Dia Mundial da Diabetes e “Assassinos da lua das flores”

Pois este ano que eu estava lembrando do dia, 14 de novembro, como estava em viagem acabei nem registrando nada. Alguns dias antes eu tinha pensado em conferir “Continência ao Amor” que está disponível no Netflix, a princípio insuspeitável de se tratar do diabetes, que só descobri ter a ver com o assunto quando uma influencer postou no Instagram uma lista de filmes com a temática. Ainda pretendo conferir, mas eis que sou tomada de surpresa por outro personagem diabético do qual nem suspeitava, no filme do Scorsese.

Deixei pra ver em tela grande numa data especial também, aniversário do meu eterno Leo, e aproveitando que ia estar “de boas”, de “férias” da pequena. Mais de 3 horas e meia de filme tem que ser em ocasiões especiais assim, temos que nos preparar antecipadamente.

Férias essas, a bem da verdade, um tanto quanto cansativas, porque eu peguei a semana para participar de um festival de roteiros em Porto Alegre, e mais sobre isso deve vir num post compilado do que pude ver por lá. Aliás, imagino que vou tirar uma semana em dezembro para “desovar” alguns posts que ficaram por sair para ganharem a luz da world wide web. Por agora, concentro-me no filme que com certeza arrebatará indicações ao Oscar (já me adiantando para futura maratona anual…).

Assim que pisei os pés para fora do aeroporto de Porto Alegre começou a chover, e fui ver na previsão do tempo que aquela semana choveria todos os dias. Acabei indo de uber para o hotel e depois também para o cinema mais próximo onde pude encontrar uma sala em que estivesse passando, seria a do Shopping Moinhos, lugar muito chique que me pareceu ter sido construído consonante ao público do hotel Hilton grudado, com uma série de homens de preto na porta (depois me perguntei se estavam à espera de algum convidado importante?). Eu tinha um guarda-chuva, fui na farmácia comprar um resfenol, fui em um mercadinho próximo comprar água, passei no café e acabei com uma mini ciabatta com rúcula no recheio e um chá gelado tropical sem açúcar. Sim, comprei pipoca, para me “alimentar” durante esse tempo de tela, embora eu tenha sempre que relembrar meu próprio tamanho: uma pipoca grande é um pouco demais pra mim mesmo, depois fiquei comendo essa pipoca em outras madrugadas.

Pois é, tenho diabetes, mas a essa pipoca eu não resisti. Sempre levo pelo menos um chocolatinho pras sessões (adoro aquelas barrinhas fininhas de Kinder!), não gosto de fazer muito barulho comendo no cinema, mas sabia que ia ficar mais de quatro horas sem nada se não fosse pelas indulgências. E no transcorrer, fiquei imaginando como deveria ser complicado na época, existia muito menos conhecimento sobre a doença do que há hoje em dia. Acertado quando Ernest aponta para o doutor alguma comida que a esposa não falou, quantas vezes nós diabéticos não somos apontados por outros sobre alimentos que não deveríamos ingerir? Muitas vezes a intenção da pessoa é boa (mas que é um saco, é). A bem da verdade, sempre imaginava que antigamente as pessoas nem eram diagnosticadas – ainda hoje acredito que há muita gente por aí que tem a condição e nem desconfia, pois não há sinais debilitantes tão gritantes, pelo menos não por um bom tempo. Daí me surpreendi que Mollie já sabe que tem, os médicos lhe arranjam a recém-criada insulina (e realmente na época advinda de animais, hoje já é fabricada sinteticamente).

Ou seja, sim, aprovo o realismo desse retrato, talvez isso se dê porque os personagens são baseados em pessoas reais, assim como o caso dos assassinatos do povo Osage, o grande tema do filme. É ótimo que ao dar contexto à condição de “novos ricos” da região, Scorsese tenha optado por além de um didatismo convencional no início e trazido a efusão com o petróleo numa câmera lenta e bela fotografia.

Por vários momentos é claro que se beneficiam da localização e as paisagens, e a construção dos cenários, os figurinos especiais para os Osage contribuem imensamente para sentirmos essa época, vide a reconstituição de uma cerimônia de casamento. É muito especial a cena da morte de uma senhora, nos deixando vivenciar um pouco da espiritualidade desse povo, presenciando o respeito que a obra procura trazer por suas tradições e própria existência.

Fiquei sabendo que mesmo depois de já ter trabalhado na história por alguns anos, decidiram mudar o foco do detetive (nesta versão vivido por Jesse Plemmons, adequadamente nos fazendo sentir que quer ajudar, mas calmamente inquisidor), para o do personagem ambíguo do Ernest (Leo DiCaprio), que é meio estúpido, em certos pontos até vulnerável, mas sabe que é melhor aproveitar o apadrinhamento do tio William Hale (Robert De Niro), um lobo na pele de cordeiro, fazendeiro rico ardiloso que se finge amigo, mas é quem realmente está por trás dos crimes cometidos contra o povo indígena.

A tensão crescente só poderia dar certo com um diretor do calibre de Scorsese – um dos últimos mestres do cinema ainda vivos, não? A esta altura do campeonato, nem tem como produzir algo ruim, ele sabe o que quer com suas cenas, o que e como tirar de seus atores, entende muito bem de conflitos em cena. De modo que, apesar da longa duração, é pouco sentida uma “enrolação” na trama, tudo vai degringolando para complicações com Ernest se envolvendo em golpes cada vez mais hediondos, até se dar conta da gravidade num intenso momento após a explosão de uma casa.

Como todos os atores são muito bons, não há muitos momentos desperdiçados, seja em embates de olhar, do clima criado também pelo ambiente (e o que é aquela gente toda naquela sala escura quando Ernest sai da prisão?), até por silêncios. Adoro a cena em que Mollie diz para Ernest simplesmente parar e ouvir a tempestade; e, claro, ao final, quando ele já tinha confessado tanta coisa, ela lhe pergunta se foi apenas insulina.

No fundo, no fundo, eu esperava que ele fosse completamente honesto, porque de algum modo sentimos um certo tipo de “amor” ali, mas ela já nunca mais poderia confiar nele. E Scorsese não precisa explicar, embora ele dê seu aparecer bem lá no final de tudo mesmo, alterando abruptamente o tom meio de “bordão” teatral, para que as audiências modernas compreendam que apesar de ele próprio ser um realizador branco, existe sim o registro, a empatia e o respeito, devidos para este e tantos outros povos na história injustiçados.

Claro que o baixinho não deve enviar uma indígena em seu lugar, à la Marlon Brando, mas desde já torço no Oscar pela Lily Gladstone, que sisuda, contida, firme, é uma joia que só acrescenta ao brilhante todo.

Festinha Yellow Submarine e as indicações ao Oscar

Vem chegando o final já do primeiro mês do ano e na verdade eu estive me entretendo com outra empreitada em vez dos filmes. Minha filhinha fez 3 anos de idade e quis preparar uma festinha para ela convidando vários coleguinhas da escolinha dela, já que nos outros anos não deu, devido à pandemia. O tema foi fundo do mar, mas incluindo submarino amarelo: em dezembro eu fiz o submarino amarelo de papelão (cortando de uma caixa de TV, pintando), com janelinhas para o pessoal tirar foto. Eu também fiz um baú de tesouro com uma caixa de papelão (fazendo uma tampa redonda, colando evas e pintando as frestas), que continha as lembrancinhas da festa com os dizeres “Nosso maior tesouro é sua presença!”. Na “área dos tesouros” ficou um sofazinho para deixar os presentinhos e esse baú. O bolo foi fake (o de verdade foi bolo gelado já embrulhadinho, igual àquelas festas infantis de antigamente), com simulação de ondas feitas de papel crepom azul e branco, algumas algas neon e os 4 bonequinhos Little People dos Beatles vestidos como no curta animado do Yellow Submarine. Teve bauzinho com moedinhas de chocolate e tortuguitas sobre areia de paçoca na mesa do bolo, um painel de arco-íris de madeira atrás. Teve tacinha no centro de mesa com pérolas de açúcar e barquinho de papel levando guardanapo e com bandeirinha de “gratidão”. Teve piscininha inflável com peixinhos para pescar dentro, momento de colar os tentáculos no polvo, colar os cavalos marinhos no espelho e brincar de estátua com a tartaruga. Teve crianças decorando biscoitos em formato de estrela do mar e peixinho, distribuição de bolhinhas de sabão, e pula-pula e parquinho. Eu usei uma camiseta com os diferentes cortes de cabelo dos Beatles, azul lembrando o capitão do curta animado, com chapéu de capitão.

Isso tudo para descrever a diversão – e pelo quê meu ser estava tomado desde dezembro e pelo mês quase todo. Deu trabalho? Creio que sim, mas eu gosto muito de pensar em maneiras criativas de celebrar. Nem sempre vamos fazer uma festinha, já que ela nasceu na época das férias escolares, e quando minha baby ficar maior, muito provavelmente ela é quem vai escolher o tema da festa (se possível de realizar).

E com tudo isso, eu preferi algumas coisa para dispersar o pensamento de quando estivesse muito cansada de pensar na festinha. Terminei a primeira temporada de “Euphoria”, que não tinha visto ainda. E fiquei impressionada, Zendaya realmente se desafiou a algo bem diferente do seu costume, adorei conhecer melhor a personagem da Jules (não o que eu tinha imaginado pelo primeiro episódio), e é envolvente como a série se desenvolve. A cada episódio conhecemos melhor sobre os desejos ou aflições de um dos jovens, o que inclui questões sexuais, afetivas, drogas, claro, outras obsessões. Torcemos para a Rue sair do buraco, para perceber como o amigo Fez lhe quer bem, para que Jules não se machuque de verdade, para que o Nate encontre seu carma um dia. E me espantei com a depressão da Rue chegando a fazê-la ficar doente por não ir ao banheiro. Acho que dá pra encarar uma segunda temporada – se bem que teve gente reclamando que é mais do mesmo.

Não sei se foi por influência da Rue, aliás, mas acabei também vendo 3 temporadas de um reality show! (Euzinha, que nunca, nunquinha mesmo, vejo realities – nem Casa dos Artistas, nem BBB? Nunca, jamais!). Comecei por curiosidade, pensei “como será que é a vida de uma pessoa rica em Los Angeles?”, e acabei gostando de ver as extravagâncias de um grupo de asiáticos ricaços dessa parte da Califórnia, “O império da ostentação”. Coisas que eu nem conseguia imaginar, sabe? Quer dizer, eu nunca fui muito ligada em marcas, joias, e este é um mundo em que disputam pela melhor festa, tem muita fofoca (não tem mais o que fazer?) e rostos sobreviventes de procedimentos diversos. Festa com lhama para um menino de um ano escolher um animal de estimação, aliás, festa de 1 ano com máquina para pegar bolsas de marca. O modelo pegador que perde um carro 10 minutos depois de comprá-lo, uma empresária que namorava um ex-Power Ranger, a menina fashionista que conseguiria ficar o dia inteiro de uma semana fazendo compras, a ricaça sem noção de trânsito, uma DJ cuja mãe pede para ela mostrar mais dos seios, coleções de sapatos, fotos ganhando fama, Dancing with the stars, rivalidade na semana da moda em Paris… sempre tem algo inusitado, mas agora acabou.

Agora, saíram já as indicações ao Oscar. Ah, sim, aquela época do ano que vocês já sabem é uma maratona e diversão minha pessoal todos os anos. Se bem que… sei lá, esta ano me parece (talvez seja só impressão) que metade da lista é meio medíocre e eu não estou muito animada. Desde já estou querendo ver somente os indicados a melhor filme, e olhe lá. Alguns títulos eu vou ter que puxar da memória se quiser tecer algum comentário, ainda que breve, por aqui. Porque não pretendo rever nenhum – mas será que ainda lembro, por exemplo, da fotografia de “Elvis”? Hmm. Vou conferir primeiro os filmes chatos, eu não sou muito fã de filmes de guerra e a Academia sempre inclui um desses na lista… Vou deixar “Tár” por último, só porque Scorsese disse que renovou a fé dele no cinema.

Desde já vou chutar (sem base ou pesquisa alguma) melhor atriz para a Michelle Yeoh – só porque acho que ela merece esse reconhecimento após tantos filmes; melhor diretor para o Spielberg – só porque me parece que ele disse “e se eu morrer amanhã, que filme vai contar minha história?” e ele é pra mim um dos melhores na história do cinema; melhor coadjuvante para Ke Huy Quan, só porque sou millennial e adoro “Goonies”; melhor canção para “RRR”, só porque é a única categoria para a qual concorre; melhor filme internacional para “Argentina, 1985” só para torcer pelos hermanos como na Copa; melhores efeitos visuais para “Avatar” só porque o James Cameron ficou mais de 10 anos fazendo isso; melhor animação para “Pinóquio do Guillermo del Toro” embora exista a teoria de que a Disney domina a Academia (se bem que me diverti mais com “Red” e até “A fera do mar” mesmo). Ah, e finalmente algo ótimo neste ano, um prêmio para nosso eterno Marty McFly, Michael J. Fox.

Então vamos lá para nossa pequena maratona, com um pouco menos de fôlego este ano.

Mães e as indicações ao Oscar de melhor atriz

Este é para as mães que nestes últimos dois anos pelo menos, de pandemia, tiveram que olhar seus filhos 24h por dia, 7 dias da semana, e já se sentiram “sufocadas”, que era demais, e se sentiram culpadas, por não conseguirem ser a mãe que gostariam, acham que erraram, que estragaram tudo. Este é o post. Inclusive, sim, para mim mesma.

