que apesar de ser estranho e meio sinistro, já se deu bem com animações, romances bizarros e até filmes bem sucedidos de heróis. Representa um pouco de mim, que apesar de não pensar de modo muito convencional, ainda teria alguma chance com o cinema e Hollywood até.

Mas este ano eu decidi ir no IMDB dar uma conferida e atualizada na minha lista. Em primeiro lugar, mais popular, Alexander Skarsgard! E eu acho que vou ter mesmo que ver “Succession”. Ou vocês me recomendam essa lenda de Tarzan com a Margot Robbie? E não é que descobri o William Friedkin (que morreu no início do mês de agosto, xentem, desconfio que também acontecerá comigo, morrer no mês de aniversário), isso mesmo, o diretor de um dos clássicos do terror, “O exorcista”. É até peculiar que vários virginianos tenham um lado meio sombrio, meio dark, expressando-se pelas artes: Stephen King é de virgem, Agatha Christie também era.

E se o Tim Burton andou meio chateado com as aparições de duas “criações” suas ajudando a dar dinheiro pro estúdio – quer dizer, na verdade a conversa era outra, era sobre o uso de efeitos rejuvenescedores – aqui vamos eu para mais um post desta minha blog-terapia. Sim, andei uns tempinhos meio chateada. E me perguntando se vai ser assim pelo restante deste ano todo de vida; por alguma tradição japonesa alguns aniversários são marcantes e anos “difíceis”, pelo menos segundo minha mãe, isso implica em bolo redondo sem falta: entre essas idades, 33 (idade de Jesus!) e 42.

Aqui vamos eu desabafar sobre o fiasco do último 25 de agosto, em que tudo deu errado. Estendendo-se à sensação de “e se a vida inteira deu errado, o que a gente faz?”. Ou foi a onda de calor que andou fritando meu cérebro, me derretendo? 

Vamos eu admitir que esperava alguma coisinha do concurso de argumentos, relembrei como é me sentir completamente inadequada ao meio audiovisual brasileiro, que fiquei um pouquinho triste sim e quase querendo desistir da viagem no final do ano, e daí relembrei de como já andei desistindo de tanta coisa nesta estrada de vida.

E depois de tantas tentativas, ficamos a indagar se realmente isso não é pra gente, afinal. Que ficamos nos iludindo, acreditando que poderíamos ser alguém especial. Quer dizer, cada um tem ou desenvolve seus talentos e aptidões, mas talvez eu estivesse errada o tempo inteiro, e não quis acreditar que não havia qualquer coisa de especial em mim.

Pois então. Dia 25 eu tinha planejado, este ano ia pegar o bolo sabor brullé (que fui encomendar dias antes e não ia dar para fazerem, só depois de sábado, sendo que o niver caía na sexta); ia no Cine Drive-in ver “Barbie”, porque daria pra levar a pequena junto (no dia antes saiu de cartaz pra “Besouro Azul” e um filme de vampiro), acabei desistindo; daí decidi fazer um bolo com a filhota, esqueci a colher que ela tinha usado pra mexer e botado dentro do copo do liquidificador, copo que quebrou e espalhou massa de bolo pela cozinha toda, fiquei metade do dia limpando a casa; ia jantar no Paris 6 pra ver se eu ganhava sobremesa de brinde, mas acabei desistindo com essa série de atrapalhadas.

Daí revi para analisar quantas vezes na minha vida eu já havia desistido de algo – sou uma desistidora? Para ser honesta, até que avaliei e procurei ver por um viés positivo, não me achei tão mal assim. Sim, eu deveria ter desistido é do segundo ano de cursinho e ido fazer o curso de teatro. Sim, eu deveria ter desistido de prestar audiovisual na USP e escolhido japonês, feito uma faculdade pública, deixado pra fazer um curso de audiovisual como segunda opção mesmo. Na verdade, meus arrependimentos são mais por coisas que acabei não fazendo, nem tanto aquelas que desisti.

E assim, passei anos com a sensação de ter desistido tantas vezes de trabalhar com cinema, porém continuo por aqui. De tempos em tempos retornando aos sonhos – ou seja, eu não desisti realmente, nunca por completo. Voltamos. Em novas conjunturas, com algumas diferenças.

Outro dia eu estava zapeando o Netflix – aliás, ultimamente eu percebo que ando passando muito mais tempo zapeando os canais de streaming do que realmente vendo alguma coisa! – e num desses trechos de imagens que o Netflix nos apresenta para gerar interesse em vermos determinado título, eu me deparei com uma fala do Luffy (do anime de “One Piece”, a série em live action comecei a ver, mas estou indo aos poucos), em que ele diz que ele decidiu que quer ser pirata e pronto. Pode ter que lutar e morrer tentando, mas ele decidiu.

Me identifiquei, mais ou menos. Acho que mesmo que nunca dê certo, vou morrer tentando. Posso falar que vou desistir, mas não consigo, é algo já em mim. E é isso. Agora já decidi que vou me tornar roteirista, e pronto.

E tudo anda tão diferente! Pelo menos comparando a quando eu tinha 10 anos e achava que tinha que aprender inglês por conta própria para ir trabalhar nos EUA, já que a produção cinematográfica no Brasil era escassa (sim, era início dos anos 90). Hoje tem canal no YouTube falando só de roteiros no Brasil, tem curso de assistência de roteiro (coisa que eu nem imaginava que existia no Brasil, sala de roteiro!), temos concursos de roteiro e o maior festival de roteiros da América Latina que eu também desconhecia, mesmo tendo feito aqueles dois anos de curso audiovisual no início da última década.

Aliás, descobri sobre este festival ano passado, quando fui para Gramado, e este ano me comprometi comigo mesma a ir lá conferir. Será no próximo mês e talvez eu consiga postar alguns comentários por aqui, vamos ver.

Porque era pra eu ter tecido comentários sobre “Novela” e “Insustentáveis”, séries brasileiras disponíveis no Primevideo que até que foram interessantes, ou mesmo a inesperadamente divertida “Jury Duty”, xenti, nem sequer comentei de “Barbie” (que acabei vendo depois) ou “Bacurau” (que foi o que acabei vendo no meu aniversário).

Fora novas resoluções sobre o que quero escrever e ver, principalmente me aproximando mais de Hayao Miyazaki, digamos bem resumidamente. Nesse meio começam a entrar pra minha lista de querer ver títulos como o doc “Território” e um filme antigo, “Soylent Green”, dessa lista já estou na metade de “Aruanas” que acabei perdendo lá por 2019, afoita com a gravidez, enrolada com a pandemia. É, andei perdendo um certo tempo nos últimos anos…

E os comentários então sobre esta leva de produções relacionadas à carreira de youtuber? No Prime tem uma série mexicana, lançada pouco antes da série brasileira “Compro likes” no Star, que é o mesmo tema de um filme com Andrew Garfield e a filha da Umma Thurman e do Ethan Hawke lançado na mesma plataforma. Tantas, tanta coisa. Então, sobre novos posts, veremos. Vejamos.

Apesar de tudo isso, ainda tenho meus sonhos grandiosos de Hollywood – e por que não, né Luffy? Então também me decidi a conseguir um certificado! E se posso ir em busca de um internacional, por que não, não é mesmo, Luffy? Pois é, faltou também post comentando sobre essas reviravoltas pessoais de querer mudar um pouco, deixar de sempre achar que não sou boa o suficiente pra essas coisas… e quem falou? E mesmo que eu não seja tão boa escritora, olha só quanta gente ruim além de mim tem por aí, né? Hahaha.

Supostamente este novo curso deve durar um ano e meio, por aí. Tenho até cinco anos para terminar, mas com um investimento financeiro relativamente alto, vamos ver como isso se dará… Por agora, apenas fico por aqui ansiosa pela minha próxima viagem para escrever e ver o último do Scorsese (e do DiCaprio, claro).

O passado que nos condena: Oppenheimer, Guardiões da Galáxia vol. 3

Pensaram que eu tinha entrado de greve junto com os roteiristas e atores de Hollywood? Quem me dera. Ultimamente tenho daydreameado bastante com isso, e se eu pudesse morar em Los Angeles, viver na Califórnia, como naquela canção do Lulu, ser artista de cinema? E, às vezes eu me pergunto se eu tivesse feito escolhas diferentes quando jovem talvez essa realidade teria sido mesmo possível sem tantas perdas e danos pelo caminho.

Só que não, eu só acabei não escrevendo por aqui por mais de mês simplesmente pelas correrias diversas a que eu mesma me imponho; então calma que o último post da série “The marvelous Mrs. Maisel” vai chegar, só que vou ter que rever os últimos dois episódios que foram muito emocionados e sem tempo hábil para eu sentar e tomar nota antes das curtas férias escolares da minha espevitada offspring. Viajamos para o norte nessas férias de julho (e nem conseguimos tomar o saboroso Carimbó da Cairu! Shame!), ela ficou doentinha, eu fiquei mal, pensando em complicações de saúde e mais uma vez distante numa visita curta a São Paulo, embora muito bem aproveitada: com direito a affogato da Bacio, longa conversa com uma amiga querida no Guarita, consulta na oftalmo e pesquisa de óculos mais sustentáveis, sala Imax num espaço agradável (e a surpresa feliz de descer em frente aos estúdios da O2), almoço francês (tartare e drink de Lillet no Rendesvouz, aquela indulgência que a gente precisa se permitir de vez em quando), além de, principalmente, um treinamento espiritual intensivo.

E aqui devo me debruçar um pouco mais em palavras se misturando com dois ótimos filmes que pude conferir dentro dessas últimas semanas – finalmente algum filme bom! Sentia-me até então fadada a preencher meus dias com comédias românticas bem medíocres. “Oppenheimer” (2023) é um deles, um filme grandioso, para um cineasta que é sempre meio megalomaníaco – confesso que Christopher Nolan tinha me perdido com “Tenet”, que desgostei bastante, embora eu tenha apreciado bastante as várias incursões complexas anteriores, “Interestelar” e “A origem” meus favoritos. Com certa ironia por ser um filme mais intimista, sobre um personagem da vida real, o criador da bomba atômica (e não sobre a bomba em si), o que também nos faria duvidar se vale o ingresso do Imax? Ou valeu para Kodak fazer um negativo especial para o formato do diretor? Fazia um tempão que eu não conferia um filme numa sala Imax e me peguei surpreendida com o tamanho da tela, mas pela qualidade de som e sentando no lugar indicado pelo diretor, para mim, valeu a pena sim. Sem falar que peguei desconto de dia de semana ;)

Com certeza o filme vai entrar aí como indicado em várias categorias para o próximo Oscar, e desde já torço pelo Cillian Murphy, porque já tava na hora desse ator ganhar esse reconhecimento, né. Mas todas as outras atuações de apoio também estão firmes, com algumas surpresas de atores famosos em pontas (Kenneth Branagh, Gary Oldman, Rami Malek, Casey Affleck entre tantos), com destaque para um envelhecido Robert Downey Jr. vulnerável e arrogante, um militar Matt Damon, a esposa sem trelas Emily Blunt e a presença intensa da amante que dispensa flores Florence Pugh. Na verdade, são tantos os nomes que vemos interagir com Oppie que até o espectador norte-americano deve ficar perdido, mas o que importa é que Einstein tem indagações maiores do que um político pode imaginar.

Todos os artifícios visuais são envolventes, nós nos impressionamos juntos naquele teste, que parecia que ia dar tudo errado; sentimos o amor do cientista por Los Alamos. A montagem do filme é entrecortada, com alternância de impressões conforme as visões diferentes dos personagens – mais declarada pelo preto e branco – sem se ater à cronologia. As cenas conflituosas são escolhidas a dedo, ótima a tensão aplicada na possibilidade de uma maçã envenenada ou como Oppie se sente desnudado, com uma relação íntima escancarada em seu interrogatório. Também compreendemos as inserções das fusões e explosões, como um sentimento e algo que invade sua mente constantemente. Assim, mais do que a trilha sonora, vejo um destaque para os efeitos sonoros, seja num ruído atordoante, ou naquele momento marcante do público celebrando o final bem sucedido do projeto, mas os gritos tendo um quê de horror, pois o que paira além da ciência são as mortes e o horror causado pela guerra.

Aliás, que coisa mais triste a discussão sobre os locais a serem atingidos pela bomba, sem importar o número de mortos (que foi muitíssimo maior que o esperado e com reverberações ainda piores), sem ética ou moral, ou humanidade. O finalzinho do filme é dedicado a Oppie lidando com algumas consequências, tentando usar sua imagem para que o uso de avanços como esse que ele conquistou fosse mais consciente. No início da projeção me surpreendi com alegria ao ver a citação sobre Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, pois a ideia está ligada a um argumento de roteiro que escrevi este ano. Porém, meu roteiro não tinha a ver com esse outro recorte apontado pela citação, de como Prometeu foi acorrentado e torturado – como alguns de nossos erros sempre vamos arrastar conosco, nos torturando (mesmo que não física e sim mentalmente).

É aqui que o cinema, como sempre, vem falar comigo, que tinha passado por uns dias de treinamento espiritual.

Esse treinamento espiritual envolveu três dias com eu indo ao templo (quando o planejado inicial era somente um dia) e me vendo em lágrimas nos três dias. O processo incluiu tocar lá no fundo da alma a questão da gratidão, também pelos antepassados, os que vieram antes e que me apoiaram – e continuam a apoiar ainda, e por todas as oportunidades que já tive e tenho. Um outro viés foi o de me libertar um pouco do sentimento de culpa, por algumas coisas que aconteceram e como se desenrolou afetando outras pessoas; e também relacionado ao evento de saúde com minha filha, desde bebê e até a atualidade.

O último foi o ponto em comum refletido junto com “Oppenheimer”; claro que em escala bem menor, mas fiquei pensando em como nos torturamos por erros do passado, que podem nos assombrar pelo resto da vida. Nessa ordem budista que frequento, podemos fazer uma meditação que nos orienta individualmente de formas práticas a superar, evoluir, crescer. Dessa vez, fui levada a superar um pouco desse sentimento de que as coisas teriam sido diferentes, procurar a substituir a insatisfação pela gratidão do que se abre à frente e é possível.

Daí, entramos em “Guardiões da Galáxia vol. 3“. Que belezinha de filme, não é? Com tanta coisa da Marvel – e tantos títulos que ficaram devendo ultimamente – a gente meio que tinha esquecido um pouco dos dois primeiros? Porque para mim, esse ficou como favorito, apesar de não gostar da “nova” Gamora, ter menos canções que eu conheço e gracinhas, conseguiram equilibrar bem a comédia com a ação, a coisa toda de heróis/vilão e dramas verdadeiros. Visual e efeitos competentes como devem ser – ah, os trajes coloridos de astronautas! E o mais importante: a história do Rocket, finalmente, o guaxinim mais inteligente de todos os universos! Foi impossível não se emocionar com as agruras, não só porque ele era um inocente bichinho fofo e daí sofreu vendo evoluções terríveis, mas e os amigos que perdeu e teve que se recompor nessa nova família dos Guardiões, e aí de novo como novo capitão…

Groot também arranja modos inovadores de crescer e lutar, Drax se reencontra como paizão e Mantis percebe que precisa mais. Quill continua protegendo seus amigos e amando Gamora, meio chateado com o universo, mas ele deve retornar (como 007 sempre indicava no final). Tem o cara dourado Warlock meio bobão que adota um bichinho, um alívio cômico típico, mas tá valendo. O vilãozão Alto Evolucionário até que tem boa motivação, querer uma sociedade melhorada, um mundo mais perfeito e é ótimo vê-lo enlouquecido que o guaxinim conseguiu criar algo, o que suas outras criações não fizeram. Uma curiosidade divertida é que a voz da Cosmo é da Maria Bakalova (que fez aquele filme improvável com o carinha do Borat); o Nico Santos é um coadjuvante divertido num filme recente da Netflix sobre uma mulher fazendo trilha para se reencontrar, que acabei de ver outro dia; outra curiosidade é que embora Bradley Cooper faça a voz do Rocket, o stand in pra motion capture era o irmão do diretor James Gunn (que fez um ótimo trabalho final após ser demitido uma vez, mas agora parte para trabalhar no universo DC), Sean Gunn (que também faz o Kraglin, finalmente controlando a caneta com assobios). Bem, é claro que há muitas outras coisinhas divertidas para se notar, como o Stan Lee numa foto nos créditos finais, mas só pra te contar isso existem alguns vários canais no YouTube.