Quando digo que o cinema tem um timing perfeitamente incrível na minha vida, chegando como o Chapolin Colorado para me salvar, sendo o melhor amigo ou terapeuta, conseguindo me envolver de formas surpreendentes para dizer “nós te entendemos”, não é à toa. Depois de uma semana difícil, com minha pequerrucha com sintomas de gripe e assim afastada da escolinha por uma semana, eu me senti exaurida e meio triste/raivosa com tudo. Some-se a isso algumas lembranças, 2 anos atrás lá estava eu comemorando que depois de quase um mês internadas, recebemos alta do hospital após o AVC. Se eu já pensei que não sirvo para ser mãe? MUITAS vezes. E se já tive vontade de fugir? De ter um tempo para mim, para fazer algo “meu”? Claro que sim. E de quem é a voz serena que vem me dizer “está tudo bem se sentir assim”? Do maior amor da minha vida. (O cinema).

(!) Este blog não acredita em spoilers! Uma coisa é você saber dos fatos, outra é sentir na pele aquele momento e se emocionar.

A FILHA PERDIDA (The lost daughter/2021)***

Estreia na direção da atriz Maggie Gyllenhaal, que também credita como roteirista e tem duas filhas com alguma diferença de idade, creio que não por acaso, o filme trata de uma mãe professora universitária passando férias na Grécia, que rememora sobre certos sentimentos relacionados à maternidade vendo uma jovem lidando com a própria pequena filha. Tendo como grande trunfo as atuações, todas bem inseridas e intrigantes o suficiente, há o casamento perfeito entre a mãe no flashback e a atual, mais velha, conforme vamos descobrindo mais sobre aquela mulher e a razão de seus atos ou comportamento diante dos diversos outros personagens que lhe aparecem. Gostei da citação de Auden, eu, que já fiz Letras nem tinha conhecido ele mesmo estudando literatura inglesa; e que frase maravilhosa é “a atenção é a forma mais rara e pura de generosidade”. As cenas das crianças, que para qualquer pai ou não, é fácil de perceber como só queriam atenção, mas o alívio e a alegria de liberdade também compreensíveis como desejo maior daquela mãe. A fascinação pela jovem vivida por Dakota Johnson, ou admiração, encontrando alguém que talvez a entenda; a sociedade tem certas ideias ou ideais de maternidade que nem sempre são cabíveis – e um exemplo disso é até ilustrado por uma personagem feminina e mãe, Callie. Gosto da tensão crescente que a diretora consegue criar, entre a família e no enfrentamento do passado. E o roubo da boneca, semelhante à agressão da própria filha, pode ter outras interpretações, acho até que era a intenção deixar a gosto do espectador, mas para mim representa o desejo reprimido de reparação.

MADRES PARALELAS (2021) **

Depois de “A pele que habito” (2011) *** – e já faz 10 anos!, confesso que fiquei com certo medo de ver Almodóvar, mas não é que achei mais simples e sério este trabalho do diretor? Não por isso tenha menos impacto, pelo contrário, inclui aquela controvérsia com um certo humor negro, mas consegue ser maior do que sua narrativa principal. O que mais gostei foi mesmo essa ideia geral de que não importa o quanto tentemos esconder erros ou atos humanos. A mãe principal aqui é Janis, nome ganho por Janis Joplin, que ao passo em que trabalha para que descubram os fósseis de familiares perdidos pela guerra, lida com a situação que poderia ter saído de um novelão (troca de bebês), mas é muito mais trágica e fica ainda mais complicada no envolvimento erótico com a mãe biológica de sua cria, ainda mais depois de saber que a sua própria bebê acabou morrendo – xenti! Pois é, Almodóvar, né. As cores quentes típicas de sua fotografia continuam lá, Penélope Cruz continua linda, e uma cena que me chama a atenção é da atriz explicando o distanciamento do seu papel de mãe em prol da carreira – um tema recorrente dos últimos tempos, não? “a pior mãe do mundo?” Sinto que todas nós somos. Ainda prefiro outros trabalhos do diretor, mas continua em boa forma.

APRESENTANDO OS RICARDOS (Being the Ricardos/ 2021)**

É uma semana terrível para o pessoal que faz um dos programas televisivos mais populares e que ficou marcado na história dos EUA, “I love Lucy”. Já vi tantas referências a esse show sem nunca ter visto episódios (posso até citar logo a cena das uvas esmagadas que a linda mulher de Julia Roberts vê e racha o bico, enquanto come morangos), que pra mim foi muito interessante conhecer um pouco desses bastidores que eu não conhecia. A intérprete Lucille Ball enfrenta o possível escândalo da notícia de que ela é comunista, enquanto lida com a desconfiança de traição do marido Desi Arnaz, relembrando a escolha entre carreira séria ou família, e grávida de novo… Nessa semana tumultuosa vemos algumas obsessões de Lucy, criando as cenas à perfeição e sendo mordaz com diversos tipos. A produção é caprichada, realmente nos levando para esse universo, e a direção compassada e o roteiro afiado é do Aaron Sorkin, cuja competência já conhecemos de outras politicagens – mas não, não existiu aquele telefonema do Hoover! Pessoalmente, achei que teve alguns momentos que tomaram muito tempo sem necessidade, e a maquiagem na Nicole Kidman achei desnecessária, já que o Javier Bardem nem se parece em nada com o Desi, por exemplo, então pra quê, né.

***

E as indicações a melhor atriz? Bem, é muito difícil um ano em que eu consiga ver todos os indicados, então já vou dar meu voto agora, mesmo sem ter visto todos. Vi o trailer de “Os olhos de Tammy Faye” e não me interessei muito, acho que a Jessica Chastain tem chances, ela nunca ganhou um, tem uma carreira sólida com bons trabalhos e já foi indicada três vezes; fora que dizem que o pessoal gosta quando uma mulher bonita se transfigura para viver um personagem, que foi o que ela fez. “Spencer” conta um momento da vida da princesa Diana, tenho quase certeza de que vou acabar não vendo, assim como não vi “Jackie” (aliás, é o mesmo diretor!), mas todos elogiaram Kristen Stewart em sua composição, quem sabe a Academia não nos surpreenda, Kristen cresceu muito desde a saga Crepúsculo, com diversos papeis – e já premiaram novinhas antes, qual o brasileiro que não se lembra da Gwyneth Paltrow?

Desses outros três que vi, confere que Nicole Kidman conferiu os trejeitos, modo de olhar, voz, presença típica da sua personagem, mas será que vale Oscar? Penélope Cruz dá seu show de força, determinação e lágrimas, mas ela já tem um na estante. E a Olivia Collman tem um ainda fresquinho também, mas que atuação, hein? A fragilidade, a vulnerabilidade, mas também a independência, a força, a memória… Se eu ousasse me imaginar como uma atriz membro da Academia, eu ousaria também dar outro pra essa rainha.

***

Ah sim, mamães. O filme que mais me pegou lá no fundo foi “A filha perdida”, apesar do tema de “Mães Paralelas”. Eu recomendaria – ou talvez não, depende muito do seu caso. Imaginei se eu teria coragem de largar minha filhinha, preferindo uma carreira bem sucedida como escritora/roteirista ou qualquer outra coisa. Mas 3 anos, ou mais, só com o pai ou avós? Ai, ai. Não sei ainda se é certo continuarmos uma sociedade em que temos que escolher? Sabe? Este post era pra dizer que sim, entendo. Em nenhum desses filmes, para nenhuma dessas mulheres, a identidade delas precisa se restringir ao rótulo de “mãe”. Não precisamos nos sentirmos culpadas por querermos outras coisas também, e querermos inclusive um tempo para nós.

Aliás, essa temática de aceitar melhor quem se é, e as relações familiares, me parece que está ditando o tom das indicações este ano, ou não? Só impressão minha? Mas este já é assunto para o último post da minha maratona do Oscar, então vamos ver.

Como seria o seu filme sobre Corona vírus?

“Um vírus novinho em folha, fresquinho, pra você” – é uma frase que o personagem de Dustin Hoffman faz a determinado momento para seu superior no exército, vivido pelo Morgan Freeman. No filme Epidemia (Outbreak / 1995)**, o doutor Sam de Hoffman está querendo encontrar a causa para gerar um “antídoto” para o que ele acha ainda ser um vírus novo, mas que na verdade foi um caso abafado muitos anos antes para ser guardado como arma biológica. Até que a narrativa vai se desdobrando para prender nossa atenção, primeiro o macaquinho hospedeiro é contrabandeado e depois solto em uma floresta qualquer, as pessoas ficam doentes, a gente se pergunta como o doutor vai conseguir chegar até esse bendito macaco, tem personagem próximo dele que também fica infectado (a ex-esposa vivida por Rene Russo) gerando a urgência para realmente conseguir uma cura, tem até acrobacias com helicóptero e autoridades no poder para driblar e evitar que uma cidade inteira seja aniquilada. No filme, as pessoas doentes ficam num aspecto moribundo cheias de manchas e furúnculos de sangue – até para acentuar a gravidade dessa doença; elas tem apenas 2 dias antes de morrer e o vírus a princípio não se espalha pelo ar, até sofrer mutação e se propagar não só pela saliva, mas com espirros ou tosse, como uma gripe comum.

Acho que nesta época de corona vírus vários filmes apocalípticos vieram à mente das pessoas, não? Qual foi o seu? Com as ordens de quarentena e isolamento, ver ruas que antes eram super movimentadas se esvaziarem e um país inteiro ter que parar (a Itália, quem diria? O país do papa… foi realmente uma cena de cinema vê-lo caminhar pelas ruas vazias). É claro que esse filme do diretor Wolfgang Petersen tem um clima de catástrofe tenso e angústia bem mais exacerbada, mas a cidadezinha dos EUA é isolada pelos militares e os cidadãos devem ficar em casa, quem tem sintomas de tosse e febre deve se apresentar para exames… sempre tem – neste e em outros muitos filmes – alguma cena com a qual a gente pode acabar se relacionando e nos pegarmos surpresos por estarmos vivendo um momento quase igual na realidade! Os criadores da série da família amarela Os Simpsons que o digam.

Pois é, aqui no blog também eu tenho uma categoria chamada “Cenas do filminho da minha vida” que é algo assim: algum momento da minha vida real que coincide com algum momento, cena, de algum filme ou série por aí.

É até engraçado eu parar para pensar que já estava “em isolamento” antes mesmo deste caso virar uma pandemia. Como eu estava grávida e tive minha filhinha no início de janeiro, ainda estou naquele período inicial em que a dedicação total é ao bebê. Principalmente porque passamos praticamente fevereiro inteiro no hospital. Eu só saí algumas vezes para ir ao médico, farmácia ou super-mercado – ei, quarentena! Porque a bebê até 3 meses também não pode ficar exposta por aí, por não ter anticorpos suficientes… hmmm O que a geral, principalmente o pessoal de mais idade, está vivendo agora é o que eu já venho vivendo, cenas do filminho da minha vida…

E daí a gente começa a pensar diversas coisas e elaborar mais suposições para esta nossa vida em sociedade na Terra, né? Fiquei pensando que no Japão a contenção não deve ter dado tanto problema, pois eles já estão acostumados a usar máscaras e se cumprimentam de longe… Que euzinha não tenho problema algum com isolamento, já vivi a adolescência (14 aos 17 anos) num lugar sem muito convívio social, praticamente só minha família, estudava em casa. Assim, eu já imaginei como seria, como no filme A Rede (1996)**, a personagem de Sandra Bullock conseguindo viver só em casa, na base de entregas e sem muitos problemas com isso! Na época eu tinha umas fitas de vídeo-cassete e um serviço de canal pago para ver filmes – e hoje em dia, já foram desenvolvidos muito bem os serviços de streaming… Hoje em dia, até cerimônias religiosas foram restritas, mas podemos manter a fé “à distância”. Podemos comprar um livro, ou qualquer outra coisa, pela internet. E as conexões pela internet se desenvolveram desde então, hoje podemos ter contato com nossos amigos e familiares muito mais facilmente, por um aplicativo no celular – acho que esta é a hora mais que apropriada para fazermos bom uso disso!

Fiquei pensando em quantos serviços no mundo na verdade podem ser feitos de casa. Claro que tem muitos serviços que necessitam de pessoas na rua – quem vai produzir os alimentos e itens básicos, quem vai entregá-los? E os serviços de saúde, segurança, fiscalização, entre outros. Mas fiquei pensando em como até seria melhor que houvesse mais revezamento de funcionários nas empresas e serviços, não só para evitar aglomerações, evitar picos no trânsito e transporte público, mas pra oferecer também horários mais flexíveis para que os seres humanos pudessem ser mais humanos, e ter um tempo para a família, os amigos, algo que lhe dê prazer. Mesmo que os salários fossem menores, mas teríamos menos desemprego também? E se os preços também acabassem se ajustando para esses salários menores?

Na verdade, tudo isso eu já tinha pensado antes. E eu já tinha pensado esse filme. Algo que acontecesse para reinventar a sociedade. Para darmos mais valor a determinados trabalhos – como o pessoal de saúde, educadores para informação e pesquisa séria e correta, quem garante saneamento, ei, lixeiros!, o mínimo para sobrevivermos, são indispensáveis; e menos valor a outros – como o pessoal de entretenimento e esportes, políticos, podem ter uma renda tão discrepante!? Uma divisão melhor de renda e de bens, condições dignas de vida para todos.

Parece até um passo para trás, mas incluiria algo que faria muito bem para nossa sobrevivência e evolução: priorização das trocas locais, produção orgânica e atendimento mais rápido e próximo das necessidades da população, em pequenos grupos ou comunidades. Algo que faria muito bem ao meio ambiente, sociedades mais sustentáveis e menos pegada de carbono. Alimentação mais saudável, de frutas e vegetais; aproveitar melhor a água da chuva e a energia do sol; e se todos aprendessem a gerar menos ou zero lixo?