Enfim, mais do que esses detalhes, a história do Rocket me pegou de jeito (e eu cantando “Rocky Racoon” dos Beatles, achando que era proposital? Mas o nome era diferente, e o da amiguinha era Lila). Rocket é muito querido e recebeu apoio de muitos em seu caminho, bem colocada a cena em que Nebula e outros ouvem a voz do amigo e eles param um segundo porque a emoção toma conta. Sabe quando a gente acha que já deu, já perdeu tanta coisa, já sofreu tanto, cadê o amor verdadeiro da nossa vida?, a gente queria era ir viver em paz. Mas continuamos. E deve ser porque, afinal, ainda temos potencial para fazer mais algumas coisinhas por aqui. Ainda há mais pessoas que podemos ajudar. Com quem podemos conviver. E, na verdade, devemos é nos sentir gratos por termos ainda oportunidades e possibilidades. E mais um tempinho para as pessoas que nos estimam passarem com a gente.

Sobre come backs e algumas séries

Acho que parte deste post era para ter saído no início do mês ou finalzinho do mês passado, mas como não sou jornalista, nem mesmo produtora de conteúdo, vamos lá para mais uma nota deste diário virtual. É meio que coincidência, mas bem vinda, esse negócio dos “come backs”. Comentei que o Oscar deste ano teve isso como característica e na minha vida pessoal também, esse mês de março me deu essa sensação. Em uma reunião virtual, para discutirmos sobre eu voltar a fazer algumas traduções e revisões, um médium comentou que parecia como um momento de “come back” pra mim (desse jeito mesmo, japoneses às vezes usam termos em inglês misturados ao japonês). E sobre a eterna questão minha de escrever, ou de procurar fazer algo relacionado a cinema, foi também um tempo em que comecei a pesquisar algumas coisas – sobre cursos que eu poderia fazer, talvez uma especialização, talvez no exterior até. Quando descobri sobre um curso online, claro que pensei nisso logo, com o atual cenário pós-pandemia talvez eu encontrasse minha chance.

E quer saber? Tomei mesmo essa resolução. Eu não tenho muito mais tempo de vida e tenho é que fazer o que der e mais do que eu amo, se possível. Volto, mais uma vez, depois de tantos anos, a ver sobre roteiros – como as coisas funcionam agora? O Brasil hoje já tem uma outra produção audiovisual de quando eu tinha sonhos de me mudar para Los Angeles aos 10 anos de idade… Que tipo de concursos existem por aí, será que valem a pena? O que é possível fazer nas minhas atuais condições (de idade, financeiras, com certos compromissos como esta pequenina vida a criar…)? Aliás, é difícil eu dizer isto aqui, mas se alguém por aí tiver boas dicas e sugestões, passem, por favor.

No ano passado, decidi que antes do meu marco de vida eu precisava terminar pelo menos um roteiro, aquele que eu deveria escrever mesmo que fosse o único, antes de morrer. Nas últimas semanas vim trabalhando em um argumento, com novas esperanças e me preparando psicologicamente para escrever pelo menos mais dois roteiros até o ano que vem (pretensões…).

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Enfim, fora esse momento de “come backs”, vamos deixar registrado por aqui algumas séries vistas.

Lockwood & Co.” mostra uma jovem aprendiz de “caça-fantasmas” num mundo em que os adolescentes podem ser sensíveis a esses espíritos e trabalhar com isso, pois um fantasma pode matar. Há muitos detalhes, pois é baseada em uma série de livros, como os rituais para espantar ou acabar com um fantasma, mas conseguem deixá-los instigantes e o espectador anseia por acompanhar a jornada da protagonista Lucy, que foge e acaba conseguindo trabalhar com outros dois na pequena agência Lockwood, descobrindo ter poderes únicos. Existem os trabalhos complicados – e aquela mansão cheia de monges, gente! E um mistério maior a ser desvendado, a rivalidade com outros agentes, locais obscuros e pessoas de má índole, boas cenas de ação e tensão, suspense. A série tem um ritmo muito bom, surpreendendo a cada episódio. Netflix.

Paper girls” acompanha um grupo de quatro garotas entregadoras de jornais que numa noite muito estranha viajam no tempo e precisam descobrir como voltar para casa. Baseada em quadrinhos, confesso que comecei a ver também por causa da Ali Wong, que fez uma comédia romântica que eu tinha gostado bastante (embora eu não tenha tido a coragem ainda de encarar “Treta”). Aqui ela faz uma das garotas em sua versão futura, mais velha e meio que decepcionante por não ter tido uma carreira de sucesso e se distanciado da irmã mais nova, mas por isso mesmo é um personagem interessante – e ela vai ter a chance de controlar um robozão estilo “Círculo de fogo” ou daquelas séries japonesas infantis no final dos anos 80. As garotas se veem envolvidas em uma guerra maior de outros que controlam viagens no tempo, com mortes pelo caminho, conhecendo suas outras versões e contestando um ponto ou outro das suas escolhas “futuras”: descobrir que gosta de garotas; ter ido para a faculdade, mas largado; ter morrido e criado uma outra relação com o irmão. É uma série divertidinha, mas que parece já ter sido cancelada. Primevideo.

De volta aos 15” – outra série adolescente, o que anda acontecendo, Dê? Ai, bem, deixa eu, vai. Na verdade, me surpreendi com esta, porque achei que ia ser bem clichê, mas até que gostei. E vi toda a temporada numa noite só. A menina Anita, vivida pela Maísa, viaja no tempo também, por acidente, mas ela consegue ir e voltar entre seu eu de 30 anos e de 15 anos. Conforme cada mudança de comportamento dos 15 anos seu futuro melhora ou piora, como a amizade com uma miga trans; um garoto que era bad boy e na verdade é apaixonado pela irmã mais velha dela; um outro que muda e se apaixona por ela; a amiga que pode casar com um mala ou acabar com seu melhor amigo (por quem Anita descobre estar apaixonada). Aborda boas questões vividas por adolescentes, mas o que me pegou mesmo logo no primeiro episódio e me fez continuar assistindo é porque o filme preferido da personagem principal é “O fabuloso destino de Amélie Poulain” – um dos meus favoritos também, óin. E daí, aquele final de passear pelas ruas de Paris foi bem legal. Netflix.

Enxame” – cara, essa série é “uó”. Produzida pelo Danny Glover, o mesmo carinha responsável por “Atlanta” e companheiro do Abed em “Community”. Baseada em fatos reais, não é pra qualquer espectador… Tem violência explícita, a personagem principal é uma fã de carteirinha, obcecada por uma diva pop – claramente Nijah representa a Beyoncé, ela é a “rainha” do enxame de abelhas, que vão te ferroar para defendê-la… E essa obsessão leva ela a matar como se fosse a coisa mais normal do mundo, como os junk food que são a única coisa que ela consome. Eu me surpreendi com as participações especiais, como Paris, filha de Michael Jackson – que deve saber muito bem o que é o escrutínio da mídia e esses fãs loucos. Mais para o final, uma comunidade feminina doidona liderada pela personagem vivida por Billie Eilish (estreia dela como atriz). Tem algumas cenas engraçadas também, como a apresentação de Dre no clube de strip. E um ótimo episódio que mostra a detetive desvendando esse caso como num programa de TV. Cada episódio surpreende por algum motivo inesperado, como quando descobrimos sua adoção pela família e inclusive o final com a mudança total na aparência, a morte da namorada (gente, coitados desses pais de filha única!), e o abraço da diva com o rosto da irmã perdida. Em mim, doeu a picada, porque o mundo inteiro sabe como sempre fui e serei fã do DiCaprio, por exemplo, e quando ela fica sonhando acordada com o encontro dela com sua ídola, com uma conexão imediata etc, eu me identifiquei muito… Primevideo.

Eu também vi um episódio de “Insustentáveis” e “American Gods”, temporada 2, porque tem alguns temas pelos quais ando tendo algum interesse especial para minhas próprias ideias. Devo continuar, vamos ver.

E pra finalizar, uma série que ainda não terminei (falta o último episódio) foi “Extrapolations“, da AppleTV. Trata do perigo da crise climática – bem propício escrever sobre ela hoje, Dia da Terra. Que série mais difícil, gente, doída. Porque eles tem um climão de “acabou”, creio que foi realmente a intenção dos criadores, gerar esse desconforto, porque é para conscientizar mais, fazer refletir, até buscar mudanças. Mas que é tudo muito triste, terrível e desolador é. No primeiro episódio, apesar de protestos, simplesmente verificamos o poder de poucos e grandes corporações. Em seguida um episódio devastador sobre animais maravilhosos que simplesmente são extintos mesmo, e a relação de uma mãe com o filho que sofre das altas temperaturas e a última baleia viva na Terra. Acho que foi o pior para mim, sendo uma mãe que também torce por um futuro.

Depois desse dei um tempo na série, aproveitando o feriadão de Páscoa. A baleia (narrada no original por Meryl Streep) queria ser mãe de novo, ela diz ter sido tudo para seu filhote, todo alimento – e eu me lembrei de como mãe eu deveria saber da minha bebê, novamente aquela culpa por não ter feito o mais básico, alimentá-la o máximo que podia…

Enfim, apesar das minhas agruras pessoais, o episódio 3 abordou a fé religiosa, outro baque. A adolescente que questiona se Deus não está bravo com a humanidade, entre outros pontos que ela ataca, um rabino em provação e defendendo a fé. O quarto episódio traz Edward Norton como um cientista com acesso à alta cúpula do governo, sua ex-esposa que quer resolver o aquecimento com uma aposta de naves que não necessitam de pilotos e o filho envolvido nessa empreitada. A parte II traz um pouco desse ano 2059 numa Índia em que é preciso aparelhos de oxigênio, cujas estradas podem ficar tão quentes a ponto de matar, e um motorista carrega sementes como contrabando, ao lado de um matador em cadeira de rodas. Cada episódio avança em alguns anos, e o seguinte traz Ezra com uma doença de perda de memória, e um sistema pago de armazenamento das lembranças; é terrível vê-lo apagando tudo, inclusive o momento com a mãe quando viu a última baleia, e sabemos que não devemos ficar muito apegado ao passado, mas ter que deixar momentos felizes vividos porque as empresas ou mesmo hackers querem lucrar é horrendo. No penúltimo episódio, de 2068, temos um jantar de ano novo/despedida, um casal vivido por Marion Cotillard e Forest Whitaker brigam diante dos convidados porque ele tem a chance de virar digital, uma nova tecnologia. Dizem que o texto conversa com “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, mas honestamente, eu seria uma das poucas no mundo que não ia querer viver para sempre? Porque isso é o que o modo digital permitiria, não? Renascer quantas vezes quiser em diferentes, novos corpos.

Esta série em si não teve boas cotações, mas há algumas partes que eu gosto, seja pela criatividade do que os homens devem desenvolver nos próximos anos, seja pela mensagem de “ainda temos tempo de mudar”. Talvez eu goste do último episódio também, de finalmente punir o que representaria gananciosas grandes corporações (representada na série pela figura de Bilton, vivido por Kit Harington). Vamos ver.

Bem, abril é isso, tempos de renascimentos. Logo vem por aí maio, e quem sabe vou ver mais coisas sobre mães, como tema do mês? ;)

“Desencantada” – com várias coisas…

Ai, esta crise de meia idade, né. Se eu já era rabugenta naturalmente, uma velhinha em corpo de menina, como a Sophie de “O Castelo Animado” (2004)****, imagino que a partir desta quilometragem vou assumir de vez a velhice, começar a ficar remoendo o passado como todos os velhos do mundo, porque a vida atual não parece lá tão empolgante.

Logo que vi “Encantada” (2007) ***, eu fiquei muito entusiasmada, eu me diverti “à beça” (sim, vamos sempre usar expressões datadas por aqui. Não sei usar “shippar” ou “lacração”, embora eu me identifique com “tá na Disney”). Foi muito divertido imaginar como seria se uma princesa Disney caísse na real, principalmente euzinha tendo crescido com as princesas na retomada das animações Disney anos 90, com técnica preciosa, personagens carismáticos e canções maravilhosas – não essa coisa xoxa e pavorosa das live actions caça-níqueis que invadiram nossas telas nos últimos anos.

Daí me chegaram com esse “Desencantada” (2022) *, e confirmei o que já sabia, que iam desandar a poção mágica. Claro, Amy Adams continua talentosa (e todo mundo falava do Leo, mas quando será que essa mulher vai levar um Oscar?), e a premissa não era ruim, aqui na realidade não existe um “felizes para sempre” como nos contos de fadas. Mas confiam em um montão de efeitos estrambóticos, as canções não empolgam, a trama a gente já sabe no que vai dar… E tem um bocado de referências às outras produções Disney, sendo citados nomes mesmo em canções, mas principalmente “A Bela e a Fera” (naquele passeio pela cidade da Morgan, no café da manhã com os objetos de cozinha falantes) – também pudera, o compositor é o mesmo, Alan Menken; e referências à Cinderela (versão Disney, claro, com vestido azul pra Morgan, a madrasta tem que ter um gato e não um ratinho). Mas nem merece um post de “coisinhas divertidas a notar”, porque nem é tão divertido assim.

Enfim, passamos as eleições – e, xenti, como assim o Lula foi convocado para (e compareceu) a COP27 antes mesmo de assumir a presidência? E, xenti, que que é isso no QG? Mas “passou raspando” e nem podemos exatamente respirar aliviados, temos é aquele medinho, desencantados com tudo o que vem acontecendo no mundo. Ainda existe salvação mesmo para esta humanidade?

E a Copa, como chega aí pra vocês? Eu já estou é com o pezinho no clima de Natal, escolhendo uns filmes de fim de ano e pensando qual panetone comprar, mas pela primeira vez acho que vou conseguir ver os jogos, depois de muitos anos sem conseguir acompanhar direito. Eu me surpreendi muito com a vitória do Japão sobre a Alemanha, time que sempre considerei mais forte – e talvez inclua-se aí o traumazinho deixado pela goleada naquela final contra o Brasil, 7 a 1 inesquecível! Uma Copa meio engraçada.