Claro que uma grande mudança, assim em âmbito geral, levaria muitas vidas – quantas pessoas no mundo estão impossibilitadas, mesmo agora, de uma higiene adequada ou recursos mínimos para viver? Seria como uma “limpa” da população mundial, desculpem se estou sendo radical e insensível, mas é o meu filme. É um mal que seria necessário para criar uma sociedade realmente melhor. E ficariam pessoas solidárias, que pensam no próximo, pois unidos sobreviveriam – seja indo ao mercado no lugar de outro, como já está acontecendo, ou oferecendo algo, partilhando algo, salvando mais uma vida por não esperar nada em troca, apenas juntos vivermos e compartilharmos esta Terra.

Pois esse seria o meu filme.

Não seria de conspiração política – como poderia ser agora, por motivos econômicos? Esse vírus já existia e agora decidiram usá-lo? Me ocorre também que pensar em fazer filmes agora talvez poderia incluir um futuro de atores digitais, como a Robin Wright em Congresso Futurista (2013)***? Como se darão as produções num pior dos casos de termos que viver eternamente em isolamento? Vamos viver das milhares de produções que já foram feitas ao longo da história da humanidade? Sim, temos grandes filmes na história do cinema que daria pra preencher anos de vida! Mas não teríamos mais a experiência de uma sala de cinema, o sentimento coletivo de ver um filme, um show, uma peça de teatro, compartilhando com outros?

Claro que na vida real não acredito que vamos chegar a esses extremos. Mas como é que vamos enfrentar esta crise mundial? E o que vamos tirar de tudo isso? Será que simplesmente vamos querer voltar à “vida comum” (capitalista, consumista, egoísta?) ou poderíamos aproveitar este acontecimento para refletirmos, mudarmos, fazermos algo? Lembrando que o momento pede a colaboração de cada um; mais do que nunca, vemos na realidade a velha máxima de que cada um fazendo a sua parte é o que vai fazer a diferença.

O meu filme seria um filme de ficção do fim do mundo, um pouco filosófico (nem tanto Malick – acho que já desisti dele desde A árvore da vida…), mas otimista.

E o seu?

Um episódio de BoJack para as mamães no puerpério!

Já faz um bom tempo em que eu acho que algumas obras audiovisuais chegam para mim exatamente na hora em que preciso encontrá-las, como se o universo conspirasse comigo pelo cinema ou pelas séries, já que eu gosto tanto disso… E recentemente eu tive minha primeira gravidez, tendo nascido a minha primeira baby.

Sabe, tem várias coisas que eu não fazia ideia, acho que na questão de ter filhos, tem coisa que a gente só descobre passando pela experiência mesmo. Eu fui sentindo e vivendo cada fase procurando na internet pra saber se era normal, não tive “desejos” loucos, tive algum enjoo, mas não saí correndo pra vomitar tanto como mostram os filmes ou séries – geralmente mostram a gravidez e o parto de uma forma que não é bem assim na realidade mesmo… Mas eu tive quase de tudo que uma gravidez tem direito, dor nas costas, azia, refluxo, inchaço nas pernas, vontade de fazer xixi toda hora, incontinência urinária, insônia, falta de ar, pesadelos!

E pouca gente também sabe sobre a fase imediatamente pós-parto que a mulher passa, o puerpério, que pode incluir ali um sentimento de tristeza ou “baby blues”; além das dores pós-cirurgia, no caso da cesárea; hormônios e nervos à flor da pele que faz a gente chorar às vezes sem nem saber por quê. No meu caso em particular foi um pouco pior, pois voltamos ao hospital, teve algo inesperado e passamos dias na UTI e mais alguns internados…

Daí, esses dias eu finalmente estou vendo a última temporada da série que vim a gostar de acompanhar e acabou, BoJack Horseman. E que episódio fantástico foi o segundo da sexta temporada! Até poderia ser o reflexo das mães do nosso tempo… ou das mulheres que acabaram tendo que lidar com tanta coisa, trabalhar fora e cuidar da casa, que acabam ficando sobrecarregadas. Tem uma parte que é bem satírica disso, do encontro das mulheres que “fazem de tudo”.

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O episódio se centra no personagem da Princesa Carolyn, que ficou a temporada anterior inteira atrás de um bebê, porque ela decidiu adotar, apesar de não ter um parceiro e depois de alguns abortos. Só que ela é aquele tipo de mulher que se dedica muito ao trabalho, um trabalho que pode envolver ter que cuidar de muitas coisas diferentes; a chegada de uma nova vida, principalmente por ser ainda recém-nascido, se prova muito mais desafiadora do que ela podia prever.

Como é um desenho animado, eles brincam com a imagem, fazendo ela se desdobrar em várias – ou vemos vários “clones” dela fazendo diversas atividades ao mesmo tempo: trocando fraldas, colocando no bebê conforto, dando leite, brincando, acalentando e protegendo o bebê – e como é um porco espinho, ela tem que usar luvas de forno para não se furar! Hahaha. Também tem vários itens de bebê agora espalhados pelo apartamento, roupas, brinquedos, livros sobre criar os filhos. Quando chega a noite, ela só tem forças para cair na cama; dali a pouco o bebê está chorando de novo…

A organização do evento para as mulheres que conseguem lidar com tudo é outra bagunça na cabeça, e haja memória (e o jogo de palavras dos roteiristas!) – água Fiji para os Fugee, sem queijo fetta pra Greta (Gerwish) nem brie pra Brie (Larson)! As babás não ficam e ainda bem que tem o Todd à disposição, pois quando vai buscar seu “cliente favorito” Mr. Peanutbutter, que foi visitar BoJack na clínica de reabilitação, ela acaba sendo internada sem perceber, até recobrar as energias!

Mr. Peanutbutter está tendo uma crise de remorso por ter traído a pug Pickles (que fica super contente quando ele chega em casa, assim como os cães vem pulando na gente quando chegamos em casa) e pede para o diretor Flea Daniels (voz do Lee Daniels!), que já está trabalhando em outro filme com a Chloe (voz da Grace Moretz!), editar o filme mais recente baseado num cartão de aniversário, mas Princesa Carolyn também precisa editá-lo para que tenha mais força feminina – “menos ‘man’ e mais Leslie Mann”; daí o diretor desiste do projeto. E nesses dias em que esteve com Todd, como chamavam a bebê de “Projeto sem título da Princesa Carolyn”, porque a mãe não consegue se decidir por um nome, ele acaba vendendo como uma série para TV depois de dar as respostas certas ehe, mas vem bem a calhar para Carolyn vender o material do Mr. Peanutbutter e incluindo até a tal de Karen Kitada – que uma vez já foi muito requisitada, mas acabou fazendo uma pausa para a maternidade e daí ninguém queria mais trabalhar com ela!

Finalmente, depois dessa confusão, Carolyn perde o baile de gala evento das mulheres, mas acaba desabafando com Vanessa Gekko, sua antiga “arqui-inimiga”. E esse diálogo seria o exemplo típico do que uma mãe no puerpério poderia pensar – embora Carolyn não tenha passado pelos 9 meses de gestação: ela desabafa que não sabe se realmente ama a sua filha. Porque ela adora o trabalho e isso é algo que ela entende, e embora ela “ame”, não tem certeza. Vanessa faz uma comparação que a gata consegue entender: quando tem algum projeto de algum cliente, mesmo que ela não goste do projeto, ela faz o melhor que pode a cada dia, para que o projeto sobreviva, porque esse é o trabalho dela; então imagine que a bebê é sua nova cliente.

Na vida real, é bem verdade que uma mãe possa passar por isso. Antigamente ninguém falava isso, todo mundo só falava no grande “amor de mãe”, mas nem sempre a mãe sente de imediato aquele amor grandioso e incondicional pelo seu filho, seu bebê. E isso é normal. Tudo bem não sentir o que todo mundo lá fora acha que você precisa sentir. Tudo bem não saber o que fazer às vezes. Tudo bem não dar conta. Tudo bem passar dias só cuidando da bebê, sem conseguir fazer outros afazeres domésticos, ou pensar no trabalho, ou lidar com todas as visitas ou todos os palpites que todo mundo dá. Tudo bem chorar. Todo dia, a qualquer hora. Cada mãe enfrenta circunstâncias diferentes, cada bebê é um bebê (mesmo que seja a mesma mãe!). O que a gente pode é só fazer o melhor que a gente consegue, a cada dia, na tentativa de fazer essa nova vida sobreviver.

E, na verdade, acho que isso pode ser expandido como um conceito geral que essa série animada tem a coragem de jogar na nossa cara, desta sociedade que se preocupa tanto com a imagem e é super-informada, mas perdida. Que está tudo bem. Nós somos humanos e nós podemos sentir tristeza, efêmeras alegrias, sentir dificuldades e errar. A vida não é um comercial de margarina – ou uma série de TV dos anos 90 em que tudo dá certo no final do dia, ou a “vida perfeita” daquela celebridade feliz no Instagram. A gente aprende, a gente muda – ou tenta mudar, pelo menos – e a gente continua. Tudo bem não “cumprirmos” com as expectativas, com o que os outros esperam ou que achamos que exigem de nós. Todos os personagens de BoJack tem que lidar com as suas falhas, com momentos de fraqueza, com a tentativa de fazer algo diferente e com a tentativa de sobreviver, um dia de cada vez.

Agora imagine euzinha, nessa fase delicada do puerpério, ter que ir pra UTI, enfrentar a enorme culpa de ter feito algo errado ou ter deixado acontecer. É claro que chorei. Ou mesmo antes disso, nos primeiros dias após o parto, todo aquele cansaço físico e lidar com coisas que eu achava que tinha que ser e não foram; e eu nunca quis ter filhos, agora já “cumpri” essa missão – só que não? Sim, chorei. Mas a gente sobrevive, porque temos que seguir em frente. Desistir também não faz sentido nenhum, se formos racionalizar.  Então, se por acaso algum leitor perdido por aí estiver se sentindo pra baixo ou “fraco” (de alguma ou outra forma), se tiver alguma mãe no puerpério: tudo bem chorar.

BoJack Horseman – season 04

Eu passei algumas semanas no hospital acompanhando a minha bebê, que estava na UTI, depois passou uma semana em outro leito, e finalmente voltamos para casa. A sensação que tenho é que este ano tenho visto muito mais TV – que ficava ligada lá só para fazer algum barulho de fundo, mas eu acabei acompanhando alguns capítulos da reprise de uma das telenovelas de maior sucesso na história do Brasil, Avenida Brasil. E também acabei pegando um episódio de Betty em Nova York, uma versão super renovada daquela novela de sucesso colombiana que ganhou diversas outras versões em diversos outros idiomas. De vez em quando pegando um noticiário aqui e ali, também voltei para casa em um sábado ou domingo (um deles para ver o Oscar…) e acabei testando o recurso da Netflix de ver alguns títulos offline. Com isso, acabei com vontade de finalmente terminar esta série, já teve seu fim decretado e publicado no Netflix. Na verdade, a temporada 04 eu já tinha visto inteira, quando estava grávida – e justo nesta a Princesa Carolyn tem essa questão de ser mãe… sempre digo que o cinema entende muito bem a minha vida. Eu não tinha feito post, e como fazia muito tempo, acabei revendo tudo de novo. E incrível como a questão de ser mãe faz mais presença pra mim agora, neste momento em que vivo: está não só na Princess Carolyn (será mesmo que dá pra trabalhar tão duro e ser mãe sozinha?), na própria história da mãe do BoJack (que viu seus sonhos se esvaírem?) e no próprio protagonista, que não acredita que poderia ser um bom pai…

Bem, mas tirando meus próprios momentos pessoais, incrível que mesmo rever episódios é bem interessante. Melhor do que metade das novas séries que toda a semana a Netflix inventa.

Na vinheta desta quarta temporada, BoJack bebe dessa mistura louca de ideias e remorsos envolvendo (ex?) amigos, e no seu apartamento tem novos inquilinos, pelo menos por um tempo. Revisitamos passados, como de praxe temos aquelas situações absurdas e inusitadas, conhecemos e sentimos pelos personagens, sempre com aquele texto afiadíssimo e muitas referências e cutucadas.

Só para não perder o costume: (!) este blog não acredita em spoilers, e a gente também não liga se você acredita, porque BoJack é muito mais do que descrições em palavras…  

S04E01 – Sr. Peanutbutter para governador (See Mr. Peanutbutter Run)

BoJack sumiu e Diane continua ligando para ele contando o que tem acontecido, sentindo a falta do amigo. Mr. Peanutbutter está atrás de assinaturas para poder ser governador da Califórnia mesmo sem qualificações, e logo no início do episódio vemos como Katrina está certa ao dizer que todo mundo sempre gostou dele naturalmente, dando-lhe “ossos”, pois ele ganha instantaneamente o carisma da plateia do show que querem fazer copiando Horsin’ Around e é contratado no lugar do Vicent D’Onofrio (what!? Que casting foi esse, hahaha). Princess Carolyn sempre recebe cartões de Ralph, que propõe que morem juntos, ela não aceita bem a princípio, está grávida, mas ele a convence no final de que não deveria ser por acidente, que eles podem tentar ter um bebê de propósito. Todd ainda toma lanche com Emily (e a vaca que ganhou milhões de gorjeta ainda trabalha lá!?), ele tem mais uma ideia mirabolante sobre um drone com assento e ela quer fazer um app para encontrar bombeiros gostosões – e não é que Emily dá de presente o “drone com trono” para Todd se divertir, e ele rouba um sacão de pipoca doce, perdendo-se nos céus… Diane não esperava que esse negócio de governador iria longe, mas não é que ao conversar com ela Mr. Peanutbutter decide não desistir e convocar o atual governador castor Woodchuck para um duelo de esqui (com direito a imagem do labrador igualzinho à da campanha do Obama); vemos as repercussões na mídia – no programa de entrevista, no noticiário (com aquelas manchetes correndo embaixo, uma delas dizendo que Margot Martindale continua perdida no mar…); o castor não quer denegrir seus antecessores (incluindo um deles que fez o Mr. Freeze em um filme do Batman – ehe sabia que ia ter alguma cutucada no Arnold!), publicamente mostra como é inconstitucional, mas ele próprio dá a Katrina a ideia de convencer senadores para que exista uma emenda na constituição, com muitos subsídios prometidos e aprovação da ponte para o Havaí! Parece que política não é assim tão diferente de um país para outro? Woodchuck acaba aceitando encontrá-lo na Montanha do Diabo, e é hilário descobrirmos que Peanutbutter na verdade não sabe esquiar, nem tinha imaginado que isso chegaria tão longe, tendo que fazer algumas aulas; o professor dá um livro de poesias que era um teste e logo lhe dá um diploma antes de virar casulo. Na corrida em si, Woodchuck é excelente, pois desde jovem já era bom no esqui, Peanutbutter só sai rolando, e Todd entra confusamente na corrida depois de soltar o saco vazio de pipoca, voando ao encontro da linha de chegada e sendo nomeado governador – só que como está com dificuldades de aceitar rótulos (asexual?), renuncia e terão que fazer uma nova eleição para governador… e claro que Peanutbutter vai concorrer, hahahah (doggie doggie what!? Diane Diane what!?)