Devo deixar registrada por aqui também a segunda temporada de Fleabag, que me agradou um pouco mais do que a primeira, talvez por não se basear tanto no sexo, com mais situações inusitadas e totalmente imprevisíveis da protagonista que tem que lidar com a perda da melhor amiga e a dor da culpa de tê-la magoado. Aqui, a vida tem que seguir, e isso serve para a irmã que tem que enfrentar o marido e lutar pela própria felicidade, e também para Fleabag, que tem que aceitar o casamento do pai e que o ex-namorado realmente já está em outra vida, que é questionada pela fé e moral, envolvendo-se com um padre (!). Um dos meus momentos favoritos foi a participação da Kristin Scott Thomas, num diálogo no bar, ela resume sobre toda a dor que nós mulheres já carregamos desde o momento em que nascemos. Sublime. E simplesmente explicando a recusa do flerte como “estou cansada”. É, chega uma idade em que a gente não precisa mais, sabe? Dar-se ao trabalho.

E eu ando meio que assim também. Me perguntando por que eu me dei tanto trabalho quando jovem? Nessa última viagem solo que fiz, eu li todo o meu diário. Não as agendas em que registro compromissos e pensamentos diários, mas um diário de vida, que de tempos em tempos paro para escrever algo. Percebi como eu me apaixonei, tantas vezes, tanto, e depois sofri, como sofri, tanto… e pra quê? E os sonhos? Sempre falando sobre meus sonhos, de querer ser escritora, de querer fazer cinema, de querer “mudar o mundo”. Nada, nada, e acaba na praia. Ou, na verdade, é que as ondas são assim mesmo, é o oceano da vida. Não é culpa de ninguém, nem mesmo minha.

Mas ando meio assim, desencantada. Pensando que dediquei dez anos da minha vida para algo e agora tenho que recomeçar, do zero. E este ano todo em dúvidas sobre minha escolha de ter um filho, eu nunca quis ter filhos, daí a gente pensa neste mundo louco, no meio ambiente, e penso em como eu não tenho vocação pra ser mãe, sou uma mãe ruim. Não tenho vocação pra ser dona de casa, não faço nada direito (lavar, cozinhar etc, na visão de todas as visões de mundo como o conhecemos – até agora, ainda), odeio ver meu companheiro todo estressado achando que eu tenho metade da culpa nisso, e agora, que larguei tudo e não sei fazer nada da vida?

Daí me lembrei de um outro filme que vi este ano e ia deixar pra comentar num post futuro, como um dos meus favoritos do ano, “Sob o Sol da Toscana” (2003)***. Esses tempos Netflix lançou uma série de comédia, “Blockbuster”(2022) e logo no primeiro episódio já fazem referência a vários filmes, mas um dos recomendados para um cara que precisa superar uma separação é esse filme com a Diane Lane, ela acaba comprando uma propriedade na Toscana para uma nova vida. Ela vive uma escritora que vive adiando também seu livro, lembrou-me um pouco de quando eu lia “Comer, Rezar, Amar”.

Às vezes eu me imagino assim, mudando de país, de vida. Será que daria certo? Ou meus problemas continuariam os mesmos? No filme, sendo romântico, ela volta e meia está envolta por um possível pretendente – desde o corretor imobiliário, passando por um caso de litoral, até poder realmente terminar os trabalhos na casa e estar pronta para um novo amor. Homenageiam também Fellini, com uma madame imitando a famosa cena na fonte de “A doce vida”, e com certeza, se tiver condições, a Itália é um país que gostaria de visitar um dia e não deixaria de provar o famoso gelato original. Por se tratar de um ambiente totalmente diferente, o filme caminha como um passeio, leve, sem afetações e acontecimentos mais interessantes do que previsíveis – como a carta para a mãe de um turista, enquanto quando visitam locais com o grupo de casais gays, os trabalhadores que não falam a língua dela para a reforma do local e os almoços maravilhosos, o “sinal” para a senhorinha concordar em vender a propriedade, o velhinho na estrada que finalmente a cumprimenta.

Será que eu conseguiria, agora (na suposta maturidade) conseguir viver mais leve? Levar a vida mais leve? Conseguiria me desprender das tensões do passado e das impostas obrigações pra vida que segue?

Eu também andei vendo a primeira temporada de “Guia astrológico para corações partidos” (2021), pretendo continuar até terminar os 12 signos do zodíaco, mas a descrição de Virgem não me cai exatamente muito bem: alguém que gosta de fazer a mesma coisa, dia após dia? Eu? Que queria era morar num motor home aposentada, viajando e conhecendo lugares e pessoas diferentes até o fim dos meus dias? Talvez seja o ascendente Sagitário falando mais alto. A série em si até que é bem engraçada, italiana, sobre uma assistente de produção libriana de coração partido. No primeiro episódio a cena de tudo dando errado, ela toda doida, pegando chuva, a saia improvisada para uma reunião importante e conhecer um novo chefe lembrou Bridget Jones. Depois ela vai conhecendo vários caras, com informações de diferentes signos pelo “bidu” amigo “fluido”. Aliás, algo que aprecio dos tempos modernos é a possibilidade de tantas produções de lugares diferentes, e eu simplesmente adoro ouvir outros idiomas. Vi o primeiro episódio de “A imperatriz” e de uma série coreana… e comecei “Manifest” – talvez caiba-me bem esta agora, com a sensação de ter perdido anos de vida, embora eu sempre adiei ver esta série pelo ranço de achar que me lembrava muito “Lost” (avião, mistérios, ir conhecendo cada passageiro…).

Flanando pela vida e também pelas séries? Será que eu tenho salvação? Ou vou sempre estar na Disney, sem desencantar da vida que se queria ter vivido?

40, e eu achava que ia ser diferente

A rainha morreu. Minha gata morreu. Godard morreu! Tudo bem, todos estavam bem velhinhos já e tiveram um bom tempo aqui na terrinha pra aproveitar a vida como pudessem.

Mas estas últimas semanas eram para terem sido diferentes, ou assim eu achava. Eu voltaria super bem de Gramado, para onde fui conferir pela primeira vez o Festival de Cinema deles, após dois anos sem evento presencial por causa da pandemia, e escreveria um post registro por aqui, e bye bye tristeza porque o inferno astral já tinha passado aeô.

Eis que volto e me vejo envolta numa aura de tristeza, tão, tão grande. Cheguei e senti como se não tivesse uma pessoa que me amasse verdadeiramente para me dar um abraço de feliz aniversário. Cheguei e me senti uma inútil, que não faz falta a ninguém (pior coisa que pode-se dizer a um virginiano!). Minha gata esteve internada durante a minha viagem e eu já pressentia há algum tempo que sua hora estava chegando. Quando retornei, ela também voltou para casa, e eu até me espantei. Voltei e tentei arrumar alguma coisa em casa, de limpeza mesmo. Coisas pra colocar em ordem, um montão de roupas pra lavar – que ainda nem terminei de lavar tudo.

Depois, minha pequena veio na sexta-feira com uma tosse e dito e feito, nos dias seguintes ficou com febre; eu ainda tomei muito sol a pino sem beber água e sofri de madrugada – não sei ao certo se em parte foi insolação ou desidratação, acabei também com a garganta ruim e febre, terça muito mal de cama e o resto da semana de molho junto com a pequena. Muita dor no corpo, cansaço e moleza, não acho que foi covid porque ainda sentia gosto e cheiro. E este tempo precário de Brasília, faz mais de 200 dias que não chove! Está muito quente e está muito seco. Pensando que eu poderia estar me sentindo bem melhor no Canadá (sabe, fazendo aquele College Program em pós-produção de audiovisual).

E quando eu parecia estar me recuperando, daí, minha gata morreu. A minha companheirinha, que se mudou tantas vezes de casa comigo, nesses 15 anos. Quando eu me imaginava uma velhinha solitária escritora, ela estava do meu lado – que bobo, é lógico que ela não viveria assim tanto tempo quanto eu. Se bem que eu sempre imaginei que ia morrer cedo, sempre quis, tipo com uns 50 e poucos anos. Se bem que isso era naquele meu plano original da infância, quando eu ganharia um Oscar aos 18 e seria até presidente do Brasil em algum ponto. E Godard, que cansou de viver. Entendo-o, acho que eu já tinha cansado de viver aos 20 e poucos.