S04E02 – A casa velha do sr. Sugarman (The Old Sugarman Place)

Que sacada musical maestral, tendo ao fundo a canção “A horse with no name”, para traduzir exatamente a “fuga” pelo “deserto” de BoJack, que quase atende as ligações de Diane, mas se deixa não atender (como eu entendo isso, sou acometida sempre por esse sentimento! Vontade zero de atender alguém); acaba indo para a casa do lago da família, uma casa de veraneio – em um lugar de férias antes de existirem os voos para lugares mais emocionantes, heh. É a casa do avô Sugarman, empresário do açúcar, logo de início vemos um flashback (?) da mãe ainda criança despedindo-se do irmão que iria para a guerra (voz de Lin-Manuel Miranda!) ao tirar uma foto com os pais. Na atualidade a casa está caindo aos pedaços e por uma série de atrapalhamentos vemos que BoJack não tem nenhum talento para consertos; as meninas da loja de ferramentas logo o reconhecem e por elas ficamos sabendo de uma mini-série sobre Sarah Lynn em que BoJack é interpretado por Paul Giamatti – haha; depois de passar outono e a porta continuar quebrada no inverno que traz fantasmas, a mosca que é o vizinho decide consertar; passando mais algumas estações, reformam a casa toda. Porém, falta ainda o cata-vento, a mosca Eddie revê o vídeo de casamento e sabe que os irmãos caranguejo roubaram, vão até lá e temos um número musical que mistura a avó de BoJack (voz da Jane Krakowski, que sempre adora cantar) com o piano de Eddie, uma confusão ao pegarem o cata-vento e fugirem, enquanto a mãe de Beatrice bebe e deixa a filha dirigir, acabando em um acidente – e o pai (voz do Matthew Broderick) toma medidas drásticas para que ela não se deixe levar mais pelas emoções, fazendo Beatrice prometer que nunca amará alguém do mesmo modo que amava o filho Crackerjack. BoJack faz Eddie voar, quando a mosca se casou foram muito alto e a esposa morreu, desta vez BoJack o salva de um afogamento; na manhã seguinte quer demolir a casa que ficaram 8 meses reconstruindo!, afinal o tempo não para, apenas marcha para frente.

S04E03 – Todd é o cara (Hooray! Todd Episode!)

No início vemos o músico leão contando sobre como Todd salvou a esposa e a ajudou a dar à luz sobrevivendo no mar, ehe; enquanto ninguém percebe, ele dá o remédio para Mr. Peanutbutter, faz o almoço de Diane e omelete com rostinho, mas Katrina diz que ele nunca faz nada, então pede para Todd ir buscar os óculos na agência da Princess Carolyn, VIM – ele nunca sabe se é apto para qualquer coisa, mas é o que torna sua vida tão interessante – poxa, acho que preciso desse novo lema em minha vida também! Carolyn propõe a Todd que ele finja estar saindo com Courtney Portnoy porque o público precisa vê-la como alguém mais humilde, com quem possam se identificar, para ela estrelar no filme “Mis-taken” (seria um Busca Implacável versão feminina?), ele só tem que almoçar com a estrela e deixar que os paparazzi tirem algumas fotos – e Todd adora tirar fotos, prova sua existência! Hahaha Eis que surge uma tal de Hollyhock, que tem oito pais adotivos, usa o clorofórmio do kit espionagem em Todd após ler no livro de BoJack que eles moravam juntos, ela acredita que pode ser seu pai biológico, “que coisa horrível para se dizer a um bebê!”, “ei, acho que vi um fio de cabelo!” – e Todd descobre que BoJack tinha voltado, dormindo de ressaca no sofá. Eles fingem que Hollyhock é uma empregada, leva o fio de BoJack para o laboratório que dá resultados de DNA em uma hora, mas falta a amostra de Hollyhock; consegue almoçar com Courtney, mas ela sai correndo diante da possibilidade de almoçar em uma lanchonete de franquia; quando volta até BoJack, tem que limpar todo o apartamento porque Hollyhock não fez/faz nada (“acho que nem precisamos do teste”!); como ele acabou assinando um documento porque Katrina tinha dado bronca que ele não tinha assinado para receber um pacote na casa do Mr. Peanutbutter, Todd recebe a missão de distrair Diane para que ela não veja que agora eles são a favor do “fraturamento” – mesmo depois do discurso convincente do candidato “sou a favor de vocês, dos fatos”- e Todd lhe dá a ideia de incluir o que interessa junto com alguma fofoca que queiram ler, daí inventa que Channing Tatum pode ter uma filha perdida, está com as amostras de cabelo e pede para Diane ligar assim que souber se são compatíveis! Em seguida, corre para o desfile do Shark Jacobs (voz do Marc Jacobs mesmo!) para aparecer ao lado da Courtney, acaba entrando errado pela passarela, “onde está o olhar vazio de quem é obrigado a passar fome para cumprir as expectativas do que deveria ser considerado bonito?”, mas acaba defendendo que a moda deveria ser para todos – e seu modelito vira alta costura; Courtney é finalmente fotografada com ele, mas agora já é considerado um modelo famoso! Ao mesmo tempo, Diane confirma que as amostras de DNA são compatíveis, Todd fala para Hollyhock que BoJack não é o pai, mas Diane vem falar com Channing Tatum e admite que não quer ser esse tipo de jornalista, e Todd se passando por ele dizendo o que ela quer ouvir, mas para BoJack ele vai contar que é o pai. Conversam sobre o que aconteceu com Emily, Todd finalmente recebe um pouco de reconhecimento por ser bom e atencioso com todos, pela amizade, e se assume assexual.

S04E04 – Vamos fraturar (Commence Fracking)

Anteriormente Hollyhock já havia comentado que não precisava de outro pai, já tem 8, mas ela gostaria de saber quem é a mãe, pedindo para BoJack pensar com quem teve sexo em dezembro de 1999… o que não se mostra uma tarefa tão fácil. A primeira era a presidente do fã clube dele, que logo de cara diz que foi ela sim, mas ela continuou obcecada com um álbum de todas as garotas com quem BoJack saiu e Hollyhock procura saber por que usava um vestido de verão para a estreia de um filme chamado “Outono em Nova York”, sendo que as datas não batem; com o tal livro em mãos, podem ir atrás da mãe de verdade. A segunda possível mãe que vão ver é uma tal de Tilda (parece a Tilda Swinton em forma de gato!), que está fazendo uma série em que é uma médium que viaja no tempo, só que ela relembra que realmente fez o aborto, e Hollyhock fica chateada porque BoJack diz que seria melhor não ter descendentes dele por aí, decide continuar sozinha “have a bad life!” / “joke’s on you, I already have!”. BoJack acaba indo atrás de todas as mulheres também, até que reencontra Hollyhock após visitar 23 mulheres… e começa a chorar porque os pais já são suficientes, não precisa de uma mãe, e BoJack não é bom em consolar, então acaba dizendo que existe uma que não estava na lista da fanática – vemos de cara da onde surgiu o nome inventado (Mercedes Marrom!). Diane está tendo problemas em ter relações com Peanutbutter por causa da campanha (e no quadro acima da cama deles não são só frutas, tem chinelos e um jornal – um cachorro realmente teria um quadro desses! Há); Katrina tem uma agenda cheia e nem deixa Peanutbutter terminar suas referências – mas a gente pega fácil a do “breakfast club” (Clube dos cinco ****). Mesmo no escritório do blog – um daqueles modernosos com frases de autoajuda e áreas para exercícios, a chefe Stefani comenta para ela cuidar de si. Princess Carolyn vai ao médico, que diz que ela tem “mais óvulos que filmes do Harry Potter e menos que do 007” hahaha, e ela recebe um kit que inclui um relógio (com voz do Harvery Fierstein!) para saber a melhor hora da cópula; nisso o policial “miau miau” quer multá-los por velocidade; como Ralph diz que tem um bom advogado, eles não querem desperdiçar o momento e se engajam ali mesmo no banco de trás da viatura. Mr. Peanutbutter aparece no noticiário, é confrontado pela opinião contrária da esposa sobre “fraturamento” e acaba tendo que concordar que façam a obra no quintal da sua casa; Diane discute com Katrina (e o cereal do Todd é “DiCapricornflakes”! ahhh, eu quero!), mas ou ela apoia, ou o casamento vai para o ralo… ela escreve outro texto para o blog, pedindo para Peanutbutter deixar a corrida eleitoral, ele se recusa, brigam, quebram coisas, acabam se pegando (literalmente).

S04E05 – Solidariedade (Thoughts and prayers)

Devido à notícia de um tiroteio em massa em um shopping, o filme de Courtney e produzido por Lenny Turtletaub (voz do JK Simmons) pode não ser bem recebido, além de ter outras cenas de tiroteios – eles conversam vendo o que pode ser feito, e inclusive Todd que está “saindo” com Courtney, e considera a vida curta para não terem reuniões em um parque aquático! Apesar de ser contra armas, de repente Diane tem uma sensação de empoderamento ao atirar, incentivada por Courtney, e acaba levando a arma sem nem perceber, escreve um post poderoso sobre como as mulheres se sentem vulneráveis em vários locais (ei, isso é bem real), e no ranking de posts mais clicados para o blog Croosh (cujo escritório agora tem as autoras escrevendo equilibrando-se numa espécie de pogobol!), ela consegue subir seu post na lista que incluía post sobre a descrição do pênis do Liam Hemsworth (e do Chris Hemsworth!). Isso gera conflito com Mr. Peanutbutter – e ultimamente todas as brigas acabam em sexo…; levando também às mulheres portando armas no geral; bem quando Princess Carolyn tenta transformar a violência do filme em algo positivo, sobre o empoderamento feminino, acontece um tiroteio que foi uma mulher atirando, e vários homens fazem declarações descaradas; finalmente chega ao senado, acabando no voto de banir as armas da Califórnia… Enquanto isso, BoJack e Hollyhock visitam a mãe de BoJack, Beatrice, no asilo – ele se desculpa com Carolyn, mas quer é a informação do nome do lugar, que já tinha esquecido; o médico diz que a demência está aumentando e seria bom que visitassem (“é como ver um Terrence Malick, em dez anos é suportável, menos que isso é chato”);  BoJack acha que a mãe está fingindo, mas ela não o reconhece, chamando-o de Henrietta, uma empregada; quando assistem a episódios da série dos anos 90 ela reconhece o filho na TV e BoJack inventa de fazer um teatrinho; ela surta, a clínica os expulsa e o médico diz que ela tem pouco tempo de vida, então Hollyhock faz BoJack aceitar levá-la para sua casa, consolando-o também que ele poderá jogar na cara da mãe o quanto sofreu e a odeia em algum momento em que ela estiver lúcida…

S04E06 – Seu estúpido de m***a (Stupid Piece of Sh*t)

Ouvimos a vozinha na cabeça de BoJack que fica se xingando, dizendo como ele é um merda, desde quando sabe que tem que parar de comer biscoito e continua, passando pela dúvida de ir comprar leite e a mãe ficar envenenando Hollyhock contra ele, parando no bar e ficando até de noite; depois que joga o suposto bebê pela janela, pensando em quem poderia ajudá-lo, antes de encontrar Diane Mr. Peanutbutter se dispõe a ajudar com seu faro e acabam na casa morro abaixo da Felicity Huffman (voz dela mesmo!) que reclama de todo o lixo que já caiu no seu quintal. Enquanto isso, Princess Carolyn, como empresária, tem que ajudar a montar o casamento do ano, ideia do novo agente de Courtney, Rutabaga; para isso eles precisam fazer até com que Meryl Streep não se aposente, porque a festa ia cair na mesma data, e mesmo se ela quiser ser diretora, o sonho dos diretores é trabalhar com Meryl Streep, então supõem um filme com várias Meryl Streeps, ehe. Ao final das contas, Todd também procura os conselhos de Diane – que acaba nem ouvindo a outra amiga e fala sobre si mesma em relação ao casamento, mas Todd encontra na metáfora do pirulito o motivo para não se casar, afinal. E quando BoJack retorna com o “bebê”, explica para Hollyhock que se ele é um merda é porque ele é assim, não é culpa dela, e ela pergunta se aquela vozinha na cabeça que deixa a gente pra baixo, fazendo a gente não acreditar que mereça algo bom, sempre vai existir…

S04E07 – Subsolo (Underground)

BoJack finalmente decidi procurar Diane e vai até a casa do Mr. Peanutbutter onde estão dando uma festa para arrecadar fundos para sua campanha, e é 20 mil dólares o prato; com as obras de “fraturamento” da casa, o que parecia ser um terremoto na verdade afunda a casa inteira, e se no início acham que alguém logo vai tirá-los dali, passam dias no subsolo. Em determinado ponto, a marmota (não era castor!) Woodchuck consegue cavar para salvá-los, mas o pessoal grita para celebrar, liderados por Peanutbutter, e desaba mais terra ferindo as mãos dele; naturalmente  Woodchuck toma a posição de líder sabiamente racionando alimentos, mas sob a influência de Katrina, Peanutbutter decide tomar a liderança e faz com que o povo prenda a marmota no ventilador do teto, libera a comida para todos, mas quando chega em 7 dias está todo mundo desesperado, Zach Braff continua querendo validar o ticket de estacionamento e Jessica Biel finalmente tem sua chance de queimar alguém (o próprio Zach Braff), instaurando a adoração ao fogo hahaha. Enquanto isso, Princess Carolyn, que tinha ido usar o banheiro na casa da piscina, junto com Todd, que morava na casa da piscina e tinha descoberto que o banho era sua festa, encontram uma colônia de super formigas. Carolyn ajuda a mediar uma negociação com a rainha (voz do RuPaul! hahaha), para que elas tenham seus desejos sexuais satisfeitos; quando a rainha fica sabendo das pessoas de Beverly Hills no subsolo, ela decide com sua força tarefa expulsar esses intrusos. De volta aos escombros, antes de botar fogo no Mr. Peanutbutter, BoJack e Diane que estiveram todo o tempo bebendo tudo que existia lá – e divagando sobre a vida, como sempre – acertam um cano e encontram água, o que não é exatamente bom, porque vai subindo, estão quase para se afogar, quando finalmente chegam as formigas para salvar.