Lá pelas tantas, já no final, Elvis diz: “eu estou com quarenta anos”, em “Elvis” (2012) *** E ele diz como se ele não tivesse feito nada de importante. A gente pensa, “é claro que fez, pô”, Elvis nunca será esquecido, foi marcante na história e na música, mas talvez ele diga isso por todo o potencial que tinha, pra fazer ainda mais. Porém, ali foi o resumo perfeito do meu sentimento atual no geral.

Quando minha gata voltou, eu fiquei me perguntando por que nós ficamos, às vezes mais, outras menos, por que continuamos vivendo mais um pouco. Eu já tinha conversado com ela, disse que ela poderia ir para o outro plano de existência, que eu não queria que ela sofresse em sua passagem. E eu, nesses tempos, assim com essa crise existencial, também me perguntando o que ainda estou fazendo por aqui. E o Leonardo DiCaprio, que dispensou outra modelo antes dos 25 anos – não que isso seja assim tão relevante, mas, pôxa, as coisas não mudam? Eu achava que ia ser diferente.

Ou talvez, eu quisesse que as coisas fossem diferentes. Mas não são. É a vida. Como cantaram os grandes poetas de todos os tempos, a vida é assim. E mesmo eu querendo estar contente, afinal, não me falta nada, tenho onde morar, tenho o que comer, nada falta à minha filha; mesmo assim, talvez eu precise mesmo deste momento de luto. Que a vida está me impondo neste instante. Eu queria estar me sentindo mais feliz, como tantas vezes eu já quis. Nem posso dizer que foi porque eu tive que encarar a realidade e desistir de ser guia espiritual, depois de 10 anos de serviço budista. Nem posso dizer que é porque aquele curso de cinema nunca deu certo pra mim. Ou trabalhar com dublagem, ou tocar música, ou aprender japonês pra valer. Talvez seja um conjunto de tudo isso. Um luto por tudo o que não foi, e não será. Às vezes a gente precisa se permitir ficar triste também. Porque isso também faz parte da vida.

Talvez a partida da minha gata, de certa forma, represente o final de uma era. Era de quê, eu não sei. Não sinto vontade de fazer muita coisa. Talvez seja o final de um tempo em que tive que “sobreviver” de alguma forma, aos trancos e barrancos; e finalmente agora posso me dedicar de outra forma à vida. Sem falar que tenho agora outra criaturinha cuja vida foi confiada a mim para apoiar em sua jornada até se tornar independente por ela mesma. Quem sabe, o tempo dirá. O texto de Gramado deve vir, sim, quem sabe algum post sobre “Sandman”, Agatha Christie, os Emmy, “Anéis do poder”, a segunda temporada de “Starstruck”, por que não me interessei por “She-Hulk”, nem achei graça o último “Thor”… Quem sabe venham os roteiros e textos loucos que eu invencionava desde criança? Talvez não haja muito mais o que fazer agora. Talvez eu escreva, ah, que saudades da minha moradinha no Jardim Secreto… Quem sabe. Por enquanto, me deixo estar um tantinho. De luto.

Coisinhas divertidas pra se notar em “Tico e Teco: Defensores da Lei”

Todo ano é a mesma coisa… depois da maratona para o Oscar eu fico sem vontade alguma de conferir os novos filmes de Hollywood e quero é ver algum filme bom, mas divertido, que talvez seja mais antigo, mas eu acabei deixando passar.

Mas não é que um lançamento do canal de streaming Disney+ me deixou animadinha pra vir aqui e registrar algo? Que filmes de super-heróis que nada, minha gente, eu tô ficando velhinha – será que vem por aí outra crise de meia-idade? – e não tenho vergonha de me entregar à nostalgia. Se alguém por aí me conhece bem, sabe que um dos meus filmes favoritos é “Uma cilada para Roger Rabbit” (Who framed Roger Rabbit? / 1988)****, e como esse filme, que traz de volta a turminha de pequenos detetives aventureiros sensação para as crianças dos anos 90, bebe daquele – e também homenageia, que bom! O próprio Roger Rabbit estava no auge da fama nessa época e aparece dançando num clube, mas essa não é a única referência…

Aliás, que abundância de referências!!! Imagino que eles conheçam o pessoal que faz vídeos mostrando detalhes e easter eggs dos filmes, que devem pausar frame a frame… Meu povo, pra quem gosta de Disney ainda por cima, como estazinha aqui, e como a Disney hoje é dona de metade do mundo do entretenimento (incluindo aí Fox…), haja olhar para perceber e identificar tudo! Por isso, nada mais justo do que este post – mas com certeza vai faltar ainda coisas que não notei (ou não soube o nome), então se você estiver passando por aqui e lembrar de algo, deixe nos comentários que eu quero relembrar!

***

(Chip n’ Dale: Rescue Rangers/2022) ***

Historinha: assim como no filme do Roger Rabbit, imaginamos um mundo em que os desenhos convivem com os humanos, e Tico e Teco são atores que tiveram muito sucesso com sua série de detetives algumas décadas atrás, mas muita coisa mudou, e se veem envoltos num mistério para salvar um amigo em comum.

-primeiramente, os dubladores de Tico e Teco daquela época também trabalham aqui, embora nas vozes de outros personagens (se bem que a Geninha era mesmo dublada pela Tress MacNeille e o Corey Burton também fazia o Zipper). Aqui, os esquilos são atores velhos, então ganharam vozes de homem (kkk), dos comediantes Andy Samberg e John Mulaney.

-aliás, o diretor deste longa já teve outros trabalhos com Andy Samberg e estabelece logo de cara o tom de comédia para a produção.

– na vinheta da Disney, o castelo sofre umas transformações de algumas partes, em referência à máquina de transformar os estilos de animação – ah, se fosse fácil assim mudar os estilos das animações, né? kkk

-Teco (ou Dale, em inglês) acaba optando por uma série em que ele estrearia como espião; existiu mesmo uma possível série semelhante, que acabou sendo cancelada (mas não para o personagem do Teco).

-muito divertida a convenção à la Comic Con, mas com a possibilidade de encontrarmos os desenhos – gostei que o Balu é uma estrela (com o reboot em CG e por isso mesmo Teco fez uma cirurgia pra passar de 2D para 3D… não gostei muito, pra ser honesta, tem muita coisa que sou antiquada e prefiro em 2D) e ri muito quando apareceu o Sonic feio! (se bem que a piada repetitiva dos dentes não funcionou tanto pra mim).

-as comidinhas no congelador do Tico! Tem a comida congelada do herói Gelado (ou Frozone), de “Os Incríveis” (2004) ***, e sorvete da Frozen…

-que bela sacada de trama, alguém sequestra desenhos antigos para fazer versões “falsificadas” de animações famosas! Existem tantas dessas por aí que penso existir mesmo um público que consome isso, mas sempre me perguntei por quê, “no, God, no, why? No!”

-quando Tico anda pela calçada da fama, podemos ver estrelas com nomes como Lula Molusco e Chun Li. E o outdoor com o novo filme da Meryl Streep? Uma versão dela homem, assim como Robin Williams fez “Mrs. Doubtfire” (“Uma babá quase perfeita”) e ela fez um filme chamado “Dúvida” (Doubt).

-mas por que um filme Batman x ET? Competem pela lua?

-a recriação da Main Street (referência aos parques da Disney) como uma aparência de fachada! Com negócios escusos por trás, como briga de Muppets!

-“Monterey Jack é o nome de um queijo!” kkk Para o rato que não pode comer queijo…

-os gatos do detestado “Cats” no “Uncanny Valley”! E os “olhos do Expresso Polar”! kkk E olha, filme do mesmo diretor do Roger Rabbit, hein (Robert Zemeckis).

-eu podia jurar que o vilãozão Sweet Pete seria aquele vilão do Mickey (Bafo de Onça, em português, que até tem uma ponta numa das produções falsificadas), mas daí eles quebram nossa perna trazendo um Peter Pan velho! Tá, uma pergunta: desenhos não envelhecem – eles também não morrem… – como que Peter envelheceu? Voz de outro comediante: Will Arnett.

-são espertos em fazer piada com alguns clichês – como Tico querer limpar a privada antes de cair nela; querer que bichinhos fofinhos façam rap; fazer a gente desconfiar da policial;

-o banho do tio Patinhas é em moedinhas, claro!

-ponta do Paul Rudd como se ele fosse fazer um filme como “aunt man”.

-na convenção; o urso da Coca animado com o colega urso; Tico voltando ao look da série após tomar banho de loja do Indiana Jones (é claro que o visual dele é baseado no Indy, Spielberg foi produtor de vários desenhos, inclusive o deles e do Roger Rabbit); quando o capanga viking cai aparece Pumba versão CG, que também tinha a voz do Seth Rogen (aliás, nessa cena ele faz a voz de todos que aparecem).

-se como no universo do Roger a morte de um desenho seria água rás, uma borracha deve servir para tortura mesmo!

-os fogos de artifício formam uma carinha de Mickey! (hidden Mickey)

-engraçada a luta da policial com o chefe, que é feito de massinha

-após transformado, Pete fica com a cara de gato (na série o vilão era o Gatão, Gato Gordo), braço de Detona Ralph, pé de Transformer, calça do Mickey(?) e sei lá mais o quê.

-a piada dos passarinhos! No filme do Roger Rabbit, o coelho ganha pancada na cabeça, mas precisa de estrelas ; aqui os passarinhos são chamados ao trabalho!

-ok, algo meio bizarro foi a Geninha com Zipper (Bzum) e 42 filhos…mas fazer o quê

-créditos finais legais, a voz do Darkwing Duck é do Jim Cummings, que fez aqui e fazia a voz do Gato Gordo. Darkwing é o que resultou do cancelamento de uma série de pato espião, pois os direitos de “double-0” pertenciam a Ian Flemming (criador do 007).

No geral, o filme em si acaba não sendo tão original, assim como eles próprios apontam das tantas produções atuais. Aproveitam-se da nostalgia mesmo, então talvez um público novo nem vá gostar muito (e eu não recomendaria para crianças pequenas, apesar da indicação Livre), mas pra mim foi bem divertido tudo isso!

Mães e as indicações ao Oscar de melhor atriz

Este é para as mães que nestes últimos dois anos pelo menos, de pandemia, tiveram que olhar seus filhos 24h por dia, 7 dias da semana, e já se sentiram “sufocadas”, que era demais, e se sentiram culpadas, por não conseguirem ser a mãe que gostariam, acham que erraram, que estragaram tudo. Este é o post. Inclusive, sim, para mim mesma.

Quando digo que o cinema tem um timing perfeitamente incrível na minha vida, chegando como o Chapolin Colorado para me salvar, sendo o melhor amigo ou terapeuta, conseguindo me envolver de formas surpreendentes para dizer “nós te entendemos”, não é à toa. Depois de uma semana difícil, com minha pequerrucha com sintomas de gripe e assim afastada da escolinha por uma semana, eu me senti exaurida e meio triste/raivosa com tudo. Some-se a isso algumas lembranças, 2 anos atrás lá estava eu comemorando que depois de quase um mês internadas, recebemos alta do hospital após o AVC. Se eu já pensei que não sirvo para ser mãe? MUITAS vezes. E se já tive vontade de fugir? De ter um tempo para mim, para fazer algo “meu”? Claro que sim. E de quem é a voz serena que vem me dizer “está tudo bem se sentir assim”? Do maior amor da minha vida. (O cinema).

(!) Este blog não acredita em spoilers! Uma coisa é você saber dos fatos, outra é sentir na pele aquele momento e se emocionar.

A FILHA PERDIDA (The lost daughter/2021)***

Estreia na direção da atriz Maggie Gyllenhaal, que também credita como roteirista e tem duas filhas com alguma diferença de idade, creio que não por acaso, o filme trata de uma mãe professora universitária passando férias na Grécia, que rememora sobre certos sentimentos relacionados à maternidade vendo uma jovem lidando com a própria pequena filha. Tendo como grande trunfo as atuações, todas bem inseridas e intrigantes o suficiente, há o casamento perfeito entre a mãe no flashback e a atual, mais velha, conforme vamos descobrindo mais sobre aquela mulher e a razão de seus atos ou comportamento diante dos diversos outros personagens que lhe aparecem. Gostei da citação de Auden, eu, que já fiz Letras nem tinha conhecido ele mesmo estudando literatura inglesa; e que frase maravilhosa é “a atenção é a forma mais rara e pura de generosidade”. As cenas das crianças, que para qualquer pai ou não, é fácil de perceber como só queriam atenção, mas o alívio e a alegria de liberdade também compreensíveis como desejo maior daquela mãe. A fascinação pela jovem vivida por Dakota Johnson, ou admiração, encontrando alguém que talvez a entenda; a sociedade tem certas ideias ou ideais de maternidade que nem sempre são cabíveis – e um exemplo disso é até ilustrado por uma personagem feminina e mãe, Callie. Gosto da tensão crescente que a diretora consegue criar, entre a família e no enfrentamento do passado. E o roubo da boneca, semelhante à agressão da própria filha, pode ter outras interpretações, acho até que era a intenção deixar a gosto do espectador, mas para mim representa o desejo reprimido de reparação.

MADRES PARALELAS (2021) **

Depois de “A pele que habito” (2011) *** – e já faz 10 anos!, confesso que fiquei com certo medo de ver Almodóvar, mas não é que achei mais simples e sério este trabalho do diretor? Não por isso tenha menos impacto, pelo contrário, inclui aquela controvérsia com um certo humor negro, mas consegue ser maior do que sua narrativa principal. O que mais gostei foi mesmo essa ideia geral de que não importa o quanto tentemos esconder erros ou atos humanos. A mãe principal aqui é Janis, nome ganho por Janis Joplin, que ao passo em que trabalha para que descubram os fósseis de familiares perdidos pela guerra, lida com a situação que poderia ter saído de um novelão (troca de bebês), mas é muito mais trágica e fica ainda mais complicada no envolvimento erótico com a mãe biológica de sua cria, ainda mais depois de saber que a sua própria bebê acabou morrendo – xenti! Pois é, Almodóvar, né. As cores quentes típicas de sua fotografia continuam lá, Penélope Cruz continua linda, e uma cena que me chama a atenção é da atriz explicando o distanciamento do seu papel de mãe em prol da carreira – um tema recorrente dos últimos tempos, não? “a pior mãe do mundo?” Sinto que todas nós somos. Ainda prefiro outros trabalhos do diretor, mas continua em boa forma.

APRESENTANDO OS RICARDOS (Being the Ricardos/ 2021)**

É uma semana terrível para o pessoal que faz um dos programas televisivos mais populares e que ficou marcado na história dos EUA, “I love Lucy”. Já vi tantas referências a esse show sem nunca ter visto episódios (posso até citar logo a cena das uvas esmagadas que a linda mulher de Julia Roberts vê e racha o bico, enquanto come morangos), que pra mim foi muito interessante conhecer um pouco desses bastidores que eu não conhecia. A intérprete Lucille Ball enfrenta o possível escândalo da notícia de que ela é comunista, enquanto lida com a desconfiança de traição do marido Desi Arnaz, relembrando a escolha entre carreira séria ou família, e grávida de novo… Nessa semana tumultuosa vemos algumas obsessões de Lucy, criando as cenas à perfeição e sendo mordaz com diversos tipos. A produção é caprichada, realmente nos levando para esse universo, e a direção compassada e o roteiro afiado é do Aaron Sorkin, cuja competência já conhecemos de outras politicagens – mas não, não existiu aquele telefonema do Hoover! Pessoalmente, achei que teve alguns momentos que tomaram muito tempo sem necessidade, e a maquiagem na Nicole Kidman achei desnecessária, já que o Javier Bardem nem se parece em nada com o Desi, por exemplo, então pra quê, né.