S04E08 – O juiz (The Judge)

Para devolver o bebê boneco, Felicity Huffman tinha feito BoJack prometer que ia aparecer no seu show; como eles usam apenas as iniciais, BoJack achava que seu personagem de “juiz” ia ser em um âmbito policial, mas é para julgar as melhores bundas! Ele tem muitas horas para gravar, alguém pergunta se Hollyhock não deveria estar na escola, mas ela se adiantou e pode tirar esse tempo, acaba saindo com o estagiário, e BoJack não acredita que o cara tenha boas intenções, fazendo a garota acreditar que ele não a acha bonita o suficiente. Sem ter onde morar, Mr. Peanutbutter e Diane estão em um hotel, e ele decide sair da corrida política dando apoio a Woodchuck; procura Todd para ter mais alguma ideia mirabolante e eles decidem “criar” palhaços/dentistas – “os adultos não gostam de palhaços, se as crianças não adoram, por que existiriam?” hehehe; e Diane só fica nas massagens, mesmo para dar conselhos a BoJack. Princess Carolyn vai passar alguns dias de feriado com Ralph e a família, incluindo Stefani do Croosh, mas ela não pode dizer ainda que está grávida – e logo que chega já a bombardeiam com coisas proibidas para grávidas: beber álcool, fumar, café super cafeinado, montanha russa proibida para crianças pequenas e grávidas! hahaha O pior é o festival celebrado pela família que é toda de ratos, encenando com tiaras de orelhas de gato para ridicularizarem os felinos; mas antes de irem embora, Ralph a defende e conta para a família que é um caso sério e terão um filho. Tendo fraturado as mãos, Woodchuck acaba com pés de gorila e depois pinças de lagosta para substituí-las, e acaba concordando com a ajuda de Peanutbutter para sua campanha, já que Jessica Biel decidiu se candidatar… No final das contas, depois de fazer uma das candidatas ter sexo com um assistente errado, BoJack estava certo sobre o estagiário que não perderia a oportunidade de deixar Hollyhock de lado se tivesse algo a ganhar, só que estar certo neste caso não o faz se sentir melhor, com a garota mudando de canal na TV sem parar e ordenando moedas.

S04E09 – Ruthie

A tataraneta da Princesa Carolyn (voz da Kristen Bell!) está no futuro fazendo uma apresentação sobre alguém da família que admira, começando a contar sobre o dia terrível de Carolyn. De manhã, quebra seu colar precioso, que ela acreditava ter passado por gerações de sua família através de muitas dificuldades (com uma outra forma de animação para a família de gatos cantando canções do velho continente!). Ela o deixa para conserto e descobre que na verdade era uma bijuteria barata dos anos 60. Neste dia também descobre que o eficiente assistente Judah não a consultou para recusar uma oferta do sapo desengonçado Charlie, sobre uma fusão da sua agência, e ao final da noite acaba demitindo o rapaz de coque. Vai ao médico e descobre que sofreu aborto espontâneo, não quer contar ao Ralph no restaurante porque estavam tão felizes… – e o chefe falando que pensava que o vinho tinha se popularizado pelos italianos, não pela Kerry Washington, para então receber várias Careys, Mulligan e aquela cujo primeiro nome é Mariah!. Mas acaba não voltando para a casa de Ralph (estilo oriental, gostei!) e encontra um badauê no apartamento, com Todd e os palhaços-dentistas, discutindo depois com Ralph, que queria ver outras opções, depois de ela comentar que já foram 5 abortos, e acaba por dispensá-lo. Quando BoJack liga mais tarde, ela lhe conta o que gosta de imaginar quando tem um dia ruim…

S04E10 – Adorando a Califórnia! (lovin that cali lifestyle!!)

O episódio começa com o final da corrida para governador, em que as pesquisas mostram que por detalhes ridículos um ou outro candidato toma a liderança: primeiro são contra as mãos falsas de Woodchuck, depois contra porque as novas mãos pertenciam a um pedófilo e assassino, mas quando Stefani pede para Diane um artigo no blog sobre coisas femininas da primeira governadora na história, é porque Jessica diz que odeia abacate ao pedir um “avocado toast” (sem torrada e sem abacate) que ela perde as eleições. Aliás, um dos entrevistados está na frente do “Parrotmount studio” ;) Princess Carolyn recebe um aspirante a roteirista, Flip (voz do Rami Malek!), e ele tem a sorte de seu projeto se chamar Philbert, o nome que ela daria para seu bebê; mas como ela anda muito bêbada para os negócios, Todd a ajuda com o grupo de palhaços, que fazem vários malabarismos para ela conversar com Turtletaub, que sugere vincular uma estrela, e mais especificamente, BoJack, para quem ela insistia em dizer que não trabalhava mais, mas falsifica a assinatura. Todd ainda tem que fazer uma bela apresentação para Yolanda, inspetora que pode desmantelar seu negócio; como ela não gosta (é um público difícil), Todd vai soltar seus palhaços no bosque perto de um hospício e escola… Já BoJack leva um grande susto com Hollyhock indo parar no hospital; finalmente conhecemos os 8 pais dela, cada um com um estilo louco diferente, todos sem querer deixar o cavalo vê-la novamente; o diagnóstico foi overdose e ele não entende como pode não ter percebido; voltando para sua casa percebe que foi o café que a mãe Beatrice sempre oferecia, ela estava colocando remédio para emagrecer… BoJack dá um basta nessa história de ela fingir que não lembra de nada, leva a mãe para uma espelunca de asilo, cuja única janela dá de frente para um lixão.

S04E11 – Viagem no tempo (Time’s arrow)

O ponteiro do relógio não para, não vai para trás, só marcha para a frente? Bem, no caso da memória e dos sentimentos da mãe de BoJack, na verdade tudo se mistura para nós espectadores descobrirmos algumas coisas a mais… quando Beatrice era criança, ela sofreu com outras meninas zombando dela e até o pai dizia que ela era gorda (daí entendemos por que ela colocava emagrecedor no café?); ela era erudita, estudada, sempre lendo, e por isso um baile de debutante não era charmoso para ela, nem um casamento apropriado cuja parceira seu pai (voz do Matthew Broderick) gostaria: açúcar Sugarman e creme Creamerman… nesse baile ela conhece Butterscotch, com papo de admiração pela geração Beat, sonhos de ele se tornar escritor, quando ela engravida os dois se casam, mas ele acaba tendo que aceitar um emprego com o pai de Beatrice para se manterem; aquele romance ele nunca termina, mas acaba engravidando a empregada – Henrietta, que aparece com o rosto todos riscado, assim como alguns rostos não importantes estão todos apagados. Ótima a sequência que traz em paralelo Beatrice ainda criança perdendo os livros pela escarlatina e o “seu bebê” no fogo, o nascimento de BoJack e enquanto Henrietta tem sua filha égua (e aqui nós descobrimos finalmente a relação real entre BoJack e Hollyhock!) que elas tinham acordado que será dada para adoção, para que Henrietta termine os estudos e tenha uma boa vida, diferente do que aconteceu com Beatrice. Voltando à realidade, Beatrice tem um segundo de lucidez, mas BoJack tem palavras bonitas para que ela se sinta bem num cenário imaginário.

S04E12 – Que horas são? (What time is it right now)

Princess Carolyn e Flip vão apresentar seu projeto para ganhar o patrocínio do website que diz as horas (pra que existiria isso? Bem, nesta série poderíamos fazer essa pergunta repetidas vezes, mas sempre aceitamos, por que nada seria louco demais para Hollywoo), e eles definitivamente só aceitarão se tiver BoJack. Diane e Mr. Peanutbutter veem uma nova casa com óculos 3D e se movem como se fosse real, mas quando decidem por uma casa para o resto da vida deles, Peanutbutter tem vontade de viajar e decidem ir para o Havaí; porém a famosa ponte está super congestionada e eles acabam ficando numa pousada na beira da estrada, Peanutbutter fica sabendo que Diane sempre quis ter um “Belle room” (que não é uma sala cheia de sinos, mas a biblioteca de A bela e a fera **** óinn, eu também!); acaba indo tirar “shellfies” pois ele é uma celebridade debaixo d’água também, como vimos em outro episódio, e quando voltam para casa, a reação de Diane ao Belle Room que ele construiu não é a esperada; ela compara seu casamento com os quadros de ilusão de ótica, e que está cansada de procurar a imagem perfeita que existe por trás. Todd convence Yolanda de que precisam tornar aquilo dos palhaços raivosos na floresta algo melhor; primeiro tentam armadilhas, mas tem que correr pelas suas vidas – e o bosque se torna então um espaço para quem quer se exercitar correndo de verdade, com direito a vacina antirrábica; Yolanda revela que também é assexual e por isso está chamando Todd para sair. BoJack vai até a casa dos 8 pais de Hollyhock e lhes conta sua saga até descobrir a mãe verdadeira de Hollyhock; tudo começa com Matthew Perry (sim, o Chandler de Friends aparentemente fez uma lista em um episódio do SNL) no comentário da Hollyhock, ao escrever a carta para a pessoa registrada como quem lhe entregou para adoção, e essa carta acabou retornando para a casa do BoJack, no nome de Beatrice; BoJack foi até o cartório, mas Hollyhock não tinha nascido em Los Angeles, e sim em San Francisco, endereço anterior de Beatrice, e lá encontra dados sobre Henrietta, procurando no Facebook consegue o número dela (há!) e os pais de Hollyhock aceitam dar essa informação para a filha, falando no idioma de pais. Antes de resolver a corrida dos palhaços, Todd tinha amarrado Princess Carolyn para uma conversa motivacional, e ela percebe que tem que enfrentar seus desafios, que ela pode fazer tudo, inclusive criar um filho sozinha; e ela vai até BoJack, assume que pisou na bola, mas ele não pestaneja e aceita fazer o papel na série Philbert sem problemas. BoJack recebe uma ligação de Hollyhock que o agradece por achar a mãe dela, conversam (“Jared Leto das frutas”!?) e o conforta pois se não precisava de mais um pai, um irmão ela nunca teve.

 

Oscar 2020 – meus votos e comentários (e pela primeira vez, o que tem a ver com as chuvas em São Paulo)

Obs.: este post foi atualizado dia 12, após a festa do 92nd Academy Awards dia 09 de fevereiro. As atualizações, como quem levou mesmo o prêmio da noite, estão em laranja.

Este ano está realmente sendo atípico na minha anual dedicação ao Oscar (vide aqui o post com quase todos os detalhes pessoais que venho passando nas últimas semanas, caso lhe interesse).

Tenho visto mais TV também, então não sei como foi nos últimos anos, mas me parece que a Globo tem feito muito mais cobertura, orgulhosamente divulgando que vai passar a cerimônia inteira, desde o tapete vermelho… no seu canal pago, é claro. Sim, parece até que ouviram minha reclamação de anos atrás e respondem “tá vendo?” Claro que pro espectador comum, só com TV aberta, o negócio ficou ainda pior: além do BBB ainda terão que esperar o jogo de futebol – será que vão passar só o prêmio de melhor filme? Atualização: parece que teve uns momentos em que a Globo teve probleminhas técnicos, mas depois que terminou a transmissão ao vivo reprisaram todos os prêmios (lá pelas 2 da manhã), melhor que nada, né?

Fora isso, este ano eu até vi quem ganhou os BAFTA! E não é que descobri um gosto parecido com o dos britânicos? Mesmo sendo um chute, concordamos no voto pra melhor curta documentário! E também maquiagem, roteiro original e, pasmem, longa de animação! Sem falar que eu nunca comentei aqui, mas acho um luxo uma premiação que sempre conta com um príncipe entre a plateia de convidados.

Aproveitando, vamos relembrar como é a brincadeira por aqui: neste post eu imagino como se eu fosse da academia, qual voto eu daria – não é a aposta, o que acho que vai ganhar, mas o voto que eu gostaria de dar. Meu voto está em azul, com asterisco na frente. Se bem que, ouvi falar que somente a categoria de melhor filme é que ganha votos de todos, as outras são votadas pela sua própria “classe”. E todo ano eu acabo chutando em algumas categorias – porque não consegui ver as produções em si; isso acontece principalmente com os curtas. Nesses casos, o que faço é pelo menos ler as sinopses, ver um trailer talvez, e daí penso qual o filme que me interessou mais e eu gostaria de ver. Este ano até que temos muitas opções disponíveis em streaming, mas os curtas live action não deu mesmo para conferir. Além disso, o voto para melhor filme, pelo que sei, se dá também assim, dando nota de 0 a 10.

Este ano eu vou tentar algo a mais. Como não consegui dar um post para cada filme específico em separado, vou acrescentar aqui neste post mais comentários, conforme vemos cada categoria. E, claro, como tenho feito nos últimos anos, hoje à noite acompanho alguns pelo twitter enquanto rola a festa.

Então vamos lá, começando pelas categorias cujos filmes não consigo ver todos.

Melhor filme não falado em inglês

Este ano não tem para mais ninguém, não é mesmo? Parasita foi o filme internacional do ano. Como já aconteceu no passado, ele também foi indicado a melhor filme, mas não devem dar e devem premiá-lo como filme estrangeiro, embora dê uma vontadezinha na gente de dar para o Almodóvar que entrega a si mesmo em Dor e Glória, não é? Sim, eu também concordo que o filme é inesperadamente envolvente, não só porque ganhou Cannes (alguns dizem até que é superestimado). A trama de uma família de classe mais baixa que vai se infiltrando no lar de uma família rica por diversas artimanhas é um retrato e uma crítica social, ao mesmo tempo em que tem suspense e mortes, gera risadas com situações bem montadas – seja explorando a relação patrão/empregado, a criatividade dos membros da família, a ingenuidade de uma mãe meio alienada da sociedade real, ou a própria luta, até física, entre diferentes da mesma classe, mas que buscam cada um suas vantagens. Tem metáforas suficientes, como o “cheiro do povo que anda de metrô”, mas a grande sacada é deixada para o espectador perceber: que um parasita suga o que o hospedeiro pode oferecer – mas para alguém ser rico, depende de explorar outros, quem seria o hospedeiro então?; e por isso o título do filme funciona tão bem. Meu voto é dele, e minha aposta de quem leva também.

Boze Cialo          

Dor e Glória

Honeyland

Os Miseráveis

*Parasita – este primeiro a gente já tava esperando. Mas ninguém podia prever o que viria ainda pela frente…

 

Melhor curta em live action

Esta é sempre uma categoria em que chuto, porque honestamente eu não tenho meios de encontrar todos os curtas por aí. Lendo a sinopse, pareceu até interessante ver este, sobre um grupo de crianças que jogam futebol e o tráfico (algo meio Breaking Bad?). Porém, deve levar Saria.

Brotherhood    

*Nefta Football Club    

Saria     

The Neighbors’ Window  – a trama me pareceu beber muito de Janela Indiscreta (1954) ****, mas tá valendo, né?           

Une soeur

 

Melhor curta de documentário

Desta categoria também, é muito difícil eu encontrar geralmente para ver. Mas me pareceu uma premissa interessante as garotinhas do Afeganistão querendo aprender a andar de skate, um tema inusitado, que bem desenvolvido dá para mostrar muita coisa, eu acho.

A Vida em Mim               

In the Absence

*Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl) – yey! Acertei esse chute, hein.

St. Louis Superman

Walk Run Cha-Cha      

 

Melhor documentário

Outra categoria em que quase sempre vejo apenas um ou outro título. Este ano a graça é a polêmica gerada aqui no nosso país, com a indicação da brasileira Petra Costa e seu Democracia em Vertigem, as diversas repercussões, na mídia, entre pessoas de influência, figuras públicas ou não. Eu não vou dar meu pitaco no que já tá aí e não tem jeito (sim, vocês podem interpretar isso como o próprio governo atual, o anterior, ou o próprio filme, deixo a critério, porque nem faz diferença mesmo); e pelo menos o propósito do filme se cumpriu: as pessoas estão vendo, estão falando dele. Me deu vontade de ver outro na Netflix, comparando o modo de trabalhar dos chineses com o dos norte-americanos, Indústria Americana. Mas acho que eu gostaria ainda mais de ver Honeyland, por poder conhecer uma realidade completamente diferente, e parece ter não só imagens belas, mas muito mais incluso. Ganhou Sundance, o que não significa muito para o Oscar, mas deve levar porque também foi indicado a melhor filme estrangeiro, e nós já sabemos quem leva este ano, certo?

Democracia em Vertigem          

For Sama            

*Honeyland

Indústria Americana – produzido pelo casal Obama, como disse acima, parecia interessante, dá pra ver no Netflix.

The Cave

 

Melhor curta de animação

Eu consegui assistir a três deles este ano!  Geralmente, no Anima Mundi, festival de animação que acontece lá por julho em São Paulo e no Rio, sempre dá para conferir alguns curtas indicados. Hair Love é sobre uma garotinha que deseja fazer um penteado afro como sua mãe fazia, uma graça por trazer um pouco do tema diversidade sem forçar, mas na relação do pai e da filha que perdeu a mãe. Kitbull me deixou triste ao ver o cãozinho ser maltratado (e saber que existe isso na vida real, o que é muita ignorância, porque os bichos não entendem nada); vemos um pitbull e um gatinho que fazem amizade, os dois são “marginalizados”, e o próprio gatinho no início tem um “preconceito” até perceber que mesmo sendo bem diferentes eles têm almas em comum – um tema que também ressoa muito para os dias atuais, certo? Eu torço para eles, mas por que meu voto vai para Mémorable? É o vencedor do festival de Annecy, e é visualmente fantástico, misturando várias estéticas e artes para traduzir as sensações e falar da questão da perda de memória… também é emocionante, mas de um jeito mais criativo e impressiona a cada momento que passa, por isso meu voto é dele.

Dcera   

Hair Love – é todo o negócio da inclusão, e empoderamento, tal. Mencionaram Kobe Bryant (que tinha ganhado um Oscar já, também, lembram?), e o Spike Lee também homenageou no terno roxo escolhido para a noite.           

Kitbull  

*Mémorable    

Sister

 

Melhor longa metragem de animação

Ah, as animações! Pelo pouco tempo que fiz o curso de audiovisual, eu pude perceber que é uma das coisas que eu mais gosto, e talvez devesse ter seguido com o curso de desenho aos 11 anos, e depois quem sabe poderia ir parar lá em algum dos grandes estúdios – talvez mesmo no Canadá? Bem, divagações à parte, Annecy escolheu Perdi meu corpo e, sim, eu também concordo que a narrativa em si já é bem chamativa: uma mão que vaga e busca encontrar seu dono. Isso é bem inventivo, e como pessoa que sempre gostou de desenhos animados, o divertido desse meio é realmente dar uma vida diferente a algo inanimado, trabalhando a arte como um live action não conseguiria fazer com tanta destreza ou prazer. Nós ficamos tensos quando se aproxima o momento que sabemos em que vai ter a separação da mão, e acompanhamos os flashbacks enquanto o dono da mão se apaixona pela garota da biblioteca para quem tinha ido entregar pizza e foi gentil, dedicando-lhe algumas palavras numa noite de chuva – hoje em dia, é muito raro fazermos amizades do nada? A mudança do rapaz, que decide se dedicar a algo, até o ponto de pular para mudar seu destino, engaja o espectador. Mas é meio triste, melancólico, e talvez os votantes prefiram mesmo a boa e consagrada técnica da Pixar/Disney? Além da alegria emocionante do seu Toy Story 4. E não é que, apesar de parecer ter chegado a um fim decente as aventuras da turminha de brinquedos no último filme, eles realmente acharam bons motivos para fazer uma continuação? A questão existencial de Woody, de servir à sua criança, pode fazer com que nós mesmos repensemos – o que achamos ser nosso propósito de vida pode mudar, a vida e as circunstâncias mudam. E no caminho podemos encontrar outros jeitos excitantes de levar a existência. Novos personagens incluídos aí, eu gostei bastante daquele dublado por Keanu Reeves, o Caboom do Canadá, é bem engraçado, “posso fazer de olhos fechados!”. E o Forky? É um brinquedo criado, que a princípio ainda luta com sua própria constituição, se achando um lixo – ei, eu poderia fazer posts e mais posts com as metáforas incluídas nos filmes da Disney, mas vamos parar por aqui. Também poderíamos falar das referências – encontraram personagem de curta da Pixar naquela festa dos brinquedos? É claro! Mas só comento que realmente torci para o Woody ficar com seu amor, a versão repaginada da Bo, bem atual, mulher forte e independente, como a Furiosa do Mad Max 4. Se eu não acho que merece um Oscar? Merece, mas meu voto vai para Klaus para dar uma chancezinha para outras produções, né… É um desenho animado sem tanta técnica e qualidade mais simples do que os da Disney, mas eu me surpreendi em como gostei. Tratando a figura do Papai Noel de um jeito mais humano, foi sim bem legal ver o filho riquinho de um super serviço de correios ir parar nos confins do mundo e ter problemas para entregar cartas, até que descobre um jeito de fazer as crianças escreverem cartas, para ganhar brinquedos. É engraçado como isso se desenvolve, na verdade é ele que entra pelas chaminés, e depois é que surge a história de ser bom, com as crianças se esforçando então para fazer boas ações. Na cidade em que há uma rixa e guerra, o velho isolado na floresta encontra mais sentido em seus brinquedos, ao passo em que as pessoas vão se reconciliando, com uma boa ação gerando outra – e essa foi a mensagem que mais gostei dentre todas as animações. Depende disso, de você ter a iniciativa de fazer algo, pelas ações, para gerar o bem no final, mesmo que existam muitas dificuldades no caminho. Não é uma solução mágica, pode simplesmente ser uma professora ressentida que redescobre a alegria de ensinar. Meu voto vai para Klaus por motivos pessoais, sim.

Como Treinar o Seu Dragão 3   

*Klaus 

Link Perdido     

Perdi Meu Corpo

Toy Story 4 – não que não fosse bom, como comentei. Mas me parece também que a Disney tem muito a ver por trás de todo o Oscar e isso poderia justificar preterir alguns? hmmm…

 

Melhores efeitos visuais

Vamos agora para algumas categorias mais técnicas? Desde que eu era criança, sempre gostava de “filmes de aventura” (abrangendo também os de ficção científica nisso), por isso eu adorava os efeitos especiais. Este ano meu voto vai para O Rei Leão simplesmente porque só foi indicado a isso, e reproduzir toda a natureza e as personalidades dos animais, além de adaptar competentemente um dos desenhos que mais marcou infâncias por aí da Disney, não é tarefa fácil; mas como Jon Favreau já tinha feito essa façanha com Mogli, o menino lobo… não deve levar. Eu, particularmente, não gosto muito da confusão de efeitos computadorizados que acontecem em muitas produções de ação, mas é realmente um trabalho hercúleo de uma equipe enorme, então talvez seja Vingadores: Ultimato ?

1917

O Irlandês

*O Rei Leão      

Star Wars: A Ascensão Skywalker

Vingadores: Ultimato

 

Melhor edição de som (ou efeitos sonoros?)

Criar os efeitos de corridas e acidentes explosivos; tiros em meio ao caos e um batalhão (literalmente); sons da cidade e ênfase certa entre as muitas risadas criadas pelo ator para o personagem vilão; ou aqueles conhecidos efeitos de naves e lutas pelo espaço; ou os sons de sets de filmagem, de estrada, de tiros perdidos? Honestamente, eu sou bem leiga em relação a som, meu voto vai pelo filme que tem algo que gostei, mas não tem chances em outras categorias. Pelo menos uma cena que não esquecerei: a corrida demonstrada para o chefão da Ford, que cai em prantos quando o carro finalmente para… Quem deve levar na real? 1917, se decidirem dar todos os prêmios possíveis pra ele, o que aconteceu muito na história dos oscares…

1917     

Coringa               

Era Uma Vez em… Hollywood  

*Ford vs Ferrari – opa, às vezes eu até penso igual aos votantes?             

Star Wars: A Ascensão Skywalker

 

Melhor mixagem de som

Misturar a trilha sonora com os efeitos especiais, num trabalho que, se for bom, o espectador nem perceberá que está sendo levado por isso. Na minha opinião mera, 1917, com os instantes em que quer ser grandioso, não me apetece, mas deve levar. Filmes com temática no espaço também costumam se dar bem nesta categoria, mas meu voto acaba sendo para o show de expressões diversas, inclusive às vezes sem sabermos o que é sonho, que é Coringa.

1917 – falei que devia levar…     

Ad Astra: Rumo às Estrelas        

*Coringa

Era Uma Vez em… Hollywood  

Ford vs Ferrari  

 

Melhor canção original (música composta para o filme)

Eu não vi nem o candidato do meu voto, mas como não teve outras indicações, e trata-se de um filme que trata de música (ou um músico em particular), é esse meu voto.

Frozen II             

Harriet 

*Rocketman – é claro! Nada melhor que ver Elton John por ali (e o after party dele parece bem interessante também, com direito a brasileiros no meio pra se mostrar)    

Superação: O Milagre da Fé      

Toy Story 4 

 

Melhor trilha sonora (música composta para o filme)

Mais uma vez, eu gostaria de ter re-ouvido as trilhas para poder votar, mas acredito que meu voto também é o que a academia deve escolher.

1917     

Adoráveis Mulheres     

*Coringa – Hildur Guonadottir já vinha ganhando reconhecimento, e parece ser tão meiga!           