***

E as indicações a melhor atriz? Bem, é muito difícil um ano em que eu consiga ver todos os indicados, então já vou dar meu voto agora, mesmo sem ter visto todos. Vi o trailer de “Os olhos de Tammy Faye” e não me interessei muito, acho que a Jessica Chastain tem chances, ela nunca ganhou um, tem uma carreira sólida com bons trabalhos e já foi indicada três vezes; fora que dizem que o pessoal gosta quando uma mulher bonita se transfigura para viver um personagem, que foi o que ela fez. “Spencer” conta um momento da vida da princesa Diana, tenho quase certeza de que vou acabar não vendo, assim como não vi “Jackie” (aliás, é o mesmo diretor!), mas todos elogiaram Kristen Stewart em sua composição, quem sabe a Academia não nos surpreenda, Kristen cresceu muito desde a saga Crepúsculo, com diversos papeis – e já premiaram novinhas antes, qual o brasileiro que não se lembra da Gwyneth Paltrow?

Desses outros três que vi, confere que Nicole Kidman conferiu os trejeitos, modo de olhar, voz, presença típica da sua personagem, mas será que vale Oscar? Penélope Cruz dá seu show de força, determinação e lágrimas, mas ela já tem um na estante. E a Olivia Collman tem um ainda fresquinho também, mas que atuação, hein? A fragilidade, a vulnerabilidade, mas também a independência, a força, a memória… Se eu ousasse me imaginar como uma atriz membro da Academia, eu ousaria também dar outro pra essa rainha.

***

Ah sim, mamães. O filme que mais me pegou lá no fundo foi “A filha perdida”, apesar do tema de “Mães Paralelas”. Eu recomendaria – ou talvez não, depende muito do seu caso. Imaginei se eu teria coragem de largar minha filhinha, preferindo uma carreira bem sucedida como escritora/roteirista ou qualquer outra coisa. Mas 3 anos, ou mais, só com o pai ou avós? Ai, ai. Não sei ainda se é certo continuarmos uma sociedade em que temos que escolher? Sabe? Este post era pra dizer que sim, entendo. Em nenhum desses filmes, para nenhuma dessas mulheres, a identidade delas precisa se restringir ao rótulo de “mãe”. Não precisamos nos sentirmos culpadas por querermos outras coisas também, e querermos inclusive um tempo para nós.

Aliás, essa temática de aceitar melhor quem se é, e as relações familiares, me parece que está ditando o tom das indicações este ano, ou não? Só impressão minha? Mas este já é assunto para o último post da minha maratona do Oscar, então vamos ver.

Festival de Brasília quem sabe ano que vem?

Faz quase dois meses que não registro nada por aqui e nem um postezinho da Mostra SP teve, mas às vezes eu consigo ser supersticiosa e venho aqui deixar registrado para minha alma futura, que só existirá virtualmente num metaverso, como neste momento sinto ares auspiciosos.

Só por causa do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília? Mah-omenus. Vejam só, quem quer acreditar, acredita, né. Depois de algumas semanas na bagunça da mudança, aqui estoy yo, pronta para a semana de Natal programada para incluir maratona de série e pelo menos uma comédia romântica natalina. E daí a gente deixa pro ano que vem os grandes filmes, cults, oscarizáveis etc, combinado?

Sim, mudei com minha pequena e meu John Lennon para Brasília. Foram alguns dias cansativos para separar e encaixotar tudo que dava pra levar – e ainda sobrou várias coisas que ainda vou buscar numa próxima viagem para São Paulo, porque tínhamos combinado um determinado número de caixas com uma transportadora e depois Leno levou o carro, abarrotado. E depois fui eu e a baby de avião, despachando mais 2 malas. Como a gente junta coisa, não? Isso porque tenho ganas de minimalismo e ser zero waste, porém ainda não consegui destralhar direito desta vez, é uma meta para o próximo ano.

Como por aqui é tudo 220v, preferimos adquirir alguns eletrodomésticos novos, e nessas últimas semanas estávamos atrás de algumas coisas, como sofá, que não tínhamos um bom mesmo. Fora procurar pediatra, e marcar algumas visitas em escolinhas porque no próximo ano pretendemos colocar a princesinha em uma. Acho que será o melhor para ela, fazer amizades, outras atividades, outros ambientes. E foram semanas de ir tirando das caixas, arrumando, limpando, um pouco a cada dia. Ufa. Parece fácil, mas sempre porque não é com a gente, né?

Mas taí, agora são apenas algumas poucas coisas aqui e ali, estamos praticamente estabelecidos; gosto que tem um parque verde muito próximo onde podemos ir à pé, tem muitas opções de hambúrgueres, tem playground e piscina no condomínio do prédio; é uma experiência para mais qualidade de vida. Vamos ver, dá aquela dúvida de quanto tempo vamos realmente acabar por aqui… E euzinha, como sempre, sou acompanhada por sinais do cinema.

Descobri que Brasília abriga o mais antigo cinema Drive-in na ativa (antes da pandemia funcionava também!) nesse meio tempo. E pouco depois de chegarmos, descubro os candangos. Não deu pra conferir este ano, nem é como o Festival do Rio, mas já fico animada, talvez um lume de esperança que eu possa ter o cinema de volta na minha vida? Porque sinto que faz tanto tempo que nos distanciamos… ah, sim, num desses finais de semana até conseguimos ir numa sessão de tela grande presencial, foi pra conferir “Ghostbusters – mais além”, que nem é grande coisa assim, mas foi num Espaço Itaú e depois de praticamente 2 anos sem pisar numa sala de cinema.

Sim, como podem perceber, os tempos andam mais favoráveis para eu deixar de lado minha rabugentisse costumeira e ficar feliz – apesar do alarmante estado ambiental da natureza deste planeta.

E esse tal filme do DiCaprio e mais um super elenco no Netflix? Claro que vou ver, e mais um bom sinal, como um aval dos deuses do cinema para essa grande mudança. Ano novo, vida nova, vem aí, estamos prontos. E muito bem acompanhados, com esperanças renovadas. Porque é um filme (aparentemente) de esperança para que mais pessoas se conscientizem sobre a gravidade da questão ambiental para nossas e as futuras vidas humanas.

Deuses do cinema me presenteando com nostalgia clássica, com o alternativo e o mainstream, me apoiando a acreditar que estou indo na direção certa – claro, como não? É a que sempre apontou meu coração. Eles me trazem esses presentes como reis magos, para um renascimento, de novo. Quem sabe eu passe realmente a me dedicar ao que gosto? Ficar mais tranquila, mais pura, escrever, com mais sabedoria, compartilhar experiências e incentivar outros a cuidarem de si e do planeta, com mais fé, acreditar em si e em tudo.

Talvez você esteja me lendo achando tudo isso uma grande bobagem. Mas quem sabe? Se não precisamos de grandes bobagens para podermos continuar em frente apesar de todo o caos? Depende de cada um. De todos. Eu vejo esses sinais, cada um pode escolher ver os seus. E assim desejo um ótimo final de ano e uma ótima nova vida, de novo, para todos.

P.S. e é aniversário do Spielberg! Meu padrinho imaginário. Também me dá esperanças na vida e no futuro que minha pequena tenha nascido num dia 18 como ele… Gratidão ao universo…!