História de um Casamento        

Star Wars: A Ascensão Skywalker

 

Melhor maquiagem e cabelo

Até pensei que O irlandês ia ser indicado, quando percebi que o envelhecimento/rejuvenescimento deles tem mais a ver com os efeitos especiais. Bem, meu voto vai principalmente pelo trabalho com John Lithgow, que se autodenomina Jabba the Hutt, transformando-se para ser um cara meio asqueroso, a figura inimiga dentro da trama que também é sinal dos tempos: das mulheres que não vão mais se calar diante de assédio sexual ou até simples machismo, que por anos dominou vários locais de trabalho, e se torna ainda mais explosivo retratado na mídia e incluindo um atual presidente… 

1917     

Coringa               

Judy: Muito Além do Arco-Íris

Malévola: Dona do Mal               

*O Escândalo – e apareceu mais foi a Charlize Theron transformada, haha.

 

Melhor figurino

Os diversos vestidos para as nossas Adoráveis Mulheres devem levar? Mas até que me deixei encantar pelo trabalho com os uniformes e as roupas doces da mamãe em Jojo Rabbit, sem falar no tal capitão que desenha seu próprio figurino homenageando a categoria ;)

Adoráveis Mulheres – eu meio que tinha cantado a bola (se eu tivesse feito bolão!) Mas a figurinista que gostei de ver neste ano foi a mãe do Keanu Reeves! Muito lindo os dois.     

Coringa               

Era Uma Vez em… Hollywood

*Jojo Rabbit     

O Irlandês

 

Melhor desenho de produção (conhecida também como direção de arte)

Ai, ai, sempre fico em dúvida aqui. Porque vejam, acho fantástico reconstituir uma época de Hollywood, com todos os itens que devem ter marcado a infância do próprio diretor. E imaginem então quando um filme cobre décadas? Mostrar em imagens, nos cenários e itens de cena… meu voto foi quase para O irlandês. Só que construir ruínas, algumas com seus pontos certos de luz e explosões, armas e armamentos , locais abandonados, cerejeiras, estradas de lama, além dos vários mortos, os corredores dos soldados e as tendas de socorro… bem trabalhoso, não?

*1917   

Era Uma Vez em… Hollywood – ok, ok.  

Jojo Rabbit

O Irlandês

Parasita

 

Melhor montagem (ou edição do filme)

Como ordenar o material que temos, aproveitando a melhor tomada, misturando com os sons, levando o olhar e as sensações, os sentimentos, naquele timing pontual, às vezes com estilo imprevisto ou rimas visuais, de modo que em algum momento o espectador chega a se perguntar o que é real ou não, torcer ou não por algo, compreender melhor ou não motivações e o desenrolar dos acontecimentos… Não sei quem leva, mas pensando assim, meu voto é Coringa este ano.

Ford vs Ferrari – algum dos comentaristas até falou que é preciso muita minúcia para acertar o tempo entre a corrida, os carros, os closes dos personagens. Ok.

*Coringa

Parasita

O Irlandês

Jojo Rabbit

 

Melhor fotografia

Luzes e tonalidades… eu não vi O Farol, e capaz de ter votado nele caso tivesse. Os outros candidatos também são muito bons, escolha difícil.

*1917 – depois fiquei sabendo que Roger Deakins era o favoritasso da noite mesmo!   

Coringa               

Era Uma Vez em… Hollywood  

O Farol

O Irlandês

 

Melhor roteiro original

Dizem que nestas categorias técnicas, quem vota são apenas os da categoria em si (ou seja: roteiristas votam nos roteiros), e eu sempre imaginei que entraria para a academia por ser roteirista… mas muitas vezes a academia discorda da minha escolha, então creio que leve mesmo o Tarantino – e eu não reclamo, porque gosto bastante de Era Uma Vez em… Hollywood, e da reinvenção da história real para um “final feliz”, misturando os personagens reais com os fictícios. Porém, realmente achei muito bem feito o trabalho de Parasita, porque nós vamos acompanhando aqueles personagens e nos surpreendemos a cada virada, e entendemos o lado de cada um dos personagens, sem ter que analisar muito tempo cada um, está ali na cara, no diálogo, na cena.

1917     

Entre Facas e Segredos               

Era Uma Vez em… Hollywood

História de um Casamento        

*Parasita – eba! Aqui a gente já se empolgou!           

 

Melhor roteiro adaptado

Bem que eu gostei da brincadeira de Greta Gerwig como se todas as comédias românticas tivessem um manual, e o destino das personagens femininas da época de sua escritora ser previsível e ela ter que “vendê-las” de qualquer modo. É uma atualização agradável de um clássico da literatura que já ganhou várias outras versões para a tela. Mas eu fui pega de surpresa por Jojo Rabbit, não imaginava que ia gostar tanto, com as tiradas engraçadas bem posicionadas, apesar de esse lado cômico e leva gerar certa controvérsia com o tema escolhido. A adaptação de um texto para ser transposto para a tela deve considerar muita coisa que fica de fora e o que vai funcionar em audiovisual, e por isso eu acabo escolhendo este trabalho, parece que escolheram a dedo e coube quase tudo certinho ali.

Adoráveis Mulheres     

Coringa               

Dois Papas         

*Jojo Rabbit – eu fiquei contente, e olha que nem tinha visto os prêmios das guildas.

O Irlandês

 

Melhor ator coadjuvante

Ai, os grandes atores… a nossa vontade é sempre de dar prêmios para eles, porque eles são bons mesmo, não é? Absolutamente adoro Tom Hanks, os dois atores de Dois Papas parecem ter encarnado seus personagens belissimamente, e Al Pacino, a gente nem precisa mais comentar. Pessoalmente, eu daria meu voto para Joe Pesci, porque bem diferente de Os bons companheiros, com uma serenidade incrível ele também me deu um medo incrível… Mas deve levar Brad Pitt – e por que não, não é mesmo? Vamos fazer um agrado à Hollywood, no que Brad representa; sabendo que ele já fez muitos bons trabalhos, seja como ator ou produtor, eu também não fico triste em deixar o “rapaz” levar seu primeiro Oscar de atuação.

Al Pacino            

Anthony Hopkins           

Brad Pitt – barbada, né. Falei “rapaz” acima porque vejam só a idade dos outros candidatos, hein! Gostei que ele mencionou os filhos pelo menos neste prêmio (e não o Tinder)            

*Joe Pesci  (adendo: nem Hopkins nem ele compareceram, mas ele já disse tudo quando ganhou: “foi um privilégio, obrigado”.       

Tom Hanks        

 

Melhor atriz coadjuvante

Vocês até já sabem qual o clipe para a candidata favorita devem mostrar, não é? Sim, aquela fala sobre Deus e a mulher… Laura Dern é praticamente aposta acertada. Florence Pugh foi uma surpresa pra mim entre as indicadas, está bem, mas não tudo isso. E Margot Robbie tem aquele carisma dela natural, mas realmente sentimos o desconforto da sua personagem misturado à humilhação e sentimento de culpa e impotência, na cena em que é “entrevistada” pelo chefão do canal de TV onde era seu sonho trabalhar. No entanto, meu voto vai para Scarlett, que já fez alguns bons trabalhos no cinema e vai me deixar marcada com seu amor de mãe, e aquela cena em que parece se enfurecer que o filho pede pelo pai, para no segundo seguinte nos surpreender incorporando o pai com uma jaqueta e uma sujeira de carvão no rosto. Sim, outro voto bem pessoal. Acabei de ter uma filha e ando muito emotiva, me deixem.

Florence Pugh 

Kathy Bates      

Laura Dern – como não podia deixar de ser, mas eu escolheria outro vestido se tivesse a certeza de que seria minha noite.       

Margot Robbie

*Scarlett Johansson

 

Melhor ator (principal)

Pois é, pois é, pois é. A primeira cena que vi de Era uma vez em… Hollywood foi aquela em que Rick Dalton ouve uma garotinha elogiá-lo pela atuação e ele se emociona – e isso foi o suficiente para saber que eu ia gostar muito daquele filme, embora no geral ele lidasse com outros temas. Apesar de sempre torcer pelo DiCaprio, ele já ficou feliz com o dele e nem preciso mais torcer. Na verdade, eu torceria para o Antonio Banderas, porque, né, primeira indicação, e ele também já trabalhou em muita coisa! Já o Adam Driver, embora esteja muito bem, até cantou, ainda tem quilometragem para rodar na indústria. Mas não vai ter jeito, este é um daqueles anos em que sabemos quem tem que levar. O trabalho físico, de voz, de trejeitos, que passa a imagem de um homem realmente triste, realmente atormentado, realmente sonhador, até a sua descida aos infernos e assumindo de vez os pormenores do vilão que o público já conhece tão bem. Impressionou a todos e vai ser isso mesmo.

Adam Driver     

Antonio Banderas          

*Joaquin Phoenix – e assim foi, um discurso intenso (falando de egoísmo humano, redenção, novas chances), mas ele com aquele tique mordendo a própria mão me deu certa aflição. Adorei que foi com a namorada Rooney Mara comer hambúrguer vegano depois!          

Jonathan Pryce               

Leonardo DiCaprio         

 

Melhor atriz (protagonista)

Pois é, né. Charlize Theron mal dá pra reconhecer que é ela, e firme, nos faz acreditar nesse personagem. Eu não vi Harriet, então não posso votar em Cynthia Erivo. Saoirse (cujo nome aprendi a pronunciar só recentemente) está bem altiva, mas ainda não é sua vez, apesar de já ter sido indicada tantas vezes, não obstante sua idade. Johansson está muito bem também, conseguindo chorar em cena (piscadela!) e ganha nossa simpatia, no que poderia ter se tornado um personagem abominado pelo público. Mas não vai ter jeito, todo mundo já sabe quem leva, e realmente Renée se dedica de corpo todo à sua versão de Judy Garland. Eu não gosto muito do filme, me parece que muitas coisas estão incorretas ali, mas na interpretação, seja no palco, seja no cansaço pela insônia e pelas restrições desde a infância que somos relembrados pelos flashbacks, nós sentimos por Judy e queremos cantar junto com ela uma canção de esperança no final.

Charlize Theron              

Cynthia Erivo    

*Renée Zellweger – pelo menos as categorias de atores vocês acertaram nas suas apostas, certo?         

Saoirse Ronan

Scarlett Johansson

 

Melhor direção

O diretor é o maestro das cenas, não? Imaginem só orquestrar várias coisas na tela para termos a experiência de determinado filme. O curioso deste ano é que Todd Phillips nem parece ser diretor de comédias, hein? (igual ao Taika Waititi nem parece ser diretor dos filmes do Thor…) Mas Sam Mendes traz um projeto que tem algo de pessoal, inspirado no avô. E o Oscar sempre tem algum filme de guerra entre seus indicados, não é à toa, são filmes grandes já em sua proposta. Todos os candidatos deste ano tiveram que coordenar cenas caóticas, e estão de parabéns com o resultado, mas fica na minha memória aquela perseguição labiríntica entre as ruínas na escuridão. Embora eu ache que ele tenha usado demais o truque de focar em um personagem para depois abrir a tela para o que está ao redor, considero sua intenção de plano sequência, e não é à toa que Sam Mendes tem levado todos desta temporada de prêmios; aqui eu dou a mão à palmatória.

Bong Joon Ho – whaat!? eles realmente conseguiram fazer isso? Foi a minha primeira reação. Eu lembro do Roberto Benigni subindo nas poltronas, mas Bong Joon Ho nos proporcionou o melhor momento da noite: super humilde, agradecendo às pessoas que o inspiraram e fazendo todo o teatro se levantar de pé homenageando Martin Scorsese.  

Martin Scorsese             

Quentin Tarantino         

*Sam Mendes 

Todd Phillips

 

Melhor filme

Aqui, ordenados pelas minhas notas: 1 para o que gostei menos, 9 para o que seria meu melhor voto. Quem deve levar, se a academia não fizer aquelas contas loucas de um mediano que acaba ganhando, provavelmente será 1917. Não é interessante que um casal esteja disputando a estatueta? Greta Gerwig e Noah Baumbach são companheiros, imagino que nenhum dos dois vai levar, mas imagina só ser um casal assim? rs

1) História de um casamento

Acho um ótimo trabalho de atores, que levam a produção. Nós poderíamos só ter dó do pai, mas Scarlett Johansson constrói sua mãe também com carinho e seus próprios motivos. Alan Alda rouba a cena como um advogado mais humano, Laura Dern sabe muito bem das coisas, o embate no tribunal com aquele outro advogado que já tínhamos achado muito incisivo é feio, mas tentar conversar francamente também os leva à exaustão. Alguns momentos são engraçados, mas o que fica é a conformação de que algumas vidas se separam e você tem que lidar com isso como puder, mesmo que lhe pareça injusto – acredito mesmo que esse é o próprio sentimento do diretor.

2) Ford vs Ferrari

Christian Bale é turrão e Matt Damon faz a parte de mediador com uma grande empresa; ambos, brigando no diálogo, no quintal de casa, um decepcionando o outro e depois se redimindo, os dois sendo bons amigos, já valeria contar a história. Mas ainda tem esse desafio louco de uma corrida que dura 24 horas, no início somos bem apresentados à rixa que nasce do bambambam da Ford contra o grande chefão da Ferrari, entendemos como pode ser difícil bater as intenções sinceras com as expectativas empresariais – maniqueizadas na figura do vice que parece sempre estar sabotando a nossa alegria e o talento puro e simples de correr na máxima velocidade. Bem bonita a cena em que o pai explica ao garoto, na pista, aquele momento. Mas mais bonito ainda é o sentimento de não precisar de reconhecimento público, isso é que é gostar da coisa de verdade.

3) 1917

Confesso a vocês que eu nunca fui e nem sou fã de filmes de guerra. Assim como westerns. Eu até assisto, mas não me empolgam nem tocam tanto no coração como outros filmes. Daí, este é bem feito, mas tem tantos filmes de guerra já feitos e acabo não me entusiasmando. A dupla que logo de cara já recebe uma missão impossível, de entregar uma mensagem para um pelotão distante e evitar o massacre de milhares de pessoas, é claro que vai enfrentar medo e tensão para atravessar um campo inimigo supostamente abandonado, o elemento surpresa – um avião que cai, um oficial inimigo perdido, mesmo que bêbado, alguém atirando não sei da onde. Vão ver morte e perda irreparável, o caos com gritos e explosões ao redor, a exaustão extrema, além do cansaço de esforços que um ser humano comum poderia suportar… nada muito novo pra mim. Tecnicamente impressiona. É bom. Mas o que temos mais pra hoje?

4) Adoráveis mulheres

Não assisti às outras versões fílmicas, o que talvez seja bom, livre de comparações. Gosto do retrato de diferentes mulheres em uma época, que também pode ressoar às mulheres atuais. São quatro filhas e uma mãe, o pai foi para a guerra, tem o vizinho rico com seu único herdeiro que se apaixona por uma dessas garotas, mas que o dispensa por acreditar em outro tipo de vida, conservando é uma bela amizade. A personagem principal é Jo, que quer ser escritora, Meg acaba se casando com um professor humilde, Amy já vê mais pragmaticamente um casamento ao ter que admitir que nunca será um grande nome da pintura, Beth é a caçula com talento para o piano e cuja doença traz algumas cenas bonitas e faz renascer a motivação maior de Jo. Com uma direção de arte competente, é até instigante e agradável.

5) Jojo Rabbit

Algumas pessoas podem reclamar que esta leveza pode acabar relativizando, amenizando a importância do nazismo e de Hitler na história, como algo completamente horrível. Mas, oras, eu dispenso essa parte, nós sabemos como cada parte dessa guerra e crenças nazistas são temíveis. E me deixei levar pelo espírito que Taika Waititi quis abordar, numa obra diferenciada. Sim, dei risada sobre como os que tiveram seus cérebros lavados pelos ideais de Hitler viam os judeus, porque hoje já é mais do que óbvio que são descrições impossíveis. Nós temos consciência e por isso mesmo é que o filme fica rico, porque sabemos o quanto tudo é absurdo. Entendemos que o Führer foi venerado por milhares, inclusive no início temos aqueles jovens eufóricos, como se fosse os Beatles alemão (com aquele som de fundo mais que apropriado). Dei risada com as conjecturas do pequeno Yorki, “os japoneses, que cá entre nós não parecem muito arianos”. Sim, o filme ganhou meu coração inesperadamente, até em uma simples esperteza de sempre mostrar a mãe dançando, e os sapatos dela. Gosto da tentativa de mostrar por um olhar diferente, de uma criança; de como Hitler poderia ser um amigo imaginário com seus conselhos, e aos poucos construindo sua relação com Elsa, descobrindo as verdades, e chutando Hitler pra longe no final. Tem um quê de Wes Anderson ou até romantismo de Amélie (2001)****, e isso não compromete para mim, na verdade, me faz gostar mais do que ver outros filmes sérios sobre guerra.  

6) O irlandês

É muuuito longo. Sim, é longo, e difícil para a maioria dos espectadores da atualidade, imagino, que gostam de tudo muito rápido. Só que Scorsese e os atores veteranos aqui (alguns dos melhores da história do cinema, gente!) tem a experiência suficiente para fazer este filme, uma experiência necessária, eu diria, para fazer este filme. Tudo bem, Scorsese já fez muitos filmes de máfia ou gangsteres, filmes com violência, com personagens violentos, por uma questão ou outra. Se antes ele já se enveredara pela ascensão criminosa, já tratou de personagens marginais e depois de personagens poderosos, aqui ele ousa imaginar como seria a aposentadoria para quem trabalhou a vida inteira nesse “ramo”. Vamos acompanhando por décadas o que um simples “motorista” vai vivendo com pessoas de influência, com uma filha que o condena, mas com reconhecimento social – que sequência ótima a festa da entrega do prêmio, não? Os atores respiram e olham no lugar certo; e o susto que levei naquela morte pro final eu nem deveria levar, porque é compreensível a escolha dele. A constatação geral é que nem a família, nem os amigos, nem as conexões, nem os erros, nem as façanhas, nada vai te salvar. Da humanidade. Do fim que todos tem que enfrentar. E isso pode nos levar a refletir: que espécie de vida quero viver? Com quais pessoas ao meu lado? O que realmente quero ter como lembrança, o que de verdade importa? É um filme que trata de tantas coisas, entre elas culpa, remorso, e que pode ir muito além de si mesmo.

7) Coringa

Tudo bem, achei um exagero mostrar duas vezes o nosso personagem principal sendo chutado e maltratado, só começar a projeção com essa cena teria sido suficiente. E nada, concordo, nada das características e acontecimentos, poderia justificar atos impunes, anarquia, prazer com a violência – para uma mente sã. Taí o que talvez eu mais tenha gostado desta versão de um vilão tão popular, de início parecer estar mostrando alguém comum, que poderia estar escondido em qualquer beco por aí, mas ele na verdade não é alguém normal. Tanto que, em muitos momentos nós nos deixamos enganar, acreditando que poderia ser possível ele ter um relacionamento saudável com a vizinha, ou que realmente ele poderia ser filho do magnata candidato a prefeito, ou que ele poderia mesmo se comportar bem por ter recebido a oportunidade que um dia fora o seu sonho, de fazer um standup bem sucedido e participar daquele programa de TV com o apresentador que todos gostam. Nós nos deixamos enganar porque somos espectadores de cinema. E queremos acreditar nessas histórias, nos sonhos. Mas a realidade é essa enorme diferença entre os poderosos, entre o que se quer e o que se consegue, e o que uma mente perturbada consideraria vitória, escolheria? Ser ouvido, ter uma participação, independente dos meios, uma existência significativa, que faz a diferença. Visceral ou impossível por vezes – aquela morte na frente do anão?; e sempre de impacto,  triunfal aquela entrada e a resposta impiedosa ao apresentador vivido por Robert De Niro – e já ouvi falar que dialoga largamente com O Rei da Comédia (1982). 

8) Parasita

Vou fazer um miau aqui, como já comentei ali na categoria de melhor filme estrangeiro, acho que não preciso escrever por aqui… – xenti!!! Primeiro, só percebi hoje que não tinha copiado por aqui o texto para filme estrangeiro… Mais importante que isso… que noite, hein? Aqui, no prêmio final, foi histórico. Nunca, em todos esses anos de premiação, tínhamos visto um filme não falado em inglês ganhar como melhor filme. Conseguiram essa proeza e deixaram todos que acompanhavam a cerimônia boquiabertos, merecendo que a fileira de famosos na frente (Tom Hanks, Charlize etc…) fizessem um “ola”, pedindo para deixarem eles discursarem mais um pouco. Foi realmente uma surpresa, mas vimos como o filme ganhou apoiadores em Hollywood; foi quase como aquela frase tão cliché que a gente tanto gosta: provaram que nada é impossível na terra dos sonhos! 

9) Era uma vez em… Hollywood

Dentre os indicados a melhor filme este ano, este é o meu favorito! É o que mais gosto porque, né, é como uma carta de amor à Hollywood. Tarantino não está tão sanguinolento e isso me apetece. A história do astro que acaba aceitando trabalhos na TV e depois alguns na Itália – os cartazes dos filmes italianos estão ótimos! – poderia ser de um ator real que viveu nesses tempos em Hollywood.  A empolgação de uma jovem atriz em ascensão também é divertida, vivida por uma jovem boa atriz que chegou ao topo há pouco tempo, de carisma natural. E se Tarantino já tinha reinventado algo no tema escravidão, como é prazeroso podermos viver no cinema o que a realidade não pôde nos proporcionar, não? Poder imaginar outra história, aliviar – comicamente até, por que não? – na imersão de uma narrativa. Talvez seja estranho eu dar o prêmio nas outras categorias para outros filmes, porém os que concorrem por este filme chegam bem perto, e o conjunto da obra, quando são combinados todos os elementos que estão bons (mesmo não levando o voto de melhor), fotografia, figurino e direção de arte, montagem e som, acabamos com um todo muito bom. Como devem imaginar que eu nem liguei muito para a cena de luta de um suposto Bruce Lee, vocês vão me dizer que é o meu favorito só porque tem o Leo, certo? Mas na verdade é porque é um filme para quem ama cinema, sobre o que a gente mais curte no fazer dos filmes e também ao ver os filmes. Não é nenhuma obra de arte, bem capaz que este primeiro posto merecesse O Irlandês, mas este é meu voto pessoal, pelo filme que mais gostei em 2019.

 

Sim! Uma festa histórica, com os prêmios para Parasita. A Ana Maria Bahiana já comentava no twitter sobre a chuva em Los Angeles. E a cidade de São Paulo, com toda a chuva da noite, que acordou na segunda com alagamentos? Parecia até que a vida real estava se inspirando nesse fato inédito, como numa das cenas do filme, para a gente perceber que tudo pode mudar. Ou… precisa mudar? 

Pra dizer a verdade, eu nunca entendi direito como um filme estrangeiro podia ser indicado, se eles nunca iam dar o prêmio para um que não é falado em inglês (até por isso mesmo existe a categoria de filme estrangeiro, certo?). E agora é que não sei mais nada do mundo mesmo.

Mas comentando um pouquinho mais da festa… pode ter parecido chatinha em sua metade previsível, apesar dos números musicais sempre trabalhados (começando com Janelle Monáe e Billy Porter pra arrasar; passando pelas vozes das Elsas em diversos idiomas – inclusive a Matsu Takako que é super famosa pelas novelas no Japão!; até uma apresentação que não entendemos muito bem o atraso, do Eminem; e a versão de Yesterday por uma jovem estrela da música que anda no topo, Billie Eilish). Mas sabem que eu gostei da festa? Tinha muita gente que eu gosto presente! O Leo? Claro, né, gente, mas também presença brasileira, os compositores (John Williams sempre indicado!), Natalie Portman com vestido homenageando as mulheres que não foram indicadas, Tom Hanks, Keanu Reeves e até o Spielberg… este ano fiquei contente.     

Uma cena: Deus e o diabo na terra do sol & O desafio

Está acabando o semestre de Audiovisual e tenho só mais duas provas e a apresentação dos curtas para entrar de férias. Uma dessas provas é da disciplina de “Cinema Moderno Brasileiro”, e por uma boa ventura e boa fortuna, pude descobrir um filme bem interessante: “O desafio” (1965)***, de Paulo César Saraceni. Claro que tendo lido um texto de análise, tudo faz diferença, mas gostei bastante de algumas cenas deste filme que não é tão conhecido do público brasileiro e marca uma época. O Brasil tinha acabado de sofrer o golpe militar, os que acreditavam em mudanças sociais no país não sabiam o que fazer, a política fervilhava na mente de alguns enquanto a burguesia industrial se deixava mover apenas por interesse próprio.

Uma cena bem bonita no quadro é quando Ada, personagem de uma mulher de industrial, está no quarto com o amante que lhe pede para falar mais dela. O que vemos é uma mulher dividida, e ouvimos ao fundo as Bachianas de Villa Lobos.

 
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O tema do seminário era Cinema Novo brasileiro, e claro que tínhamos que ver (no meu caso, rever) “Deus e o diabo na Terra do Sol” (1964)***. Que coisa louca era Glauber Rocha, e foi com um pouco de nostalgia que revisitei uma das cenas inesquecíveis de minha infância. Quando eu tinha uns 13 anos, era 1995 e a Globo fez um especial sobre os 100 anos do cinema, que passava tarde da noite. Na época, início dos anos 90, eu na minha ingenuidade achava que não existia cinema no Brasil e que, se um dia eu quisesse fazer isso da vida, teria que me mudar pra Los Angeles, Hollywood. Eis que então eu vejo a cena do beijo entre Corisco e Rosa. Diziam na época que era o beijo mais longo da história do cinema, não sei se isso procede, mas eu lembro de ter ficado embasbacada, pensando: “Isso é cinema brasileiro?!!”

Essa é uma das cenas de cinema da minha vida que jamais vou esquecer. Uma garra, uma fúria, uma paixão, revejo o filme e ganha ainda outro significado no contexto histórico. E as Bachianas de Villa Lobos ao fundo.

 
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Matrix

“She told you exactly what you needed to hear”

Matrix (1999) ****

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[Exposição no Tomie Ohtake – Yayoi Kusama]

Anos atrás uma amiga querida me disse isso sobre fazer cinema. E agora que estou aqui… Eu sinceramente não sei se realmente vou continuar esse curso, se vou chegar até o fim. Por alguma razão, ando tendo dúvidas. Não sei se isso ainda faz sentido pra minha vida.

E ando tendo muitos déjà vus. Muitas falhas, mudanças no plano original?

To do list da minha vida

– Passear pela calçada da fama em Hollywood = (v) check!
2001-LA-chinesetheater
 
 
– Passar um Reveillon no Rio = (v) check!
2002-RJ-newyear
 
 
– Viajar, ver e fazer coisas únicas = (v) check!
2006-WDW-character
 
 
– Pular de paraquedas = (v) check!
20081214-paraquedas
 
 
– Conhecer Paris… = (v) check!
2010-paris
 
 
– Trabalhar em algo que faça sentido e sirva de alguma forma à sociedade = (v) check!
201007-withchula
 
 
– Matricular-se para fazer a FACULDADE DE AUDIOVISUAL = (v) check!
 
E parabéns ao meu padrinho imaginário, Steven Spielberg, que faz aniversário hoje! ^__^
 
 

Em 2014…

…eu pretendo comer menos besteira e fazer exercícios

… voltar a dirigir

… escrever mais sobre filmes e compartilhar por aqui como é fazer uma facu de Audiovisual.

:D